Notícias
Poderes locais na província do Rio de Janeiro: os proprietários de terras e a condecoração da Ordem de Cristo durante o Primeiro Reinado
O Estado Imperial brasileiro foi construído, a partir de 1822, não por D. Pedro I e seu entorno, mas sim através da atuação de diversos grupos
situados nos inúmeros municípios do Império. Entre esses grupos estavam as elites locais, que viram no apoio ao novo imperador uma chance de obterem benesses e prestígio. Esse foi o caso de poderosos proprietários de terras em diferentes regiões do Rio de Janeiro, como, por exemplo, Paty de Alferes, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes[1], Maricá, Itaperuna, São João de Meriti, Paraty, Resende, entre outras. Nessas regiões, assim como em outras do Império, aqueles dispostos a cooperar com o projeto de Estado defendido pelo governo imperial – que estabelecia uma monarquia constitucional, mas que dava amplos poderes ao imperador e ao poder Executivo em detrimento do Legislativo e da autonomia provincial – era recompensado de inúmeras maneiras. Dentre as formas de recompensa destacamos as chamadas ordens honoríficas, que conferiam distinção a quem as recebesse porque se adentrava em uma das modalidades de nobreza herdada de Portugal. No Primeiro Reinado, as duas condecorações mais concedidas por D. Pedro I foram a Ordem de Cristo, existente desde o Império Português, e a Ordem do Cruzeiro, criada por D. Pedro I em 1822 para celebrar a independência.As ordens traziam prestígio para o condecorado à medida que significavam que ele pertencia à nobreza e que era incorporado a um círculo fechado em cujo topo estava o próprio imperador, Grão-Mestre das ordens. Para além disso, no caso da Ordem de Cristo, compartilhava-se também aspectos do sagrado, tendo em vista que era uma das mais antigas ordens militares portuguesas, herdeira da Ordem do Templo, cujos cavaleiros ficaram conhecidos como Templários. A Ordem do Templo foi criada em 1120, em Jerusalém, no processo de expansão da cristandade levada a cabo pelas Cruzadas, e extinta em 1307 pela Igreja. Nessa altura, os templários haviam tornado-se muito ricos e poderosos, possuindo terras e fortalezas em toda a Europa, de forma que reis europeus, em especial o rei francês, Felipe, O Belo, que tinha dívidas com a Ordem, passou a persegui-los, alegando que os templários mantinham práticas hereges.[2] Após sua extinção, os reis europeus, caso do rei de Portugal, passou a solicitar à Igreja a criação de ordens novas em seus reinos e que fossem herdeiras dos bens templários existentes em seu território. Assim surgiu a Ordem de Cristo em Portugal, que recebeu autorização da Igreja para ser administrada pelo rei. Na Ordem do Templo, os Grão-Mestres eram eleitos pelos cavaleiros, mas os monarcas solicitaram à Igreja que o Grão-Mestrado de Cristo estivesse sob seu controle, de forma que passaram a ser os Grão-Mestres dessa nova ordem em 1551.[3] Por isso a Ordem de Cristo estava atrelada à ideia de cavaleiros em defesa da cristandade, o que a tornou uma das mais prestigiosas e desejadas do Império português. Não foi por outro motivo que, no momento da independência, D. Pedro I passou a concedê-las, gerando pareceres por parte de procuradores e desembargadores do Tribunal da Mesa de Consciência e Ordens sobre a legalidade dessas concessões. O imbróglio fez com que o governo enviasse uma missão diplomática a Roma para obter autorização da Igreja de maneira formal, o que só começou a surtir efeito em 1825, com o Tratado de Reconhecimento da Independência por parte de Portugal.[4]
Após a independência, foi mantida a antiga tradição da ordem de que os cavaleiros recebiam suas insígnias através de uma cerimônia religiosa na Igreja Matriz de sua região. Nessa cerimônia deveriam estar presentes todos os membros da ordem daquela localidade, também com suas insígnias. O condecorado deveria fazer um juramento de fidelidade ao Grão-Mestre e, portanto, ao imperador, para além dos votos tradicionais ligados à ordem. Portanto, a história da ordem juntamente com o reforço da ideia de sagrado possibilitada por uma cerimônia realizada na igreja produzia uma imagem de distinção, respeito e elevava os membros da Ordem a um patamar acima do humano. Era, dessa forma, um importante instrumento de poder nas localidades.[5]As insígnias e a indumentária das ordens eram elementos fundamentais para entendermos como um condecorado tinha a possibilidade de exibir publicamente seu título. A Ordem de Cristo era dividida nos seguintes graus hierárquicos: cavaleiro, o grau mais baixo, comendador, o grau intermediário, e Grão-Cruz, o mais prestigioso. Dessa forma, a grande maioria se situava na base de cavaleiros, enquanto os demais graus recebiam um menor número de membros. Durante o Primeiro Reinado, por exemplo, foram concedidos 2.331 graus de cavaleiro de Cristo, 294 graus de comendador e 5 graus de Grão-Cruzes.[6] Cada um dos graus tinha seus elementos distintivos. O cavaleiro de Cristo utilizava a medalha da Ordem pendente do lado esquerdo da roupa, o comendador trazia a medalha presa em uma faixa no pescoço e o Grão-Cruz em uma faixa utilizada no tronco diagonalmente. Além disso, era comum que se usasse um hábito em dias de festa. Dessa forma, o prestígio de pertencer a uma ordem era demonstrado por meio da vestimenta, que inseria o condecorado em um grupo fechado e conferia uma honra estamental.[7]
A relação entre o apoio ao projeto político do imperador e o recebimento das ordens estava ligado ao que se devia fazer para ser condecorado. Isso porque era necessário realizar serviços na solicitação de uma medalha. Esses serviços eram de várias naturezas: feitos nas guerras de
independência ou na perseguição daqueles que defendiam um projeto político diferente, na legitimação do imperador por meio da imprensa, do púlpito (no caso de padres) ou da ocupação de cargos como os da Câmara, na promoção das festas de aclamação, além de serviços pecuniários de financiamento do Estado (de tropas, construções de navios etc.). Em outro trabalho, publicado pelo Arquivo Nacional,[8] parti das análises dos serviços constantes nos decretos de concessão[9] e nos requerimentos solicitando condecoração[10] para elaborar uma tipologia desses serviços, classificando-os em pecuniários, militares, religiosos, de terceiros[11] e civis.Percebe-se que os tipos de serviços que eram recompensados eram de imensa valia para o poder central, de modo que se pode dizer que ele ficava dependente da atuação dessas elites em suas regiões para consolidar seu poder. Por outro lado, para essas elites, adentrar a nobreza por meio das ordens e exibir em suas vestimentas essa distinção permitia ampliar seu poder já que os condecorados vão ser entendidos como pessoas ligadas ao sagrado e portadoras de honra, mérito e virtude, discurso esse que era reproduzido na própria imprensa.[12] Portanto, o desejo de prestígio por parte desses potentados locais é que vai permitir ao imperador o uso intensivo dessas ordens com o objetivo de assegurar seu próprio poder por meio dos serviços realizados para receber uma condecoração. Assim, o governo tinha um instrumento importante em troca do qual homens situados nas mais diferentes regiões realizavam, na prática, serviços que implicavam na consolidação do projeto político do imperador.
Com isso, é possível compreender que esses proprietários de terras utilizavam inúmeras estratégias[13] para a construção de seu poder local, que incluíam o recebimento de uma condecoração, mas também, por exemplo, a ocupação de cargos nas Câmaras. Contudo, como parte da estratégia, eles “faziam ver” sua “dignidade” para receber a ordem por meio também da posse de propriedades. Isso porque a Ordem de Cristo tinha, entre as suas exigências, que o candidato pudesse “se tratar nobremente”, de forma a não “deslustrar” a Ordem. Assim, a posse da terra era utilizada pelos requerentes como uma comprovação da possibilidade de se tratar nobremente. É importante que se entenda que a posse da terra não era o motivo do recebimento da Ordem de Cristo e sim os serviços realizados, mas era apresentada como uma espécie de comprovação de que o candidato tinha o “requisito” necessário e estava apto a “viver nobremente”.
Essa relação com a terra é algo típico da América, pois, de acordo com Fernanda Olival[14], em Portugal, o “viver nobremente” até o século XVIII estava vinculado à “limpeza e asseio” e às posses, como cavalos e criados e não à terra. No Brasil, a terra ganhava destaque em alguns requerimentos e aqueles que a mencionam demonstravam ser perpassados pelas representações[15] que a envolviam na colônia, ligadas efetivamente ao padrão de ocupação da América portuguesa, como aponta João Fragoso.[16]
Uma outra estratégia adotada por esses potentados para receberem uma medalha era explicitar em seus requerimentos que o candidato à condecoração efetivamente ocupava cargos de importância em sua localidade, o que mostra que eles já estavam trilhando o caminho da distinção. Nesses casos, adentrar a ordem era o coroamento desse processo e, mais do que isso, era a possibilidade de dar um passo além, caso o condecorado quisesse ascender em uma carreira política avançando, por exemplo, em cargos provinciais – o que se faria mais relevante a partir do período regencial em virtude da reforma constitucional de 1834[17] – e da administração central. Não apenas receber uma condecoração era uma forma de afirmação de poder mais ampla na região que a pessoa habitava, mas era um elemento que a distinguia para além da própria localidade, visto que era um instrumento distintivo reconhecido em todo o Império. Evidentemente não se quer dizer aqui que o único objetivo de ocupar cargos era receber uma condecoração. Obviamente o cargo em si era uma estratégia de poder, mas abria as portas a mercês que poderiam já estar no horizonte ou ter sido vislumbradas depois da ocupação do cargo. Assim, encontram-se casos de proprietários de terras que ocuparam diversos cargos municipais como, por exemplo, juiz ordinário, vereador, procurador e provedor.
É importante salientar que quase sempre os proprietários acrescentavam à ocupação de cargos suas contribuições financeiras ao Estado. Aproveitando-se do cabedal disponível, não hesitavam em despender em nome do Estado e converter a despesa em uma adesão ao governo de D. Pedro I, misturando o Estado ao governo e, mais, à pessoa do imperador. Após a independência, muitos são os registros de penúria financeira do Império, de modo que o dispêndio de proprietários e negociantes aliviava os cofres do Estado e era muito bem-vindo. Essa situação, contudo, era costume desde o período colonial, embora antes não rendesse uma nobilitação como passou a ocorrer após a vinda da corte e a independência. Assim, havia aqueles que faziam doações para incremento da Marinha, para construções públicas (como, por exemplo, reparos ou construção de pontes, calçadas, ruas e estradas), que emprestavam escravos, gado, cavalos, embarcações e utensílios para alguma construção ou trabalho do Estado ou que atendiam a pedidos de auxílio financeiro feitos pelo governo central para cobrir despesas. Ações como essas, apresentadas como ajuda ao Estado de bom grado, foram identificadas em todo o Império ao longo do Primeiro Reinado, mas, no caso da província do Rio de Janeiro, foi possível identificá-las em regiões como Paty do Alferes, Paraty, Campos dos Goytacazes e Cabo Frio.Conclui-se com isso que as elites locais utilizavam estratégias para alcançar um poder honorífico que pudesse consolidar seu prestígio na região em que habitavam. Tratava-se de toda uma trajetória que seria mobilizada para obter essas mercês que, uma vez alcançadas, abriam as portas para
novas possibilidades como cargos e mesmo novas redes de sociabilidade que poderiam trazer consigo mais posses e mais influência. Após a independência, portanto, a atuação desses que compunham o poder local se tornou fundamental para a consolidação do projeto político de D. Pedro I, de modo que uma interdependência evidente se estabelecia entre poder central e poderes locais. A despeito dos muitos conflitos, essa relação não era embasada apenas em oposição e sim, muitas vezes, em complementaridade, já que o imperador dispunha de um instrumento que poderia fortalecer o poder desses homens em suas localidades – por meio do prestígio. Focou-se aqui no Primeiro Reinado, mas sabe-se que os últimos anos de D. Pedro I no poder foram de extrema tensão e de perda de legitimidade. A Regência abriu uma nova conjuntura, restringindo o acesso a esses instrumentos de prestígio, enquanto a oposição ao primeiro imperador tentou desqualificar os condecorados por ele afirmando que não eram homens de mérito, virtudes e honra e sim gananciosos e submissos aos desejos do monarca. A despeito disso, as ordens honoríficas sobreviveram e foram concedidas durante todo o período imperial, de modo que os agraciados com elas desfrutaram efetivamente de um poder simbólico relevante para as representações mentais presentes no período que os entendia como superiores aos demais.Camila Borges da Silva
Professora do Departamento de História da UERJ
Doutora em História Social da Cultura pela PUC-Rio
Documentos:
Arquivo Nacional. Mesa de Consciência e Ordens. Códice 26, vol. 9.
Arquivo Nacional. Ordens Honoríficas. Códice 14, vol. 1 e 35.
Arquivo Nacional. Graças Honoríficas. Códice 15, vols. 9, 10 e 11.
Arquivo Nacional. Mesa da Consciência e Ordens. Códice 28, vol. 6.
Arquivo Nacional. Ordens Honoríficas. Códice 790.
Arquivo Nacional. Diversos (SDH) - Códices. Códice 1164.
Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos. Documentos Biográficos.
Arquivo Nacional. Biblioteca. PINHEIRO, Artidório Augusto Xavier. Organização das ordens honorificas do imperio do Brazil. São Paulo: Typ. a vapor de Jorge Seckler & Comp, 1884. FOR0890.
Referências Bibliográficas:
ATALLAH, Claudia C. Azeredo. Territórios de poder, criminalidade e regionalismo: a criação da comarca de Campos dos Goytacazes (1732-1835). In: FURTADO, Junia e SLEMIAN, Andrea (orgs). Uma cartografia dos Brasis: poderes, disputas e sociabilidades na Independência. Belo Horizonte: Fino Traço, 2022.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: EDUSP; Porto Alegre, RS: ZOUK, 2007.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
DEMURGER, Alain. Os cavaleiros de Cristo: templários, teutônicos, hospitalários e outras ordens militares na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
FRAGOSO, João. Nobreza principal da terra nas repúblicas de Antigo Regime nos trópicos de base escravista e açucareira: Rio de Janeiro, século XVII a meados do século XVIII. In: FRAGOSO, João e GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs). O Brasil colonial, 1720-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, v.3, p.159-240.
FRALE, Bárbara. Os templários. São Paulo: Madras, 2005.
OLIVAL, Fernanda. As ordens militares e o Estado Moderno. Honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar Editora, 2001.
SILVA, Camila Borges da. As ordens honoríficas e a Independência do Brasil: o papel das condecorações na construção do Estado Imperial brasileiro (1822-1831). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.
SILVA, Camila Borges da. Military Orders in nineteenth-century Brazil: Portuguese tradition, the holy see, and the independent nation. The Americas, 71:1, July 2014, pp.71-99.
SILVA, Camila Borges da. Nobreza, igualdade e democracia: visões sobre as hierarquias sociais no jornal Nova Luz Brasileira (1828-1831). Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v.47, n.3, set/dez 2021, pp.1-17.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999, vol.2.
[1] A região de Campos pertencia, no século XVIII, à capitania da Paraíba do Sul, mas era tratada pela administração colonial dessa época como capitania “anexa”, ou seja, subordinada ao Rio de Janeiro. Além disso, esteve ligada à comarca do Rio de Janeiro, sendo transferida para a comarca recém criada do Espírito Santo em 1741. Com isso, estabeleceu-se uma hibridez, pois a região continuou a ser considerada parte do Rio de Janeiro, mas com a esfera da justiça submetida ao Espírito Santo. Essa situação se manteve até 1831, quando a câmara municipal solicitou que fosse incorporada plenamente ao Rio de Janeiro, o que ocorreu em 1832, para, logo depois, fundar-se a comarca de Campos dos Goytacazes e receber status de cidade em 1835. Cf. ATALLAH, Claudia C. Azeredo. Territórios de poder, criminalidade e regionalismo: a criação da comarca de Campos dos Goytacazes (1732-1835). In: FURTADO, Junia e SLEMIAN, Andrea (orgs). Uma cartografia dos Brasis: poderes, disputas e sociabilidades na Independência. Belo Horizonte: Fino Traço, 2022, p. 179-205, 187, 189, 190, 200 e 202.
[2] DEMURGER, Alain. Os cavaleiros de Cristo: templários, teutônicos, hospitalários e outras ordens militares na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, p. 191 e FRALE, Bárbara. Os templários. São Paulo: Madras, 2005, capítulos 5 e 6.
[3] DEMURGER, Alain. Op. Cit., p. 239.
[4] Para maiores informações sobre o entendimento do Tribunal da Mesa de Consciência e Ordens e sobre a missão diplomática, ver SILVA, Camila Borges da. Military Orders in nineteenth-century Brazil: Portuguese tradition, the holy see, and the independent nation. The Americas, 71:1, p. 71-99, july 2014. A documentação que mostra as consultas e pareceres da mesa encontra-se no códice 26, vol. 9 do fundo Mesa da Consciência e Ordens, Arquivo Nacional.
[5] Evidentemente isso não implica que os esforços para adentrar em uma ordem estivessem apenas no plano do cálculo racional dos pretendentes. Eles próprios também incorporavam em suas representações essa imagem de distinção e de sagrado, o que deixava mais potente o desejo de tornar-se um membro.
[6] Arquivo Nacional. Fundo Ordens Honoríficas, códice 14, vol. 35. Para além desse códice, o Arquivo Nacional detém inúmeros outros com os decretos de todas as etapas de concessão das ordens. Para a Ordem de Cristo, vide principalmente os códices 14, vol. 1 do fundo Ordens Honoríficas, o códice 15, vols. 9, 10 e 11, do fundo Graças Honoríficas, e o códice 28, vol. 6, do fundo Mesa da Consciência e Ordens.
[7] A honra estamental é aqui compreendida a partir de Max Weber, que a entende como uma “condução da vida específica” compartilhada por um estamento. O estamento, por sua vez, é definido como um círculo restrito de pessoas que guia suas ações motivadas pela “avaliação social, positiva ou negativa”, isto é, pela honra. Cf. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999, vol. 2, p. 180.
[8] SILVA, Camila Borges da. As ordens honoríficas e a Independência do Brasil: o papel das condecorações na construção do Estado Imperial brasileiro (1822-1831). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.
[9] Arquivo Nacional. Fundo Graças Honoríficas. Códice 15, vols. 9, 10 e 11.
[10] Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos. Documentos Biográficos.
[11] Significavam os serviços que eram doados ou herdados por outra pessoa concedendo-a o direito à recompensa pelos mesmos. Era uma forma de tornar os serviços ainda mais relevantes, tendo em vista que se tornavam uma espécie de bem imaterial que poderia ser transmitido.
[12] Os sentidos de honra, mérito e virtude estavam em reconstrução após a independência por conta do constitucionalismo. Para um exemplo do debate sobre o assunto na imprensa, ver SILVA, Camila Borges da. Nobreza, igualdade e democracia: visões sobre as hierarquias sociais no jornal Nova Luz Brasileira (1828-1831). Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 47, n. 3, p. 1-17, set/dez 2021.
[13] Utiliza-se aqui a ideia de “estratégia” por meio da obra do sociólogo Pierre Bourdieu. Cf. BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: EDUSP; Porto Alegre, RS: ZOUK, 2007.
[14] OLIVAL, Fernanda. As ordens militares e o Estado Moderno. Honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar Editora, 2001, p. 370-373.
[15] O conceito de representação é utilizado a partir da obra de Roger Chartier. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
[16] FRAGOSO, João. Nobreza principal da terra nas repúblicas de Antigo Regime nos trópicos de base escravista e açucareira: Rio de Janeiro, século XVII a meados do século XVIII. In: FRAGOSO, João e GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Brasil colonial, 1720-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, v. 3, p. 159-240.
[17] A reforma funda as Assembleias provinciais e submete alguns cargos às províncias.





