Pronunciamento do presidente Lula durante a assinatura de contrato de concessão da BR-381/MG, em 22 de janeiro de 2025
Bem, sinceramente, depois da fala do Renan [Filho, ministro dos Transportes], do Rui [Costa, ministro da Casa Civil], do nosso querido presidente [diretor presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, Marco Aurélio Barcelos] e do nosso companheiro, que veio aqui dar uma demonstração extraordinária de que não é por conta de um acidente que as pessoas têm que se desmobilizar enquanto cidadão brasileiro, eu não precisaria falar.
Eu queria cumprimentar os empresários aqui presentes, cumprimentar os deputados e deputadas aqui presentes, cumprimentar as autoridades aqui presentes e dizer para vocês que eu deveria ter ficado com o chapéu na cabeça, depois de ter tirado para o Clésio [Gonçalves, coordenador do Movimento Pró-Vidas da BR-381], para tirar para o Renan. Porque, uma vez, eu participei do programa Raul Gil. Aliás, duas vezes eu participei, e eu fui tirar o chapéu. E eu, agora vou começar a tirar o chapéu de quando em quando, até eu me acostumar a ficar sem chapéu outra vez.
Eu queria dizer para vocês que eu conheço a BR-381 há muito tempo. E, esse trecho de Belo Horizonte a Governador Valadares, eu conheço há muito mais tempo. E o trecho de Belo Horizonte até São Paulo, eu conheço menos, porque não andei tanto. Mas eu acredito que tem poucos presidentes da República e, muitas vezes, tem poucos governadores de Minas Gerais que andaram Minas Gerais o tanto que eu andei.
Eu tenho muito orgulho de dizer, Renan, que eu conheço o norte de Minas Gerais, eu conheço o Vale do Jequitinhonha, eu conheço o Vale do Aço, eu conheço o Vale do Rio Doce, eu conheço todos os vales de Minas Gerais, porque o estado é muito grande. E eu viajei muito para construir a CUT [Central Único dos Trabalhadores], andei muito para construir sindicatos, andei muito para construir o PT, andei muito para apoiar prefeitos, andei muito para apoiar governador. Andei muito, porque eu era candidato a presidente e essa é a vantagem de perder muita eleição, porque eu viajei demais Minas Gerais. E eu construí muita relação de amizade.
E o trecho de Belo Horizonte a Governador Valadares, eu viajei muitas vezes, mas muitas vezes. E a primeira vez que eu viajei foi em 1979. E viajei muito na parte que vocês costumam chamar de Rodovia da Morte. E passei lá meia noite, uma hora da manhã, duas horas da manhã, depois de fazer comício em muitos lugares. E eu sei da angústia do povo de Minas Gerais para que a gente possa consertar essa estrada. E o último compromisso que eu assumi foi no comício final da minha campanha de 2022, na cidade de Ipatinga. Eu disse que a gente ia fazer essa rodovia parar de ser chamada Estrada da Morte e começar a ser chamada Estrada da Vida.
E nós já tentamos, antes dessa assinatura que você fez agora, fazer outros leilões. Deu vazio, algumas empresas não compareciam, não queriam fazer, possivelmente porque o projeto era difícil, possivelmente porque fosse uma obra que não tivesse estímulo. E a gente tem que compreender que, quando a gente quer fazer parceria com o empresário, a gente quer fazer uma estrada, a gente quer fazer o melhor possível, mas o empresário precisa ganhar, senão ele não faz o investimento. E é preciso que a gente estabeleça essa regra. E essa regra foi estabelecida como uma coisa extraordinária.
É importante lembrar que nós estávamos acostumados com concessões em que o governador do estado vendia, praticamente, a estrada para os empresários e depois jogava o preço que pagava no preço do pedágio. É por isso que a gente dizia que as estradas eram privatizadas.
E qual é a novidade agora das concessões? É que não tem outorga. Não tem outorga. O empresário não tem que pagar para o estado gastar dinheiro em outras coisas, não tem que pagar para que o Governo Federal gaste dinheiro em outras coisas. Porque sem outorga, o objetivo único é fazer com que o usuário seja o beneficiário. O usuário pagar um pedágio menor, porque não tem sentido a gente dizer que está fazendo investimento, não tem sentido a gente ficar contando papo e depois a gente faz outorga, o cara paga uma fortuna para poder adquirir a estrada e depois quem vai pagar é o povo, que tem que andar pela estrada, que tem que trafegar pela estrada.
Quando é uma empresa que tem muito dinheiro e que pode pagar, tudo bem. E quando é o povo normal que sai para trabalhar todo dia? Que tem que trafegar e passear com as suas crianças, com seus filhos, com a sua mulher? Não tem sentido.
Então, Renan, eu vou tirar o chapéu por conta da competência de fazer concessão sem outorga, porque o objetivo nosso é baratear o preço do pedágio para as pessoas mais pobres, sem deixar de priorizar a qualidade do trabalho que vai ser feito. Então, eu estou muito orgulhoso disso e, por isso, eu tirei meu chapéu duas vezes. Para o Clésio e para você. Eu poderia tirar o chapéu para o nosso companheiro que fez o uso da palavra, o nosso empresário que falou.
Ora, porque é muito difícil, aqui neste Palácio, é muito difícil em uma reunião que a gente faça, o empresário ter audácia ou a coragem de falar bem das coisas que estão acontecendo. Eu digo sempre que muitas vezes o empresário vem aqui no Palácio conversar com o ministro da Fazenda [Fernando Haddad], fazer um acordo e sai com um benefício de seis, sete, oito, nove, dez bilhões de reais. Aí, quando ele sai, a imprensa pergunta: “E daí? Tudo bem?”. “Não é suficiente”. Ou seja, por que a palavra “obrigado”, a palavra “obrigado” é tão simples, mas, para falar a palavra “obrigado”, tem que ter grandeza. As pessoas têm que ter grandeza, têm que ter caráter, humildade, para agradecer uma coisa que é feita.
Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, dos estados como um todo, o governador de Minas Gerais [Romeu Zema] deveria vir aqui, me trazer um prêmio como esse que o Clésio trouxe, me trazer um prêmio, me trazer um troféu, me trazer um troféu do primeiro presidente da República, que ele tem conhecimento, que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador, de nenhum prefeito, por ser contra ou por ser oposição.
Se ele tivesse, você poderia mandar um para ele me entregar, porque o que nós fizemos para os estados que não pagavam dívida, talvez só Jesus Cristo fizesse se ele concorresse à Presidência da República desse país. Porque essa é uma escola de vida que eu tenho. A primeira coisa que eu fiz quando ganhei as eleições foi chamar os 27 governadores de estado aqui no Palácio para dizer o seguinte: “Eu quero saber quais as obras importantes que vocês têm”.
E foi por isso que nós produzimos o PAC, com investimento de R$ 1,7 trilhão, com as obras que os governadores colocaram no PAC. Não foi uma obra inventada pelo Lula, não foi uma obra inventada pelo chefe da Casa Civil [Rui Costa] ou pelo Renan. Não. É uma obra que eles disseram: “As principais obras que nós pensamos são essas, essas e essas”. E nós, então, colocamos no PAC. Pelo menos isso deveria agradecer, pelo menos isso. Mas ele fez uma crítica profunda, desnecessária. Eu vou relevar isso, porque o papel do presidente da República num ato como esse não é falar mal de ninguém, mas é falar bem do que está acontecendo aqui.
Eu não sei se vocês se lembram que eu disse ao Brasil inteiro que eu queria voltar a ser presidente da República, primeiro para que a gente pudesse colocar o Brasil na normalidade democrática, para acontecer o que está acontecendo aqui. Sem nenhum pudor, sem nenhuma cobrança, a gente tentar construir parceria com os empresários, a gente tentar construir tudo o que a gente puder fazer para que o povo brasileiro possa ser beneficiado. E, por isso, eu disse essa semana que 2025 é o ano da entrega.
Por isso eu disse essa semana que o meu governo trabalhou dois anos. Dois anos de muito, mas muito trabalho. Essa história de que o Rui e o Renan ficaram, ontem, até às 11 horas da noite, não foi no bar tomando uísque, não foi em nenhuma balada discutindo qualquer coisa. Foi aqui discutindo como é que a gente vai entregar as coisas que nós prometemos antes das eleições.
E eu fiz uma reunião, segunda-feira, com todos os ministros desse país para que a gente soubesse o seguinte: agora eu quero saber quando é que a gente vai começar a colher, a partir desse mês, aquilo que vocês plantaram. E posso dizer, companheiro Renan, com a experiência de presidente da República mais longevo desse país. Só estou perdendo para o Getúlio Vargas. Eu já fui presidente oito anos, deixei esse país com a economia crescendo 7,5%, o consumo crescendo a quase 13% e o nosso PIB crescendo muito, muito melhor — e vocês se lembram.
E eu posso dizer para vocês: nesses dois anos, o nosso plantio já foi maior do que eu fiz nos outros oito anos. O que eu ouvi esses ministros me comunicarem, que estão prontos para entregar, eu jamais e duvido que algum governo, em qualquer lugar, tenha feito em dois anos o que nós fizemos. É muita coisa. É trabalhar até às onze, é trabalhar de sábado e domingo, é atender cada pessoa que quer reclamar de nós e é dizer para as pessoas que nós fomos eleitos para isso.
E os deputados, as deputadas, os senadores, as senadoras, vão receber das nossas mãos tudo o que já foi feito nesse país para que as pessoas saibam que nós somos, inclusive, muito agradecidos ao Congresso Nacional, porque eles aprovaram. E eu vou dizer outra coisa para vocês.
Quando eu tomei posse, muita gente perguntava: “como é que o Lula vai conseguir governar se ele tem um Congresso Nacional majoritariamente contra ele?” Então, eu vou dizer para vocês uma coisa. Nem Sarney [José Sarney, ex-presidente do Brasil], nem os militares, nem o Fernando Henrique Cardoso [ex-presidente do Brasil], nem o Collor [Fernando Collor, ex-presidente do Brasil], nem o Lula no primeiro mandato, nem o Bolsonaro [Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil], nem o Itamar Franco [ex-presidente do Brasil], conseguiram aprovar, em dois anos, a quantidade de coisas que nós aprovamos em apenas dois anos, inclusive uma Reforma Tributária.
Inclusive, uma Reforma Tributária que é a primeira feita num regime democrático. Porque é muito fácil você fazer uma Reforma Tributária se você vive num país em que não tenha internet, em que não tenha jornal de oposição, em que não tenha empresário de oposição, em que não tenha partido de oposição, em que não tenha sindicato fazendo oposição. É muito fácil você fazer a Reforma Tributária num país desse.
Mas num país, em um Congresso Nacional em que o partido do presidente só tem 70 deputados, em um total de 513, não é milagre. É muita determinação, é muita conversa, é muito acordo. E, por isso, eu agradeço aos deputados do meu partido e aos deputados dos partidos de oposição. Mesmo aqueles que falaram mal, mesmo aqueles que votaram contra, não tem importância. O comparecimento dele para votar contra contribuiu com o quorum que a gente precisava. E é por isso que eu tenho orgulho de dizer: eu fiz em dois anos o que ninguém conseguiu fazer em 40 anos, que é uma Reforma Tributária.
Quero agradecer ao presidente do Tribunal de Contas. Porque ele disse uma coisa aqui que é uma palavra mágica e é uma palavra que soa muito bem aos meus ouvidos. Os órgãos de fiscalização nesse país precisam aprender que eles não foram criados para proibir. Eles não foram criados para evitar que o governo pudesse fazer alguma coisa. Eles não foram criados para dizer “não”. Eles foram criados para dizer exatamente o que o Vital [do Rêgo Filho, presidente do Tribunal de Contas da União] disse: como fazer o certo, como fazer o correto. Isso vale para o Tribunal de Contas, isso vale para toda e qualquer instituição de fiscalização, que o problema deles não é multar, não é dizer “não”, é dizer como fazer. Porque é disso que o país está precisando.
Um país do tamanho do Brasil, com o potencial do Brasil, precisa parar de ser um país em vias de desenvolvimento. Pelo amor de Deus, nós já jogamos muita chance fora. A gente não pode permitir, a gente não pode permitir, levantar de manhã com o celular ouvindo mentira, dormir com o celular ouvindo mentira, almoçar com o celular ouvindo mentira e ir ao banheiro com o celular ouvindo mentira, almoçar com o companheiro sem conversar, porque estão ouvindo mentira.
E vocês sabem onde é que isso acontece? Vocês sabem como é que isso procede? Veja que nós tivemos a coragem de atender a um apelo dos pais desse país, porque 80% dos pais queriam que a gente proibisse telefone celular na escola, porque as crianças vão para a escola para estudar e não para ficar falando no celular. E eu disse na minha fala na sanção da lei: nós queremos trabalhar para que nossas crianças continuem sendo seres humanos, continuem sendo humanistas, continuem brincando, aprendam a conversar.
A gente não quer filho algoritmo. A gente quer filho humano para a gente pegar no colo, para a gente abraçar, para a gente beijar. Uma criança, quando chora, está precisando de afeto, não está precisando de um celular. Ele está precisando de um carinho, ele não está precisando de um celular. E a gente está habituado a tentar enganar essa criança achando que o celular resolve o problema dessa criança. Então nós queremos dizer em alto e bom som: as crianças vão na escola para estudar, para respeitar os professores e até para brincar com os amigos nos intervalos da escola, aprender a chutar uma bola, aprender a contar piada, aprender a fazer qualquer coisa. O que não pode é a gente virar algoritmo. E, por isso, nós fizemos a lei.
E, por isso, eu fico muito orgulhoso quando eu vejo o Renanzinho falar: “nós já fizemos em dois anos quatro vezes mais do que o governo passado”. Quando eu vejo todos os ministros falarem isso. “Nós já fizemos em dois anos mais do que em quatro anos do governo passado. Já fizemos em dois anos mais do que oito vezes, cinco vezes, quatro vezes”. E eu, embora não saiba tudo o que eles fizeram, eu sei o que foi pedido para eles fazerem. Eu posso dizer para vocês: é verdade. É verdade. Porque se eu desafiar vocês aqui e perguntar se vocês lembram qual foi uma obra de infraestrutura feita no governo passado, eu tenho certeza que vocês não vão saber, porque não tem. Porque não tem. Foi um governo de leviandade. Um governo de mentira.
Então, meu companheiro, nós temos a chance. Nós temos a chance de fazer esse país que o empresário falou. Esse país que o Vital falou. Esse país que o Renan falou. Esse país que o Rui Costa falou. Está na nossa mão. É possível a gente construir isso. Sem mentira, sem leviandade, sem fake news. E é esse país que nós vamos entregar no dia 31 de dezembro de 2026.
E vou dizer para vocês... Vou dizer para vocês que não tem uma área que nós não vamos fazer o dobro do que foi feito. A única área que nós vamos perder feio, de 10 a 0, é na área da leviandade e da mentira. Porque eu aprendi com uma mãe analfabeta a não mentir. Eu aprendi com uma mãe analfabeta a respeitar os outros. Eu aprendi com uma mãe analfabeta que a gente não brinca com a verdade. E é esse o governo. E é esse exemplo que eu quero deixar para o nosso país.
Por isso, obrigado, companheiro Renan, pelo sucesso das nossas concessões. E Minas Gerais, finalmente, vai ser duplicado o pedaço que vocês tanto exigiam, a BR-381. Parabéns.