Resenha do livro Caminhos da Ancestralidade, de Bruno Kaingang
"Leitura indígena de intelectuais indígenas"
Por: Simone Crowkwyj Kraho, Gilvan Hitôpo Krahô, Guilherma Xah Kraho, Maria Helena Paxen Krahô, Carlos Herwy Kraho, Karlowachy Tehhi Krahô, Sidinei Pohypej Kraho, Claudio Wacme Krahô
Esta resenha, elaborada por nós, professores e professoras Krahô, busca apresentar as contribuições do livro Caminhos da Ancestralidade, do professor indígena Bruno Ferreira Kaingang, para o campo da educação escolar indígena e das epistemologias ancestrais.
Bruno Kaingang, liderança reconhecida no cenário educacional brasileiro, é o primeiro docente efetivo indígena da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ele se destaca por sua atuação no campo da interculturalidade e da educação indígena, refletindo profundamente sobre os desafios enfrentados pelos povos originários na luta por seus territórios e pelo direito à educação diferenciada.
Em Caminhos da Ancestralidade, Kaingang nos convida a percorrer os saberes, as práticas e os valores transmitidos pelas gerações mais velhas de seu povo.
Recomendamos enfaticamente Caminhos da Ancestralidade para todos os professores, estudantes e lideranças que atuam na luta por uma educação emancipatória e plural. Esta obra nos inspira a sonhar e construir um futuro no qual as escolas indígenas sejam, de fato, espaços de resistência, saber e transformação.
O livro trata não apenas de memória e identidade, mas também do papel central da ancestralidade no fortalecimento da luta política e cultural. Bruno propõe uma educação que se enraíza na terra e nas experiências baseadas na ancestralidade. A escola passa a ser um espaço de construção coletiva de conhecimento.
O autor também discute o papel das instituições de ensino superior na promoção da interculturalidade, questionando os currículos eurocêntricos e a ausência das vozes indígenas nas decisões institucionais.
Ele defende uma educação verdadeiramente inclusiva, em que as escolas Kaingang e de outros povos possam construir novas epistemologias que dialoguem com o mundo sem perder suas raízes.
Entre os pontos de maior destaque, Kaingang enfatiza a importância de reconhecer que os povos indígenas são produtores de conceitos e metodologias que garantem a vida em equilíbrio com a natureza e com a coletividade. Este é um ponto de extrema relevância para nós, professores Krahô, que também atuamos para que os saberes ancestrais sejam a base de nossas práticas pedagógicas.
O livro ainda ressalta o papel da língua materna e das expressões culturais como elementos centrais para a educação. Nas palavras de Bruno, "não há como falar de educação indígena sem falar da terra, da língua e dos espíritos."