Pronunciamento do presidente Lula durante a segunda reunião ministerial de 2025, no Palácio do Planalto
Sabe que ontem eu fiz uma reunião com aquele prêmio Nobel da Nigéria [escritor Wole Soyinka]. E aquele escritor tem 91 anos de idade. Noventa e um. Eu fiquei impressionado com a agilidade física dele com 91 anos de idade. O cabelo dele parece algodão doce. Eu levantei, pedi licença para ele para puxar o cabelo dele, para ver como é que o cara faz um negócio daquele. Sabe um capucho de algodão? Eu falei, vou fazer no meu também. Aí levantei para ver o dele.
O que me impressionou é um cara com 91 anos com a agilidade dele. Agilidade mental e agilidade física. Tem apenas 11 filhos. E eles estão discutindo um negócio bonito que é sair do ponto de chegada dos escravos no Brasil e retornar para vários países de onde partiam os escravos do Brasil. É uma viagem de navio, que vai começar em junho do ano que vem, para ver se eles fazem essa pesquisa de retorno ao continente africano. Depois eu vou me inteirar e passar pra vocês a epopeia que um homem de 91 anos pretende fazer.
Bem, companheiros ministros, companheiras ministras, companheiros da imprensa, companheiros liderados pelo Stuckert [Ricardo, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual], que é o chefe supremo dos fotógrafos, dos câmeras e dos jornalistas.
Essa vai ser uma reunião mais especial e uma reunião mais curta. Ela vai ter poucos ministros falando. Os ministros que vão falar aqui vão ser o nosso vice-presidente Geraldo Alckmin [ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], o ministro Rui Costa [Casa Civil], o ministro Haddad [Fernando, da Fazenda], a ministra Gleisi [Hoffmann, das Relações Institucionais], o ministro Mauro Vieira [das Relações Exteriores] e a ministra companheira Gleisi Hoffmann, e o Sidônio [Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], que vai falar de comunicação.
Depois eu sei que o companheiro Alckmin vai fazer uma viagem muito importante, muito importante. Eu considero uma grande viagem para o México a pedido da presidenta Claudia [Sheinbaum], aceitando um oferecimento meu. Depois da taxação dos Estados Unidos, eu conversei com a Claudia e disse para ela que eu ia mandar o meu vice-presidente da República, alguns ministros e empresários para que a gente possa descobrir o potencial de relação que tem entre México e Brasil. Então, isso vai ser uma viagem muito importante e eu estou muito certo, Alckmin, que será uma viagem de sucesso.
E eu pretendo terminar essa reunião antes do almoço para que cada um almoce com quem tinha combinado de almoçar. Nós estamos vivendo um momento histórico importante, porque é um momento de desafio para nós. Todo mundo sabe o que tem acontecido a nível internacional. Todo mundo tem acompanhado ao longo do tempo a questão da guerra da Ucrânia e da Rússia. E todo mundo sabe que essa guerra está para chegar no final. Ou seja, eu acho que tanto o presidente Putin [Vladimir, presidente da Rússia] quanto o presidente Zelensky [Volodymyr, presidente da Ucrânia] já sabem o limite de onde vai essa guerra. A Europa já sabe o limite, o Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos] já sabe o limite.
Então, acho que estão apenas aguardando o momento em que eles tenham coragem de anunciar o fim dessa guerra. Na verdade, eu acho que a preocupação maior de todos eles agora é quem vai ficar com a dívida da guerra. Quem vai ficar com a dívida da guerra. Porque alguém vai ter que tentar ajudar a recuperar a Ucrânia. Alguém vai ter que tentar se rearmar outra vez.
A União Europeia aprovou 800 bilhões de euros em rearmamento de todos os países da União Europeia, quando a gente estaria precisando de dinheiro para acabar com a fome ou para, quem sabe, manter as florestas em pé, já que a gente vai ter a COP30 em Belém.
Depois nós temos a continuidade do genocídio na Faixa de Gaza que não para. Todo dia tem uma novidade, todo dia mais gente morre, todo dia crianças que estão com fome aparecem na mídia. Crianças totalmente esqueléticas atrás de comida e são assassinadas como se estivessem em guerra, como se fossem do Hamas.
E vocês percebem que a fragilidade do mundo é tão grande, a fragilidade da governança global é que ninguém toma atitude. É por isso que nós estamos, há muito tempo, reivindicando essa questão de mudança na governança da ONU [Organização das Nações Unidas], para que tenha alguém que tenha interferência de parar com um genocídio como esse, de parar com uma guerra, de evitar uma guerra, coisa que nós não temos hoje. É por isso que nós vamos continuar brigando para que a governança mundial seja repensada e fortalecida com a entrada de muitos outros membros.
E tem a questão da última novidade que é a posição do governo dos Estados Unidos, que tem agido como se fosse o imperador do planeta Terra. É uma coisa descabida porque, eu não vou repetir aqui o que eu já falei sobre o Brasil, mas ele continua fazendo ameaças ao mundo inteiro. Agora, ontem à noite, às nove horas da noite, ele publicou no Twitter dele ou no portal dele, não sei, uma nota ameaçando outra vez que quem mexer com as Big Techs deles vai sofrer as consequências. E ameaça qualquer país. As Big Techs são um patrimônio americano e que ele não aceita que ninguém mexa. Isso pode ser verdade para ele. Para nós, ele é um patrimônio americano, mas não é nosso patrimônio.
Nós somos um país soberano. Nós temos uma Constituição, nós temos uma legislação e quem quiser entrar nesses 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação.
É assim que tem que ser para que a gente possa construir e fortalecer esse mundo democrático, multilateralista que o Brasil faz questão de defender. Esses são assuntos importantes que estão na pauta. Eu quero comunicar à imprensa que esse homem aqui [Geraldo Alckmin], aquele homem ali, que é o Haddad, e aquele ali, que é o Mauro Vieira, estão 24 horas por dia à disposição para negociar com quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial.
Estamos dispostos a sentar na mesa em igualdade de condições. O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fôssemos subalternos. Isso nós não aceitamos de ninguém. É importante saber que o nosso compromisso é com o povo brasileiro. E depois uma coisa importante, companheira Gleisi, que eu acho, é que o Congresso Nacional precisava começar a discutir. Eu fiz uma relação dos maiores traidores da história da humanidade. Eu não estou com ela aqui porque esqueci de trazer.
Mas é o seguinte, o que está acontecendo hoje no Brasil com a família do ex-presidente e com o comportamento do filho dele nos Estados Unidos é, possivelmente, uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus. Não existe nada que possa ser mais grave do que uma família inteira ter um filho custeado pela família, um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, insuflando com mentiras e com hipocrisia um outro Estado contra o Estado Nacional do Brasil. Isso é inexplicável.
Nós vamos ter que fazer disso uma frente de batalha, no campo da política, não é no campo do governo, para que a gente possa fazer com que esse país seja respeitado. Não é possível. Eu não conheço na história desse país algum momento em que um traidor da pátria teve a desfaçatez de mudar para um país em que ele está adotando como pátria, ele está adotando os Estados Unidos como pátria, negando a sua pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro.
Isso não é aceitável, e é importante que cada ministro, nas falas que fizerem daqui para frente, façam questão de retratar a soberania desse país. Nós aceitamos relações cordiais com o mundo inteiro, mas não aceitamos desaforo, ofensas e petulância de ninguém. Se a gente gostasse de imperador, a gente não tinha acabado o Império. Se a gente gostasse de imperador, o Brasil ainda seria monarquia. A gente não quer mais. A gente quer esse país democrático, soberano, republicano, que é o que nós aprendemos a construir.
Dito isso, depois eu vou falar outra vez. Eu vou falar diretamente para os ministros.
Eu queria aqui passar a palavra para o companheiro Alckmin que, muito tranquilo, de forma soberana vai falar aqui uns 10 ou 15 minutos para nós sobre a situação do nosso desenvolvimento e crescimento no Brasil.