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ESCLARECIMENTO
Brasília, 18 de agosto de 2011 – Em relação à matéria publicada, hoje, 18 de agosto, na Folha de São Paulo, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, esclarece:
Estimados Senhores,
Matéria publicada na Folha de 18.8.2011 noticia meu pedido de afastamento da direção do Inpe e atribui minha saída a divergências com o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Dr. Marco Antonio Raupp. Trata-se de uma afirmação que não corresponde aos fatos presentes e passados.
Tenho grande respeito por Marco Raupp, fruto de 25 anos de convivência. Raupp sempre defendeu o desenvolvimento da ciência e tecnologia brasileiras em todos os cargos públicos que ocupou. Quando foi diretor do Inpe, de 1985 a 1988, criou o programa de satélites sino-brasileiros (Cbers) e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), duas iniciativas de grande benefício para o Brasil e que o Inpe realiza até hoje. Raupp deu grande contribuição como gestor na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e no Instituto Politécnico do Rio de Janeiro.
Tenho plena confiança de que a gestão de Raupp na Agência Espacial Brasileira será marcada por um aumento nos orçamentos e nos recursos humanos do programa espacial, em coerência com seu histórico de serviços ao País. Raupp é um grande cientista brasileiro e merece o respeito da sociedade.
Minha saída do Inpe se deve à exaustão causada pela luta diária com uma legislação e com estruturas institucionais totalmente inadequadas a instituições de C&T. Soma-se a frustração pela falta de renovação dos quadros do Inpe. É muito desgastante saber que o Brasil corre o risco de perder os excelentes serviços que o Inpe presta à sociedade. Nossos melhores especialistas têm mais de 30 anos de casa e podem se aposentar a qualquer momento. Confio na sensibilidade do ministro Aloizio Mercadante e do Dr. Raupp para conseguir soluções adequadas para que o Inpe continue a ser uma instituição de excelência e um orgulho para o Brasil.
Pequim, 18 de agosto de 2011
Gilberto Câmara
Diretor do Inpe
Matéria da Folha de São Paulo de 18/08/2011
Jornalista: Claudio Angelo
Contrariado, chefe do Inpe deixará o cargo em dezembro
O diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Gilberto Câmara, deixa o cargo em dezembro, dois anos antes do fim de seu mandato. A saída já foi comunicada ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante.
Oficialmente, Câmara diz estar “cansado” após seis anos no cargo e “frustrado” porque não conseguiu renovar os quadros do instituto, que não tem realizado contratações e cujos pesquisadores têm em média a mesma idade do Inpe -50 anos.
A Folha apurou, no entanto, que a saída de Câmara se deve a divergências com a condução do programa espacial brasileiro e a um rompimento com o presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), Marco Antônio Raupp.
PARCERIA INDESEJADA
Um ponto que teria desagradado ao diretor foi a decisão da AEB e de Mercadante de manter o programa de foguetes que o Brasil desenvolve com a Ucrânia por meio da empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space).
O programa consiste em reformar a base de Alcântara, no Maranhão, para explorar o mercado de lançamentos comerciais de satélites usando o foguete ucraniano Cyclone-4. A ACS tem custo de cerca de R$ 1 bilhão, mais do que o triplo do orçamento anual do programa espacial.
Câmara tem sido um dos principais críticos do projeto Brasil-Ucrânia, que compete por recursos com o programa de satélites desenvolvido pelo Inpe. Estima-se que o Brasil ainda precise colocar R$ 600 milhões na parceria.
Quando assumiu o ministério, Mercadante suspendeu os pagamentos feitos à ACS. Tanto o ministro quanto Raupp afirmaram que só investiriam no programa se a Ucrânia pagasse sua contrapartida, de R$ 180 milhões.
O anúncio irritou o PSB, partido aliado do governo, cujo vice-presidente, Roberto Amaral, arquitetou o acordo com a Ucrânia e dirigiu a ACS até ser demitido por Mercadante e Dilma neste ano.
No mês passado, no entanto, uma missão da agência espacial liderada por Raupp visitou a Ucrânia e concluiu que o projeto do Cyclone-4 está “de 60% a 70% pronto”, segundo o presidente da AEB.
Obteve também a promessa dos ucranianos de injeção de dinheiro na ACS até setembro. Isso permitiria a continuidade da parceria.
Outro fator que pôs Câmara em colisão com Raupp foi a proposta de fusão do Inpe com a AEB, que ainda está em estudo pelo ministério. Entusiasta da proposta no início, Câmara passou a se opor a ela, temendo perder espaço.