Parente lê Parente
Cleide Kuogoytoudo lê Bruno Kaingang
Com alegria e compromisso, a Revista Pihhy apresenta a seção "Parente lê Parente", um espaço dedicado à valorização dos saberes indígenas por meio da leitura entre parentes.
Parente lê parente!
Aqui, intelectuais, artistas, lideranças e estudantes indígenas são convidados a apresentar e comentar obras escritas por outros autores indígenas, fortalecendo o intercâmbio de pensamentos, cosmologias e experiências a partir de dentro das nossas próprias epistemologias.
A proposta reafirma os princípios fundamentais da revista:
- a centralidade das vozes indígenas,
- a reciprocidade entre mundos e modos de saber,
- a luta por epistemologias não colonizadas,
- a defesa das nossas terras, culturas e espíritos,
- e a produção de conhecimento com base nas cosmologias e formas de existência dos povos originários.
Nesta edição, temos a honra de contar com a leitura e os comentários da professora indígena Cleide Bororo, que nos traz reflexões potentes sobre o brilhante estudo: O Papel da escola nas comunidades Kaingang de Bruno Kaingang.
Meu nome é Cleide Boe. Sou do povo Boe (Bororo), e hoje quero compartilhar uma leitura que tocou profundamente meu coração: o livro O papel das escolas na comunidade Kaingang, escrito por Bruno Kaingang e publicado em 2023.
Esse livro me emocionou especialmente por falar sobre a demarcação da terra — que é onde nascemos, vivemos, mantemos nossa cultura, onde estão os lugares sagrados e as histórias do povo.
A terra não é só espaço: ela é memória, espírito e continuidade!
Bruno fala sobre a existência do mundo a partir da relação com a natureza e os animais, com os espíritos das florestas, com a oralidade e com os saberes tradicionais, como o uso das ervas medicinais para curar o nosso povo.
Tudo isso é parte essencial do conhecimento que se aprende e se vive nas terras indígenas.
A escola que ele defende é uma escola com alma indígena, ligada à terra, à caça, à pesca, ao jeito próprio de ensinar e aprender.
A cosmologia Kaingang, como ele apresenta, mostra que a educação indígena precisa estar em diálogo com a floresta, com os ciclos da natureza, com o corpo e com o espírito.
Essa leitura me fez pensar também sobre a importância de termos nossas escolas fortalecidas dentro das comunidades, com nossos próprios saberes, respeitando o tempo da natureza e da vida coletiva.
Esse livro é uma contribuição importante para quem luta por uma educação indígena viva, ligada às raízes e ao futuro dos nossos povos.