MENSAGEM À COP30
Mensagem para a COP30
Tsibidadze Xavante
A revista Pihhy se manifesta publicamente em direção à COP30 e contra o chamado "PL da Devastação" — um conjunto de propostas legislativas que ameaça os direitos indígenas, o meio ambiente e o futuro do planeta.
Neste contexto, iniciamos uma nova seção especial dedicada à COP 30, que será realizada em Belém, para dar voz aos povos originários, intelectuais indígenas e lideranças que lutam por justiça climática e pela vida.
A seguir, compartilhamos a fala de Garcia Tsibdadze, do povo Xavante:
Os Xavantes são um povo indígena brasileiro, pertencente à família linguística Jê, que habita principalmente o estado do Mato Grosso, na região Central-Oeste do Brasil.
São conhecidos por sua organização social, rituais e uma relação profunda com o território em que vivem.
Somos todos natureza!
Falam a língua Awe-Uptabi, que faz parte do tronco linguístico Jê.
Os Xavantes tiveram um contato intenso com não indígenas a partir do século XX, enfrentando processos de deslocamento, violência, perda de terras e conflitos, mas também resistiram culturalmente e politicamente.
Atualmente, eles lutam pela demarcação e proteção de seus territórios, pela valorização e preservação de sua cultura, além de participação em processos políticos e sociais no Brasil.
“Meu nome é Garcia Tsibdadze, sou do povo Xavante e moro na aldeia Marãiwatsédé, localizada na Terra Indígena Marãiwatsédé.
Trago minha reflexão sobre o projeto de lei que chamamos de PL da Devastação, e também sobre a importância dos saberes e do protagonismo indígena na luta pela vida e pelo planeta. Não ao PL da Devastação!
Esse projeto é um conjunto de propostas que tramitam no Congresso Nacional e que buscam enfraquecer as leis ambientais do Brasil. Ele tenta liberar mais desmatamento, autorizar o garimpo ilegal, aumentar o uso de agrotóxicos e reduzir a proteção aos territórios indígenas e às florestas.
Na prática, é um ataque direto à vida dos povos indígenas e à vida do planeta como um todo.
Esse projeto representa uma tentativa de apagar as políticas ambientais que ainda protegem nossas matas, nossos rios, nossos animais e territórios.
Ele reflete os interesses de um agronegócio predador, que enxerga a terra apenas como mercadoria. Nós, povos indígenas, não aceitamos isso.
Defendemos a vida. Defendemos a floresta em pé, os rios limpos, o futuro das próximas gerações.
Como diz Davi Kopenawa, o branco, com sua epistemologia ocidental, é o “povo da mercadoria”. Ele transforma tudo em produto: a árvore, o rio, o corpo — até o tempo. É como um animal predador, devora tudo, sem pensar nas consequências, sem respeitar a vida. Esse pensamento vê a Terra apenas como objeto de uso. Nós, não.
Nós vemos a Terra como mãe, como ser vivo!
A epistemologia ocidental cria separações: natureza e cultura, espírito e corpo, humano e animal, oralidade e escrita.
Nós, povos originários, não separamos. Para nós, natureza e cultura são a mesma coisa. A Terra fala. A água tem espírito. O canto cura.
A história vive nos corpos e na floresta.
Essas dicotomias criadas pelos brancos servem para dominar e explorar.
Como diz o pensador Ailton Krenak: “Somos todos natureza.”
Essa frase ensina que não estamos fora da natureza — nós somos natureza.
A montanha, o rio, o vento, os seres humanos: todos fazem parte do mesmo corpo vivo. Por isso, destruir a floresta é destruir a nós mesmos.
As epistemologias indígenas reconhecem isso.
Tudo tem vida.
Tudo tem vida. Tudo tem espírito. Tudo merece respeito.
A resposta para a crise climática e ambiental somos nós!
A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), o ATL (Acampamento Terra Livre) de 2025, mostram isso.
Somos guardiões das florestas, conhecedores das plantas, dos ciclos, das terras, das águas.
Temos palavras, rituais, danças, histórias e saberes milenares que ensinam a cuidar do planeta.
Nossa luta é pela vida. Por um outro mundo possível. Com mais respeito, equilíbrio e reciprocidade.
Nós, povos indígenas, não queremos apenas ser ouvidos.
Queremos decidir. Queremos viver. Queremos ensinar.
Por isso, eu digo com força: NÃO ao PL da Devastação.
Somos todos natureza. Respeite. Somos nós.
É isso!
Muito obrigado!