Notícias
RELAÇÕES EXTERIORES
“Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática”, afirma Lula na ONU
Presidente Lula na ONU: 'A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos'. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Com a autoridade de líder do país-sede da próxima Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas, a COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou nesta terça-feira, 23 de setembro, que investimentos militares não trarão benefício no esforço em curso para reverter os efeitos da mudança do clima.
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP30, em Belém, será a COP da verdade. Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta”
Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República
“Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP30, em Belém, será a COP da verdade. Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta”, afirmou, durante discurso na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA), numa referência ao evento que será realizado em novembro, na capital paraense.
» Confira a íntegra (texto) do discurso do presidente Lula na ONU
» Confira o áudio do discurso do presidente Lula na ONU
Para o presidente, é preciso que os países se empenhem em definir e cumprir as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os compromissos que cada nação assume, no âmbito do Acordo de Paris, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas, caminharemos de olhos vendados para o abismo. O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59 e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia”, lembrou Lula.
Em Nova York, o presidente destacou o esforço de sua gestão para reduzir o desmatamento na Amazônia e disse que é preciso engajamento para fazer com que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre atinja seus objetivos. A iniciativa, que será lançada durante a COP30, cria um novo modelo de financiamento: países que preservem as florestas tropicais seriam recompensados via fundo de investimento global.
“Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia. O Brasil já reduziu pela metade o desmatamento na região nos dois últimos anos. Erradicá-lo requer garantir condições dignas de vida para seus milhões de habitantes. Fomentar o desenvolvimento sustentável é o objetivo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar para remunerar os países que mantêm suas florestas em pé. É chegado o momento de passar da fase de negociação para a etapa de implementação”, pediu Lula.
CONSELHO CLIMÁTICO – Ao elogiar a importância da Convenção do Clima, um acordo internacional para estabilizar os gases de efeito estufa e que tenta impedir a interferência humana danosa ao sistema climático, Lula ressaltou que a ONU deve assumir cada vez mais um papel de protagonismo nessa questão. “O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima. Mas é necessário trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU, para que ela tenha a atenção que merece”, afirmou. “Um Conselho vinculado à Assembleia Geral com força e legitimidade para monitorar compromissos dará coerência à ação climática. Trata-se de um passo fundamental na direção de uma reforma mais abrangente da Organização, que contemple também um Conselho de Segurança ampliado nas duas categorias de membros”, defendeu.
RECURSOS TECNOLÓGICOS – O presidente ainda destacou que as nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios históricos. “Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça. A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”, concluiu.
PRIMEIRO – Como é tradição desde 1955, o Brasil foi o primeiro Estado-membro a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU. Lula abriu os discursos de chefes-de-estado e falou logo depois do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e da presidenta da 80ª Assembleia Geral, a alemã Annalena Baerbock. Lula ressaltou que os países devem unir-se para fortalecer a ONU num momento que definiu como de incertezas: “Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância”, afirmou.
80ª AGNU – A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas marca os 80 anos de fundação da ONU, criada em 1945 com a assinatura da Carta de São Francisco. O Brasil foi um dos 51 signatários originais. A criação da ONU representou não apenas o fim da Segunda Guerra Mundial, mas o compromisso da comunidade internacional com a paz, os direitos humanos, a igualdade soberana entre os Estados e o desenvolvimento sustentável. Atualmente, a organização reúne 193 Estados-membros e dois Estados observadores: a Palestina e a Santa Sé. O tema da 80ª sessão é “Melhor Juntos: 80 anos e mais para paz, desenvolvimento e direitos humanos”.
