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MICBR+IBERO-AMÉRICA 2025
Líderes ibero-americanos debatem o futuro das plataformas criativas como pontes para a integração regional
Foto: Victor Vec/ MinC
Em um dos debates mais aguardados do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR) + Ibero-América 2025, representantes de cinco países ibero-americanos se reuniram, no início da tarde desta sexta-feira (5), para discutir o papel estratégico das plataformas criativas como catalisadoras da cooperação e do desenvolvimento econômico na região. O painel Plataformas Criativas na Ibero-América: Pontes para a Articulação Regional, foi mediado pela secretária de Economia Criativa, Cláudia Leitão, e aprofundou as discussões sobre sustentabilidade, governança e inovação no setor.
A mesa abordou como essas plataformas — que incluem hubs de inovação, redes de colaboração e territórios criativos — funcionam como “infraestruturas brandas” capazes de conectar agentes, instituições e ecossistemas diversos. O objetivo central foi refletir sobre as condições necessárias para fortalecer essas iniciativas, permitindo que transcendam fronteiras nacionais e promovam uma agenda compartilhada de projeção internacional para a cultura ibero-americana.
“No espaço ibero-americano se encontram as maiores oportunidades, justamente porque a gente compartilha um passado histórico e similaridades culturais”, afirmou o secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares. Ele completou: “todos nós, na Ibero-América, temos uma alta informalidade no setor cultural. Precisamos criar pontes de mobilidade e zonas de encontro para fortalecer agentes culturais periferizados e vulnerabilizados. Essa é uma visão regional de uma integração solidária, cooperativa, em que a gente se enxerga verdadeiramente como irmãos”.
“Precisamos encontrar formas ágeis para gerir as nossas políticas públicas voltadas à cultura e à economia dos bens e dos serviços simbólicos”, complementou Cláudia.
Representando um conjunto diversificado de realidades e políticas públicas, os palestrantes compartilharam experiências e visões sobre os desafios e oportunidades para o setor. Participaram do debate Humberto López La Bella, diretor-geral de Gabinete da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai; Norma Marina Díaz Gómez, coordenadora do Projeto de Potenciação das Indústrias Culturais e Criativas de Honduras; Ivan Santos, diretor de Gabinete do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; Fabián Sánchez Molina, vice-ministro das Artes e da Economia Cultural e Criativa da Colômbia.
Um dos pontos centrais da discussão foi a necessidade de construir modelos de articulação multissetorial que envolvam governos, o setor privado e a sociedade civil. Fabián Sánchez Molina, da Colômbia, utilizou uma parábola para ilustrar a importância da união: “juntos somos mais fortes, separados somos fracos. Penso que deveríamos pensar a nível regional, na formação, na circulação, na promoção e, claro, numa política sólida de governação cultural”.
As inovações digitais e as ferramentas colaborativas também foram destacadas como elementos transformadores para a gestão cultural. Ivan Santos, de Cabo Verde, ressaltou o potencial de seu país como um hub criativo. “A nossa cultura já é um produto de exportação por excelência. Investir em outras plataformas criativas significa aumentar substancialmente a exportação de bens e serviços criativos, atraindo investimento estrangeiro para infraestruturas culturais e de produção, e posicionar Cabo Verde como um hub criativo no Atlântico”, declarou.
Norma Marina Díaz Gómez, de Honduras, enfatizou a importância de construir redes desde a base. “Temos que começar pelas bases. Quais são as bases? Nossos seres humanos, nossos artistas. Esse é o primeiro passo. As indústrias culturais e criativas são um novo paradigma, é um novo pensamento de articulação econômica, de ver a cultura desde uma perspectiva econômica, a economia criativa”, pontuou.
Ao final, o debate reforçou o consenso de que o fortalecimento das plataformas criativas é fundamental para que a Ibero-América se posicione como um ator relevante nas discussões globais. Humberto López La Bella, do Paraguai, destacou o sucesso do Mercosul Cultural como um modelo a ser seguido. “O Mercosul Cultural é uma plataforma que vem trabalhando há 30 anos para fomentar a cooperação, facilitar a internacionalização de artistas e democratizar o acesso. Não como queríamos, mas se avançou”, concluiu.
Certificação e fortalecimento do artesanato brasileiro
Um marco histórico para a cultura cearense foi registrado na manhã desta sexta: o anúncio da certificação inédita do artesanato do Ceará. O novo selo reconhece a qualidade, tradição e inovação das produções artesanais do estado, ampliando oportunidades de mercado e reforçando a importância dos fazedores de cultura no desenvolvimento econômico regional. O painel sobre o Selo do Artesanato Brasileiro - Piloto Ceará reuniu o deputado federal e presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Luiz Gastão; o presidente do Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Ceará (Ipem-CE), Francisco Barroso; e mediação da secretária de Economia Criativa (SEC), Cláudia Leitão.
A secretária do MinC contextualizou os desafios históricos do setor, destacando a ausência de uma política estruturada para o artesanato dentro dos governos. Para ela, o selo representa um passo estratégico para reposicionar o segmento como força econômica. “Precisamos levá-lo para uma dimensão que vá além do simbólico, reconhecendo seu papel econômico nos territórios”, afirmou.
Cláudia também alertou para o risco de perda de saberes tradicionais. “Precisamos garantir dignidade para que não desistam de trabalhar dentro dessa artesania reconhecida no mundo todo”.
A certificação anunciada durante a programação do MICBR — construída em parceria com INMETRO e Ipem-CE — cria um processo voluntário capaz de assegurar origem, rastreabilidade e autenticidade das peças, como explicou Francisco Barroso. Segundo ele, o selo abre portas para novos mercados: “O produto terá rastreabilidade e o selo do Inmetro, o mais acreditado do Brasil. Isso vai agregar valor para exportação”.
O debate pontuou ainda a necessidade de estratégias integradas de desenvolvimento territorial. Luiz Gastão destacou que o fortalecimento do artesanato passa por qualificar as referências culturais locais.
A economia criativa como força de desenvolvimento da Ibero-América
No período da manhã, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, participou do painel Economia Criativa como Força do Desenvolvimento de Ibero-América. “Nós tivemos que fazer todo um trabalho de reconstrução do que foi desconstruído. Um desmonte que deixou uma sequela, porque descontinuou políticas que já estavam mais capitalizadas e enraizadas no território nacional”, declarou. A ministra também abordou a necessidade de um novo marco regulatório, em destaque ao recente regulamentação do Sistema Nacional de Cultura (SNC), que organiza as responsabilidades de municípios, estados e Governo Federal
A ministra acrescentou que o setor cultural deve ser entendido como um potente vetor de economia e transformação social e citou a política Brasil Criativo e o potencial transformador no desenvolvimento de territórios por meio da economia criativa. “Estamos lançando a política Brasil Criativo, para identificar os potenciais dos territórios, como o artesanato, e qualificar essa produção com valorização e circulação”, explicou. Por fim, a ministra reforçou a importância das parcerias internacionais e uma visão de futuro. “Estamos trazendo acordos de colaboração com vários países, da América Latina, África e Europa. É preciso apostar na nova geração chegando a lugares de poder para trazer novas perspectivas de vida. Acredito muito nisso”, concluiu.
Ao diretora nacional de Cultura do Ministério da Educação e Cultura do Uruguai, María Eugenia Vidal, defendeu que as economias criativas devem ser um motor de desenvolvimento justo e soberano dos países. “Precisamos descolonizar nossas formas de produzir cultura, criatividade e bem-estar. Nossas economias criativas são poderosas porque abrem novas conversas e novas formas de nos vincularem”, afirmou. Ela também enfatizou a urgência de enfrentar as assimetrias globais: “Temos um desafio central: defender nossa soberania cultural em um contexto dominado por plataformas transnacionais. A região não pode ficar subordinada a modelos de negócios que não refletem nossas realidades”. Para Vidal, a base dessa soberania é garantir que “nossos conteúdos possam circular, nossas línguas sejam visíveis e nossas criadoras tenham condições justas”.
O ministro da Cultura de El Salvador, Raul Castillo, também fez parte da mesa que contou com a mediação do diretor-geral de Cultura da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), Raphael Callou.
Agentes em rede e o fomento aos mercados das artes
A sustentabilidade das redes culturais e seu papel na articulação de políticas públicas foram tema do painel Agentes em rede e o fomento aos mercados das artes. Mediado pela coordenadora-geral de Fomento da Funarte, Luísa Hardman, o debate reuniu o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do MinC, Henilton Menezes; a CEO da Sarau Cultura Brasileira, Andrea Alves; a produtora cultural Melina Hickson; e a presidente-fundadora da Bienal das Amazônias, Lívia Conduru.
Os participantes também discutiram os desafios de estruturação e sustentabilidade das redes culturais, a importância para a territorialização das políticas públicas e a capacidade de conectar pautas nacionais aos ecossistemas regionais e locais das artes.
Durante o painel, o secretário de Fomento detalhou as estratégias do MinC para nacionalizar os recursos da Lei Rouanet e fortalecer o setor cultural nas diversas regiões brasileiras. Ele afirmou que a Pasta atua para incluir regiões historicamente com menos acesso aos recursos de incentivo à cultura. “Fazemos um trabalho para chegar em lugares como Amapá, Roraima, Sergipe ou mesmo o Espírito Santo, que ficavam à sombra dos grandes centros”, explicou. Menezes destacou a criação de cotas e critérios de equidade presentes no editais compartilhados do MinC. “Em nossos programas especiais, inserimos cotas e valores mínimos por região e segmentos artísticos, de modo a garantir equidade e a democratização no financiamento de atividades culturais. Isso não é injustiça, é compensação para se criar equidade no setor cultural e oportunizar”, defendeu.
Já a diretora executiva da Sarau Cultura Brasileira, Andrea Alves, baseou-se em sua experiência de 33 anos no setor cultural para defender a organização coletiva como "força transformadora" do cenário. Ela explicou que, durante muito tempo, os agentes culturais atuaram de forma fragmentada, o que limitava sua capacidade de incidência. "A gente aprendeu que, antes, estávamos muito divididos, lutando isoladamente pelos nossos direitos. Percebemos que precisávamos nos agrupar", afirmou. Segundo ela, foi ao observar a articulação bem-sucedida de outros setores, como o audiovisual, que a classe artística entendeu a necessidade de criar associações fortes.
Rodadas de negócios, mediações e programação no Banco do Nordeste
As rodas de conversa entre compradores e vendedores reuniram agentes culturais, produtores e marcas independentes interessados em novas parcerias, abrindo espaço para negociações, trocas de contatos e apresentação de portfólios. Além disso, as mentorias especializadas, oferecidas na parte da tarde, também atraíram profissionais em busca de orientação sobre gestão, posicionamento e estratégias de internacionalização.
Paralelamente aos debates e painéis, o Centro Cultural Banco do Nordeste (BNB), que também integra a programação da edição 2025 do Mercado, recebeu uma programação dedicada ao fortalecimento de redes profissionais e ao impulsionamento da economia criativa.
Dentre os assuntos discutidos nas mesas, estavam: empreendedorismo na periferia e os novos modelos para a economia criativa brasileira, acessibilidade como ponto de partida e os desafios e oportunidades do mercado das artes circenses no Brasil atualmente.
Saiba mais sobre o MICBR+Ibero-América 2025 aqui.
MICBR+Ibero-América
A edição 2025 é uma realização do Ministério da Cultura, correalização da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), do Governo do Estado, por meio da Secult Ceará, e Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secultfor.
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