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Governo tem ‘arsenal de medidas’ para conter valorização do real
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou, nesta terça-feira (060/3), que, em 2012, governo terá ações ainda mais fortes para garantir o crescimento da economia brasileira, em especial, no setor de investimentos.
“Há uma série de estímulos que já estão sendo implantados. Começa a haver barateamento do crédito, a partir da redução da taxa de juros, e incentivo ao investimento. Portanto, as condições para um crescimento maior estão dadas", afirmou.
Ao comentar os dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) de 2011, cujo resultado ficou em 2,7%, conforme divulgado pelo IBGE, o ministro reforçou a meta de crescimento entre 4% e 4,5% para este ano.
Ele lembrou que a economia brasileira começou 2012 em aquecimento, amparada pelo desempenho dos meses de novembro e dezembro, e enfatizou que a trajetória para este ano já está definida.
“Esse crescimento vai acelerar ao longo do ano de 2012, atingindo seu ápice no segundo semestre, quando a economia brasileira estará crescendo a mais de 5%. A média vai ficar em torno de 4%, 4,5%”, reforçou.
Na avaliação do ministro Guido Mantega, o crescimento será amparado pelos efeitos das medidas lançadas pelo governo no ano passado, que, observou, só serão sentidas agora.
Citou o programa Brasil Maior, as reduções tributárias e o aumento do capital de giro como medidas lançadas no ano passado e que terão “pleno impacto em 2012”.
O ministro afirmou, ainda, que quando necessário, serão anunciados novos instrumentos e medidas para garantir o crescimento econômico. Entre os desafios a serem enfrentados ao longo do ano estão a política monetária expansionista adotada por alguns governos e a diminuição de mercados de manufaturados.
“Vamos viver uma intensificação da guerra cambial, porque hoje, tanto os Estados Unidos quanto os países europeus e o Japão estão praticando política de expansão monetária. Esse excesso de crédito acaba desvalorizando essas moedas, causando uma desvantagem no âmbito comercial”, explicou Mantega.
O ministro disse ainda que essa situação gera excesso de recursos, o que poderá criar bolhas em países emergentes desprevenidos, característica que não condiz com o perfil brasileiro.Mantega assegurou que o Brasil age preventivamente no mercado cambial e repetiu que o governo não permitirá o excesso de capital especulativo no País.
“Vamos coibir essas operações, vamos enfrentar esse excesso de liquidez e vamos manter o real desvalorizado com o arsenal de medidas que temos pela frente”, declarou.
Entre as ferramentas disponíveis, afirmou que o governo pode atuar tanto no mercado futuro de derivativos, quanto no mercado à vista (spot).
“Temos atuado nesses mercados e podemos aumentar nossa atuação em larga escala. Não há nenhum risco do real se valorizar, prejudicando as exportações brasileiras e os manufaturados brasileiros”, informou.
O ministro afirmou que o Brasil é uma das economias que têm menos dependência da situação mundial. Porém, segundo ele, diante de um mercado interno mais forte, é preciso tomar precauções para que esse crescimento não seja exportado. “Temos tomado medidas de defesa comercial que vão nos possibilitar isso”, destacou.
Ele acredita que grandes problemas, como default (falência), estão afastados no cenário internacional e que será possível administrar a desaceleração mundial.
“Sempre é possível fazer estímulos. Eles podem ser fiscais ou monetários. Estou tranquilo, porque com os instrumentos que temos, os recursos fiscais serão suficientes para fazer o que temos que fazer este ano”, afirmou.
PIB 2011
O resultado de 2,7% PIB de 2011 foi, na visão do ministro Mantega, fruto de um ajuste na economia, principalmente relacionada à inflação no primeiro semestre e ao agravamento da crise internacional na segunda metade do ano. “Se não tivesse havido esse agravamento, nosso crescimento seria mais próximo dos 4% do que dos 3%”, alegou.
Sobre os números do IBGE divulgados nesta terça-feira, Mantega destacou a formação bruta de capital fixo, que teve alta de 4,7%. “O que mais cresceu foi o investimento, mostrando que continuamos na trajetória de um crescimento salutar”, afirmou.
Com alta de apenas 1,7%, a indústria foi o setor mais afetado pela crise internacional, por sofrer maior concorrência com os produtos importados e consequente perda de mercados. Mantega considerou, no entanto, que apesar de o crescimento do PIB não ter sido tão alto, o desempenho da economia brasileira em 2011 foi satisfatório.
“Crescemos e geramos quase dois milhões de empregos. Portanto, a massa salarial cresceu, o que significa maiores rendimentos para os trabalhadores brasileiros”, enfatizou.
Com maior capacidade de consumo pelas famílias e com o aumento do salário mínimo - que injetou na economia mais de R$ 50 bilhões – foi possível a ampliação do mercado consumidor e da capacidade de consumo da população brasileira. “A população continua melhorando seu padrão de vida a partir desses indicadores,” declarou.
Mantega ressaltou o bom resultado da balança comercial no ano passado, que registrou superávit de mais de US$ 28 bilhões, e o desempenho fiscal, que fortaleceu as finanças públicas brasileiras, de modo a injetar mais recursos nos investimentos em 2012.
Na opinião do ministro, 2011 foi um ano de bons resultados também em relação à inflação. “Reduzimos a inflação e esse era um dos objetivos da política econômica. Em 2011, a inflação começou o ano forte e ela desacelerou, está em patamares controlados, isso favorece um crescimento maior em 2012”, disse.
O ministro se mostrou tranquilo com o desempenho da inflação neste início de ano e disse que, caso se confirme a desaceleração da economia mundial, em especial a da China, poderá haver uma redução no preço das commodities.
“O risco hoje não é tanto de inflação, mas de deflação de preços de commodities. Do ponto de vista inflacionário, não há maiores desafios a serem enfrentados”, comentou.
Poupança
Questionado sobre um possível movimento do governo na caderneta de poupança, ele esclareceu que, por enquanto, não há necessidade de alterar a rentabilidade. “As aplicações na poupança continuam tendo rendimento maior. Não vejo movimento migratório e tem espaço grande ainda até que isso aconteça”.
BNDES
Guido Mantega informou, ainda, que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá liberar mais de R$ 140 bilhões em empréstimos ao setor produtivo neste ano.
“Mesmo recebendo menos recursos do Tesouro, ele possui uma carteira própria. Quando as empresas devolvem, passa a ser caixa. O BNDES terá uma das maiores carteiras de investimento que se tem notícia”, relatou o ministro.
Ele não disse, por enquanto, quanto o Tesouro Nacional repassará ao banco este ano. “Por enquanto, não precisa de nenhum repasse", concluiu.