ARTE INDÍGENA
ENTREVISTA JOSÉ ALECRIM
Meu nome é Alecrim. Sou do povo Mehi-Canela.
Moro atualmente em Goiânia.
Eu comecei na tatuagem. Desenho desde muito pequeno.
Venho de uma família em que se desenhava muito.
Uma família sobrevivente do estado do Maranhão, que viveu em várias outras aldeias até chegar no estado de Goiás.
A minha família é da origem de uma aldeia que se chama Escalvado, mas no Maranhão, na época, se chamava Aldeia do Ponto.
Minha família sobreviveu a um massacre, no final dos anos 60, e foi vivendo em outras aldeias.
Tanto Timbiras, sai de lá e vai viver com os Apinajés no Pará, depois vai viver no Iny, na região de Xambioá, e entra em Goiás, na região dos Carajás.
Quando eu nasci, comecei a conviver meu avô e minha avó desde pequenos. Eles sempre contavam as nossas histórias através de desenhos.
Se desenhava muito no chão, na minha casa.
Eu cresci numa região de Goiânia muito periférica. Na época não tinha casas nessa região, que é a região de Caravelas. Hoje é uma cidade, praticamente.
A gente sempre aprendeu as coisas através do desenho.
Fui desenhando, desenhando…
Aí, quando eu já era adulto, já tinha um trabalho com ilustração.
Trabalhava com desenho de livros. Sempre ilustrei livros na cidade de Goiânia.
Comecei a conviver com outro artista, que era um artista da Bahia, também de Barreiras. O nome dele é André. O André era um aprendiz de tatuagem, de um outro tatuador muito antigo de Goiânia.
Quando ele estava começando, eu comecei como aprendiz, ajudando ele a montar as bancadas e a fazer a parte de biossegurança, de montagem.
Fui me interessando a aprender como manuseava os equipamentos.
A gente sempre fazia o processo de tinta, tanto para ilustração quanto para outras finalidades. Mas o da tatuagem era um pouco diferente, né?
Em Goiânia, quando eu comecei a vender os meus desenhos, a participar do cenário de lá, as pessoas me faziam muitas perguntas sobre os desenhos indígenas.
Logo quando eu comecei a tatuar, já começaram a aparecer pessoas para tatuagem também. Só que em Goiânia, principalmente, existe uma confusão muito grande sobre o que é um indígena brasileiro e o que é um indígena norte- americano.
As pessoas sempre me procuravam com a intenção que eu desenhasse indígenas, mas indígenas, que não eram brasileiros.
Fui fazendo um trabalho lá de ressignificar isso dentro do desenho.
Trazer elementos do povo Canela, do povo Krahô, da cultura Mehi.
Meu desenho traz esses elementos para dentro da tatuagem.
É um desafio, porque ser um tatuador indígena é muito difícil.
Os espaços dentro da arte para indígenas ainda são muito estigmatizados, né?
A gente ainda não tem espaços de museu, a gente ainda não tem espaços de estúdio. A gente ainda tem que trabalhar muito na itinerância.
Você vai tatuar em município, leva todo seu equipamento para lá, monta. Poucos são os indígenas que tem estúdios. Então meu movimento dentro da arte da tatuagem em Goiânia, principalmente, é o de ressignificar o que é o desenho indígena.
Acho que se fala pouco que a tatuagem é um lugar para quando você tatua uma pessoa, que ela leve também aquilo que você ensinou enquanto estava tatuando, para outros lugares.