Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da reunião ministerial realizada em Brasília, em 20 de janeiro de 2025
Que todos vocês tenham um feliz 2025. E também dizer para vocês que foi uma alegria imensa trabalhar com vocês nesses dois anos. Alguns eu pude receber mais, outros eu pude receber menos. E nós vamos ver se nesse ano de 2025 a gente pode corrigir aquilo que, porventura, a gente tenha feito de errado ou tenha deixado de fazer. E vamos tentar fazer, com muito mais força, aquilo que nós ainda não fizemos.
Eu queria dizer para vocês que eu poderia ter feito essa reunião antes do Natal. Mas eu achei que não era correto fazer a reunião antes do Natal, porque tinha muita gente com pedido de férias, tinha muita gente que já tinha compromisso com a família, com mulher, com filho, com mãe, com pai. Eu achei, portanto, (melhor) deixar passar o Natal e o Ano Novo, e a gente fazer a primeira reunião do nosso terceiro (ano de) mandato.
Essa reunião, ela tem uma característica especial. Essa não será uma reunião qualquer. Essa será uma reunião em que a gente vai definir, concretamente, o que a gente vai realizar até o final de 2026.
Nós passamos dois anos arrumando a casa. Passamos dois anos trabalhando a terra, cultivando a terra, plantando as coisas, e nós, agora, já sabemos o que plantamos e nós, agora, temos que ter certeza que nós vamos colher tudo aquilo que nós plantamos.
Eu posso dizer para vocês que a entrega que nós fizemos para o povo ainda não foi a entrega que nós nos comprometemos a fazer em 2022, porque muitas das coisas que nós plantamos ainda não brotaram, ainda não nasceram.
Mas o que vocês precisam compreender é que este ano será um ano de definição para a história e para a biografia de cada um de vocês na passagem pela governança desse país de 2023 a 2026.
É muito importante ter clareza disso, porque, daqui para frente, a gente não pode mais inventar nada. Daqui para frente, nós temos que colher tudo aquilo que nós semeamos. Nós temos que ter certeza de que tudo aquilo que vocês me apresentaram, que todos os atos que nós fizemos de lançamento de proposta política, tudo aquilo que a gente já anunciou à sociedade brasileira, vai aparecer agora. E vai depender do esforço muito grande de cada um de vocês.
Vocês sabem que nesses dois primeiros anos vocês tiveram comigo toda a liberdade de trabalhar. Eu nunca perguntei para vocês se vocês estavam fazendo certo ou errado. Vocês vinham, me traziam a proposta de política pública, passava pela Casa Civil e a gente acertava a política pública, e vocês, então, iam anunciar a política pública.
Nem tudo o que foi anunciado já deu fruto. Nem tudo. Mas é preciso que a gente saiba que 2025 é o ano da grande colheita de tudo aquilo que a gente prometeu ao povo brasileiro. E nós não podemos falhar. Nós não temos o direito de falhar. Nós não podemos errar. E nós não temos o direito de errar.
É importante que cada um de vocês reflita, porque depois eu vou chamar individualmente muita gente para conversar. É importante que vocês reflitam que nós somos um grupo de pessoas de formação política diferenciada, de berço diferente, mas, na verdade, nós temos uma coisa em comum, que é uma causa de recuperar esse país, fazer esse país crescer, fazer esse país se desenvolver. E com esse crescimento, esse desenvolvimento, o que é que nós queremos? Melhorar a vida do povo dentro de casa, melhorar a educação do povo na escola, melhorar a possibilidade de trabalho desse povo.
E é importante que a gente compreenda que o povo que nós estamos trabalhando hoje não é o povo dos anos 1980. Não é o povo que queria apenas ter um emprego em uma fábrica com carteira profissional assinada. É um povo que está virando empreendedor. E ele gosta de ser empreendedor. E nós precisamos aprender a trabalhar com essa nova característica, com essa nova formação do povo brasileiro. E é por isso que nós temos que ser muito exigidos. E eu jamais reclamarei pelo fato de o povo nos cobrar. Eu reclamarei se a gente não tiver capacidade de entregar tudo aquilo que nós nos comprometemos.
Eu não vou falar de números econômicos, que o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] vai falar depois de mim. Não vou falar das coisas que nós já entregamos e que vamos entregar, porque o Rui [Rui Costa, ministro da Casa Civil] vai falar. E também o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior] vai falar um pouco de política na hora em que eu terminar de falar.
O que eu quero dizer para vocês é que 2026 já começou. Se não por nós – porque temos que trabalhar, porque temos que capinar, porque temos que tirar todos os carrapichos que tiver nas plantas que nós plantamos –, mas pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou. É só ver o que vocês assistem na internet para vocês perceberem que eles já estão em campanha.
E nós não podemos antecipar a campanha, porque nós temos que trabalhar. E a antecipação da campanha para nós é trabalhar, trabalhar, trabalhar e entregar para o povo aquilo que ele precisa.
Todos nós aqui sabemos que nós precisamos fazer com que esse país volte a ter uma democracia plena. Todos nós sabemos o que foi o 8 de janeiro na nossa cabeça e o que poderia ter acontecido nesse país se o 8 de janeiro tivesse dado certo.
Mas todos vocês, todos vocês sabem como é que vocês encontraram o Ministério. Todos vocês sabem o sacrifício que vocês fizeram para remontar o Ministério, para tentar colocar gente para fazer tudo aquilo que era preciso fazer no Ministério. Todo mundo sabe a competência desse governo e a habilidade daqueles que negociaram – Jaques Wagner [Senador], Guimarães [Deputado Federal José Guimarães], que negociaram. O Haddad, que trabalhou com muita força para que a gente pudesse fazer uma negociação e ter uma PEC da Transição.
Todo mundo sabe o esforço que foi feito para a gente aprovar uma reforma tributária que só vai dar fruto para nós, do ponto de vista do atendimento dos interesses do povo, em 2027. Mas que vai dar interesse rápido do ponto de vista daqueles que querem fazer investimento no Brasil, daqueles que querem acreditar no Brasil, daqueles que querem vir aqui para ajudar o Brasil a se desenvolver.
Portanto, eu quero que vocês saibam de uma coisa e eu vou dizer alto e bom som para ninguém ter dúvida: eu estou totalmente recuperado. Vocês estão percebendo que nem chapéu estou usando para mostrar que meu cabelo vai ficar melhor do que o do Alckmin e melhor do que o do Lewandowski [Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública]. Vocês vão saber. O Lewandowski e o Alckmin vão ficar com inveja do meu cabelo.
Eu tenho mais uns dias para poder viajar de avião, mas eu queria dizer para vocês que eu tenho uma causa. E essa causa é o que vai me motivar em 2025. A causa é a gente não permitir, em hipótese alguma, que esse país volte ao horror do que foi o mandato do nosso antecessor.
Para que a gente garanta que a democracia vai prevalecer nesse país. Que a gente garanta, perfeitamente, com todo o nosso vigor, que esse país vai continuar sendo um país democrático e que nós temos um compromisso de atender as pessoas mais necessitadas. Atender os mais pobres, atender o pequeno comerciante, atender os empreendedores, atender os pequenos e médios empresários, atender os nossos educadores, atender todas aquelas pessoas que querem trabalhar para o bem do Brasil.
Portanto, eu quero que vocês saibam que o meu vigor, a minha disposição e a minha dedicação é para que a gente continue trabalhando para que a democracia seja mais forte, para que a democracia cresça e para que o povo brasileiro volte a ser feliz.
Tem gente que fala que a eleição do Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos] pode causar problema na democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os Estados Unidos e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua, para que o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser um parceiro histórico do Brasil, porque, da nossa parte, nós não queremos briga, nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China, nem com a Índia, nem com a Rússia. Nós queremos paz. Nós queremos harmonia, nós queremos ter uma relação onde a diplomacia seja a coisa mais importante e não a desavença, e não a encrenca.
É esse país que nós vamos construir, é esse país que eu assumi o compromisso de construir e é esse país que nós temos a obrigação de entregar no dia 31 de dezembro de 2026, quando terminar a minha tarefa e a tarefa de vocês. E nós precisamos dizer em alto e bom som que nós queremos eleger um governo para continuar o processo democrático desse país.
Nós não queremos entregar, nós não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, ao neonazismo, ao autoritarismo. Nós queremos entregar esse país com muita educação, com os meninos mais felizes. Agora que nós aprovamos a lei em que as crianças não podem utilizar telefone celular na escola, porque é um sistema de proteção das nossas crianças, é um sistema de proteção da nossa educação, é um sistema de proteção dos nossos professores, e é a gente falar, em alto e bom som, que nós estamos privilegiando a educação, o humanismo e não os algoritmos para fazer a cabeça das nossas pessoas.
É esse país, companheiros e companheiras, que eu quero entregar. E, por isso, eu quero agradecer a vocês e dizer o seguinte: daqui para frente... Eu vou ter dois discursos, eu não posso falar tudo o que eu quero falar, porque eu tenho que ter alguma coisinha para falar no final dessa reunião. Mas o que eu quero de vocês é o seguinte: daqui para frente é dedicação, mais do que vocês já tiveram. Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer portaria que depois crie confusão para nós sem que essa portaria passe pela presidência da República através da Casa Civil.
Muitas vezes a gente pensa que não é nada, mas alguém faz uma portaria, alguém faz um negócio qualquer, daqui a pouco arrebenta e vem cair na presidência da República. E é importante vocês lembrarem, é importante vocês lembrarem que quando a gente não trabalha, a gente não colhe.
Eu quero conversar com vocês sobre os partidos que estão aliados conosco. Nós temos vários partidos políticos. Eu quero que esses partidos continuem juntos, mas nós estamos chegando no processo eleitoral, a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não. E essa é uma tarefa também de vocês neste ano de 2025. E é uma tarefa grande, não é uma tarefa pequena. E é isso que eu quero pedir para vocês.
Até agora, eu sou agradecido à relação de confiança e ao trabalho que vocês fizeram. Mas eu quero que vocês saibam que, daqui para frente, vai ter muito mais trabalho. A gente vai ter um desafio agora que vai ser os BRICS, vai ser em julho. A gente vai ter outro desafio que vai ser a COP30, que vai ser em novembro. E a gente sabe que isso representará sempre a cara do Brasil no exterior.
Eu quero agradecer àqueles que trabalharam para fazer um G20 extraordinário, que certamente foi o melhor G20 já acontecido no mundo. E quero dizer para vocês, nós só temos um objetivo daqui para frente: é lutar, é construir e é colher, porque o povo brasileiro está esperando muito de nós.
E nós temos agora um tema muito importante. Se a gente trabalhou reconstrução e união, agora a gente vai ter que trabalhar outra coisa importante: é reconstrução, união e comida barata na mesa do trabalhador, porque os alimentos estão caros na mesa do trabalhador. Todo ministro sabe. Todo ministro sabe que o alimento está caro e é uma tarefa nossa. É uma tarefa nossa garantir que o alimento chegue na mesa do povo trabalhador, da dona de casa, na mesa do povo brasileiro, em condições compatíveis com o salário que ele ganha.
Então, companheiros e companheiras, eu agora, terminando de falar, passo a palavra ao companheiro Fernando Haddad para fazer uma exposição da economia, depois vai falar o companheiro Alckmin; e depois vai falar o companheiro Rui Costa; e depois vai falar o companheiro Padilha [Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais]; depois vai falar o companheiro Sidônio [Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social]; e depois nós vamos abrir as palavras.
Os que estão atrás não se preocupem, porque nós não vamos dar a palavra para os da frente. Os últimos serão os primeiros. A gente vai começar por quem não falou nas outras reuniões.
Abraço, boa reunião e boa sorte para todos nós.