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Trensurb sedia 10º Seminário Cidades em Trânsito
Auditório da Trensurb recebe público para realização da 10ª edição do Seminário Cidades em Trânsito - Foto: Ayslan Sylon
A Trensurb sediou, na última semana, a 10ª edição do Seminário Cidades em Trânsito, que teve como tema “Trilhos e pneus: mobilidade segura e sustentável”. O evento ocorreu entre 27 e 29 de agosto, com atividades no auditório da empresa metroviária durante os dois primeiros dias e minicursos online no terceiro. A realização do seminário foi do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS) e da Associação Sul Riograndense de Engenharia de Segurança do Trabalho (Ares), com apoio da Trensurb, Claraboia Produtora, Sinaleiro e Digicon, além do patrocínio do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul (Crea-RS) e Mútua-RS.
Na abertura do evento, o diretor de Operações da Trensurb, Ernani Fagundes, falou sobre a expectativa de aumento da demanda do metrô durante a Expointer, os impactos da enchente de 2024 e a necessidade de restabelecimento pleno dos serviços. Ele ainda anunciou a previsão de recuperação total dos sistemas de abastecimento de energia elétrica em 2026 e celebrou o fato de a Trensurb receber o simpósio pelo segundo ano consecutivo, destacando: “A abertura deste evento significa também a continuidade da nossa reconstrução. O seminário é uma oportunidade para trocarmos informações e ideias”.
Na solenidade de abertura, além de Ernani, discursaram: o presidente da Ares, Luiz Fernando Lopes; a diretora do Sindienergia-RS, Marina Tabasnik; a presidente do Crea-RS, Nanci Walter; o diretor da Digicon, Hélio Trindade Filho. As falas abordaram temas como a segurança no trânsito, a relevância da energia renovável e a ideia de que não existe mobilidade sustentável sem um sistema energético confiável. Também houve destaque para a valorização do trabalho dos engenheiros e a importância de sua atuação na mobilidade urbana e no trânsito.
Apresentação do contexto histórico e atual da Trensurb
Após a abertura, o diretor de Operações da Trensurb fez uma apresentação institucional da empresa, apresentando informações gerais, administrativas e técnicas, além de um panorama sobre o funcionamento operacional e a trajetória histórica da organização desde sua criação. Na ocasião, detalhou os processos de reconstrução e retomada após a enchente, relatando desafios enfrentados e etapas superadas.
Ernani também apresentou um cronograma da recuperação operacional, relembrando que o primeiro retorno parcial, entre as estações Mathias Velho e Novo Hamburgo, ocorreu ainda em maio de 2024, mês da enchente, com a operação chamada de Trilhos Humanitários. A seguir, houve ampliação gradual do serviço, que chegou à Estação Mercado em dezembro, culminando com o restabelecimento da circulação em toda a linha, em horário integral, em 30 de agosto, no início da Expointer 2025.
Segundo o diretor, a Trensurb vive hoje um “falso normal”. Embora, para a população em geral, a empresa pareça totalmente restabelecida, ainda há grandes desafios a serem superados para garantir a qualidade do serviço ao usuário. “Apesar da enchente ter sido extremamente negativa, também representou uma oportunidade para aprimorar a infraestrutura da empresa”, afirmou.
Reflexões sobre a mobilidade sustentável
Na programação do seminário, a Trensurb também esteve representada em uma mesa-redonda sobre “O Carrocentrismo versus a Prioridade do Transporte Público na Gestão da Mobilidade Urbana”. O consultor especial da empresa, Aldir Seifried, participou da atividade juntamente com a professora Nívea Oppermann, da UFRGS, mestre em Engenharia com ênfase em Sistemas de Transporte.
Aldir abriu o debate relembrando o processo de inserção do automóvel na sociedade e apresentando dados sobre o alto índice de carros por habitante em Porto Alegre. Nívea trouxe reflexões sobre mobilidade sustentável, mudanças climáticas e o papel do transporte coletivo na redução do uso do carro, além de questionar por que a tecnologia ainda não é utilizada de forma mais estratégica para aprimorar o transporte de ônibus e redistribuir a demanda.
Ao longo da conversa, Nívea destacou a necessidade de maior regularidade no transporte metropolitano e apontou a queda no uso do transporte público nos últimos anos. “As pessoas só conseguem pensar em carro, esquecendo que o transporte coletivo é a solução”, afirmou. Ela também defendeu cidades voltadas à coletividade e criticou a falta de planejamento urbano para meios alternativos ao carro.
Aldir compartilhou sua experiência no Japão, em 2008, ressaltando que utilizou apenas trens para se locomover e comprovou a viabilidade de uma mobilidade de qualidade sem depender do carro. Nívea, por sua vez, relatou sua estadia em Luxemburgo, onde destacou que o transporte coletivo é gratuito, fator que incentiva fortemente sua utilização. “Para deixar o carro em casa, o transporte público tem que ser atrativo e confortável”, reforçou Aldir.
A atividade contou ainda com espaço para perguntas enviadas por internautas, ampliando o debate sobre a importância de um olhar mais estratégico, sustentável e seguro para o transporte coletivo.
Gestão da reconstrução da Trensurb
Durante o evento, o coordenador do grupo de trabalho para acompanhamento de projetos estratégicos vinculados à recuperação da Trensurb e superintendente de Desenvolvimento Comercial da empresa, Carlos Augusto Belolli, apresentou a palestra “Mobilidade da Região Metropolitana de Porto Alegre Pós-Enchente: Contribuição da Experiência Administrativa da Trensurb através do Grupo de Trabalho do Orçamento Extraordinário”.
No início da exposição, Belolli demonstrou como os impactos da enchente ainda reverberam no cotidiano operacional da Trensurb, de modo que a empresa ainda permanece operando com restrições, mas buscando acelerar seu processo de reconstrução. Segundo ele, desde os primeiros estágios da cheia, a empresa buscou realizar um diagnóstico da situação a fim de prestar informações tanto ao quadro de empregados como para a comunidade usuária dos trens. A primeira avaliação deu conta dos problemas de estrutura mais palpáveis: dos danos em bloqueios, escadas rolantes, elevadores e edificações a prejuízos graves em subestações, abastecimento de energia, sistema de propulsão do aeromóvel, casa de bombas, veículos, sinalização e salas de equipamentos.
Belolli também relatou as diversas medidas tomadas pela Trensurb para a recuperação da empresa, objetivando uma retomada ágil da prestação do serviço metroferroviário. O palestrante explicou como se deu a tomada de providências para requerer recursos federais para a reconstrução, estimados inicialmente em um valor maior, mas, com restrições orçamentárias e a priorização de alguns projetos, chegou-se ao valor de R$ 257 milhões encaminhados pelo governo.
A fim de melhor administrar esses recursos para enfrentar a calamidade, a empresa instaurou grupos de trabalho responsáveis pela elaboração de um planejamento eficaz. O objetivo desses grupos, conforme Belolli, estava em oferecer suporte à Direção da empresa, com a finalidade de viabilizar contratações de serviços e aquisição de equipamentos, garantir uma observância dos preceitos legais e de governança, além de estabelecer uma escala de prioridade em relação aos procedimentos para retomada da operação.
Por fim, o superintendente expôs os resultados dos grupos de trabalho, apresentando os marcos de retomada da operação, procedimento utilizados, tempos de contratação, metas dos projetos e a complexidade dos processos de contratação relativos ao curso das obras. Segundo ele, “o que permitiu que os objetivos fossem atendidos foi o debate constante e simultâneo entre as áreas técnicas e administrativas, através de uma relação multidisciplinar bastante aproximada”. Ao avaliar a eficácia da atuação dos grupos de trabalho, Belolli relatou que, “nas reuniões, já se apresentava o problema, se construía a solução e se encaminhava a solução. As coisas sempre foram muito rápidas nesses grupos de trabalho”.