É uma satisfação poder estar aqui hoje nesse importante evento Pré-COP30, fase final de preparação da COP30 em novembro, e falar sobre um dos temas mais prementes da agenda internacional: o combate às mudanças climáticas.
Gostaria de começar citando palavras do Papa Francisco, na Encíclica LaudatoSi: “Tudo está interligado. Por isso, exige-se uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade”.
Assim, convoco a todas e a todos a compartilharmos essa preocupação ambiental e esse amor ao próximo não apenas em nossos discursos, mas em ações concretas, em benefício de toda a comunidade internacional e como legado para as gerações futuras.
Com esse espírito, a Presidência brasileira da COP30 propôs três objetivoscentrais para a Conferência em Belém:
o Primeiro, reforçar o multilateralismo e o regime de mudança do clima no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC); o Segundo, conectar o regime climático à vida real das pessoas; e o Terceiro, acelerar a implementação do Acordo de Paris, por meio do estímulo a ações e ajustes estruturais em todas as instituições que possam contribuir para isso.
Acredito que esse esforço coletivo de cooperação entre os povos deve sercanalizado aqui nas negociações da COP e concentrado nas contribuições nacionalmente determinadas dos países ao Acordo de Paris – as NDCs.
A apresentação pelos governos de NDCs alinhadas ao objetivo de 1.5oC do Acordo de Paris é sinal decisivo de seu compromisso com o combate à mudança do clima e o reforço do multilateralismo.
A NDC do Brasil – que tive a honra de anunciar ano passado na COP29, em Baku – determina compromisso de reduzir as emissões líquidas de gases-estufa no país de 59% a 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005 — o que equivale a alcançar entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente.
Essa nova NDC do Brasil traz a visão do país para 2035: um país que reconhece a crise climática, assume a urgência da construção de resiliência e desenha um roteiro para um futuro de baixo carbono para sua sociedade, sua economia e seus ecossistemas. Trata-se de um plano ousado, mas realista, de corte de emissões, que prevê o crescimento econômico aliado à transição energética e à proteção das florestas, refletindo o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
O Brasil tem papel fundamental nas grandes questões deste século: Segurança alimentar, transição energética e mudanças climáticas. O caminho é claro: mais cooperação e mais desenvolvimento. O elemento crucial em nosso compromisso ambiental é a transição energética.
Em 2024, mais de 30% da geração de energia elétrica mundial veio de fontes renováveis; em 69 países, já responde por mais de 50% da produção. No Brasil, a matriz renovável responde por mais de 80%: somos o exemplo de que a transição energética é factível e rentável. Estamos comprometidos e esperamos o comprometimento da comunidade internacional.
Grande parte das emissões de gases de efeito estufa do Brasil vem do uso da terra e do desmatamento. Combater o desmatamento, portanto, é também combater as emissões que alimentam a crise climática.
Os resultados já são concretos. Dados recentes mostram que o desmatamento na Mata Atlântica caiu 42% no primeiro trimestre e 41% na Amazônia em agosto, quando comparamos a períodos equivalentes de 2024. No acumulado de janeiro a agosto, atingimos a menor área desmatada na Amazônia desde 2017. A degradação ambiental — provocada por queimadas e extração madeireira — também diminuiu 81% em agosto.
Queremos continuar liderando com o exemplo. Criamos o Programa Mover, que cria um sistema de incentivos fiscais e financeiros para quem investe em inovação e sustentabilidade. As empresas que aderirem ao programa deverão comprovar melhorias mensuráveis em eficiência energética, reciclabilidade, rastreabilidade e redução de emissões. É uma política que olha para toda a cadeia produtiva — do aço e das autopeças ao software embarcado — e que consolida o Brasil como referência mundial em mobilidade sustentável.
Outro pilar da transição energética e a reindustrialização verde foi a Lei do Combustível do Futuro. Essa lei moderniza e integra as políticas de biocombustíveis do país — conectando biodiesel, etanol, biometano e o novo combustível sustentável de aviação, o SAF.
A Lei do Combustível do Futuro estabelece metas obrigatórias de descarbonização para a aviação, começando em 1% de uso de SAF a partir de 2027 e crescendo progressivamente até 10% em 2037. Isso cria um novo mercado industrial, impulsiona investimentos privados e alinha o setor aéreo brasileiro às metas globais de neutralidade de carbono.
No campo do etanol, mantivemos a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro à gasolina e, neste ano, aprovamos o aumento para 30% (E30).
No biodiesel, seguimos o mesmo caminho. aumentamos a mistura de 14% para 15% (B15) já em março de 2025, consolidando o papel do biodiesel como vetor de sustentabilidade e inclusão produtiva. Com isso, o país reduzirá milhões de toneladas de CO₂ e ampliará o uso de matérias-primas nacionais, promovendo renda no campo e inovação industrial.
O Combustível do Futuro é, portanto, mais que uma lei: é um novo paradigma de política energética e industrial, criando um ambiente de previsibilidade e sinergia entre energia, transporte e indústria.
Com essa estratégia, o Brasil reafirma sua vocação como potência em bioenergia e inovação climática. Enquanto o mundo ainda debate caminhos, nós já temos resultados concretos, legislação moderna e governança integrada.
Senhoras e senhores
Nessa nova era tecnológica e ambiental, em que ciência, indústria e natureza estão mais entrelaçadas do que nunca, precisamos aplicar — e sobretudo incorporar — o que o filósofo Hans Jonas chamou de ‘princípioresponsabilidade’. Esse princípio realça as consequências éticas e existenciais dos nossos atos sobre a Terra e sobre as gerações que ainda virão. Ele nos convidava a reformular o imperativo categórico de Kant, propondo uma ética voltada não apenas para o próximo, mas para o futuro.
Seria assim: “Ajamos de tal maneira a incluir, em todas as decisões presentes — políticas, econômicas, industriais e ambientais — a preservação e o aperfeiçoamento das condições de vida no planeta, a proteção da biodiversidade e a justiça intergeracional.”
Esse é o novo princípio responsabilidade que deve guiar a transição energética e ambiental: garantir que o progresso — seja ele científico, econômico ou tecnológico — nunca aconteça às custas do clima, da natureza ou da dignidade humana. É com esse olhar que o Brasil chega à COP: como um país que acredita que ética, inovação e sustentabilidade não são caminhos paralelos, mas o mesmo caminho — o caminho da responsabilidade compartilhada pelo futuro comum da humanidade.”