Discurso do Presidente Lula durante sanção da Lei que limita uso de celular na escola, em 13 de janeiro de 2025
Esse é um momento histórico para o Brasil. Os deputados que aprovaram essa lei, os senadores tiveram um ato de coragem como poucas vezes na história do Brasil. Essa sanção aqui que eu vou fazer significa o reconhecimento do trabalho de todas as pessoas sérias que cuidam da educação, de todas as pessoas que querem cuidar das crianças e dos adolescentes deste país.
Porque eu, muitas vezes, imaginei que os deputados e as deputadas não iam ter coragem de aprovar essa lei com medo da internet. Porque hoje o deputado ou a deputada para votar uma coisa, ele fica pensando quantos minutos eu vou apanhar na internet, quantas pessoas vão se engajar falando mal de mim. Então isso aqui foi um ato de coragem, de cidadania e um ato de respeito ao futuro desse país.
Portanto, é com muito orgulho que eu vou sancionar a lei. Eu penso que os números que o companheiro Camilo [Santana, ministro da Educação] mostrou aí, as várias pesquisas, demonstram o acerto que vocês tiveram de aprovar essa lei. Porque nós sabemos, vários países já aprovaram e já proibiram.
A França, a Espanha, a Finlândia, a Coreia do Sul, a África do Sul. Vários países já aprovaram e outros estão discutindo isso. Porque no fundo, no fundo, no fundo, o ser humano nasceu para viver em comunidade.
O ser humano nasceu para viver olhando para a cara do outro, para brincar, sabe? Porque nós somos feitos de uma reação química que tem que ter olhar nisso, tem que ter abraço, tem que ter pegar na mão, tem que ter brincadeira. O que está acontecendo hoje? Um dia eu estava na casa de um amigo meu e tinha um casal de adolescente, namorados. Acho que tinha 14 ou 15 anos.
Estava sentado um na frente do outro, Ana Estela [Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde]. Um sentado na frente do outro. Namorando pelo celular. Eu fui onde estavam os dois adolescentes, tirei o telefone celular dos dois. Eu falei: “olhem, conversem se olhando. Vocês vão ver se não é muito mais bonito, muito mais interativo do que vocês ficarem sentados um na frente do outro, sem um pegar na mão do outro, apenas os dois com a mão no celular”.
Eu já vi casos de crianças com dois anos de idade começarem a chorar, ao invés da mãe pegar para que o aconchego do corpo dela pudesse fazer a criança parar de chorar, simplesmente dá um celular para a criança. Dá uma coisa fria, gelada que não tem nada a ver com aquela criança, aquilo não vai educar, aquilo não vai... Então esse comportamento desumano está sendo utilizado pelos humanos.
Então, o que vocês fizeram nesse ato de coragem foi falar o seguinte: nós vamos cuidar das nossas crianças, nós vamos evitar mutilamento, nós vamos evitar… que as crianças possam voltar a brincar, que as crianças possam voltar a interagir entre si. E eu acho que isso é muito importante. Isso não vale só para a criança, isso vale para muita gente.
Eu, no meu gabinete, não entra ninguém com o telefone celular. Porque, imagina, você está fazendo uma reunião, e quando você olha está todo mundo olhando para o celular, ninguém olhando para você. Agora imagina em uma sala de aula, imagina uma professora dando aula, e quando ela olha para os alunos, está todo aluno, cada um com o celular.
Um está na China, outro está na Suécia, outro está no Japão, outro está no outro estado, conversando com gente que não tem nada a ver com a aula que ela está recebendo. E para todas as aulas, não é só para matemática não, é para todas as aulas. Então, eu quero dizer para vocês, companheiros deputados, companheiros deputadas, senadores e senadoras, companheiros da Comissão de Educação, companheiro Camilo: o que vocês fizeram foi um grande gesto de dignidade com o futuro desse país.
A gente precisa voltar a permitir que o humanismo não seja trocado por algoritmos. A gente precisa voltar a ter isso. E depois que ele sair da sala de aula, que ele chegar na casa dele, que a mãe dele faça o que ele quiser, nós não vamos proibir.
Nós não estamos interferindo na proibição, nós estamos apenas educando de que tem lugar que é permitido e lugar que não é permitido. E numa sala de aula, se a gente quiser formar corretamente a juventude brasileira, ele tem que ir lá para estudar. Isso não vai atrapalhar nada a formação digital desse menino.
Ele vai ter o momento que ele vai aprender, vai ter o momento que ele vai entrar e vai ter o momento que ele pode até entrar numa universidade e se transformar num grande intelectual do mundo digital. Então, parabéns a vocês, parabéns. É com muito orgulho, Camilo, que eu sancionei essa lei e é com muito orgulho que eu vou tirar uma fotografia com vocês e com os deputados mostrando a lei sancionada.
Obrigado, gente.