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DEMOCRACIA
Discurso do senhor presidente em exercício, Geraldo Alckmin, no ato em memória dos 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog
- Foto: Cadu Gomes/VPR
Não esquecer para jamais se repetir.
Há cinquenta anos, ao fim de um ato inter-religioso realizado nesta mesma catedral, uma multidão saiu às ruas em silêncio.
O silêncio não foi derivado do medo nem da omissão. Pelo contrário, representou o mais eloquente protesto, o mais retumbante grito de “basta” que merecia ser ouvido pela cruel ditadura.
Aquela multidão silenciosa, que saiu desta igreja no já distante 31 de outubro de 1975, fez desta Santa Sé - o marco-zero de São Paulo, o centro geográfico de onde todas as distâncias são medidas - o ponto inicial da caminhada pela redemocratização do Brasil.
A partir deste marco-zero, fluiu pelas ruas e avenidas, tomou praças, propagou-se por cidades e estados, estendeu-se por todo o país o espírito de liberdade que voltava a animar o povo brasileiro.
Hoje, lembramos para não esquecer e para não deixar que esqueçam. Não para preservar o passado, mas, sim, para realizar as suas esperanças, conforme, acertadamente, disse certa vez o jornalista Sérgio Gomes, que eu sei que está aqui presente, como também esteve naquele fatídico cárcere hediondo, onde muitos foram vítimas de sevícias, como aquelas que, criminosamente, tiraram a vida de Vladimir Herzog.
Nem a mais covarde das mentiras, forjada pela mais vil das tiranias, foi capaz de apagar a verdade truculenta que se abatera sobre o país.
Assim como, na defesa da verdade, não houve lugar para a farsa do suicídio, da mesma forma, por amor à liberdade, jamais haverá lugar para o nosso esquecimento.
A memória de Herzog segue viva e evoca em cada um de nós a promessa de defender os valores sagrados da vida, da liberdade e dos direitos humanos.
Por isso, reafirmo aqui, em nome do presidente Lula e em meu próprio, a nossa promessa e, muito mais que promessa, o nosso inabalável compromisso e perseverante empenho na defesa da verdade, da justiça e da democracia.
Há cinquenta anos, uma união de credos e de esperança tomou conta deste sagrado lugar. A mesma união que, ecoando o exemplo de Clarice, bem como de tantos outros que ainda sentem a dor da ausência, inspira-nos a buscar justiça para todos que ainda sofrem injustiças. Sobretudo, como forma de honrar a luta daqueles que perderam as suas vidas para nos dar o direito de vivermos as nossas em liberdade.
Tal qual há cinquenta anos, a comunhão de fé verificada nesta mesma igreja, pela comovente e fraterna união de dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel e Jaime Wright, que tiveram a grandeza de superar as diferenças confessionais para assumir um só lado na defesa da dignidade do povo brasileiro, ainda segue igualmente nos inspirando.
É inegável a verdade que ouvi certa vez ser dita de que, sem fraternidade, não há ecumenismo, e sem ecumenismo, não há comunhão.
A comunhão da fraternidade, que hoje também aqui se celebra, é a mesma que precisa definitivamente ser realizada em nosso país. É a que deriva da real e duradoura compreensão de que somos um só povo, que devemos aprender com as lições que a história nos legou, e que podemos, sim, alcançarmos juntos o ideal de realizar um sonho comum de futuro.
Viva Herzog!
Vivam todos os que lutaram pela nossa liberdade!
Viva a aliança de fé das religiões pela dignidade humana!
Viva a democracia!
Viva o Brasil!