O que é fake news quando falamos em prática de atividade física?

Manter o corpo em movimento é essencial para uma vida saudável, e os benefícios desse hábito já foram amplamente comprovados. A prática regular de atividade física contribui para a promoção da saúde e para a prevenção e o tratamento de diversas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, além de estar relacionada a um menor índice de mortalidade por todas as causas e a melhorias no sistema imunológico. 

Os benefícios são tantos que, para incentivar ainda mais a prática e mostrar que manter uma vida ativa pode ser mais simples do que parece, o Ministério da Saúde lançou recentemente o primeiro Guia de Atividade Física para a População Brasileira. A publicação aborda a prática em diversos contextos, grupos e ciclos de vida, além de trazer recomendações sobre a quantidade, a intensidade e exemplos de atividades aeróbicas, de força e de equilíbrio. Além disso, traz informações e dicas sobre como reduzir o comportamento sedentário.

Apesar dos benefícios, existem algumas fake news que ainda cercam esse universo. Para ajudar a esclarecê-las e passar informações seguras sobre a prática de atividade física para idosos, gestantes e pessoas com DCNTs, cinco delas são esclarecidas abaixo pelo Prof. Dr. Fábio Dominski, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que é profissional de Educação Física e Doutor em Ciências do Movimento Humano.

1 – Qualquer pessoa pode e deve praticar atividade física

Praticar qualquer atividade física é melhor do que não fazer nada, essa é a verdade. Conforme reforça a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada movimento conta. Há uma variedade de situações e de contextos que possibilitam a prática de atividade física. Você pode fazer atividade física onde e quando for possível. Por isso, é importante lembrar que você não está limitada/o apenas a uma academia quando o assunto é manter o corpo em movimento. 

“Devido à pluralidade de contextos em que se manifesta, desde nas tarefas domésticas (lavar a louça, varrer a casa), passando pelas atividades de deslocamento (caminhada, ciclismo) e ocupacionais (durante trabalho), até nas atividades durante o tempo livre (exercícios físicos e esportes), existem inúmeras possibilidades de prática de atividades físicas para todos os grupos. Caso haja alguma restrição médica em algum desses contextos, o que deve ser respeitado, será possível realizar atividades físicas em algum outro e obter benefícios para a vida”, explica Fábio. 

Até mesmo quem sofre de problemas no coração não precisa ter medo, e sim procurar a avaliação médica prévia. Ela serve justamente para identificar determinados exercícios e atividades que sejam compatíveis com as doenças existentes, complementa o professor. Em alguns casos, pode ser necessário que a atividade física ou o exercício físico sejam orientados e supervisionados por um profissional da área, mas ainda assim a prática é possível!

2 – A atividade física vai te ajudar a melhorar as articulações

É muito comum encontrar pessoas que deixaram de praticar atividade física por causa de algum problema na coluna ou no joelho, por exemplo. É bem verdade que essas condições exigem atenção extra, mas não são impeditivas para a execução de todos os movimentos. Fábio lembra que a recomendação é obter orientação profissional para prescrição e supervisão, o que norteia a segurança e a eficácia da prática. 

“Pessoas com problemas na coluna, ossos e articulações não precisam se privar de atividades físicas e irão, inclusive, se beneficiar muito. Diversas melhoras podem acontecer nos componentes da aptidão física relacionados à saúde, como: força, resistência muscular, flexibilidade, composição corporal e aptidão cardiorrespiratória. O desenvolvimento desses componentes a partir da atividade física está associado a uma série de benefícios”, orienta.

3 – Sem medo! Grávidas não só podem fazer atividade física, como devem

As gestantes costumam sentir medo de fazer muitos movimentos nesse período. Mas, desde que não haja alguma contraindicação específica, a prática é amplamente recomendada, e isso traz uma série de benefícios, tanto para a mãe quanto para o bebê. 

E a própria OMS e o Ministério da Saúde recomendam! De acordo o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, as mulheres grávidas e as puérperas sem contraindicação devem realizar atividade física regular durante a gravidez e o pós-parto, fazendo pelo menos 150 minutos por semana com intensidade moderada e um alongamento leve. 

“Segundo estudos, a atividade física durante a gravidez é associada a menor ganho de peso e menor probabilidade de desenvolver diabetes nessa fase. Esses benefícios não aumentam o risco de ter um bebê com baixo peso ao nascer, parto prematuro ou aborto espontâneo”, explica Fábio. Mas ele lembra que apesar das vantagens, existe uma variedade de condições pré-existentes ou específicas da gravidez que podem impedir a prática de atividades físicas. O que reforça a necessidade de avaliação prévia por parte de um profissional da saúde para garantir a segurança das mamães. 

4 – A atividade física é essencial para idosos

Segundo Fábio, os benefícios da atividade física para idosos são inúmeros, de caráter físico, social, fisiológico e psicológico. A combinação envolvendo atividades aeróbicas, como caminhada, corrida, ciclismo ou natação, com atividades que envolvem exercícios de força, como musculação ou treinamento funcional, mostra maior proteção para risco de morte por todas as causas, doenças cardiovasculares, câncer e doenças crônicas do trato respiratório inferior, quando comparado a essas duas modalidades (atividades aeróbicas x atividades com exercícios de força) isoladamente. E essa é uma combinação de sucesso, afirma o professor.

As vantagens vão além, uma vez que o processo de envelhecimento provoca uma condição chamada sarcopenia, que significa a perda de massa muscular. Para isso, a prática de exercícios de força representa uma saída para manter ou aumentar os músculos dos idosos. 

Fábio afirma que pesquisas indicam: esse tipo de exercício apresenta efeitos adversos mínimos, sendo a musculação segura mesmo para idosos com mais de 75 anos. O que comprova que os mais velhos não precisam pegar leve apenas por conta da idade. 

5 – Muito além da caminhada! 

Uma grande fake news que ronda esses grupos de pessoas é achar que eles estão limitados a praticar apenas uma caminhada leve. Essa é uma atividade que traz sim benefícios, mas não precisa ser a única opção. “Talvez a mais acessível seja esta, porém existe uma vasta gama de possibilidades. Gestantes/idosos/pessoas com DCNTs, assim como outros públicos, devem procurar modalidades prazerosas visando manter a prática em longo prazo”, lembra Fábio.

O professor faz questão de destacar ainda que uma vida em movimento exerce um efeito muito positivo na nossa saúde mental. “A liberação de neurotransmissores como serotonina, endorfina, dopamina e endocanabinóides durante e após a atividade física nos proporcionam a sensação de prazer e bem-estar. A obtenção e percepção desses benefícios variam individualmente, mas uma sessão de atividade física, independente do tempo de prática (20, 30 ou 60 minutos, por exemplo) pode nos distrair e eliminar pensamentos negativos ruminativos que muitas vezes nos atormentam durante o dia. Precisamos pensar nessas atividades para além dos benefícios físicos que já são amplamente conhecidos”, finaliza.