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Em São Paulo, mulheres da Fundacentro realizam ato contra opressão de gênero
O filme “As sufragistas” retrata a luta das mulheres pelo voto no Reino Unido no início do século XX. Para tanto, pega personagens reais como Emily Wilding Davison, que invadiu a pista de corridas de Epson, em 4 de junho de 1913, e foi atropelada por um cavalo pertencente ao rei George V, para chamar a atenção do mundo para essa luta. As péssimas condições de trabalho a que as mulheres eram submetidas são reconstruídas, assim como as violências por elas sofridas, desde a opressão no lar até abuso sexual pelo patrão.
Toda essa carga é ilustrada pela personagem fictícia Maud Watts, que vai sendo despertada para a luta ao longo da narrativa. Ela enfrenta a pressão da polícia, do marido e da sociedade, perdendo o direito ao filho. “Se a lei diz que não posso ver meu filho, eu vou lutar para mudar a lei”, diz Maud em uma das cenas do filme.
Por retratar o significado de luta do Dia Internacional da Mulher, esse filme foi escolhido para uma atividade realizada pela Comissão Interna de Saúde do Servidor (Cissp) e pela Comissão de Representação dos Servidores da Fundacentro no saguão da sede da instituição em São Paulo/SP. Servidoras e terceirizadas puderam assistir à obra e depois participar de um debate durante a tarde de 8 de março.
“Mas por que no saguão e não no auditório?”, ouviu uma das organizadoras. “Porque queremos chamar a atenção”. E conseguiram. Mesmo homens (foram todos convidados) e mulheres que não puderam participar viram a movimentação ou escutaram alguma parte da atividade quando tinham que atravessar o saguão rumo aos seus postos de trabalho.
O e-mail da funcionária do Serviço de Informática, Karine Aleixo Dias, enviado às organizadoras mostra que o objetivo foi atingido:
“Ontem, sem sombra de dúvida, foi o melhor dia das mulheres que eu tive em um ambiente corporativo.
Não pude ficar para ver o filme ou participar do debate (embora minha vontade de falar fosse imensa), pois as UDs ainda estavam online, e os chamados aqui na informática não param.
Mas quero deixar muito claro que me senti imensamente grata e lindamente representada como mulher, como feminista e como uma minoria que não deixo e nunca esqueço que sou.
Foi o melhor dia das mulheres em um trabalho. Não pelas flores, não pelo bolo ou até mesmo pelo filme. Meu melhor presente foi passar pelo corredor do Térreo Superior para ir ao banheiro, e me virar por alguns segundos para ver quem estava assistindo ao filme. Era um ‘mar de minas’, todas juntas, de todos os cargos, de todas as classes. Todas prestando atenção em um filme que desperta em nós uma gotinha do quanto o feminismo pode e deve ser importante. Fiquei ali, parada, completamente arrepiada, e me dei conta de que havia encontrado a resposta para todos que perguntam ‘O que é feminismo afinal?’.
Ontem eu encontrei a resposta para uma pergunta que a gente mesmo sempre leva conosco: O seu feminismo é pra quem? E ontem, por algum tempo enquanto o filme rolava, vocês conseguiram o que quase nenhuma organização feminista consegue (não por maldade, mas porque o ser humano é falho e segregador por essência), eliminar a segregação entre nós mulheres.
A minha gratidão infinita por cada arrepio de ontem, foi raro, lindo, simples e forte demais.. como toda mulher é, e sempre será.
Obrigada mesmo!!”
Depois desse, muitos outros e-mails seguiram, de mulheres ressaltando a importância do ato. Além da exibição do filme, mulheres e homens receberam ao longo da semana uma fita roxa, como símbolo de participação no movimento de mulheres contra a violência doméstica e qualquer forma de opressão e discriminações. As pessoas também foram estimuladas a usar uma peça de roupa ou adereço lilás ou roxo, cores escolhidas pelo movimento de mulheres para marcar a data.
No debate, várias questões foram levantadas. Muitas vezes, mesmo exercendo a mesma atividade que homens, elas recebem remunerações menores. Há casos em que os piores postos de trabalho são destinados a elas. Além da jornada de trabalho, precisam dar conta da jornada em casa, com os filhos e o próprio trabalho social da maternidade (são elas que carregam os bebês no ventre, dão à luz e amamentam).
Também se falou sobre a importância dos direitos trabalhistas e previdenciários, sobre a invisibilidade e precarizações sofridas pelas trabalhadoras terceirizadas, a culpabilização da mulher e tantos preconceitos que são naturalizados pela sociedade. A mulher é julgada pela roupa que usa, taxada como louca quando faz algum questionamento ou luta por direitos, tem que dar conta do trabalho e da família como se fosse a única responsável por ela. É preciso derrubar esses muros, e o ato foi o começo para se construir novos paradigmas na instituição.