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Energia solar pode ser a principal alternativa para a crise hídrica do Nordeste
Fotos: Társio Alves (Sudene)
Ao proferir a palestra “Um Paradigma Revolucionário para o Nordeste Semiárido do Brasil”, Paulo Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e coordenador da Rede Brasileira em Mudanças Climáticas Globais, afirmou que a água não é a redenção do Nordeste. Para embasar seu ponto de vista, fez uma explanação sobre as vantagens da energia solar, que utiliza células fotovoltaicas para transformar a radiação do sol em energia elétrica.
Como pode ser aplicada tanto em grandes centrais, quanto em residências, “a produção de energia fotovoltaica no Nordeste semiárido pode combater a fome e as consequências das mudanças climáticas, por meio da geração de emprego e renda”. Nobre defende alteração na legislação, possibilitando a comercialização de energia por pessoas físicas. Essa é uma das formas apontadas pelo pesquisador para a inclusão social e econômica da população do semiárido. Paulo Nobre acredita que o Nordeste pode se transformar em um grande produtor solar.
Segundo Nobre, só em Pernambuco existe uma área superior a 11 mil km² em estado avançado de desertificação, que pode ser aproveitada para a instalação das placas fotovoltaicas. Ele assegurou que, do ponto de vista econômico, o projeto é viável, pois o custo do painel solar caiu 20 vezes de 1980 pra cá. Paulo defendeu, ainda, que é urgente a adoção de medidas para enfrentar as consequências da estiagem, uma vez que as previsões meteorológicas indicam que os efeitos do El Niño estão se tornando mais intensos, provocando chuvas abaixo da média e tornando a Região extremamente seca.
Foi divulgado, durante a palestra, que o Nordeste do Brasil é uma das regiões mais vulneráveis do planeta à mudanças climáticas, acarretando desemprego, sobretudo na agricultura. Por outro lado, a Região possui um “vastíssimo potencial fotovoltaico para geração distribuída de energia e renda”. Outro ponto levantado é que a segurança energética não pode ficar atrelada apenas à água, sendo necessário diversificar a matriz energética.
Os grandes desafios a serem enfrentados, segundo Paulo Nobre, são “preservar os serviços ambientais da Caatinga, preservando a umidade do solo e gerando emprego e renda para replantio”, além de explorar o imenso potencial solar fotovoltaico do Nordeste semiárido, gerando renda e energia elétrica para todo o país. Outro desafio apresentado foi o de sanar o déficit educacional e proporcionar uma nova realidade para as crianças que vivem no semiárido.
Sudene
Paulo Nobre destacou que o papel de articulação política da Sudene é fundamental para viabilizar o projeto. O superintendente da Autarquia, João Paulo Lima e Silva, afirmou que o encontro proporcionou vislumbrar uma estratégia para atacar os problemas enfrentados pelo semiárido nordestino, levando em consideração a garantia da dignidade da população e o compromisso com o próximo e com o planeta.
Semiárido e El Niño – Segundo dados do Censo 2010, vivem cerca de 22,5 milhões de pessoas no semiárido, o que corresponde a 11,85% da população brasileira e 42,57% da população nordestina. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, mais de metade da população pobre do país, cerca de 58%, está concentrada nessa região. O El Niño é um fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico. Sua ocorrência costuma mexer com a atmosfera mundial e afeta o clima em várias regiões do planeta. A previsão é que, em 2016, ele esteja enquadrado na categoria intensa e que sua presença seja ampliada por um número maior de meses do que os anos anteriores, o que pode ser devastador para região do semiárido. A expectativa é que o período de estiagem seja ainda maior, acarretando perda severa nas reservas hídricas na região.