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ABERTURA
XX Encontro de Escritores e Artistas Indígenas: MinC marca presença no primeiro dia de atividades
Foto: Gabriel Ferreira
Ancestralidade, cultura, literatura, reconhecimento, reparação e respeito marcaram a abertura da 20ª edição do Encontro de Escritores e Artistas Indígenas, realizada nesta quarta-feira (15) no Museu de Arte do Rio (MAR). Com o auditório lotado, o evento reuniu representantes de diversos povos indígenas, lideranças, artistas, escritores, ativistas e gestores culturais em um dia de intensos diálogos sobre o fortalecimento e a valorização das culturas indígenas. Estiveram presentes na abertura representantes do Ministério da Cultura (MinC), entre eles o secretário de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli), Fabiano Piúba; o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi; e o presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), Alexandre Santini.
“Quando a gente pensa na literatura, precisamos pensar como continuidade e valorização da oralidade. Estamos aqui celebrando 20 anos de uma estrada, o que queremos fazer é dar um abraço no Brasil. O abraço gera compromisso e transforma, e a literatura tem também esse componente importante: ela permanece”, disse o escritor indígena Daniel Munduruku durante a abertura das atividades.
O secretário de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli), Fabiano Piúba trouxe, para o diálogo, fala recente do Daniel Munduruku quando o escritor afirmou que: aos pais cabe à educação do corpo e os avós cabe à educação da alma, “E isso me lembrou um trecho de uma entrevista que o Ziraldo fez para o Orlando Villas-Bôas, quando perguntou para ele o que ele mais aprendeu no seu convívio com a sociedade indígena. E isso é uma tradução de um branco falando: o velho é o dono da história, o adulto é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo”, apontou Piúba. Continuando o pensamento, o gestor do MinC, falou ainda que essa frase traz, para o poder público, uma perspectiva de política pública e de ação de transmissão da história e da memória de um patrimônio cultural. 
O presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini, destacou que a atividade expressa a própria missão e visão do Ministério da Cultura. “É o MinC se reposicionando com os saberes e com a reparação histórica. Essa é uma ação de qualificação das nossas instituições. Não se trata apenas de um encontro, mas de um processo, de um movimento em curso. Ao dialogar com os saberes indígenas, as instituições se afirmam como espaços de escuta, de diálogo e de reconhecimento da diversidade que constitui o Brasil. Ampliamos o olhar quando passamos a incorporar as cosmovisões indígenas, fortalecendo, de fato, a pluralidade cultural brasileira.” 
Também presente na abertura, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi, citou que o encontro significa uma virada de página, uma reconstrução equânime e reparatória. “E estamos aprendendo muito com os povos indígenas. A Biblioteca Nacional tem ampliado as suas prateleiras étnicas, não queremos só a dor da escrita, queremos também a utopia. E todas as linhas que nos constituem. A FBN tem crescido seus mecanismos e conversado com o Museu dos Povos Indígenas. Precisamos das pluralidades dos povos originários”, ressaltou. 
Após a abertura oficial, o escritor e idealizador do evento, Daniel Munduruku proferiu palestra com o tema “Vozes ancestrais: o tênue fio entre literatura e oralidade”. Para ele, a oralidade não é só uma ferramenta de comunicação, mas também é uma manter viva a memória, não nas prateleiras, mas na leveza do pensamento:
“A gente sempre dizia que precisamos mudar um pouco a ideia de literatura quando se trata dos indígenas. Porque, para nós, a literatura não é só escrita. Então a gente não faz literatura simplesmente porque a gente escreve. A gente faz literatura porque a gente existe. E essa existência, ela reverbera através dos instrumentos que a gente tem”, expressou Munduruku.
A programação da quarta-feira (15) seguiu com homenagem a Elizabeth D’angelo Serra (secretária geral da FNLIJ), com a apresentação poético e cultural coral Guarani de Maricá, continuando com a mesa sobre literatura indígena e o arquivo-museu com a presença de Alexandre Santini, Gustavo Caboco, Fernanda Kaingang, Marco Lucchesi e mediação de Naine Terena. Por fim, o evento trouxe também a cerimônia de doação de arquivo à Fundação Casa de Rui Barbosa e lançamento de livros com sessão de autógrafos.
Saiba mais
Idealizado pelo escritor e educador Daniel Munduruku, com a coordenação da professora de literatura da Universidade Federal Fluminense (UFF), Claudete Daflon, em parceria com a Coordenação de Pesquisa e Políticas Culturais do Museu Nacional dos Povos Indígenas (MNPI), a ação tem como ponto de partida o protagonismo indígena na área cultural. A programação inclui mesas de conversas, lançamentos de livros, roda de poesia, apresentações musicais, oficinas de ilustração e atividades para crianças, tudo de graça e aberto ao público.
No dia 18 de outubro, último dia do encontro, acontecerá a etapa cultural na Fundação Casa de Rui Barbosa, com apresentações musicais, oficinas de ilustração, atividades para crianças, contação de histórias, roda de poesia e feira de artesanato e de livros indígenas. Será um dia cultural para toda a família.
O evento terá programação nesta quinta-feira (16), e sexta-feira (17), no MAR e no próximo sábado um dia especial, com atividades culturais, na Fundação Casa de Rui Barbosa. A programação está sendo transmitida no Youtube, clica aqui.