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SEGUNDO DIA
IX Encontro Ibero-Americano de Redplanes: debates sobre leitura, memória, futuro e liberdade
Foto: André Luiz Mello
“Por isso que a leitura, ao tempo que é um ato de memória, e de futuro, também é um ato de liberdade”. Com essa reflexão, o secretário de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli), do Ministério da Cultura (MinC) deu início, na terça-feira (14), ao segundo dia do IX Encontro Ibero-Americano de Redplanes, no Museu de Arte do Rio (MAR). O evento, que segue até a quinta-feira (16), reúne delegações governamentais e especialistas de 21 países para debater os desafios e caminhos comuns das políticas públicas de leitura na Iberoamérica.
A programação trouxe uma diversidade de painéis com destaque para o Diálogo Inaugural com a presença do historiador Roger Chartier e a escritora Conceição Evaristo. Além disso, foi realizada a apresentação do Plano Nacional de Leitura do Brasil (PNLL) e uma conversa sobre os avanços e desafios, com a participação do diretor-geral do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, Jéferson Assumção, a diretora de Apoio à Gestão Educacional do Ministério da Educação (Brasil), Anita Stefani e moderação da diretora técnica de Leitura, Escrita e Bibliotecas do Cerlalc-Unesco (Colômbia), Jeimy Hernández.
Em sua participação no Diálogo Inaugural, o secretário do MinC, Fabiano Piúba falou sobre a diferença entre leitura solidária e solitária, e abriu portas para as reflexões para que os convidados pudessem adentrar. “Então, se a gente aprende a ler para escrever a nossa própria história, a escrevivência para você, Conceição, é uma chave para a leitura e para a escrita, para que a gente possa contar a nossa própria história?”, perguntou o secretário.
Incrementando o debate, a escritora Conceição Evaristo falou sobre a importância de um olhar histórico e de uma perspectiva ancestral. “Essa ideia de criação da escrevivência, eu fui buscar na história do Brasil e a função da Mãe Preta. As funções da Mãe Preta são muitas, cuidar da prole colonizadora, ela era mãe de leite, e acabou sendo a primeira educadora da criança da casa grande. E havia um momento em que essa mãe preta, essa mulher escravizada dentro de casa, ela pegava as crianças e contava histórias”, apresentou a escritora Conceição Evaristo.
Ainda dialogando com o público, Conceição Evaristo citou a importância de se pensar no direito à escrita e na democracia. Para ela, o país democrático e ele tem que ser assim em todos os setores: na educação, na saúde, na arte. “Então, é viver plenamente uma democracia, eu acho que é valorizar e viver plenamente o estado de arte que uma nação revela, principalmente através da leitura, da escrita, do livro”.
Trocando ideias com a escritora, o historiador Roger Chartier trouxe contribuições salutares. Em sua participação, o professor se relacionou também com o termo escrevivência. “Temos a noção de comunidade de interpretação, a noção de horizonte de expectativa, a noção de resposta da leitura, e permite, a noção de experiência, de ligar de uma maneira mais profunda, a espiritualidade com as trajetórias das vidas, das existências sociais, com as memórias compartilhadas, com as relações afetivas, intelectuais”, frisou o historiador convidado. Para ele, nessa perspectiva, a experiência se deve, se pode escrever no cultural e assim desenhar a diversidade social das práticas feitas possíveis pela alfabetização, pelo letramento das populações.
Novo PNLL
O segundo dia do evento seguiu com mesas diversas. No turno da tarde, uma delas ganhou destaque por trazer detalhes do novo Plano Nacional do Livro e Leitura, uma realização MinC e MEC, cujo texto final deve ser finalizado em breve, ainda em 2025.
A mesa “A Política e o Plano Nacional de Leitura do Brasil: avanços e desafios trouxe a fala do diretor-geral do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do MinC, Jéferson Assumção. “Não é um plano apenas do Ministério da Cultura ou do Ministério da Educação, mas é o Estado e a sociedade em um pacto pela leitura. Portanto, se trata de um planejamento muito especial, porque é um planejamento que, ao mesmo tempo, é um pacto pelo desenvolvimento do nível da leitura no Brasil”, frisou o diretor. A diretora de Apoio à Gestão Educacional do Ministério da Educação (Brasil), Anita Stefani, explicou que essa parceria de trabalho entre o MinC e o MEC tem trazido metas ousadas e importantes entregas para a população. "Temos feito muitas ações em parceria. Estamos em vias de ter um novo plano nacional, até o final desse ano, assinado pelo presidente Lula, com metas ousadas para os próximos 10 anos. Para que a sociedade como um todo se sinta responsável e possa cobrar do governo e dos outros atores sociais a sua parte”, finalizou. 
Outras cosmovisões
O momento seguiu com o painel sobre o direito à escrita e à palavra na construção de novos futuros com a especialista em leitura, idealizadora da Cátedra Unesco de Leitura no Brasil (Brasil), Eliana Yunes, com o escritor e educador, Daniel Munduruku e moderação da consultora internacional, especialista em políticas de leitura e bibliotecas, Laboratório Emília, Inés Miret.
O escritor Daniel falou sobre essa concepção do tempo, essa cosmovisão que alimenta o ser Munduruku. “Eu fui um bom ouvinte, um bom observador, um bom leitor de mundo, de criar mundos possíveis. Meu avô era um homem muito sábio, sempre me colocando na posição de ouvinte: os avos são os que unem o passado ao presente, contando histórias, elas histórias trazem para gente algo oculto. Aos pais cabe a educação do corpo, aos avos cabem a educação da alma. Vai dando uma raiz”, frisou.
Eliana Yunes conversou sobre como a literatura aproxima as pessoas e possibilita justiça social. “Em que se pode falar sobre a possibilidade de pelo menos diminuir as diferenças e aproximar pessoas com pontos de vistas diversos. A arte da imagem, das construções. Do imaginário humano, isso nos aproxima”, apontou a escritora.
Painéis
Além disso, o evento contou também com a mesa sobre os Desafios educacionais para as políticas de leitura, escrita e oralidade. A atividade contou com a presença da coordenadora da pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, Instituto Pró-Livro (Brasil), Zoara Failla; da especialista sênior em Educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Colômbia), Ximena Dueñas e Moderação de Isaline Cardoso (MEC).
Uma outra ação, na programação do segundo dia, trouxe o tema de Leitura, escrita, oralidade e livro: elementos-chave da cooperação e do desenvolvimento na Ibero-América. O momento contou com a presença da diretora do Cerlalc-Unesco, de Margarita Cuéllar Barona; de diretor-geral de Cultura da OEI, Raphael Callou; do coordenador do Espaço Cultural Ibero-Americano, Segib, Enrique Vargas; do diretor e representante do Escritório Regional da Unesco para a América Central, México e Colômbia, Alexander Leicht e moderação de Bruno Melo, assessor especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Cultura (Brasil).
Sobre o Encontro Ibero-Americano de Redplanes
O encontro, que se estende até o dia 16, reúne delegações governamentais e especialistas de 21 países para debater os desafios e caminhos comuns das políticas públicas de leitura na Iberoamérica. A iniciativa é promovida pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe (Cerlalc), em parceria com o MinC, o MEC e a OEI, com o objetivo de fortalecer a leitura, a escrita e a oralidade como instrumentos de cidadania e desenvolvimento democrático.
Em um cenário marcado por profundas desigualdades e crise de aprendizagem leitora, o encontro propõe renovar compromissos e estratégias de cooperação regional. Segundo o Cerlalc, a leitura deve ser tratada como um direito fundamental e uma ferramenta de inclusão social, capaz de ampliar o acesso ao conhecimento e reduzir as lacunas culturais e educacionais na região.
As mesas e painéis estão sendo transmitidas no canal do Youtube do MinC, aqui.