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ARQUIVO EM CARTAZ
Segundo dia do Arquivo em Cartaz destaca o papel da pesquisa e da memória nas produções audiovisuais
O segundo dia da 10ª edição do Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo foi marcado por uma programação que evidenciou a importância da pesquisa, da escuta e da memória na construção de novas narrativas audiovisuais. Realizado nesta terça-feira (21), a manhã começou com a mesa “Encontro de Pesquisadores”, que reuniu profissionais de diferentes origens e formações que atuam com pesquisa em acervos audiovisuais para a criação de novas obras cinematográficas. O debate abordou como o método, a rotina e as consequências da pesquisa se inscrevem no território.
Participaram do encontro Bianca França (EtnoMuseu), Gustavo Soranz (Rizoma Audiovisual) e Pedro Rajão (Projeto Negro Muro/Leão Etíope do Méier), com mediação de Maria do Carmo Teixeira Rainho, pesquisadora do Arquivo Nacional.
A historiadora e cineasta Bianca França apresentou o filme Não tem Clima, uma iniciativa indígena que aborda os impactos da crise climática e das invasões de terras sobre os povos Tikuna e Marubo, no Amazonas. Segundo Bianca, a produção busca não apenas registrar o que acontece na região, mas também denunciar as ameaças aos territórios tradicionais e propor novas formas de narrativa sobre a questão ambiental. Ela ressaltou que o documentário “aborda o drama vivido pelos povos indígenas a partir da sua própria perspectiva e, através desses registros de imagens, nos convida a refletir sobre qual é o futuro que estamos dando para esses povos”.
O professor da Unesp Gustavo Soranz, pesquisador das relações entre o cinema e a Amazônia, falou sobre o Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas, fundado em 2005. Segundo ele, o grupo surgiu da “possibilidade de explorar o cinema como veículo de interpretação da Amazônia, a partir de um acervo de filmes sobre a região, do qual nasceu uma mostra de cinema”.
Já o pesquisador, produtor e cineasta Pedro Rajão, idealizador do projeto Negro Muro, destacou o trabalho de mapeamento da memória negra por meio da arte urbana. “O projeto tenta relacionar a memória do personagem grafitado com o território onde ele está inserido, como o exemplo do muro de Ruth de Souza no prédio administrativo do Theatro Municipal, onde ela foi a primeira atriz negra a atuar, em uma peça do Teatro Experimental do Negro”, explicou. Rajão também apresentou o teaser de Anikulapo, seu documentário sobre o músico nigeriano Fela Kuti, criador do afrobeat.
O público também pôde acompanhar as produções resultantes da Oficina Lanterninha Mágica, realizada com jovens de escolas públicas. A atividade ensinou técnicas de filmagem com celulares, narrativa audiovisual e o uso de documentos de arquivo na produção de curtas-metragens. A iniciativa é voltada para alunos do Ensino Médio, entre 15 e 18 anos.
Na sequência, a programação seguiu com uma edição especial do evento “Com a Palavra, o Usuário”, que dá voz a pesquisadores e frequentadores do Arquivo Nacional. Nesta edição, o convidado foi o arquivista, jornalista e pesquisador Walmor Martins Pamplona, autor do livro Documentos audiovisuais nos arquivos: um estudo sobre a trajetória da Seção de Filmes do Arquivo Nacional.
Com apresentação de Mauro Lerner, chefe do Serviço de Estudos sobre Pessoas Usuárias e Acessibilidade em Arquivos, a conversa abordou os desafios da preservação e do acesso aos documentos audiovisuais, revisitando a história da Seção de Filmes e o papel das instituições de memória na valorização desse patrimônio.
Para Walmor, seu estudo visa “contribuir para o conhecimento da trajetória institucionalizada de custódia e tratamento dos documentos audiovisuais no país, cenário onde o Arquivo Nacional é um dos protagonistas". Ele agradeceu aos servidores que contribuíram com sua pesquisa, inclusive com a produção de um material audiovisual a partir de entrevistas e depoimentos gravados com esses especialistas. Em especial, o pesquisador prestou homenagem à Fátima Taranto e Clóvis Molinari, servidores falecidos do Arquivo Nacional e especialistas na área.
Encerrando as atividades do dia, o Cine Auditório exibiu o longa Baile Soul, de Cavi Borges, celebrando a diversidade cultural e a potência criativa das periferias urbanas.
Confira a programação completa do festival