Fotografia de Maria Rita Meireles da Costa Pinto com a ama-de-leite Benvinda

Fundo: Fotografias Avulsas

Código do fundo: O2

Notação: BR RJ ANRIO O2.0.FOT.76

Data do documento: [1880]

Local: Bahia

Folhas: 1

Tamanho do original: 16,5 x 11 cm

A popularização do retrato fotográfico, na segunda metade do século XIX, levou aos estúdios brasileiros indivíduos oriundos de diversos grupos sociais. Os retratos, distribuídos ou trocados com familiares e amigos, constituíam um indicativo de status largamente empregado por políticos, artistas, comerciantes, fazendeiros, usineiros, banqueiros e integrantes da nobreza local. Segundo a pesquisadora Sandra Koutsoukos, negros livres e libertos também o fizeram, deixando-se fotografar “vestidos, penteados e posando à moda europeia” (KOUTSOUKOS, 2006, p. 4) com o intuito de sublinhar sua condição de liberdade. O volume de fotografias de negros livres e libertos no Brasil que chegaram aos dias de hoje, todavia, não se equipara à vultuosa produção de retratos de pessoas brancas.

Senhores de escravos igualmente contratavam fotos de seus filhos acompanhados de amas-de-leite e amas-secas como é o caso da fotografia de Maria Rita Meireles da Costa Pinto com sua ama-de-leite Benvinda, registrada em 1880.  Maria Rita nasceu no Engenho Novo, localizado em Santo Amaro, na Província da Bahia, em 30 de dezembro de 1880. Era primogênita de João Francisco da Costa Pinto (1858-1928), Fidalgo Cavalheiro da Casa Imperial [1] e fundador da Usina Paranaguá, estabelecida em Santo Amaro, Bahia, e de Jerônima Simões de Meireles (1863-1897). A fotografia foi doação de seu sobrinho-neto, Roberto Lorenz Marback. Sobre Benvinda não existem informações conhecidas, além do retrato.

O registro foi realizado por Antônio Lopes Cardoso, fotógrafo que atuou na cidade do Rio de Janeiro, então capital do império, e nas de Salvador, na província da Bahia, e de Recife, na província de Pernambuco [2] . Cardoso recebeu, em 1864, o título de Fotógrafo da Casa Imperial e participou da Exposição Provincial da Bahia nos anos de 1873 e 1875. Recebeu também uma menção honrosa na 3ª. Exposição Nacional de 1873, realizada no Rio de Janeiro [3] . O reconhecimento conferido por essas honrarias é registrado no verso da fotografia.

A pesquisadora Sandra Koutsoukos atenta para a indumentária frequentemente utilizada nessas fotos pelas amas-de-leite e amas-secas negras. Segundo a autora, as roupas “de um luxo europeizado” (KOUTSOUKOS, 2006, p. 4) utilizadas por aquelas mulheres, muitas vezes escravizadas, associavam-se ao arranjo das cenas dos retratos, contrastando com a situação social das fotografadas. O retrato em preto e branco que registra Maria Rita e Benvinda é um carte-cabinet , formato em que o conjunto fotografia e suporte em cartão possuía um tamanho que permitia tanto o acondicionamento em álbuns próprios quanto o emprego na ornamentação de ambientes como as salas de visitas das casas. A imagem não conta com painel de fundo pintado, mobiliário, colunas ou cortinas comumente usados nos retratos da época. Benvinda, trajando turbante e panos provavelmente coloridos e adornada com colar e pulseiras, dirige o olhar para baixo enquanto segura Maria Rita, ainda um bebê, no colo.

Referências

ANTÔNIO da Silva Lopes Cardoso. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21997/antonio-da-silva-lopes-cardoso . Acesso em: 09 de janeiro de 2023. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

KOUTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. No estúdio do fotógrafo: representação e autorrepresentação de negros livres, forros e escravos no Brasil da segunda metade do século XIX . 2006. Tese [Doutorado em Multimeios] Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.