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FORMAÇÃO
Arte, resistência e memória: no mês da Consciência Negra, Escolas livres ofertam programações voltada à equidade racial
Foto: Acervo Associação Obras Sociais Irmã Dulce
Arte e ancestralidade. No mês da Consciência Negra, as 68 Escolas Livres de Arte e Cultura trazem em suas programações ações formativas e atividades culturais diversas que fortalecem a promoção da igualdade racial.
Nesse contexto, o Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli), destaca entidades que atuam com a pauta, e possuem iniciativas que promovem o conhecimento, a autonomia e a justiça social, nessa compreensão da arte como espaço de formação e de transformação social, de liberdade. Da importância de cada umas dessas 68 entidades, atualmente organizadas na Rede Nacional de Escolas Livres do Ministério da Cultura (MinC), trazerem em suas agendas, ações que fortaleçam a democratização dos saberes e fazer ancestrais, das histórias, artes e identidades afro.
Para isso, apresentamos aqui destaques de algumas Escolas Livres que têm realizado programações no mês de novembro.
Observatório de Favelas
A Escola de Fotografia Popular Imagens do Povo, do Observatório de Favelas, divulga ações do mês de novembro. Destaque para a Exposição Corpos em Travessia, aberta ao público entre os dias 7 de novembro até março de 206, na Galeria 535 – Rua Teixeira Ribeiro, 535 – Maré, Rio de Janeiro/RJ. A exposição Corpos em Travessia reúne registros sensíveis de corpos dissidentes – mulheres, pessoas trans, travestis, não-binárias, LGBTQIAPN+, corpos negros, indígenas, gordos e periféricos – revelando gestos de cuidado, afeto, ancestralidade e resistência presentes em seus cotidianos. Mais do que uma coleção de imagens, a mostra celebra vidas historicamente invisibilizadas, reconhecendo a diversidade, os sonhos e as presenças que atravessam e transformam nossos territórios. 
Outra atividade importante é a 2Oficina de Preservação Fotográfica, com encontros que acontece no dia 25 de novembro, na Galeria 535 – Rua Teixeira Ribeiro, 535 – Maré, Rio de Janeiro/RJ. As Imagens do Povo - Observatório de Favelas iniciou a oficina “Preservação Fotográfica” ministrada por Silvana Marcelina, pesquisadora, artista, curadora e educadora nas áreas de identidade, memória, afeto e resistência, trabalhando na organização e pesquisa no acervo do fotógrafo e ativista Januário Garcia desde 2020. O objetivo dessa formação é conscientizar os fotógrafos populares sobre a importância da fotografia enquanto objeto de preservação de memórias compreendendo técnicas de arquivamento e organizações de acervos e nela você irá aprender a aplicar técnicas de preservação e arquivamento em acervos próprios além de conhecer diferentes formas de preservação e arquivamento.
Instituto Afrolatinas
Criada pelo Instituto Afrolatinas, organização de mulheres negras com 16 anos de atuação em formação, arte e cultura, a Universidade Afrolatinas nasce como desdobramento direto das experiências acumuladas no Festival Latinidades, o maior festival de mulheres negras da América Latina. Desde 2008, o Latinidades se consolidou como um espaço de incidência política, promoção da equidade racial e debate sobre temas que atravessam o cotidiano da população negra, da comunicação ao afrofuturismo, das políticas públicas à memória ancestral. 
A Universidade Afrolatinas atua diretamente no fortalecimento de jovens atendidos pelo sistema socioeducativo. Em unidades de meio aberto do Distrito Federal, adolescentes criaram marcas como “Veste a Visão” (Paranoá) e “Quebrada vive” (Planaltina), gerando renda e desenvolvendo identidade. A Universidade se soma a esse movimento para acelerar esses empreendimentos, investir em coleções e garantir espaços de venda em festivais culturais, incluindo o Festival Latinidades.
O projeto incentiva a diversidade desde a formação das turmas até a própria equipe, buscando promover oportunidades e fortalecer redes profissionais e comunitárias.
Associação Cultural Casulo
O Casulo – Espaço de Cultura e Arte tece uma programação que reafirma seu compromisso com a resistência, a ancestralidade e a formação cultural de base comunitária. Ao longo de 2024 e 2025, o Programa Cultivar consolidou-se como uma força de cuidado e transformação em Dourados, reunindo mais de 350 indígenas e não indígenas em suas formações e celebrando, por meio da arte, a pluralidade dos povos que moldam o Mato Grosso do Sul. 
Destaque para a Exposição Bem-vindo à Minha Jaula — Marlon Beraldo. A instalação chega ao Casulo, em novembro, como um portal sensorial para pensar as prisões visíveis e invisíveis que estruturam o Brasil — especialmente aquelas que têm cor, classe e endereço.
Além disso, de 17 a 20 de novembro, Dourados recebe o V Encontro Regional da Educação do Campo do Centro-Oeste, fortalecendo a luta por uma educação alinhada aos territórios, aos povos tradicionais e aos modos de vida que resistem há séculos. Com o tema Educação do Campo, das águas, das florestas: agroecologia e diversidade, o evento dialoga profundamente com o Mês da Consciência Negra ao afirmar que os saberes do campo — majoritariamente sustentados por comunidades negras e indígenas — são formas de resistência, ciência e memória.
No dia 22 de novembro, o Casulo recebe o evento Teatros Negros, composto por apresentação teatral e mesa redonda. A noite começa com o espetáculo Diário de um Preto, de Romário Hilário, obra que entrelaça ficção, memória e feridas do racismo estrutural através da escrita de um personagem que tenta existir para além das narrativas que o atravessam. A entrada é gratuita.
Associação Obras Sociais Irmã Dulce
O Centro Educacional Santo Antônio (CESA), núcleo educacional das Obras Sociais Irmã Dulce, vem realizando ao longo do ano letivo diversas ações educacionais que fomentam a cultura e história afro-brasileira. Com a utilização de linguagens artísticas como teatro, música, dança, artes visuais e contação de história, a escola fundada por Santa Dulce dos Pobres promove um aprendizado e uma reflexão acerca da Consciência Negra e da luta contra a discriminação racial nos diversos espaços da sociedade. As iniciativas alcançam os mais de 900 alunos acolhidos pela unidade.
Os espetáculos estrelados pelos alunos, como Levante e Não Faça aos Outros, trouxeram para o palco temas como o racismo, o protagonismo negro e o Levante do Rio Joanes, um dos movimentos de resistência do povo negro, que antecedeu a abolição da escravatura. Neste mês de novembro, um desfile com roupas pintadas pelos alunos irá levar para a passarela do CESA estamparias com referência à artistas baianos, a exemplo de Goya Lopes, que trabalha a simbologia dos povos ancestrais africanos. A atividade irá contar também com muito ritmo fazendo menção à cantora da música popular brasileira, Clara Nunes, com a canção O canto das três raças, que aborda em sua letra as três raças que formam a identidade brasileira.
Comunidade Educacional de Pirenópolis
O Ponto de Cultura e Escola Livre Comunidade Educacional de Pirenópolis (COEPi) realiza, no dia 22 de novembro, a 2ª edição do projeto Reconectando Memórias, como parte das celebrações do Dia da Consciência Negra em Pirenópolis (GO). O evento acontece na sede da instituição, das 17h às 22h, com entrada gratuita. 
A programação reúne grupos de Pirenópolis e do entorno para celebrar e dar visibilidade às manifestações culturais de matriz afro-brasileira. Participam desta edição o Maracatu Ipadê, a Dança Afro da COEPi com Gil Tobias e os grupos convidados de Anápolis: Jongo Iracema, Afoxé Onã L’áyó e Sambadeiras do Cerrado.
Criado em 2016, o Reconectando Memórias tem como propósito fortalecer os laços culturais e o sentimento de pertencimento do povo goiano e tocantinense. O projeto valoriza as manifestações afro-brasileiras e promove o intercâmbio entre mestres da cultura popular do coração do Brasil.
A Escola do Campo de Arte e Cultura
A Escola realizou ações para celebrar o mês da Consciência Negra promovendo atividades que buscassem valorizar a cultura africana e reconhecer a importância de suas raízes na formação da nossa identidade. A oficina foi ministrada pela artista Beth Medeiros envolvendo turmas da oficina de pintura com tintas de barro que nesta oportunidade também utilizaram pigmentos naturais como café, açafrão, hibisco e beterraba, explorando cores e texturas que remetem à terra e às tradições ancestrais. A proposta envolveu a produção artística e a compreensão simbólica presente na arte africana. 
Durante a atividade, os e as estudantes criaram imagens inspiradas no mapa da África, integrando elementos culturais, grafismos e a figura de uma mulher afro. A experiência foi enriquecida pelo uso de materiais orgânicos, permitindo que as crianças explorassem sensações, aromas e possibilidades de expressão. O entusiasmo foi evidente, e cada obra refletiu um olhar sensível sobre a história e a representatividade do povo negro.
Além do aspecto artístico, promovemos conversas sobre respeito, diversidade e o reconhecimento da contribuição dos povos africanos para a nossa sociedade. As crianças foram convidadas a refletir sobre igualdade racial, identidade e valorização das diferenças. Assim, a atividade uniu arte, conhecimento e reflexão, fortalecendo a consciência social e o respeito à cultura negra dentro do ambiente escolar.
Escola Pernambucana de Circo (EPC)
Este ano, desde o início do mês, a Escola Pernambucana de Circo (EPC) realizando atividades que visam fortalecer a importância da cultura afro-brasileira e a forte influência da Cultura Africana no Brasil, seja nas vestimentas, na religiosidade, nos costumes, na literatura, no cinema e nas artes de um modo geral. 
Para a Escola Pernambucana de Circo, essas atividades contribuem significativamente para que nossas crianças, adolescentes e jovens conheçam cada vez mais sobre a cultura afro, reconhecendo a importância da resistência negra na história e compreendendo as desigualdades que ainda existem na sociedade.
Destaque para algumas ações realizadas em novembro, a citar: no dia 04 de novembro, realização da oficina de Dança Afro com foco nos ritmos e movimentos de origem africana; Oficina de amarração de Turbantes como um símbolo de resistência cultural da tradição africana e valorização da beleza negra (10/11); no dia 11 de novembro, o Cine Afro: Apresentação de filmes e curtas com temáticas voltadas para a cultura afro-brasileira; Oficina de Música Percussiva (17/11); Lançamento do Livro Maria Preta com leitura dramatizada (18/11); no dia 19, realização de um Cortejo Afro e recepção da 2ª Edição do Festival Circo Preto na sede da EPC com apresentação do espetáculo Circo Godot (PE) no dia 22 de novembro.
O Instituto Capiá
O Instituto atua há mais de 15 anos no município de Ubatuba (SP) promovendo diversas ações educativas voltadas ao fortalecimento de práticas tradicionais de comunidades quilombolas e caiçaras presentes no território. 
A partir dessas ações o Capiá vem contribuindo no aprofundamento da identificação dos(as) artesãos(ãs) e mestres(as) artesãos(ãs), na articulação dos núcleos produtivos, na troca de saberes e fazeres envolvendo as técnicas de produção valorizando a especialidade de cada uma das comunidades, no fortalecimento em rede da prática artesanal e a ampliação da visibilidade da riqueza cultural presente nessa produção.
As comunidades da região talvez sejam umas das últimas guardiãs de inúmeras técnicas de trançados e entalhes em madeira. Possuem inúmeros Mestres e Mestras que mantém essas manifestações vivas e pulsantes no interior dessas comunidades.
Atualmente, além da produção voltada para as necessidades do cotidiano, as produções artesanais ganharam novas funções. Associada ao Turismo de Base Comunitária (TBC) e ao Turismo Pedagógico, tem ganhado grande valor, intensificando o escoamento da produção, e criando espaços de vivências de turistas/estudantes com mestres(as) artesãos(ãs) que compartilham uma parte de seu conhecimento com esses grupos que visitam a comunidade.
Escolas Livres
Selecionadas em 2023 pelo MinC, via edital de seleção pública, as Escolas Livres de Arte e Cultura são instituições da sociedade civil que atuam no desenvolvimento de tecnologias socioculturais e educativas, gerando impactos sociais que promovem a cidadania em abordagens colaborativas. As entidades participantes da rede nacional atuam em diversas linguagens e territórios, desenvolvendo ações coletivas a partir do fomento de políticas públicas.
Para saber mais das 68 escolas livres, clique aqui.