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No Dia Nacional do Livro Infantil, autores destacam o papel da literatura para crianças na atualidade
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
“A literatura infantil tem o papel de ampliar horizontes, promover descobertas, reflexões, expandir vocabulário e, por que não, divertir. Ela une como ninguém prazer e conhecimento. É um belo casamento!”, observa a escritora Rita Carelli, responsável por obras como A Menina Mandioca, baseada na lenda do alimento e sua relação com os povos indígenas. O gênero literário é celebrado nesta sexta-feira, 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil.
Segundo a autora, a festividade contribui para afirmar a existência da literatura infantil e sua potência. “Datas comemorativas servem para valorizar e jogar luz nos objetos aos quais se consagram”, sublinha.
Instituído pela Lei nº 10.402, de 8 de janeiro de 2002, o 18 de abril homenageia Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira, criador da série de livros Sítio do Picapau Amarelo, nascido no mesmo dia, em 1882.
Para o secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), Fabiano Piúba, o gênero tem origem singular. “Ele nasce com as vozes que são emprestadas. Desde a maternidade é uma mãe, avó, pai, avô contando ou lendo histórias para as crianças. É uma literatura orgânica que tem um papel vital da mediação do adulto com a criança”, comenta o secretário de Formação, Livro e leitura do Ministério da Cultura (MinC), Fabiano Piúba.
Ele salienta ainda o papel da literatura infantil na formação de leitores e sua relação com as políticas públicas. “É um produto cultural importante para que chegue nas escolas, nas bibliotecas, nas famílias, como componente de formação de leitores, e o Ministério da Educação e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação têm o Programa Nacional de Livro Didático Literário, em que por ciclos há o fomento da produção e desenvolvimento da economia criativa e produtiva do livro brasileiro por meio dessa literatura”, ressalta.

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Foto: Rafael Roncato
No mundo atual, caracterizado pelo excesso de telas e de informações, o desafio dos autores para atrair os leitores é maior. “Trazer temas contemporâneos, bem como questões importantes, é um estímulo para o artista hoje. A literatura infantil é um espaço interessante em termos de experimentação gráfica e de linguagem, mas também para falar a respeito de questões étnico-raciais”, pondera o quadrinista e ilustrador Marcelo D’Salete, responsável por títulos como o álbum Cumbe, sobre o período colonial e a luta contra a escravidão no Brasil, que recebeu em 2018 o prêmio Eisner de melhor edição americana de material estrangeiro.
“O público leitor hoje é cada vez mais diverso e muitas vezes quer se ver representado ou desejar histórias que dialoguem com a sua realidade. Para o autor, a discriminação e racismo são temas que as crianças muitas vezes começam a se deparar e a discutir a partir de seis, sete anos, então, a literatura infantojuvenil é um espaço para se debater isso com elas também”, acrescenta.

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Foto: Divulgação
Filha de indigenistas, Rita Carelli cresceu frequentando aldeias, o que serviu mais tarde como inspiração para muitos de seus livros, entre eles Minha Família Enauenê. Ela acredita que a temática tem conquistado novos leitores. “Minhas filhas e seus amigos acompanham os livros que tratam dos universos indígenas com entusiasmo e acredito que, de uma forma geral, esse assunto, depois de ignorado e tratado como um subtema por tanto tempo, tem ganhado cada vez mais atenção das pessoas”.
Brasiliana e prêmios
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, frisa que a entidade vinculada ao MinC desenvolve uma série de iniciativas para o livro infantil. Entre elas a ampliação da Brasiliana de Literatura Infantil e Juvenil. O portal, com acesso gratuito, contempla não somente as obras escritas no Brasil, mas também as traduzidas no país.
Cita ainda os prêmios da FBN voltados para a infância, como o Sylvia Orthof (literatura infantil), Glória Pondé (literatura juvenil), Carybé (ilustração) e, eventualmente, Adolfo Aizen (quadrinhos).
“A Casa da Leitura é também o marco de referência que integra projetos de mediação e disseminação da sinergia do leitor, no diálogo entre alunos, professores e mediares de leitura, numa série de seminários, e no cumprimento da Agenda 2030 da ONU”, completa Lucchesi.

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Foto: Divulgação
Ganhadora do Prêmio Sylvia Orthoff em 2023, com o livro Amanhã, a escritora Lúcia Hiratsuka, enfatiza o valor da honraria. “Quando comecei a ilustrar, lia as obras de Sylvia Orthoff, uma referência na literatura infantojuvenil. Um prêmio que leva esse nome é significativo. E Amanhã tem como ponto de partida a memória de três mulheres, de gerações diferentes, nos seus primeiros dias de escola, com novas descobertas. Por isso torna-se ainda mais especial quando o reconhecimento chega por meio de uma biblioteca”, analisa.