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Arquivo em Cartaz inicia 10ª edição com reflexões sobre memória e meio ambiente
O festival Arquivo em Cartaz propõe reflexões sobre as relações entre humanidade e planeta, destacando o papel de comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas e ativistas ambientais na preservação da memória e na defesa do meio ambiente.
A abertura, realizada no auditório principal do Arquivo Nacional, contou com a presença de Thiago Vieira, diretor da Diretoria de Processamento Técnico, Preservação e Acesso ao Acervo do AN; Letícia Grativol, coordenadora-geral de Acesso e Difusão; Elizabeth Brea, coordenadora da Coordenação de Pesquisa e Difusão do Acervo; e Paula Rocha Machado, chefe da Divisão de Produção Cultural.
Em sua fala, Thiago Vieira agradeceu às equipes envolvidas na realização do festival e destacou a relevância do evento no contexto atual. “Estou muito feliz em participar dessa celebração. Este é um momento para refletirmos sobre as transformações ambientais e suas implicações para o futuro da humanidade e da memória. Refletir sobre o planeta é também refletir sobre a forma como registramos, preservamos e transmitimos nossas experiências coletivas”, afirmou.
Thiago lembrou ainda que a programação desta edição é especialmente significativa por se conectar às discussões sobre mudanças climáticas, em um ano em que o Brasil sediará a COP30. Ele ressaltou o papel do Arquivo Nacional na salvaguarda do patrimônio documental afetado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, destacando que “é um trabalho desafiador e profundamente simbólico, que reafirma o compromisso da instituição com a preservação da memória brasileira”.
A coordenadora Letícia Grativol enfatizou que o festival é fruto de um trabalho contínuo do Arquivo Nacional em torno da temática ambiental. “Os arquivos são espaços vivos de interlocução, que permitem a circulação do conhecimento, geram reflexão e estimulam novas formas de criação. Nosso compromisso é promover o acesso aos acervos, ampliar o exercício do direito à informação e à memória, alcançando novos públicos e territórios”, afirmou.
Elizabeth Brea agradeceu a todas as equipes envolvidas na organização e reforçou o caráter colaborativo do evento: “O Arquivo em Cartaz concretiza a importância da interação e do trabalho coletivo entre as diferentes áreas do Arquivo Nacional.”
Já Paula Rocha Machado destacou o caráter comemorativo e simbólico da data. “Iniciamos uma semana de celebração da 10ª edição do Arquivo em Cartaz, um festival que resgata a história, preserva imagens e projeta o futuro do nosso patrimônio audiovisual”, disse.
A programação de abertura seguiu com a mesa “Guardando Memórias da Terra”. O antropólogo Vincent Carreli, um dos idealizadores do projeto Vídeo nas Aldeias, falou sobre esta iniciativa que, desde 1986, capacita indígenas no campo audiovisual. O projeto incentiva que eles registrem e contem suas próprias narrativas, com autonomia criativa e formação técnica adequada. Wellington Lenon, fotógrafo e comunicador, discorreu sobre sua experiência com a produção audiovisual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para Lenon "nós queremos que o cinema traga camponeses para lugares em que ele não costuma estar, assim como estou aqui hoje, neste auditório do Arquivo Nacional". Ele reforçou a importância de contar as histórias de quem trabalha no campo, com o registro de sua tradição oral, e discorreu sobre as possibilidades do audiovisual auxiliar na preservação dessas memórias.
Também compuseram a mesa Mauro Domingues, fotógrafo e arquivista, atual chefe de divisão na Diretoria de Preservação e Difusão Audiovisual da Secretaria do Audiovisual/MinC, e Jéssyca Paulino, coordenadora-geral de Políticas para Preservação Audiovisual no Minc, que atualmente gerencia a implementação da Rede Nacional de Arquivos Audiovisuais e supervisiona o contrato de gestão da Cinemateca Brasileira. Ambos contribuíram com a reflexão sobre a preservação audiovisual como ferramenta estratégica para salvaguardar memórias culturais e ambientais, discutindo desafios como obsolescência de formatos, riscos de perda de informação e a valorização de acervos de grupos historicamente invisibilizados.
Em diálogo com essas reflexões, foi inaugurada a intervenção visual “Objetos que insistem em falar - Equipamentos sonoros e audiovisuais no Arquivo Nacional”, na cave da instituição. A mostra é um espaço sensorial e educativo que traz equipamentos antigos, além de reproduções de vídeos, cartazes e documentos do acervo institucional para o público.
Encerrando o primeiro dia de atividades, a diretora Ana Rieper conversou com o público sobre seu longa-metragem Paraíso. Segundo a diretora, participar de um festival que ela acompanha há tantos anos, especialmente com seu filme, tem um lugar muito importante: o de “permitir a produção audiovisual por meio dos materiais de arquivo, assim como repensar a militância no que diz respeito aos arquivos audiovisuais”. Ela ressalta que o documentário “reflete sobre as heranças da condição colonial brasileira na atualidade, a partir de uma narrativa musical e do uso de material de arquivo de naturezas diversas.