Entrevista do presidente Lula para veículos de mídia japoneses
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Olha, primeiro, eu espero que o Japão participe não apenas com representação oficial do governo japonês, mas eu espero que o Japão participe com um grande número de representantes da sociedade civil. Sobretudo, especialistas na questão ambiental, para que possam contribuir para encontrarmos uma solução de preservar o nosso planeta. O mundo não está tratando com muito respeito as mudanças climáticas. Ainda tem muitos governos que não querem acreditar que o aquecimento do planeta é uma realidade.
Tem gente que brinca de não querer saber o que está acontecendo no mundo. Você tem países importantes como os Estados Unidos, que sequer cumpriu o Protocolo de Kyoto. Muitos países não cumpriram o Protocolo de Kyoto, não cumpriram o acordo feito em Copenhague em 2009, onde os países ricos teriam que depositar 100 bilhões de dólares por ano para ajudar os países em desenvolvimento a cuidar das suas florestas, para que as ilhas que estão no meio do Oceano Atlântico, do Pacífico e outros oceanos pudessem melhorar a qualidade de vida.
Agora, somos pegos de surpresa com o presidente Trump [Donald Trump, dos Estados Unidos] se negando a aceitar e a cumprir o acordo de Paris. Ou seja, isso é muito grave para o planeta Terra. Quando nós resolvemos aceitar a realização da COP30 no Brasil, porque a COP é um evento da ONU. A ONU escolheu o Brasil, o Brasil escolheu o estado do Pará e o estado do Pará escolheu a cidade de Belém. Mas o evento é da ONU.
E por que que nós resolvemos fazer na Amazônia? Veja, o Brasil está num continente que tem oito países com reservas florestais muito grandes na Amazônia. E o Brasil é o que tem a maior reserva.
Muita gente no Japão, muita gente na Rússia, muita gente na Suécia, muita gente na Itália, todo mundo fala sobre a Amazônia. Todo mundo fala. O que nós queremos é que as pessoas conheçam a Amazônia. Vejam o que é riqueza planetária.
São rios muito grandes, são florestas intermináveis que estão preservadas. E o que nós queremos é que os visitantes da COP compreendam e vejam que, embaixo de cada copa de uma árvore, tem um trabalhador. Tem um pescador. Tem um indígena. Tem um seringueiro. Tem um pequeno produtor rural, que só não vai derrubar a floresta se ele tiver outras condições de sobrevivência. E aí é preciso recurso para financiar.
Como os países ricos não cumpriram a promessa de 100 bilhões de dólares por ano desde 2009, a dívida agora está em 1,3 trilhão de dólares. Eu não acredito que os países ricos vão dar essa contribuição. O que eu acredito é que aqui no Brasil, o meu governo tem um compromisso, que até 2030 a gente vai zerar o desmatamento na Amazônia. Esse é um compromisso assumido por mim com o povo brasileiro. Não foi com ninguém, foi com o povo brasileiro. E nós vamos cumprir.
E para isso nós temos que fazer uma guerra contra o crime organizado. Temos que fazer uma guerra contra os madeireiros que cortam árvores sem licença. Temos que fazer uma guerra contra os garimpeiros que estão fazendo garimpo ilegal para que a gente mantenha a nossa floresta intocável, em pé, para servir como salvação do planeta Terra. Por isso a COP vai ser no estado do Pará, no coração da Amazônia.
Bem, eu queria dizer para vocês que é um clima quente. Vocês vão ter, em média, uma caloria de uns 30 graus. Eu não sei se é época de chuva, mas se for época de chuva no Pará, chove todo dia, à tarde, pelo menos.
A alimentação é extraordinária. Eu posso dizer para os japoneses que, possivelmente, o estado do Pará tenha a melhor culinária brasileira. Vocês vão comer comidas diversas, muito peixe, muito peixe da Amazônia. E vocês vão perceber que vocês vão comer peixe que vocês nunca viram na vida, e peixe extraordinariamente gostoso.
É uma comida muito rica, que eu não vou explicar a culinária toda, mas certamente quem vier do Japão para participar da COP vai voltar muito satisfeito com a generosidade do povo, com a beleza da Amazônia e com a qualidade da culinária. Então, se preparem, porque tem muita coisa para vocês verem. E nós queremos fazer uma COP muito serena, muito tranquila.
Nós não queremos fazer uma festa. Nós queremos discutir a questão ambiental com muita seriedade, porque eu acredito que o ser humano é o único animal capaz de destruir o seu habitat natural. E se nós não assumirmos responsabilidade em evitar que o planeta ultrapasse um grau e meio de caloria, todos nós estaremos correndo risco.
É isso que eu posso dizer da COP30. Eu vou ser um pouco presunçoso. Vai ser a melhor COP de todas as COP já realizadas no mundo. Se você puder, pode vir para a COP30, que será uma coisa muito séria.
Jornalista: Não é pergunta, na verdade. A gente estava tentando ir para a COP30, mas está faltando hotel, aí é difícil pegar hospedagem.
Presidente Lula: Eu não estou entendendo. É muito precipitado dizer que tem falta de hotel. Veja, nós estamos nos preparando para receber as pessoas que vão participar da COP. Obviamente, que é um estado amazônico que não vai ter a quantidade de hotel que tem em Tóquio, não vai ter a quantidade de hotel que tem em São Paulo ou Rio de Janeiro, que tem em Paris, mas terá a quantidade de hotel que tem em Belém. E vocês serão muito bem recebidos. E depois, se o céu estiver bonito...
Jornalista: Eu sei, eu gostei muito da comida lá na Amazônia, tacacá, foi muito boa.
Presidente Lula: Então você vai ser o garoto propaganda da COP30 no Japão.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: O papel que eu espero que o Japão tenha na COP30 é o Japão tratar a questão climática com a mesma responsabilidade que tratou o Protocolo de Kyoto. Ou seja, primeiro, todos nós temos que ter responsabilidade com a transição energética. Todos nós precisamos trabalhar muito sério para que a energia seja cada vez mais limpa e mais sustentável.
E o Japão é um país que tem profundo conhecimento científico e tecnológico, e acho que a ciência japonesa pode contribuir muito para a gente encontrar fórmulas para resolver o problema do clima no mundo. Veja, a responsabilidade pela manutenção de um clima saudável no planeta Terra depende mais dos países ricos do que dos países pobres. Primeiro, porque os países ricos foram os mais poluidores. Eles têm uma dívida histórica com o planeta.
Segundo, eles têm que ajudar os países em desenvolvimento para que os países em desenvolvimento possam preservar aquilo que resta de floresta no planeta Terra. Tem que ajudar na transição energética. Tem que ajudar na questão da produção de uma energia limpa e renovável. Então, é isso que nós esperamos do Japão. Uma contribuição efetiva, não só na participação, mas na expertise que o Japão tem.
Eu lembro que, em 2008, eu recebi muitos empresários japoneses aqui no Brasil, e eles estavam dizendo que iam fazer uma mistura na gasolina, colocando 3% de etanol na gasolina. Não foi feito. A Europa iria colocar 10% de etanol na gasolina. Não foi feito. E o Brasil tem 27% de etanol na gasolina. E o Brasil tem 14% de óleo diesel na gasolina.
E o Brasil tem 87% da sua matriz energética elétrica renovável. E o Brasil vai ser o campeão mundial de hidrogênio verde, de energia solar e de energia eólica. E eu espero que o Japão contribua com o mundo mais pobre, para que a gente possa ter certeza da contribuição dos países mais ricos.
Jornalista Takafumi: Meu nome é Takafumi da TVS, TV japonesa. Primeiramente agradeço muito por receber a gente. E agradeço muito pela oportunidade dessa entrevista. Minha pergunta é: gostaria de saber a opinião do presidente sobre o Brasil no ano passado pedir desculpas pela perseguição dos japoneses durante a Segunda Guerra.
Presidente Lula: Você tem que falar perto do microfone, senão ela não escuta. Aqui a acústica não é boa.
Jornalista Takafumi: Gostaria de saber a opinião do presidente. Ano passado, o Brasil pediu desculpas pela perseguição aos japoneses durante a Segunda Guerra. Época da ditadura de Getúlio Vargas e Eurico Gaspar. Quando? 8 de julho de 1943.
Presidente Lula: Deixa ele falar. Se você puder… Eu sei que é sobre a questão do perdão, mas seria importante, se você pudesse… Seria importante, se ele pudesse, para uniformizar as perguntas, para a gente gravar, se ele pudesse falar em japonês.
Jornalista Takafumi: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Eu acho que foi uma atitude de grandeza democrática e de grandeza humanística, a nossa Comissão de Anistia e o nosso Ministério dos Direitos Humanos terem feito o pedido de perdão aos arbítrios cometidos na Segunda Guerra Mundial ou logo após a Segunda Guerra Mundial. Eu acho que se todo mundo adquirisse o hábito de pedir perdão pelos erros cometidos pelos antepassados, possivelmente o mundo voltasse a ser um mundo mais humanista, mais fraterno, mais positivista e não um mundo negativista como estamos vivendo. Então, o que o Brasil fez com o Japão, eu fiz com o continente africano, eu pedi desculpas ao continente africano por 300 anos de escravidão.
Eu acho que isso é importante fazer. O Brasil quer olhar para o Japão numa relação visando o futuro. O Brasil e o Japão têm uma relação comercial de 11 bilhões de dólares, que é muito pouco para a grandeza do Japão e para a grandeza do Brasil.
É muito pouco para dois países com um crescimento muito bom, para dois países com muita população. Então, eu vou trabalhar para que a relação futura com o Japão seja uma relação que não tenha nenhum contencioso. O que nós queremos é paz. O que nós queremos é democracia. O que nós queremos é multilateralismo. O que nós queremos é uma reunião muito perfeita com os nossos países irmãos do mundo.
Por isso, a nossa Comissão pediu perdão e eu acho que foi extremamente importante para colocar a história no seu patamar verdadeiro. Eu acho que a Segunda Guerra foi um erro dos seres humanos ao fazer a Segunda Guerra. Acho que guerra nenhuma ajuda ninguém.
A guerra não constrói, a guerra destrói. Então, eu acho um absurdo, acho um absurdo que as guerras que acontecem hoje no mundo. Acho um absurdo a quantidade de armas que é produzida no mundo. O mundo gastou no ano passado 2,4 trilhões de dólares em armas, quando nós temos 730 milhões de pessoas passando fome no mundo. Não tem explicação. Então, eu acho que o Brasil agiu corretamente com o Japão.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Eu tenho. Eu tenho, porque eu acho que o mínimo que a gente pode fazer é reconhecer quando a gente erra. E, se o governo da época cometeu um equívoco, é justo que hoje a gente possa fazer reparação.
Jornalista: Bom dia, presidente. [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Olha, o comportamento do Brasil já é por demais conhecido. Eu quando digo que o Brasil não tem contencioso com nenhum país do mundo, é porque nós somos uma nação convencida de que somente a harmonia é capaz de garantir que o mundo viva em paz.
O Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. Ele tem o direito de tomar as medidas que ele quiser tomar em benefício dos Estados Unidos. O que ele precisa perceber é que ninguém é obrigado a ser prejudicado pelas medidas que ele toma em benefício dos Estados Unidos. Ou seja, cada um de nós que é presidente do seu país, quando a gente toma uma posição, a gente tem que saber se essa posição está prejudicando alguém.
Se ela está prejudicando alguém, é importante que a gente faça uma discussão muito severa para que a gente possa consertar. O presidente Trump não foi eleito para ser o xerife do mundo. Ninguém está pedindo a guarda dele a não ser o Zelensky [Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia].
Então, eu acho muito importante que ele governe para os Estados Unidos e faça o melhor governo que ele puder fazer. Na hora que ele tomou medida taxando produtos brasileiros, nós estabelecemos uma relação de negociação. O meu ministro das Relações Exteriores e o meu ministro da Indústria e Comércio estão conversando com as pessoas indicadas pelo governo americano.
E nós queremos convencê-los do erro que foi cometido a fazer taxação num produto brasileiro que circula nos Estados Unidos e que volta para cá como produto americano. Então, é importante ter bom senso. Se por acaso não houver um acordo, o Brasil primeiro pode recorrer à OMC [Organização Mundial do Comércio], que é uma instituição que existe para isso.
Segundo, a gente pode sobretaxar alguns produtos americanos. Por que eu acho essa política equivocada? Porque os Estados Unidos, ao longo de décadas, se apresentou ao mundo defendendo o livre comércio.
Dos anos 80 para cá, desde o governo Reagan [Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos] e o governo na Inglaterra, Margaret Thatcher [ex-primeira ministra do Reino Unido], foi criada a ideia da globalização. Foi criada a ideia do livre comércio, onde só se falava em livre comércio, livre comércio, livre comércio, livre comércio. Ora, o mundo se habituou a fazer o livre comércio.
O mundo se habituou a uma relação multilateral, a uma relação que é muito importante para a convivência democrática entre os países. Ora, o que aconteceu agora? Todos aqueles que falavam em livre comércio estão praticando o protecionismo, que tanto foi criticado na década de 80.
E o Brasil continua defendendo o livre comércio. O que nós defendemos é a relação comercial justa entre os países para que a gente possa desenvolver mais o planeta e garantir qualidade de vida para quase 730 milhões de pessoas que não têm sequer o que comer. Então, eu acho absurdo esse protecionismo.
Eu acho muito engraçado porque nos anos 80, a partir de 73, com o governo Nixon [Richard Nixon, ex-presidente dos Estados Unidos], a aproximação com a China houve uma tentativa enorme de tirar proveito da mão de obra barata na China. E todo o capital de quase todos os países do mundo foram para a China. Capital europeu, capital americano, ou seja, todo mundo ia para a China.
Você não conseguia comprar mais uma camisa, mais um tênis, mais um sapato nos Estados Unidos que não fosse “made in China”. A China tirou proveito disso. E a China, hoje, disputa a hegemonia da economia mundial com os Estados Unidos.
E nós não queremos aceitar uma segunda Guerra Fria por conta disso. Nós já vivemos quase meio século numa Guerra Fria, que não produziu benefício para a humanidade. Nós não queremos mais Guerra Fria, nós queremos livre comércio.
Nós queremos uma relação multilateral muito séria. Nós queremos mais democracia. Nós queremos mais abertura das nossas fronteiras. Porque é isso que vai fazer o mundo virar melhor. Esse comportamento não ajuda. Veja, eu estou há três anos, estou há três anos dizendo que era preciso haver paz entre a Rússia e a Ucrânia.
Enquanto eu dizia isso, meus amigos europeus ficavam só conversando com Zelensky e não conversavam com Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia]. E várias vezes a gente ponderou: é importante sentar os dois na mesa para encontrar uma solução. A União Europeia não queria, era só o Zelensky.
Agora o Trump, aí o Biden [Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos] também, ajudando muito a Ucrânia. Agora o Trump entra em cena e começa a falar em paz. E começa a conversar com o Putin. E não conversa com o Zelensky. Aí a Europa fica pedindo para a gente dizer para o Trump que o Zelensky tem que estar na mesa de negociação. E eu acho que é verdade, os dois precisam sentar na mesa de negociação para poder encontrar paz.
A paz não se encontra apenas com um lado, se encontra com dois lados. Então, eu acho que se a gente estabelecer a volta da democracia no mundo, que, na minha opinião, o que está correndo risco no planeta hoje, além da questão do clima, é a questão da democracia. Há muitos fascistas de volta na política. Há muito negacionismo na política. Há muito ódio na política. Há muitas ofensas na política. Há muito descrédito na política. E esse comportamento do Trump não ajuda. Esse é o dado concreto.
Então, é preciso a gente falar cada vez mais em democracia, cada vez mais em multilateralismo, cada vez mais em mercado livre, para que a gente possa ver o mundo progredir. Eu não acho correto cada um de nós se trancar nas nossas fronteiras agora e fazer como a gente fazia antes da Segunda Guerra Mundial. Eu não vejo.
Então, a democracia que nós conhecemos depois da Segunda Guerra Mundial está moribunda. Está sofrendo vários problemas. E eu acho que está faltando mais coesão entre os partidos, mais multilateralismo, mais democracia e mais amizade entre os países.
Por isso, eu acho que o Trump está cometendo um equívoco. Como ele está apenas há poucos meses no mandato, vamos torcer para que ele mesmo vá descobrindo se tem equívoco ou não e comece a fazer as coisas corretas. Não é correto um presidente falar que vai tomar o canal do Panamá de volta, que vai anexar o Canadá, vai tomar a Groenlândia.
Não é correto isso. Nós não estamos num mundo em que as pessoas não respeitam as fronteiras dos outros países. Então eu acho que, eu só espero que o Trump consiga fazer um bom governo para os americanos e deixe que os outros países cuidem dos seus povos.
Ele cuida dos americanos, eu cuido dos brasileiros. O México cuida dos mexicanos. O Japão cuida dos japoneses. A Itália cuida dos italianos, sabe? Se a gente fizer isso, vai ser muito melhor para o planeta Terra.
Eu espero que ninguém esqueça o que foi a Segunda Guerra Mundial. E espero que ninguém esteja a pensar numa Terceira Guerra Mundial, porque numa Terceira Guerra Mundial não vai sobrar o que repartir. É isso.
Jornalista: [Pergunta em português]
Presidente Lula: Veja, vamos fazer justiça, para não cometer nenhum erro. Eu gostaria que fosse o Biden que estivesse fazendo com a Rússia o que o Trump está fazendo. Eu gostaria. Eu gostaria que o presidente Biden tivesse tido o impulso para negociar a paz. Não aconteceu. E o Trump está fazendo. Eu não posso criticar alguém que está tentando negociar a paz. Eu vou criticar todos que estão negociando a guerra.
Segundo, a deportação dos brasileiros não foi feita pelo Trump. Ela já vinha acontecendo há algum tempo no Brasil. São brasileiros que estavam ilegais nos Estados Unidos e é um direito dos americanos não quererem algumas pessoas que não estejam legalizadas.
O Brasil tem muitos brasileiros nos Estados Unidos. Muitos, como temos também muitos no Japão. Ou seja, e nós queremos que todos estejam legalizados, todos estejam trabalhando, todos estejam construindo famílias nos Estados Unidos.
Mas, por algum problema de legislação interna, não é possível. Essas pessoas estão voltando para o Brasil, nós estamos recebendo com muito carinho, porque para os Estados Unidos eles são considerados deportados. Para nós brasileiros eles são repatriados.
Então o que nós queremos é recebê-los aqui no Brasil, dar um tratamento civilizado para eles e ver se cuidamos da vida deles para que eles possam se reenquadrar na sociedade brasileira, no mundo do trabalho e viver sua vida decente. É isso que nós queremos. No chamado mundo civilizado há uma intolerância com os imigrantes, há uma intolerância.
Aqui no Brasil, eu lembro sempre para as pessoas que o Brasil aqui teve muita tolerância com português, com alemão, com italiano, com espanhol e com japonês. Todo mundo que veio para cá foi tratado com muita dignidade e com muito respeito, salvo num período em que estava vigendo a Segunda Guerra Mundial. E é assim que deve ser o mundo, é assim.
Nós precisamos dar um tratamento, porque as pessoas não estão viajando de um país para outro, sabe, a não ser por conta de procurar melhor qualidade de vida, melhor oportunidade. O ser humano, ele é nômade se ele não encontrar guarida para suas necessidades. Se o cara não tiver trabalho, não tiver o que comer, ele vai viajar o mundo, sempre foi assim e continuará sendo assim.
No final do século passado, eram os europeus que procuravam outros países. Agora são os países pobres que estão procurando os países mais ricos. E o que nós estamos percebendo é que há muita intolerância.
E eu acho que o presidente Trump sabe que os 40 milhões de descendentes dos países espanhóis lá, dos latino-americanos, dos mexicanos, ajudaram a construir os Estados Unidos. Essa gente foi para lá para trabalhar e essa gente ocupou muito trabalho que o povo americano já não queria mais fazer. Então, eles precisam ser tratados como quase-americanos ou como americanos.
Eles fizeram opção, eles não são bandidos, eles são pessoas que estão procurando oportunidade. Isso já aconteceu com todos os países do mundo. Então é importante ter um pouco de paciência. E eu acho que essa brutalidade contra os migrantes não é correta, não é humana, não é democrática, e não é uma demonstração de civilidade.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Ah, desculpa. É que eu tenho uma reunião muito importante daqui a pouco, eu não quero puxar nenhum tema que seja motivo de especulação da imprensa brasileira hoje. Só para você saber. Mas eu vou repetir o que eu disse há muito tempo atrás. O abuso do governo de Israel contra os palestinos é inaceitável. É inaceitável do ponto de vista político, do ponto de vista humano. Não tem porquê essa brutalidade contra um povo que já perdeu mais de 30 mil mulheres e crianças, e que ontem mataram mais de 300 e poucas pessoas, das quais muitas mulheres. Eu espero que o Conselho da ONU se reúna e tome uma decisão definitiva sobre isso.
Jornalista: É um prazer revê-lo, muito obrigada. [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Olha, veja. No Brasil, apesar de a Constituição afirmar que o racismo é um crime inafiançável, ele ainda existe. Porque ele está na cabeça das pessoas, mas a demonstração de racismo aqui no Brasil não se dá contra japonês, contra alemão, contra francês, se dá contra os brasileiros mesmo. Se dá contra as mulheres pobres, se dá contra os negros, se dá contra as pessoas que moram na periferia, e ele é muito forte. Não adianta dizer que não tem racismo, não tem racismo pela Constituição, mas na prática ele existe no mundo inteiro.
Nós estamos vendo jogador brasileiro ser vítima de racismo no Paraguai, vítima de racismo na Espanha, vítima de racismo na Alemanha, em todo lugar do mundo. Então, eu acho que o racismo é uma doença e que tem que ser extirpada, por isso é que nós trabalhamos muito aqui contra o preconceito, muito, muito, muito. E eu acho que, aqui no Brasil, todos nós temos que compreender o que significou a colônia japonesa no desenvolvimento do Brasil. Nós temos muitos investimentos japoneses no Brasil, nós temos muitas fábricas.
Hoje mesmo, à tarde, eu vou na Toyota. Vou ter um encontro com os trabalhadores da Toyota, porque o diretor já está no Japão para me aguardar no Japão. Mas eu tenho, eu, particularmente, tenho uma grande compreensão da importância do povo japonês no desenvolvimento da agricultura brasileira, no desenvolvimento da indústria brasileira, no desenvolvimento tecnológico brasileiro. É muito grande o papel dos japoneses aqui, muito grande.
E depois porque a comida japonesa também é muito gostosa e eu fui muitas vezes à Liberdade [bairro em São Paulo (SP)] comer comida japonesa. Então, eu acho que se tiver preconceito de alguém contra um japonês aqui no Brasil, esse cara que tem preconceito é um doente. Porque os japoneses merecem respeito aqui no Brasil, por tudo que fizeram junto conosco.
E depois é o seguinte: eu não costumo chamar de rede social, porque de social não tem nada. É rede digital, em que está estabelecida uma política de ódio, uma política de mentira, uma política de inverdade. Ou seja, eu nunca imaginei na vida você ver um presidente da República mentindo numa rede social, falando coisas que não são verdade. Ou seja, isso é inexplicável.
Aqui no Brasil, você sabe que nós proibimos o telefone celular nas escolas. Porque o aluno vai para a escola para estudar e não é possível ele estudar se ele está com o celular na mesa e o professor dando aula na frente. E sabe o que aconteceu? Foi um benefício, porque agora as crianças voltaram a brincar, voltaram a conversar, voltaram a jogar bola, voltaram a fazer coisas que crianças fazem. Eu acho que está sendo um bem para a construção do tipo de ser humano que a gente quer construir.
Eu não quero que as crianças virem algoritmos. Eu quero que elas sejam seres humanos, com coração, com cabeça, com pensamento, com crítica. É esse ser humano que eu quero criar. Um ser humano capaz de ser fraterno, capaz de ser solidário, capaz de estender a mão para o outro que tem mais necessidade. E, lamentavelmente, a rede digital não contribui para isso. Quando surgiu a internet, eu sonhava que a internet ia criar um ser humano muito mais humanizado, muito mais intelectualmente preparado, muito mais. Não foi isso que aconteceu.
O ódio tomou conta da rede digital. As ofensas à jornalista, as ofensas a políticos, as ofensas a juízes da Justiça brasileira e do mundo inteiro. É uma coisa absurda a qualidade das ofensas. Então eu repudio tudo isso, repudio tudo isso. E aqui no Brasil nós estamos tratando de trabalhar a regulamentação. Nós não aceitamos que um homem de qualquer nação do mundo, dono de uma empresa, ele possa querer passar por cima da soberania do país, passar por cima da cultura do país e passar por cima da Justiça do nosso país.
Portanto, a gente vai tratar de fazer uma regulamentação, porque o crime cometido na rede digital tem que ser julgado da forma que se comete um crime normal. Um cidadão que comete um crime digital, ele tem que pagar o mesmo preço do cidadão que comete um crime na vida real. Não há porquê ter diferença.
O cidadão monta um escritório em um país qualquer para falar mal do seu país, para agredir o seu país. Não é correto. Portanto, nós vamos regulamentar e acho que o mundo vai ter que regulamentar. E eu sou favorável de que a regulamentação das redes sociais, a regulamentação das empresas sejam feitas a nível mundial. Ou através do G20. Tem que ser feito porque o mundo não pode continuar sendo controlado pelo ódio. É isso.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Eu posso lhe afirmar que o BRICS não tem nada anti-Ocidente. Não existe nada, até porque a maioria dos países do BRICS participam do G20. Isso é uma bobagem ideológica. Eu diria que é um argumento de má-fé. O que nós estamos fazendo é ter o direito de nos organizarmos. Veja que não foi nenhum presidente que criou os BRICS. O BRICS foi criado por um economista, que citou a palavra BRICS. E aí nós tivemos a ideia de nos juntar.
Veja, eu participo, quando convidado, do G7. Eu participo do G20. Eu participo da UNASUR. Eu participo do Mercosul. Eu participo da CELAC. Eu já participei duas vezes da União Africana. E eu participo dos BRICS.
O BRICS é a primeira oportunidade de você juntar os países do Sul Global e poder trabalhar de forma organizada para que o mundo seja mais igual com o Norte. Por que o G7 pode se reunir e decidir o que eles quiserem decidir e eu não posso me reunir? Por que a China pode participar do G20 e o Brasil pode participar e não pode participar dos BRICS?
O BRICS é uma reunião de países mais igualitários. Em que tem mais similaridade entre clima, entre tudo, entre economia, do que o Norte. Então é normal que a gente tente se juntar para criar a política de fortalecimento da nossa inserção no mundo.
A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. E nós vamos trabalhar para que ela continue sendo. Mas se o Japão quiser ser o nosso maior parceiro comercial, nós também estamos dispostos a trabalhar com o Japão.
Se os americanos quiserem ser, nós também seremos com os americanos. Nós não temos predileção por esse ou por aquele país. Veja, o BRICS tem Brasil, Rússia, Índia, China. Só China e Índia são 2 bilhões e 800 milhões de habitantes. Nós fazemos quase metade da população mundial, quase 50% do PIB mundial. Por que nós não temos o direito de nos reunir?
E nós não nos reunimos para pensar no Ocidente, nós nos reunimos para pensar em nós mesmos. O que que nós temos de similaridade que nós poderemos compartilhar entre nós? O que a China pode contribuir com o Brasil? O que o Brasil pode contribuir com a Índia? O que a Índia pode contribuir com a África do Sul? Ou seja, é para isso que nós nos reunimos. Qual é a similaridade da nossa economia?
Então, da mesma forma que eu ajudei a criar o G20, da mesma forma que eu aceito a existência do G7. É importante lembrar que a Rússia participava do G7, até outro dia. E a Rússia não participava porque a economia era grande. A Rússia participava porque tinha bomba nuclear.
Então, é importante que as pessoas parem de pensar ideologicamente, parem de pensar com má-fé e façam política com base na realidade. E o BRICS é muito importante. O BRICS é muito importante. E a gente não está querendo criar problema com o Ocidente porque nós participamos da política do Ocidente.
Todos nós, Rússia, China, Índia, África do Sul, está todo mundo no G20. Nós não podemos ser tratados como irmãos num dia e como inimigos no outro. Nós somos irmãos em todos os fóruns que a gente participa.
Quando eu reúno os 33 países da América Latina e Central e do Caribe, é porque eu quero discutir a similaridade entre nós, o que cada um de nós pode produzir para nos ajudarmos mutuamente. Eu sou o presidente que mais visitei a África, o continente africano. Dia 18 de maio eu vou fazer uma reunião com 54 ministros da agricultura da África.
O que eu quero com isso? Eu quero discutir o que o Brasil pode fazer para ajudar a agricultura africana, que tem na savana africana a mesma qualidade do cerrado brasileiro. E os japoneses conhecem o cerrado brasileiro, porque ajudaram a desenvolver o cerrado brasileiro.
E o Brasil pode transferir tecnologia para o continente africano. De graça. Por isso, eu estou convocando todos os 54 ministros da agricultura da África que eu quero que eles visitem experiências bem-sucedidas no Brasil, do agronegócio, do médio negócio e do pequeno negócio.
Eu quero que eles conheçam a produção de soja, de milho, de arroz, de feijão, de mandioca, a criação de peixe. Eu quero que eles conheçam tudo aqui no Brasil, para que eles possam saber o que é possível produzir lá. Isso não é contra ninguém. Isso é favorável à África.
Então veja, muitos países ricos esqueceram o continente africano. Muitos. Agora que a China está trabalhando com o continente africano, está todo mundo preocupado com a China. Agora que a China começou a olhar para a América do Sul, está todo mundo preocupado com a América do Sul. Não, nós não queremos preocupação.
Volte a olhar para nós. Volte a fazer investimento. Vamos crescer o fluxo comercial. Vamos trocar experiências científicas e tecnológicas. É isso que nós queremos com a China, com os Estados Unidos, com a Rússia, com o Irã, com a Indonésia, com todo mundo, com a Ucrânia.
Nós não temos veto a ninguém. Nós não somos contra ninguém. Nós somos favoráveis a todos que queiram fazer o bem para a humanidade. É assim que eu penso e é assim que pensa o Brasil.
É importante só lembrar, só uma última pergunta que eu esqueci de falar. É importante lembrar que o Brasil já teve reuniões com a Rússia, já teve reunião com a Ucrânia. O Brasil produziu um texto junto com a China, falando de paz. Falando de paz. E o que está acontecendo agora, eu acho extremamente importante. Tudo o que eu quero. Eu não quero nem saber quem é o promotor. O que eu quero é paz. Parem de destruir e voltem a construir. Parem de produzir armas e vamos produzir comida. Parem de distribuir mortes e vamos distribuir vidas. É isso que eu espero. E quem fizer isso merece o meu respeito.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: É porque você não é presidente do Brasil.
Jornalista: [Continuação da pergunta]
Presidente Lula: Olha, essa pergunta me permite contar um pouco do que nós já fizemos em benefício do Japão. O Brasil criou um grupo já há muito tempo chamado G4. Esse G4 é: Brasil, Japão, Índia e Alemanha. Ou seja, nós criamos esse grupo, porque nós defendíamos que era necessário mudar o Conselho de Segurança da ONU, dar maior representatividade ao Conselho de Segurança, dar maior legitimidade ao Conselho de Segurança e para isso não tinha explicação não participarem a Índia, Alemanha, Japão e Brasil.
Isso me trazia um pouco de prejuízo, porque a China tem problemas com o Japão. Outros países tinham problemas com a Alemanha, mas nós não tínhamos. Então nós hoje defendemos uma mudança radical no Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU hoje não representa nada. O mesmo Conselho de Segurança que conseguiu criar o Estado de Israel não consegue criar o Estado Palestino. Porque já não tem mais representatividade. A geopolítica mundial mudou.
Não tem nenhum país africano, não tem nenhum país latino-americano. E não tem países importantes como a Índia, como a Indonésia, como a Nigéria que tem 216 milhões de habitantes, o Egito que tem mais de 100 milhões de habitantes, o México, a Argentina. Ou seja, não tem ninguém. Então os mesmos cinco que participaram da Segunda Guerra Mundial são os cinco que estão nesse Conselho. Rússia, China, Estados Unidos, França e Inglaterra. Faltou alguém aí? Não.
Então são os cinco países que têm bomba atômica, são os cinco países que produzem armas, são os cinco países que vendem armas e que não conseguem ter influência para mediar a paz em quase nenhum lugar do mundo. Então nós continuamos defendendo uma governança global mais forte, até porque na questão climática e na questão das redes digitais é impossível um país sozinho resolver.
Quando você toma a decisão sobre a questão climática, você precisa de um Conselho de Segurança forte para que todos cumpram aquela decisão que é de todos, mas que se você levar para o Estado Nacional não será aprovada.
Você, para regular as big techs, terá que tomar uma decisão com muitos outros países. O G20 pode tomar uma decisão, mas não adianta você regular num país e não regular em outro. É preciso que haja uma regulação mundial sobre isso a bem da humanidade.
Por isso é que nós defendemos uma mudança no Conselho de Segurança da ONU, para que a gente respeite a geopolítica do século XXI. Para que a gente respeite o crescimento dos países. Para que a gente respeite os continentes e para que a gente saia da Segunda Guerra Mundial.
Todas as instituições que nós temos foram criadas depois da Segunda Guerra Mundial. É preciso renovar, é preciso criar instituições do século XXI. Nós estamos passados, estamos presos ao século XX. O Banco Mundial é do século XX, o FMI é do século XX, a ONU é do século XX, era preciso mudar para melhorar. Por isso o Brasil defende uma mudança e defende a participação do Japão. Isso é público, isso não é segredo para ninguém.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Veja, não é possível um presidente querer corrigir um outro presidente. O que é possível é que a gente faça uma discussão dentro das Nações Unidas, para que as pessoas compreendam a necessidade de mudança. Ou seja, é preciso acabar com o direito de veto. Não pode quatro países aprovarem uma coisa e um não concorda, aí desaprova.
Então é preciso que o Conselho de Segurança se adapte às mudanças que o mundo está passando. E que ele seja, efetivamente, uma espécie de autoridade máxima para todos os países do mundo, para decidir coisas importantes. Daí porque, eu pergunto, por que não está o Brasil, por que não está o México, por que não está a Argentina ou a Colômbia, por que não está a Indonésia, por que não está a Etiópia, a Nigéria, o Egito? São essas coisas que eu me pergunto. Vamos dar um passo adiante e aperfeiçoar no século XXI a democracia conquistada depois da Segunda Guerra Mundial.
Obviamente, quem já está no baile não quer que entre mais ninguém. E nós que estamos fora é que precisamos brigar para conquistar. Nós não esperamos que a decisão seja uma decisão unilateral dos cinco membros do Conselho de Segurança. O que nós achamos é que o restante dos países que não estão precisam brigar para conquistar o direito de estar no Conselho de Segurança.
Veja, eu não tenho nada marcado com o presidente Trump, nem eu ainda senti interesse de falar com ele e nem ele deve ter sentido interesse em falar comigo. Mas no dia que tiver um problema, que eu precisar falar com o Trump, eu vou pegar o telefone e vou ligar para o Trump e eu espero que ele faça o mesmo. É assim que é a relação internacional, é assim que é a relação entre os países. Democrática e civilizada. Sempre respeitando a soberania do outro país e sempre respeitando a integridade territorial. Se todo mundo fizer isso, o mundo terá paz assegurada.
Jornalista: [Pergunta em japonês]
Presidente Lula: Muito bem. Vamos começar pela última. Eu já estou agendado, tenho um encontro com a princesa, quando ela vier ao Brasil. Segunda coisa. Primeiro, eu vou contar uma pequena história para vocês. Eu, no meu primeiro mandato, recebi aqui o primeiro-ministro Koizumi [Junichiro Koizumi, ex-primeiro-ministro do Japão] e tivemos uma grande reunião aqui nesta sala. Depois nós fomos almoçar. E eu sabia que o Brasil tentava exportar manga para o Japão há 28 anos. E o Japão não comprava manga do Brasil por causa da mosca do fruto. Diziam que tinha uma mosca nas mangas brasileiras.
Então, na hora do almoço, eu preparei uma bandeja de manga, muito bonita, mas muito bonita. Uma manga que parecia um coração de tão bonita que era. E, ao mesmo tempo, eu tinha preparado uma outra bandeja de manga cortada para o Koizumi experimentar. Como ele começou a admirar a nossa manga, eu falei para ele: bom, agora que você está admirando a nossa manga com os olhos, eu vou querer que você agora admire com paladar. E mandei colocar uma travessa de manga descascada, cortada na mesa.
Ele comeu a manga e achou a manga maravilhosa. Maravilhosa. Aí eu falei para ele: você veja, vocês importam manga da Malásia com preconceito contra a manga brasileira e agora você está dizendo que a manga brasileira é gostosa. E ele achou a manga deliciosa. O que aconteceu é que alguns meses depois o Brasil exportou a primeira carga de manga para o Japão.
O que eu espero dessa visita? Eu espero dessa visita que o Japão conheça mais o Brasil. Eu estou levando vários ministros comigo, estou levando alguns sindicalistas comigo, porque eu vou ter uma reunião com o movimento sindical japonês. Estou levando ministro do Trabalho, ministro da Ciência e Tecnologia, tem vários ministros para discutir vários assuntos, ministro de Energia.
Então o que nós queremos nessa troca de conhecimento entre o Brasil e o Japão é que a gente possa atrair mais investimentos e que o Brasil também possa fazer parcerias com empresas japonesas, para discutir, sobretudo, a questão da transição energética. Que é uma coisa muito poderosa e que o mundo está precisando. Então eu espero que essa reunião seja extremamente produtiva para o Japão e para o Brasil. E eu espero depois receber o primeiro-ministro [Shigeru Ishiba, primeiro-ministro do Japão] aqui para que a gente possa aprofundar a nossa relação.
O que eu espero daqui para frente? Eu espero que daqui para frente mais brasileiros… Nós vamos ter uma feira em Osaka dia 15 de... Nós vamos ter uma feira o semestre inteiro na cidade de Osaka organizada pela Apex. Tem um pavilhão do Brasil muito grande lá e eu quero que mais empresários japoneses visitem o Brasil e quero que mais empresários brasileiros visitem o Japão. Eu quero que mais universidades japonesas conheçam o Brasil e mais universidades brasileiras conheçam o Japão. Porque essas coisas só se desenvolvem quando as pessoas se conhecem mutuamente.
Então, eu espero que daqui para frente a gente aprimore as nossas relações, que elas não aconteçam apenas quando o chefe de Estado vai ao país. Que elas aconteçam sempre por interesses científicos, tecnológicos, por interesses culturais, por interesses políticos e por interesses econômicos.
O Japão tem muita importância no mundo e o Brasil tem que saber disso. O Japão é um país com muitos avanços científicos e tecnológicos e nós temos interesse em aprimorar essa relação. E muitas coisas dependem de nós. É por isso que eu estou levando uma delegação de ministros para que a gente possa discutir também com os ministros japoneses as próximas relações entre nós.
Eu espero que cresça o nosso fluxo de comércio. Espero que o Japão venda mais para o Brasil e que o Brasil venda mais para o Japão, 11 bilhões entre os nossos países é muito pouco. É muito pouco. Acho que a gente tem uma oferta muito grande para o Japão. Eu sei que o Japão importa praticamente 60% de todo o alimento que consome. E o Brasil hoje é um país que está se transformando num shopping center de alimentos do planeta. O Brasil tem crescido muito a sua produção agrícola.
Eu quero mostrar que a carne brasileira é tão importante quanto qualquer carne do mundo. Aliás, eu estou convidado para um almoço no Japão por empresários brasileiros para comer churrasco. Eu vou convidar o primeiro-ministro japonês para ir comer churrasco. Não vou convidar o imperador, [Naruhito, imperador do Japão] porque seria demais levar o imperador numa churrascaria.
Eu quero que o povo japonês conheça melhor o Brasil. Eu acho que daqui para frente o que eu espero é isso na nossa relação. Mais amizade, mais democracia, mais multilateralismo, mais troca de experiência científica e tecnológica, mais troca de experiência comercial. É assim que vai ser a nossa relação com o Japão daqui para frente.
Agora vocês têm que me dizer se está muito frio no Japão. Está frio?
Jornalista: Está melhorando agora. Ainda está frio.
Presidente Lula: É isso. Eu agradeço a cordialidade. Espero que eu tenha respondido as coisas que vocês queriam saber. E eu estou levando para o Japão, é importante vocês saberem, eu estou levando para o Japão o presidente da Câmara dos Deputados [Hugo Motta], eu estou levando o presidente do Senado [Davi Alcolumbre]. Seria importante tentar fazer reunião com o Senado e com a Câmara lá.
E eu espero que seja uma visita muito frutífera para o Brasil e para o Japão. Está bem? E espero encontrar com vocês lá.