O Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos, Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA.
Natalia Gimenez e Greg Louden
A UC Berkeley ocupa terras que originalmente faziam parte do território xučyun (Huichin), do povo Ohlone, falantes da língua Chochenyo. Essa era uma verdade não reconhecida pela universidade e pelo Estado até os últimos dez anos.
A Universidade da Califórnia em Berkeley, como instituição educacional, beneficiou-se diretamente do colonialismo de povoamento, atuando como parte do braço intelectual do Estado colonizador e por meio do que Robert Nichols chama de “produção” da terra como propriedade, especificamente na forma de financiamento pela Lei Morrill.
Vale ressaltar que a Universidade da Califórnia foi criada em meio a um genocídio, paralelamente ao estudo de formas de sobrevivência dos povos indígenas da Califórnia, incluindo práticas como a Dança Fantasma.
No CLACS, começamos a oferecer aulas em diversas línguas indígenas, iniciando com o Náuatle (idioma do Império Asteca, ainda falado por 23% da população indígena do México) em 2018, e mais recentemente incluindo o Mam (língua maia falada no sul do México e na Guatemala).
Desde a década de 1980, cresce o número de migrantes indígenas que fogem da violência política, econômica e das estruturas coloniais em seus países de origem na América Latina.
Apesar de muitos países latino-americanos terem grandes populações indígenas — e alguns serem majoritariamente indígenas —, essas populações seguem enfrentando marginalização e violações de direitos.
Hoje, estima-se que trabalhadores rurais indígenas representem 30% da força de trabalho agrícola da Califórnia. Muitos são migrantes de Oaxaca, no México, frequentemente monolíngues em mixteco ou triqui, e recebem salários inferiores aos de trabalhadores mestiços pelo mesmo trabalho árduo.
O CLACS iniciou seu trabalho com culturas e povos indígenas de forma gradual, mas, na última década, essa atuação tornou-se central em sua missão.
Nos últimos três anos, o importante Centro de Pesquisa em Artes foi dirigido pela acadêmica e artista Nez Perce Beth Piatote, e, nos últimos cinco anos, a universidade tem priorizado a contratação de professores indígenas.
Também apoiamos estudantes interessados em aprender línguas indígenas por meio de estadias prolongadas em comunidades.
Nos últimos cinco anos, o CLACS aprofundou seu trabalho com o Brasil, centralizando comunidades indígenas e afrodescendentes.
Tivemos a presença de Palestra:
- Djamila Ribeiro — filósofa feminista afro-brasileira, jornalista e ativista radicada em São Paulo, Brasil: “Feminismos e Ativismo Negro na América Latina e no Caribe”
- Laura Hall — ativista afro-costarriquenha de direitos humanos e organizadora política baseada em Limón, Costa Rica;
- Tito Mitjans Alayón — ativista feminista transmasculino afro-cubano residente em Chiapas, México.
Alguns outros nomes importantes são: Conceição Evaristo: filósofa e educadora ; o poeta e performer Ricardo Aleixo; a artista Rosana Paulino; a filósofa e curadora afro-brasileira Denise Ferreira da Silva; diálogos com membros da comunidade Juma, na Amazônia; e o juiz afro-brasileiro André Nicolitt.
Em 2022, o CLACS publicou pela primeira vez um artigo em sua revista simultaneamente em inglês, espanhol e náuatle, sobre uma artista desse povo.
Nos anos de 2022 e 2023, iniciamos cursos sobre a língua e a cultura do povo Mam, cuja migração para Oakland e outras cidades próximas a Berkeley tem crescido.
Cada vez mais acadêmicos, artistas e ativistas indígenas da América Latina têm integrado nossas conversas e parcerias:
- Ruth Alipaz Cuqui — defensora ambiental Uchupiamona;
- Sebastián Calfuqueo — artista mapuche;
- Ailton Krenak, Patrícia Ferreira Pará Yxapy, Israel e Sueli Maxakali;
- Francisco Huichaqueo — cineasta mapuche;
- Moira Millán — escritora, cineasta, ativista e weichafe mapuche;
- Yásnaya Elena Aguilar Gil — pesquisadora da língua, história e cultura Mixe;
- o projeto “Voro'pi: Arte e Educação Entre Mundos”, com Naine Terena e Gustavo Caboco Wapichana, artistas e curadores visitantes em 2023.
A Revista Pihhy no CLACS começou a partir da conexão feita por Naine Terena. Natalia viu o projeto como um modelo para nosso trabalho, considerando-o uma das primeiras publicações acadêmicas orientadas por indígenas, com foco no “conhecimento indígena de estudiosos indígenas”.
O CLACS também atua com o Coletivo de Tradutores Berkeley-Brasil, que traduz artigos selecionados para o inglês, possibilitando que falantes de português nos EUA estudem perspectivas e produções de povos indígenas.
A edição em inglês da Revista Pihhy apresentou 12 artigos de autores dos povos Xerente, Krahô, Guarani, Kariri, Potiguara, Kaingang, Panhĩ Apinajé, Kanhgág, Tapirapé, Mehĩ-Canela, Desana e Tupinambá.
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