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28 de abril
Ato e Canto pela Vida defende saúde e segurança de trabalhadores e trabalhadoras
Na escadaria da Praça, frases grafadas nos degraus clamam por liberdade e nos lembram que a autonomia é essencial para a realização da atividade de trabalho. O nome do local escolhido para o evento também traz o símbolo da luta e da justiça ao homenagear o jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante a ditadura militar, por cumprir seu dever profissional de informar os cidadãos. No dia 28 de abril, esse espaço foi ocupado pelo povo para o Ato e Canto pela Vida, que celebrou em São Paulo/SP o Dia Internacional em Memória dos Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho.
Trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias profissionais, de instituição públicas e privadas, de movimentos sociais, estiveram lá para denunciar os números de acidentes e doenças ocupacionais. Estima-se que, a cada 15 segundos, uma pessoa morre no mundo por esse tipo de acidente. No Brasil, a cada 50 segundos, um acidente de trabalho é notificado. Quem passou por lá recebeu o Manifesto do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho - Ato e Canto pela Vida - Basta de sofrimento e morte!, assinado por mais de 40 instituições, entre elas, a Fundacentro.
O documento denuncia: “Na última década, entre 2012 e 2022, cerca de 7 milhões de acidentes do trabalho foram notificados no país, gerando mais de 2 milhões de afastamentos e causando cerca de 27 mil mortes de pessoas que saíram das suas casas”. Ainda há todo um universo de acidentes e doenças relacionados ao trabalho não registrados, devido à subnotificação e à informalidade.
“Esses números referem-se ao mercado formal de trabalho, não incluindo os acidentes dos trabalhadores e das trabalhadoras sem registro em carteira, geralmente submetidos às condições de trabalho mais insalubres e perigosas e cujas mortes são ainda mais invisibilizadas”, explica o Manifesto.
“A realização desse ato, em praça pública, em diálogo com a população mais ampla e com a organização conjunta de mais de 40 entidades, foi muito importante. Os acidentes de trabalho seguem ocorrendo diariamente, matando, lesionando, comprometendo milhões de vidas em todo o país, e nossa missão é não permitir nunca que esse tema deixe de ter a centralidade que precisa ter”, afirma o presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho.
O evento também foi espaço para cantar em defesa ao direito à vida, regado pelos sambas entoados por Paulinho Timor e Inimigos do Batente. Os músicos separaram um repertório que retrata a vida de trabalhadores e trabalhadoras, como em Identidade, de Ederaldo Gentil: “05342635 é o meu número o meu nome / Minha identidade / Mínimo salário é o meu ordenado / 12 horas de trabalho / Que felicidade, que felicidade”.
Depois da cantoria, veio a homenagem aos mortos pelo trabalho, com a cerimônia da vela, conduzida por Nilton Freitas, representante regional América Latina e Caribe da ICM (lnternacional dos Trabalhadores da Construção e Madeira). “Em todo mundo, atos como esses estão sendo realizados por trabalhadores e trabalhadoras. A origem do 28 de abril vem de um acidente em uma mina nos Estados Unidos, em 1969, com 78 mortos. Depois nos anos 1990, o movimento sindical internacional, liderado pela Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres, começou mobilizar as centrais sindicais de todo mundo para marcar esse dia, principalmente nas reuniões da ONU [Organização das Nações Unidas], porque estava sendo construída a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O objetivo número 8 é o trabalho decente. Isso foi crescendo de 1997 a 2002, em todo o mundo. Em 2003, foi realizada a primeira cerimônia oficial [no Brasil], na Fundacentro”, recorda Nilton Freitas, que na época presidia a instituição.
O ato buscava ter essa característica de luto e luta, o que se mantem até hoje. “A data é importante para recuperar a democracia no local de trabalho”, acredita o diretor de Conhecimento e Tecnologia da Fundacentro, Remígio Todeschini. “Só melhoraremos as condições de trabalho na medida em que fortalecermos as comissões de trabalhadores e a participação ativa na Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio]”, completa.
Todeschini ainda defendeu a integração das políticas e o fortalecimento das instituições públicas. “A Fundacentro precisa ser reconstruída com concurso e com mais verbas para pesquisa, os Cerests [Centros de Referência em Saúde do Trabalhador] precisam ser ampliados com mais verbas no âmbito da Saúde. É preciso haver uma integração de ações entre Saúde, Previdência e Trabalho”, aponta o diretor.
A união foi marca do ato e esteve presente na fala da coordenadora do Fórum Nacional das Centrais Sindicais em Saúde e Segurança da Trabalhadora e Trabalhador, Cleonice Caetano: “Temos aqui a música, mas também dizemos que a cada 15 segundos no mundo morre uma pessoa de acidente do trabalho e no Brasil a cada 3 horas e meia. Queremos com essa união conscientizar toda uma sociedade, a classe trabalhadora para que se defenda do ambiente insalubre do trabalho, e a classe patronal, que tenha essa consciência de que se tiver um ambiente saudável terá mais produtividade e pessoas mais felizes trabalhando”.
Que o mundo do trabalho possa ter o espírito do Ato e Canto pela Vida. Na Praça Vladimir Herzog, onde todos eram iguais, o almoço, Baião de Dois, foi dividido, servido no sistema “Quem pode, paga, quem não pode, pega”. Lá tradicionalmente ocorre uma vez por mês o encontro gastronômico-cultural “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!”. A arte esteve presente, além da música, na construção coletiva da Árvore da Vida, em que todos puderam colocar a marca de suas mãos, aquelas que fazem a máquina do trabalho girar. Como diz o Manifesto, “Basta de sofrimento e morte! Viva a vida!”.
Saiba mais
Leia o Manifesto do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho - Ato e Canto pela Vida - Basta de sofrimento e morte! entregue durante o ato.
Assista aos trechos das falas de Nilton Freitas; Cleonice Caetano; Remígio Todeschini; Simone Alves dos Santos, coordenadora estadual de Saúde do Trabalhador de São Paulo; Marcus Alves de Mello, superintendente regional do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo; e Adir de Souza, técnico da Fundacentro, durante a Cerimônia da Vela.
Assista aos depoimentos de Carlos Clemente, coordenador do Espaço da Cidadania e um dos idealizadores do evento; e Washington Santos (Maradona), coordenador da bancada dos trabalhadores na CTPP (Comissão Tripartite Paritária Permanente).
Assista aos vídeos do evento 1 e 2.
Veja o álbum de fotos do Ato e Canto pela Vida.
Veja vídeos e fotos da Árvore da Vida – a obra foi feita durante o evento pela artista plástica Laura Huzak Andreato, filha do artista visual, compositor e jornalista, Elifas Andreato (in memoriam), com a participação das pessoas, que podiam colocar a marca de suas mãos. A mão símbolo do Ato e Canto pela Vida foi produzida por Elifas, quando ele trabalhava em uma fábrica aos 14 anos, para um cartaz indicando Basta! aos acidentes de trabalho. Já na obra de Laura as mãos em verde e vermelho simbolizaram as folhas da árvore, a vida pulsante, que pode desaparecer por conta dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.