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CIRCO
No picadeiro do MICBR: showcases celebraram o circo brasileiro em toda sua força
Foto: Carol Lando/MinC
No último dia de showcases do MICBR+Ibero-América, o Teatro Dragão do Mar virou uma arena com risos uníssonos, e artistas de diferentes regiões do país se reconheciam no brilho uns dos outros. Houve estreia, reencontro, cumplicidade e, principalmente, aquela sensação rara de coletividade que só o circo é capaz de provocar. Antes do pano cair, quem estava lá carregava a certeza de ter participado de algo maior — um rito de comunhão e celebração da diversidade circense brasileira.
O K’Os Coletivo, do Ceará, realizou sua “guerra de cupcake”, um espetáculo tão caótico quanto preciso, onde a plateia vira cúmplice, testemunha e alvo. A palhaça Aline Campêlo descreveu o momento com um resumo perfeito da noite: “Arte é agregar, é expandir. E aqui, após quatro dias juntos, a gente sente como se tivesse reencontrando amigos e conhecendo gente nova ao mesmo tempo.” A apresentação, moldada no improviso — marca registrada do grupo — fez o público participar ativamente da cena. Houve quem saísse lambuzado, mas sorrindo. “Eu acho incrível ver grupos de tantos lugares diferentes aqui. O MICBR aproxima as pessoas de um jeito que a gente não vive no dia a dia”, comentou Aline Barbosa, do Teatro Virgínio Cesi (Macaé-RJ), enquanto ainda limpava farinha do braço.
Para Aline, que também é palhaça, a noite era uma oportunidade de entender o que está sendo produzido no país: “É uma possibilidade de ver o novo, de ver o que tá nascendo, de ver os trabalhos frescos da nossa linguagem.” Era exatamente essa a sensação — de estar diante de uma cena viva, em transformação.
A Lamira Artes Cênicas trouxe do Tocantins uma fisicalidade mais densa, onde dança, teatro e circo se entrelaçavam em cenas arquitetadas milimetricamente. A plateia assistia em silêncio, quase em suspensão.
O Instrumento de Ver, de Brasília, ampliou esse sentimento. Misturando literatura, audiovisual e circo contemporâneo, o coletivo apresentou um espetáculo cuja força vinha tanto da delicadeza quanto da técnica. Mulheres à frente da criação, elas transformavam cada gesto em narrativa.
O Circo Zanni, por sua vez, trouxe a memória afetiva dos circos clássicos. Era como revisitar um Brasil que ainda mora no imaginário coletivo: banda ao vivo, trapezistas, acrobacias que fazem a respiração suspender.
Por fim, a Cia dos Palhaços e, depois, o Palhaço Xuxu, papel circense de Luis Carlos Vasconcelos que atravessa a palhaçaria desde 1978 – transformaram a última hora em apoteose. Xuxu, sempre performático, parecia conhecer cada respiração do teatro.
“A gente improvisa, mas é improviso que vem do corpo, da música, do tempo. É treino também. É estudo”, afirma Pipiu, do K’Os Coletivo, complementou em conversa: “Nosso improviso é uma tríade: a gente, a técnica e o público. Sem uma dessas pontas, não existe espetáculo”, conclui em meio a uma clássica vaia cearense. A presença do público, inclusive, também deu o tom. “É muito bacana ver essa diversidade toda junta num só lugar”, disse Aline Barbosa, ainda eletrizada. “É corrido, é intenso, mas é incrível.” O MICBR entregou ao circo o que ele sempre mereceu: espaço, luz, atenção e um público pronto para rir sem moderação.
MICBR+Ibero-América
A edição 2025 aconteceu em Fortaleza entre os dias 3 e 7 de dezembro foi uma realização do Ministério da Cultura, correalização da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), do Governo do Estado do Ceará, por meio da Secult Ceará, e da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secultfor.
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