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Saúde do Trabalhador
Pesquisa discute exposição ocupacional ao vapor do mercúrio metálico do amálgama dentário na saúde bucal
Por mais que o amálgama dentário tenha caído em desuso, a remoção dele ainda faz parte do trabalho dos cirurgiões-dentistas. Além disso, é um material utilizado em serviços públicos, por ser considerado mais durável e resistente. O uso em dentes permanentes ocorre com mais frequência na Região Norte do Brasil, 19,3%. No Sudeste, esse uso é de 13,7%, seguido por Nordeste, 12,6%; Centro Oeste, 8,4%; e Sul, 7,6%. Composto por mercúrio líquido e uma liga de prata, estanho e cobre, pode trazer danos à saúde.
A inalação reiterada de vapor do mercúrio metálico pode gerar toxicidade aos nervos; comprometer os sistemas digestivo e imune; afetar pulmões e rins; levar a distúrbios comportamentais, tremores, perda de memória, efeitos neuromusculares, dores de cabeça e disfunções motoras. Exposições a baixas concentrações de mercúrio podem causar sintomas como fraqueza, fadiga, insônia, anorexia, perda de peso e distúrbios gastrointestinais.
Essas questões são problematizadas na dissertação “Exposição ocupacional ao vapor do mercúrio metálico do amálgama dentário na saúde bucal”, defendida pelo técnico da Fundacentro, Cleiton Faria Lima, no Mestrado Profissional Formação Interdisciplinar em Saúde da USP. O pesquisador analisou o estado da arte dessa exposição, com foco nos profissionais da área da odontologia, nos procedimentos que envolvem restaurações com esse produto na remoção ou instalação.
Para tanto, realizou pesquisa aplicada, exploratória, na modalidade levantamento bibliográfico, com busca de artigos nas bases Web of Science, Scopus e Lilacs, de 01/01/2000 até 31/03/2023, com termos em português e inglês, e documentos em literatura cinzenta. Dos 422 artigos obtidos, 86 foram selecionados para leitura, chegando-se a uma distribuição em escala global com textos de 25 países. A maioria veio dos Estados Unidos (21), Brasil (12), Turquia (7), Canadá (6), Noruega (6) e Irã (4).
“A literatura analisada apontou a existência de diversos momentos de exposição, possíveis impactos à saúde e incertezas quanto a quais níveis de exposição ao vapor de mercúrio podem ser considerados seguros. Esses achados indicam a necessidade de adoção de medidas preventivas sempre que houver contato com o amálgama dentário, buscando sempre o menor nível de exposição possível”, conclui Cleiton.
Na pesquisa, foram identificadas as possíveis situações de exposição, como a preparação, a manipulação, a inserção e a remoção do amálgama. Também pode ocorrer na eliminação de sobras desse material em locais como lixo, cuspideira e pias, além de falhas no sistema de sucção quando da remoção de restaurações e na esterilização a seco de instrumentos contaminados com ele.
O trabalho apresenta medidas para prevenir a exposição ao vapor do mercúrio. Uma delas é “armazenar resíduos de amálgama em recipientes inquebráveis, hermeticamente fechados, contendo água, solução fixadora radiológica ou glicerina em seu interior, suficiente para cobrir os resíduos”, evitando que esse tipo de resíduo encoste na parede seca do recipiente. Não se deve utilizar aspirador de pó nem produtos de limpeza comuns para limpar derramamento do produto. A remoção do amálgama só deve ser feita em caso de real necessidade em benefício à saúde.
Outras situações de exposição e medidas de prevenção são apontadas na pesquisa, que além da dissertação, gerou uma cartilha educativa em formato digital para informar e conscientizar os profissionais da saúde bucal sobre essas questões.
“Para promover a adoção dessas medidas no ambiente de trabalho, é fundamental informar e conscientizar os profissionais da saúde bucal referente aos riscos da exposição ao vapor do mercúrio, seja na educação formal ou não-formal, garantindo-lhes o direito de conhecer/entender/compreender um dos perigos aos quais possam vir a estar expostos em seu ambiente de trabalho”, defende Faria Lima.
A banca de defesa ocorreu em março e teve a participação do orientador Luiz Eugênio Nigro Mazzilli e dos professores Nelson Massanobu Sakaguti e Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani. Mazzili destacou o mérito da pesquisa, que traz o que há de mais atual nessa temática.
Sakaguti apontou como o trabalho está bem escrito e explorou questões como riscos e medidas preventivas, já que como cirurgião-dentista ainda remove amálgamas antigos. Melani também relatou ter ficado impactado com os possíveis efeitos do mercúrio presente no amálgama. Um dos destaques da pesquisa, para ele, foi mostrar a multidisciplinaridade da saúde ocupacional. A banca caracterizou a cartilha como uma forma efetiva de divulgação científica.
Em breve o trabalho será disponibilizado pela USP e pela Biblioteca da Fundacentro.