Notícias
Saneamento e crise climática: setor defende integração de agendas e ampliação do financiamento
Painel da programação de inauguração da Casa do Saneamento ¿ Legado Institucional da COP30
O enfrentamento da crise climática passa pela universalização do saneamento básico. Essa foi a principal mensagem do primeiro painel da programação de inauguração da Casa do Saneamento - Legado Institucional da COP30, realizado nesta segunda-feira (30/9), na Superintendência Estadual da Funasa no Pará, em Belém. Especialistas e representantes de organismos internacionais, do setor público e privado defenderam a integração entre políticas de adaptação climática e de saneamento básico, com foco na redução das desigualdades e no fortalecimento do financiamento climático.
Moderadora do painel, Paula Pollini, do Instituto Água e Saneamento (IAS), destacou a relevância do encontro para aproximar as agendas da adaptação climática e do saneamento. Segundo ela, o setor precisa estar mais presente nas discussões dos planos setoriais e de adaptação, especialmente com a revisão do Plano Nacional de Saneamento, para que essas políticas não seja tratadas de forma pulverizada.
Direitos das crianças
O representante do Unicef, Rodrigo Rezende, reforçou o impacto da crise sobre as novas gerações. "Sem dúvidas, a crise climática é uma crise de direitos das crianças. Uma crise que potencializa a vulnerabilidade já existente. E aí, falando especialmente no Brasil, a gente tem um foco de atuação, e até pelo histórico de privações de dificuldades, maiores dificuldades na implementação de políticas públicas do setor nas regiões Norte e Nordeste", disse. Ele lembrou que mais de 40 milhões de crianças brasileiras estão expostas a riscos climáticos e ambientais.
Representando a AESB, Sérgio Gonçalves defendeu maior diálogo e cooperação. "Se não conversarmos, nós não vamos sair do que estamos hoje", salientou. Ele entende que é preciso abrir o diálogo com outras áreas. "Se você levantar e achar que está tudo bem, sabendo que tem pessoas que ainda não têm um saneamento básico e você se conformar com isso, pode trocar de lugar", disse.
Pela Abicom, Ilana Junqueira lembrou a dimensão dos investimentos recentes e os riscos futuros. "Nós tivemos 60 leilões, R$ 181 bilhões contratualizados. Hoje, nós temos 68% dos municípios brasileiros com as metas de universalização contratualizadas. Isso envolve tanto os operadores privados quanto as companhias estaduais que comprovaram sua capacidade econômica e financeira, seja com aporte próprio, seja com uma parceria com o setor privado", afirmou. Mas alertou: "Se a gente olha tanto a comprovação das companhias estaduais quanto os próprios projetos concedidos, a gente não tem previsão de recurso para questões climáticas".
O presidente da Assemae, Esmeraldo Pereira Santos, chamou atenção para os municípios menores. "A preocupação da Assemae é com todos os prestadores, mas principalmente os prestadores menores, aqueles abaixo de 50 mil habitantes, que não têm um olhar, não têm um interesse tão comercial, não têm um atrativo tão comercial igual aos municípios maiores. Essa é a nossa preocupação e aí por aí começa o nosso desafio do saneamento", explicou.
Financiamentos
Na perspectiva do financiamento, o representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Gustavo Mendes, lembrou que há oportunidades de inovação para o setor. "Temos muitas oportunidades para contribuir com o combate às mudanças climáticas do ponto de vista dos sistemas de abastecimento de água, em todos os passos, em todo o ciclo da indústria, em todos os passos operacionais", informou. Ele também destacou o desafio em relação às perdas de água, que hoje podem ser reduzidas perdas com as novas tecnologias.
Encerrando o painel, Miguel Fernandes, do Fomplata, destacou a importância de basear a gestão do saneamento em dados científicos. "Devemos investir em infraestrutura resiliente e flexível. Devemos apoiar a desenvolver capacidades locais, e isto se faz com financiamento", afirmou.
Segundo Fernandes, é preciso integrar soluções baseadas na natureza para a gestão do saneamento. "Mas, sobretudo, e talvez seja o meu background científico, sinto que devemos basear a planificação e gestão do risco em saneamento em dados científicos. E pensar que saneamento é apenas um dos muitos serviços que precisamos adequar para fazer nossas cidades mais sustentáveis", comentou.
A programação da Casa do Saneamento segue até quarta-feira (2/10), com painéis sobre financiamento climático, soluções baseadas na natureza e gestão pública integrada, consolidando o espaço como plataforma de diálogo permanente entre instituições, empresas e sociedade civil rumo à universalização do saneamento e à adaptação climática justa.
Veja a programação da Casa do Saneamento
https://www.flickr.com/photos/funasaoficial/albums/72177720329364942/
