FABIO BREA: A formação de wapte e dos padrinhos
"Quando um adolescente (wapte) Awe/Xavante passa pelo ritual para a fase adulta, forma-se ao mesmo tempo um ancião, que é o padrinho do wapté".
O ensaio fotográfico "Ritual de Passagem: Transformações dos Wapté e Hohui-wa", de Fábio Brea, quer documentar do ponto de vista indígena e celebrar o ritual de passagem dos adolescentes Xavante, conhecidos como Wapté, para a vida adulta, enquanto os padrinhos, da Hohui-wa, passam para a posição de anciãos na comunidade.
O ensaio busca compreender e valorizar esse momento crucial na vida dos jovens Xavante, via imagens, assim como reconhecer o papel fundamental dos anciãos na transmissão de conhecimentos e valores tradicionais.
O ritual de passagem dos adolescentes Xavante é um evento de grande importância dentro da comunidade, marcando a transição para responsabilidades e papéis adultos.
A inclusão dos padrinhos no processo, ao se tornarem anciãos, destaca a continuidade e a importância da sabedoria e experiência dos mais velhos na preservação da identidade cultural Xavante.
Os Xavante se autodenominam A'uwe Uptabi, que significa povo verdadeiro, autêntico, ser humano, guerreiro. Originários da aldeia Brasil no século XVIII e XIX, deram o primeiro nome ao lugar em língua xavante ITERÓ (meu lugar) e que foram vistos à beira do mar no Rio de Janeiro, onde era sua antiga aldeia, atualmente o bairro Santa Rosa, em Niterói/RJ. O nome da cidade remete a uma palavra indígena xavante.
Depois de anos, e meses, os A'uwe Uptabi mudaram para região hoje estado do Maranhão. Depois, estado de São Paulo, e de Minas Gerais. Assim vem caminhando, e, depois de muitos anos, e muitos meses, já estavam em Goiás velho, onde, perseguidos pelos bandeirantes, foram aldeados.
Os portugueses, os quais chamamos de tsipoto tsiro, waradzu, que vieram de outro lugar, chegaram para explorar, buscar de riquezas, minerais e ocupar o território. Nos aprisionaram em aldeamentos. Nossos antepassados foram escravizados, maltratados, massacrados.
Deste modo, os A'uwe Uptabi se reuniram no centro (warã), e deliberaram, e combinaram entre eles, à época, a se afastarem para bem longe, buscando novos locais para viverem em paz, liberdade. Também para fazerem as novas roças para sobreviverem no modo e costume próprios dos A'uwe Uptabi.
Meus antepassados prepararam secretamente e partiram na madrugada, guerreiros acostumados com o cerrado, foram apagando os rastos. Andaram errantes de noite e noite, e as mulheres, as crianças carregadas no colo, e chegaram na margem do rio Öpré (Araguaia), e o atravessaram. No entanto, um grupo atravessou primeiro, enquanto o outro permaneceu na outra margem.
O objetivo era que atravessassem todos, mas o pedzai'ö (boto) apareceu, e os A'uwe Uptabi se dividiram. Um A'uwe Uptabi que tinha atravessado deu um forte grito pedindo para cuidarem bem do seu sobrinho, que ainda não tinha atravessado, e também para que aqueles que ficarem que não atravessassem.
Aqueles que atravessaram seguiram caminhando até escolherem o lugar da primeira parada, e deram o nome de Dzub ' adze onde moraram os antepassados. Posteriormente, se mudaram do lugar para Tsõrepré, e, depois de muitos dias, mudaram, e o nome do lugar Tsiba'adzatsi, e, depois, mudaram o lugar o nome do lugar, Hu' uhi, e moraram, e depois mudaram e deram o nome do lugar, e deram o nome Ētērã'urã, e, por último, o lugar é chamado Wadzéréwapré (espinho na ponte é vermelho).
A transmissão de papéis sociais, responsabilidades e conhecimento é fundamental em nossa cultura. O ritual do wapte é um dos momentos centrais para nossa continuidade.