Como é que se planta água?"
Silvia Krikati
Os Krikati são um povo indígena do Maranhão, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, especificamente ao grupo Timbira, que também inclui povos como Canela, Krahô, Apinajé e Gavião Parkatejê.
Vivem principalmente na Terra Indígena Krikati, localizada no sudoeste do Maranhão, abrangendo áreas nos municípios de Montes Altos, Sítio Novo e Amarante do Maranhão.
A região é de transição entre Cerrado e Amazônia, com presença marcante de matas de galeria e campos.
Somos todos natureza!
De acordo com dados da Funai e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população Krikati gira em torno de 900 a 1.200 pessoas, distribuídas em várias aldeias.
Sofreram forte pressão colonizadora desde o século XIX, incluindo conflitos com fazendeiros e invasões de terras. A língua é falada no cotidiano.
A Terra Indígena Krikati foi homologada apenas em 2004, após anos de luta contra posseiros e grileiros. Hoje, enfrentam ameaças como desmatamento, queimadas, expansão da agropecuária e impactos de grandes obras. Têm um profundo conhecimento das plantas e animais do Cerrado e das matas de galeria.
“Comecei a observar a luta das mulheres, mas, além disso, também estou envolvida atualmente em um projeto chamado Plantando Água.
Você pode perguntar: "Como é que se planta água?"
Plantamos água através do plantio de árvores — um conhecimento que recebi do meu povo Krikati.
Nós sabemos quais árvores mantêm e atraem a água, quais seguram a umidade e impedem que uma nascente seque. Esse saber é ancestral.
No território, essa iniciativa não nasceu de um planejamento externo; começou com a própria comunidade. Meu projeto, especificamente, teve início em 1995.
Em 2004, o rio onde acontecia o ritual da pescada de ensinamento secou. Logo em seguida, outras partes também secaram.
Ainda era possível ver vestígios de água, pois as árvores mantinham o solo úmido. O local do acampamento já estava comprometido, mas havia sinais de verde em outros pontos. Isso me dava esperança, pois acreditava — e ainda acredito — que a água não desapareceu: ela continuava no subsolo, apenas não corria mais na superfície.
Foi nesse contexto que uma anciã, a quem chamo de coorientadora, pediu que eu cuidasse da área. A razão era simples e urgente: havia uma música tradicional que dependia desse ritual, e o ritual só poderia acontecer com água e com peixe.
Sem o rio, sem peixe, o ritual morreria!
A motivação nunca foi financeira, mas sim a preservação de um modo de vida.
Hoje, muitas pessoas falam em recuperar nascentes, mas nosso povo já vem cuidando da nascente do Pindaré desde 1995.
Este ano choveu pouco, mas a água ainda corre. É um sinal de esperança.
Na sociedade regional, esse rio é chamado Pindaré. Ele é um dos principais rios do Maranhão.
Sua nascente secou, a mata ciliar está degradada — não dentro do território, mas fora dele.
Ao longo do percurso, o rio vem sendo desmatado e assoreado. Não há mais peixes suficientes. Em alguns municípios, não existe saneamento básico e o esgoto é despejado diretamente no rio, sem qualquer tratamento.
O Pindaré precisa de cuidado não apenas em seu ponto de origem, mas em todo o seu trajeto até chegar ao mar. Ao longo do percurso, recebe diferentes nomes.
Próximo à aldeia Pihhyaré, ao norte do território, a cerca de 50 quilômetros, o rio também é conhecido como Caboclo Velho — nome que surgiu após o assassinato de um ancião no local, episódio que ficou marcado na memória da comunidade.