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Educação popular e aprendizado com o coração: a trajetória de Ana Marise na Funasa
Ana Marise apresentou projeto de formação de agentes populares de saúde e saneamento no 2º Sanea Brasil
Mais de duas décadas de dedicação à saúde pública moldaram em Ana Marise Pereira Gomes uma visão sensível e transformadora sobre o papel da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) nos mais diversos territórios do país. Chefe da Divisão de Saúde Ambiental da Superintendência Estadual da Funasa no Tocantins (Disam/Suest-TO), Ana Marise construiu sua trajetória profissional com os pés fincados no campo e o coração aberto ao diálogo com comunidades rurais e indígenas.
Sua história com a Funasa começou em Salvador (BA), ainda nos anos 2000, quando participou de uma capacitação em vigilância em saúde que mudaria o rumo de sua carreira. Desde então, ela se envolveu em projetos que unem técnica e afeto, ciência e saberes ancestrais - uma combinação que hoje inspira o trabalho "Educação Popular em Saúde e Saneamento Ambiental: Formação Transformadora em Comunidades Rurais e Indígenas", desenvolvido em parceria com Rosany Lopes Martins, do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ministério da Saúde no Tocantins.
O projeto, apresentado no 2º Sanea Brasil - Congresso Internacional de Saneamento Rural, em Petrolina (PE), tem como proposta a escuta ativa das comunidades e aposta na formação de agentes populares de saúde e saneamento como protagonistas das mudanças locais.
Em entrevista ao site da Funasa, Ana Marise fala sobre sua trajetória, os aprendizados construídos com as comunidades e o propósito que deu origem ao projeto - uma iniciativa que conecta a prática do saneamento com o exercício da cidadania, o respeito à diversidade cultural e a força transformadora da educação popular.

- O desejo de dialogar com povos dos territórios e suas realidades marca a história de Ana Marise na Funasa
Como começou sua trajetória na Funasa e o que te motivou a trabalhar com saúde ambiental e saneamento?
A minha trajetória na Funasa começou quando estava lotada no Ministério da Saúde de Salvador (BA) e participei de uma capacitação promovida pelo Ministério, em parceria com a Funasa. Após o curso, fui selecionada para atuar como tutora no Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde (Proformar), promovido pela Fiocruz e o Ministério da Saúde, em 2002, e lançado pela Funasa no auditório de Manguinhos (RJ). Eu tinha um desejo enorme de atuar em políticas públicas que realmente dialogassem com os territórios e suas realidades, como sempre acontecia quando eram realizadas as ações pela Funasa. Sempre me senti chamada a trabalhar com saúde ambiental, por entender que ela é uma ponte entre o cuidado com as pessoas e o cuidado com o meio em que vivem. Desse modo, a saúde ambiental permite uma abordagem integral, que considera os determinantes sociais, culturais, saberes ancestrais e ecológicos da saúde - e isso sempre me motivou profundamente, como até hoje me motiva.
Em que momento nasceu sua ligação mais forte com as comunidades rurais e indígenas? E como é essa ligação hoje? Tem alguma história marcante nessa relação?
Essa ligação se fortaleceu quando comecei a participar de ações de campo em comunidades do semiárido baiano. O acolhimento, a sabedoria ancestral e a força dessas populações me tocaram profundamente. Hoje, essa relação se estendeu para outras regiões, com um olhar de parceria não só laboral, mas como sempre de reconstrução e respeito mútuo por esses territórios, que precisam de acolhimento e amorosidade. Uma história marcante foi quando, durante uma roda de conversa, uma liderança quilombola disse: "Ana, aqui a gente não aprende só com palavras, aprende com o coração". Essa frase me acompanha como uma guia ética e afetiva em todas as ações, sejam elas voluntárias ou profissionais.
De onde surgiu a ideia do projeto "Educação Popular em Saúde e Saneamento Ambiental" e o que te inspirou a criá-lo?
Essa pergunta me leva a fazer uma reflexão da minha trajetória de vida! A ideia surgiu da escuta ativa das comunidades e da percepção de que as formações tradicionais não contemplavam seus saberes, modos de vida e necessidades reais. Inspirou-me a pedagogia da educação popular, especialmente os ensinamentos de Paulo Freire, que nos lembram que ninguém educa ninguém sozinho - é na troca que se constrói o conhecimento. Quis criar um projeto que fosse, acima de tudo, um espaço de diálogo e construção coletiva.
O que diferencia essa formação de outras capacitações tradicionais em saúde e saneamento?
Acredito que o diferencial é o reconhecimento dos saberes populares como ponto de partida. Não se trata de levar conhecimento, mas de construir juntos. A formação é vivencial, territorializada, e respeita os tempos e ritmos das comunidades. Além disso, ela articula dimensões técnicas com culturais, promovendo uma abordagem integral da saúde e do saneamento, com foco na autonomia e no protagonismo local de cada comunidade envolvida.
Quais desafios vocês enfrentaram ao estruturar essa proposta de formação?
Um dos maiores desafios é romper com modelos engessados de capacitação e, sim, criar metodologias flexíveis, sensíveis às especificidades locais. Também, creio que enfrentaremos desafios para traduzir conteúdos técnicos de forma acessível, sem perder a profundidade e sua essência prática e teórica. Mas o maior aprendizado é entender que o diálogo só acontece quando há escuta verdadeira e abertura para o novo. A construção coletiva exige tempo, paciência e confiança.
Que impactos o projeto pode gerar nas comunidades rurais e indígenas participantes?
Desse modo, o projeto fortalece o protagonismo local, amplia o acesso à informação e estimula práticas sustentáveis que impactam diretamente na saúde coletiva. As comunidades passam a identificar problemas, propor soluções e mobilizar recursos com mais autonomia. Além disso, há um fortalecimento das redes de solidariedade, da autoestima comunitária e da valorização dos saberes ancestrais.
Para você, o que representa ver agentes comunitários e lideranças locais se tornando protagonistas das mudanças nos territórios?
Representa a concretização de um sonho coletivo. Ver agentes comunitários e lideranças locais assumindo papéis de educadores, mobilizadores e transformadores, é a maior recompensa do projeto. É a prova de que, quando se confia no potencial das comunidades, elas florescem e multiplicam ações que reverberam muito além do território.
O que você diria a outros profissionais da Funasa que desejam desenvolver ações transformadoras junto às comunidades locais?
Diria aos colegas profissionais da Funasa que é preciso coragem para escutar, humildade para aprender e compromisso para caminhar junto. As comunidades têm muito a ensinar, e quando nos colocamos como parceiros, não como técnicos distantes, abrimos espaço para ações verdadeiramente transformadoras. A Funasa tem um papel estratégico nesse processo, e cada profissional pode ser um agente de mudança ¿ basta se permitir viver essa experiência com o coração aberto.

- Para Ana Marise, a saúde ambiental é uma ponte entre o cuidado com as pessoas e o cuidado com o meio em que vivem
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