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Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Câncer Colorretal
Hoje, 27 de março, marca o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Câncer Colorretal.
O câncer colorretal, que acomete o intestino grosso e o reto, é o segundo tipo de câncer mais comum e letal no Brasil, com cerca de 45.630 novos casos registrados anualmente, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). A detecção precoce é crucial, já que, em estágios iniciais, o câncer colorretal pode ser tratado de forma eficaz, elevando a qualidade de vida dos pacientes, evitando sequelas e aumentando as chances de cura em até 91% dos casos [1].
Contudo, este não é o cenário atual, que conta com o aumento do registro de novos casos e óbitos pela doença. Dados da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais até 2021 indicam que 52% dos casos de câncer colorretal diagnosticados no estado já estavam em seus estágios mais avançados, nos quais apenas 1 em cada 7 pessoas sobrevivem [1].
Um dos motivos para isso são os sintomas pouco específicos do câncer colorretal em seus estágios iniciais, como diarreia, constipação, presença de sangue nas fezes, dores abdominais e perda de peso inexplicada, que podem facilmente ser confundidas com doenças menos graves ou intoxicação alimentar. Outro motivo é baixa procura pela colonoscopia, principal e mais eficiente método diagnóstico atual, ainda que a recomendação do Ministério da Saúde seja realizar o exame periodicamente a partir dos 45 anos de idade.
Nesse contexto, o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e o Instituto Mário Penna vêm trabalhando juntos para validar sistemas biossensores capazes de auxiliar no diagnóstico e no rastreamento do câncer colorretal. O objetivo é criar metodologias menos invasivas, como exames de sangue e urina, que possam ser usadas como complemento à colonoscopia.

- Danilo Ferreira no Laboratório de Química de Nanoestruturas de Carbono
Biossensores e biópsia líquida podem apoiar o diagnóstico da doença
A tecnologia em desenvolvimento no CDTN consiste em um biossensor baseado no nanomaterial óxido de grafeno e em aptâmero para detecção do biomarcador antígeno carcinoembrionário (CEA), produzido pelas células de câncer colorretal mesmo em estágios iniciais da doença.
A pesquisa foi iniciada durante o mestrado e está em continuidade no atual doutorado do discente do Programa de Pós-Graduação do Centro, Danilo Ferreira, no Laboratório de Química de Nanoestruturas de Carbono (LQN/CDTN), sob orientação da Dra. Clascídia Furtado e da Dra. Estefânia Martins, e com a colaboração do Dr. Antero Andrade.
Na tecnologia estudada, uma luz fluorescente é emitida quando o aptâmero interage com o biomarcador CEA do paciente com câncer colorretal. Ao se adicionar o óxido de grafeno, a quantidade dessa luz passa a ser proporcional à quantidade dessa proteína no sangue do paciente. “Atualmente, estamos trabalhando em conjunto com o Instituto Mário Penna na etapa de validar a capacidade diagnóstica do biossensor com amostras humanas reais. A ideia não é substituir a colonoscopia, mas criar um exame mais simples e de rotina que possa ser um sinal de alerta para pessoas do grupo de risco, auxiliando o médico no diagnóstico precoce do câncer, no rastreamento e no prognóstico da doença”, explica o doutorando Danilo Ferreira.
A médica coloproctologista Alice Capobiango, do Hospital Luxemburgo, do Instituto Mário Penna, é pesquisadora participante do projeto. Ela explica que “a colonoscopia é o padrão ouro, mas outros testes devem ser usados, principalmente, para rastreio em pacientes assintomáticos. Se derem positivo, indicam a necessidade da colonoscopia”.
Outro sistema biossensor surgido da parceria entre o CDTN e o Instituto Mário Penna é a biópsia líquida. Segundo o Dr. Jorge Ferreira, responsável pelo desenvolvimento do exame no Instituto Mário Penna, sob supervisão da Dra. Letícia Braga, “a biópsia líquida é uma técnica não invasiva que analisa componentes derivados do tumor presentes em fluidos corporais, como o sangue ou urina”. Nessa técnica é feita a “análise do DNA tumoral circulante (ctDNA), que consiste em fragmentos de DNA liberados pelas células tumorais na corrente sanguínea e vesículas extracelulares”. Ainda segundo o especialista, a diferença da biópsia líquida para a comum é que enquanto a biópsia tradicional mostra apenas uma “foto” do tumor em um momento específico, a biópsia líquida funciona como um “vídeo”, acompanhando as mudanças do câncer ao longo do tempo. Isso é importante para detectar se ainda restam pequenas quantidades de células cancerígenas depois de uma cirurgia ou tratamento complementar, ajudando a prever se a doença pode voltar.
As novas soluções são desenvolvidas com tecnologia nacional e representam abordagens inovadoras e promissoras na luta contra o câncer, tornando os exames mais acessíveis e promovendo o rastreamento em estágios iniciais da doença. Com esforços conjuntos entre a ciência, as instituições de pesquisa e a sociedade, avanços significativos podem ser alcançados na prevenção, diagnóstico e tratamento desse tipo de câncer, salvando mais vidas e aumentando a qualidade da saúde coletiva.
Prevenção do câncer colorretal
As pessoas mais propensas a desenvolver esse tipo de câncer, os chamados grupos de risco, incluem as pessoas acima de 50 anos, indivíduos com histórico familiar da doença, e aqueles com hábitos alimentares pouco saudáveis - como o consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas, associado a baixa ingestão de frutas e fibras. Outros fatores de risco incluem obesidade, tabagismo, ingestão de bebida alcoólica e sedentarismo.
A médica Alice Capobiango destacou que pessoas com histórico familiar de câncer ou doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn, devem ficar atentas. Segundo a especialista, o rastreamento nos casos de pessoas com casos de câncer colorretal na família “deve iniciar 10 anos antes da idade em que o familiar mais jovem desenvolveu a doença”.
Segundo a médica, o mais importante é prestar atenção às mudanças no corpo e no tempo que os sintomas duram, buscando atendimento médico especializado se eles persistirem por mais de 30 dias.
A Organização Mundial da Saúde [2] informa que ações simples são eficientes na prevenção do câncer colorretal, como ter uma dieta balanceada e rica em alimentos vegetais, praticar exercícios físicos regularmente, cortar o vício em bebidas alcoólicas e cigarro e realizar periodicamente exames diagnósticos e de rastreamento.
[1] Siegel, Rebecca L. et al. Colorectal cancer statistics, 2023. CA: a cancer journal for clinicians, v. 73, n. 3, p. 233-254, 2023.
[2] OMS (Organização Mundial da Saúde) et al. WHO Report on Cancer: Setting priorities, investing wisely and providing care for all, 2020. Disponível em: <https:www.who.intpublications-detailwho-report-on-cancer-setting-priorities-investing-wisely-and-providing-care-for-all> Acesso em 29/02/2024.
Assessoria de Comunicação do CDTN
Com informações do Serviço de Nanotecnologia