COMO FAZER UM CORPO SAUDÁVEL
KAMAYURÁ
Arikutua H. Kamayura,
Ayalaha W. Kamayura,
Kaluyawa Kamayura
Na cultura do povo Kamayurá, no processo de construir o corpo e a saúde, de ser bem saudável, tudo começa dentro de casa, por meio da orientação da família.
Após o casamento já começa a orientação sobre respeito: à família da mulher, envolvendo o parentesco dela, à aldeia e ao povo.
Após descobrir a gravidez se inicia o processo de jejum, para respeitar a espiritualidade da natureza, para transformar o corpo e a saúde da criança.
Para ter o corpo bem saudável e energia é preciso consumir a alimentação que vem da natureza, que vem com a espiritualidade. Por isso tem que respeitar e ter cuidados durante a gravidez.
Segundo a orientação dos mestres de saberes, quando o casal descobre a gravidez, os pais começam a paralisar toda alimentação consumida normalmente e o casal entra na fase de consumir alimentação específica: beijus, mingau e os peixes comuns (tucunaré, cará, traíra e os peixes pequenos).
Tem período que não pode ter relação sexual, para que a criança não pegue doenças como diarreia que pode causar até a morte.
Para ter bem-estar é preciso seguir regras para o bem das crianças.
Quem pode tentar resolver problemas de doença por falta de respeito às regras são somente raizeiros e pajés, que têm conexão direta com a espiritualidade da comida consumida.
A espiritualidade é o segundo mundo natural, por isso é muito importante a atuação do pajé no mundo.
Por meio do sonho do pajé estamos aprendendo novos cantos, pinturas, festas, rezas, raízes, os nomes, alimentos, histórias.
A alimentação que traz perigo durante a gestação da mulher é: mutum, pintado, porco, tracajá.
O pai não pode confeccionar artesanato: banco, máscara, pente, esteira, não pode confeccionar rede. São atividades que não podem ser realizadas durante a gestação para a criança não nascer deficiente e doente.
Quando os pais não seguem as regras, confeccionando arco preto, piranha cabeça vermelha, construindo a casa tradicional, buritirana, canoa, pode até causar o aborto.
Após a nascença os pais são ainda proibidos de realizar atividades, porque o espírito da criança recém-nascida não aceita a realização de atividade. O casal não pode comer peixes. Os pais também têm que tomar ervas para tratar o corpo, para não causar defeito no corpo. Se comer peixes escondido, com sangue da esposa, em alguns anos o corpo da pessoa pode se revelar, a barriga começa a crescer, o corpo e a pele ficam secos, se a mulher não seguir a mesma regra vai causar o mesmo efeito no corpo, vai crescer a barriga ou ela vai ficar magra e feia.
Os pais das crianças em primeiro lugar limpam a sua alma com raiz e tomam chá de raiz da erva medicinal para ser pai de família, depois seguem as regras a apresentando para a família. Se não, a criança pode ficar doente, até pode causar a perda da vida.
Durante o crescimento, após dar a luz, os pais não podem comer os alimentos perigosos: mutum, veado, porco, pintado, anta, carne de boi, não pode matar cobra, onça, gavião, macauã, tatu. Isso para a criança não ficar com problema de conclusão. Os pais também não podem consumir alimentos como bebidas ou frutas proibidas: peixe-cachorro, mandi, Matrinchã, piranha-de-cabeça vermelha, jaraqui, peixe-voadeira, suco de caju, abacaxi, mel.
Além disso, o processo de alimentação específica para os jovens deve seguir regras de alimentação, cada adolescente tem a orientação que recebe dentro de casa, com seu avô, durante o resguardo que se passa para chegar à fase adulta.
Durante a reclusão de transformação do corpo, os jovens recebem orientação da família na alimentação, para respeitar a espiritualidade das ervas que se utiliza para transformar o corpo com saúde, e se tornar pessoa respeitada, que pode representar seu povo como grande lutador de Huka-huka.
Esse é o sonho de todas as mães dentro da aldeia, e não e fácil de se conquistar.
Atualmente cada vez mais a alimentação vem se alterando com a comida não indígena: arroz, macarrão, feijão, óleo de comida, leite, café, açúcar.
A comida não indígena entrou ao mesmo tempo envenenando nosso próprio corpo, substituindo a alimentação tradicional.
Ela causa muita doença que é atraída por meio de sangue como diabetes, hipertensão, depressão, pressão alta, problemas nos rins, dor de colunas, gastrite.
A gente envelhece mais rápido.
Atualmente a comida não indígena também entra no cardápio: mortadela, linguiça, sardinha.
Quando as pessoas têm todo respeito, seguindo as regras culturais, tendo cuidado com o bem-estar, como citado acima, o desenvolvimento do corpo da criança, do adolescente, dos jovens e dos adultos se darão com uma vida saudável.
As regras dos ritos de passagem para a fase adulta também devem ser seguidas, respeitando e praticando uma orientação tradicional.
Há pessoas desobedientes desde a origem, segundo o mestre de saberes. Tem indivíduo que obedece, outros não vão conseguir por falta de orientação.
Atualmente os hábitos de alimentação dentro da comunidade mudaram, cada vez mais está se alterando, nos prejudicando por meio do consumo de alimentos industrializados, afetando nosso bem-estar dentro da comunidade, deixando membros da comunidade com sintomas de algumas doenças que aparecem assim de repente: diabetes, depressão, pressão alta, hipertensão, dor nas colunas.
Adoecemos mais cedo, temos colesterol alto, tudo por causa de descontrole de consumo.
Nota: A Revista Pihhy respeita características e maneiras próprias de escrita e expressão dos(as) autores(as).