Entrevista do presidente Lula ao SBT Brasil
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Parte 3
Jornalista César Filho: Presidente, muito obrigado pelo seu tempo, mais uma vez, por nos receber aqui e por conceder essa entrevista que é tão importante para o país. Nós vivenciamos uma semana muito importante, essa que está terminando agora. Domingo começa uma nova semana, dia 7 de setembro, com manifestações pró-anistia e com a continuidade do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como é que o senhor vê esse julgamento? Os seus opositores, e nós ouvimos alguns especialistas no SBT Brasil, que disseram que trata-se de um julgamento mais político do que judiciário. Qual é a sua opinião a respeito?
Presidente Lula: Olha, eu penso que somente os autos do processo é que podem dizer que tipo de processo está acontecendo no Brasil. No Brasil está acontecendo um processo que não é nenhuma denúncia da oposição. Um processo está acontecendo, porque pessoas que faziam parte do governo anterior denunciaram uma tentativa de golpe que foi tentado colocar em prática dia 8 de janeiro, invadindo a Suprema Corte, o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados e o Senado. E, também nessa delação, mostra que havia uma tentativa de assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin [Geraldo, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] e o ministro da Suprema Corte, Alexandre de Moraes.
Essas são as denúncias, além da bomba do caminhão no Aeroporto de Brasília, além da invasão na Polícia Federal, além do crime eleitoral de a Polícia Rodoviária Federal não deixar eleitores de cidade que tinham votado no Lula irem à urna no segundo turno, a dúvida e as mentiras contadas sobre a urna eletrônica contando inverdades, de um processo que é o mais legítimo e o melhor do Brasil.
E, quando eu digo que a urna eletrônica é uma coisa séria, César, é porque é o seguinte, se não fosse séria, eu não teria sido ex-presidente da República. As pessoas têm que lembrar que eu perdi três eleições e eu ganhei três eleições com voto eletrônico. Então, as pessoas precisam parar de falar bobagem. O ex-presidente cometeu muita bobagem? Cometeu. Ele não é uma figura normal, ele não é uma figura normal. Se você pegar o comportamento histórico dele, você vai perceber que ele foi expulso do Exército Brasileiro, porque falava de soltar bomba dentro do quartel.
Então, esse cidadão está sendo julgado com base nos autos do processo, dos crimes que estão sendo resultado de delações de generais e tenentes que trabalhavam com ele. Não tem ninguém da oposição fazendo denúncia contra ele. Ele vai ser julgado com relação aos autos do processo. É um processo eminentemente jurídico que tem uma conotação política muito forte. Afinal de contas, é o ex-presidente da República, um homem que esteve no poder durante quatro anos, que não governou esse país, destruiu muita coisa nesse país, que nós passamos dois anos e meio recuperando. E esse cidadão, inclusive, carrega nas costas, dentre as mazelas deles, a responsabilidade pela morte de pelo menos 50% das pessoas que morreram de Covid-19 pela irresponsabilidade com que ele tratou a Covid-19. Esse cidadão está sendo julgado por isso. O que é que eu espero, na verdade? Eu espero que… No Brasil, a justiça é para todo mundo.
Jornalista César Filho: Mas o senhor falou aqui de delação premiada, agora eles falam em colaboração premiada, que é o termo correto, que delação é o termo da imprensa. Na época em que o senhor foi julgado também, nós tivemos muitas delações de pessoas que trabalharam com o senhor, pessoas próximas ao senhor e tudo isso foi invalidado. Não é verdade?
Presidente Lula: Não, eu fiz questão de provar. Deixa eu lhe falar uma coisa, para fazer uma diferença. Se você pegar os processos que eu tive, não tem uma única prova. Se você pegar o processo mais grave contra mim, que eu era dono do apartamento, a condenação do juiz que me condenou, que eu não vou dizer o nome dele, é o seguinte: crime indeterminado. O que é isso? O que é isso de verdade? Eu tinha alguém que ponderava que eu fosse para o exterior, tinha alguém que ponderava que eu fosse para uma embaixada, eu falei: não, eu vou lá para a Polícia Federal porque eu quero desmascarar o Ministério Público que me acusou e quero desmascarar o juiz que está me acusando.
E consegui isso. Consegui depois de 580 dias. Agora, o que está acontecendo nesse caso? O cidadão cometeu essas barbáries todas e ele, agora, começa um processo de pedir anistia antes de ser julgado. O fato de ele estar pedindo anistia antes de ser julgado significa que ele sabe que é culpado. Ele está se auto condenando, porque o papel dele agora era estar provando a inocência dele. Eu vi alguns advogados de defesa deles, os advogados falaram muito, mas não fizeram a defesa de ninguém, porque sabem que eles não têm defesa. O que eles fizeram foi muito grave contra a democracia e o Estado de Direito nesse país. E quem tenta agredir o Estado de Direito Democrático precisa ser punido em qualquer país do mundo.
Jornalista César Filho: O senhor acredita que as pessoas dizem que o Alexandre de Moraes estaria para o Bolsonaro da mesma forma que o ex-juiz Sérgio Moro esteve com o senhor? Uma perseguição. O senhor acredita nisso?
Presidente Lula: Não acredito nisso, não acredito porque é totalmente diferente, totalmente diferente. O Sérgio Moro construiu uma mentira junto com o Dallagnol [Deltan, jurista, ex-procurador e ex-deputado federal] e junto com a parte dos meios de comunicação, que eu não vou entrar em detalhes agora porque eu já venci essas etapas todas, e o outro cidadão cometeu um crime que está nos autos do processo. Todo mundo sabe o que aconteceu nesse país. Todo mundo sabe o que aconteceu no dia 8 de janeiro. Todo mundo sabe a ocupação dos quartéis. Todo mundo sabe da bomba no aeroporto. Por que é que esse cidadão está vendendo ilusão de que ele é inocente? Não, ele tem que assumir a responsabilidade de “eu peço desculpas ao povo brasileiro, eu tentei fazer, eu vou ser julgado, depois de julgado eu vou ver se eu consigo uma anistia, como conseguiram as pessoas que foram presas em 1964”.
Depois do golpe militar de 1964, muita gente foi condenada e depois foi anistiada. Agora o cidadão, primeiro, tem que provar sua inocência. Ele fica pedindo anistia como se ele já tivesse sido condenado. Ou seja, ele nem acredita nele. Como ele viveu a vida inteira mentindo, e ele governou esse país contando 11 mentiras por dia, se somar as mentiras que os filhos contavam, vai para umas 33 por dia. Esse cidadão agora deveria pelo menos ter um pouco de caráter e apresentar sua defesa com a contundência que ele acha que merece.
Jornalista César Filho: Agora, presidente, o STF [Supremo Tribunal Federal] tem sido protagonista em muitos casos, muita gente diz até que o ministro Alexandre de Moraes tem passado um pouco da medida, não sei se o senhor concorda com isso ou não. Algumas atribuições não deveriam ser do Congresso Nacional e não do STF, e hoje o STF ou o ministro Alexandre de Moraes tem mais força que o presidente da República?
Presidente Lula: Eu não diria que ele tem mais força. Ele tem mais obrigações constitucionais, uma tarefa diferente da minha. O problema da Suprema Corte estar envolvido com muitas coisas políticas é porque a política é responsável. Quem entra com processo na Suprema Corte questionando coisas do Congresso é o próprio Congresso Nacional. A coisa mais rotineira no Congresso Nacional é alguém perder uma tese, alguém não aprova o seu projeto de lei, ou um projeto de lei que ele não concorda é aprovado, ele recorre à Suprema Corte.
Esse é o defeito, é que a política está judicializando a própria política. E o Judiciário está judicializando a política. É preciso que cada macaco fique no seu galho: o Poder Judiciário, julgue; o Poder Legislativo, legisle; e o Poder Executivo, execute. Se cada um cumprir com a sua função, esse país volta à normalidade ontem.
Jornalista César Filho: Presidente, antes de entrar nos assuntos internacionais, a fraude no INSS, os desvios para os pensionistas, para os aposentados brasileiros revoltaram o país. Em pesquisas, isso diminuiu um pouco a sua credibilidade, a credibilidade do seu governo. O senhor acredita que esse fato possa prejudicar a sua reeleição no ano que vem? E eu digo mais, quem seria o maior candidato para enfrentar o senhor nas eleições? Quem o senhor teme mais?
Presidente Lula: Deixa eu te dizer uma coisa, César. Deixa eu te dizer uma coisa. Nós ficamos dois anos investigando a fraude na Previdência Social, a fraude no BPC [Benefício de Prestação Continuada], a fraude em outros auxílios de políticas públicas que o governo tem. Porque o que aconteceu? No governo do ex-presidente da República, se você pegar o caso da Previdência Social, ele escancarou, porque antigamente, para você pegar um benefício, você tinha que provar que era necessário. Se uma entidade quisesse cobrar de um aposentado, o aposentado tinha que assinar. O que ele fez? Ele escancarou. Escancarou.
E as pessoas começaram a tirar proveito desse escancaramento que fez o ex-presidente, porque eu não sei com que interesse, não sei quem mais que levou o dinheiro, mas nós vamos descobrir. Porque nós estamos investigando e vamos punir. Pode ficar certo que nós vamos encontrar qual é o mentor da ideia. Quem roubou nós já sabemos, o prejudicado nós já sabemos, que foi o povo. E nós já fizemos uma coisa muito importante, nós já devolvemos uma parte do dinheiro. Quando ninguém esperava que a gente pudesse devolver, nós devolvemos muito rápido esse dinheiro e vamos devolver.
E eu aproveito, César, para dizer aqui na tua frente, todas as pessoas que foram prejudicadas serão ressarcidas dos seus prejuízos. Nós já bloqueamos quase R$ 2,8 bilhões de dinheiro das quadrilhas que estavam roubando os aposentados. E nós vamos pegar o mentor e vamos colocar na cadeia essa gente. Porque eu vou te contar uma coisa, o cara roubar já é grave, agora roubar aposentado e utilizar o nome do aposentado sem permitir que ele autorizasse, ou seja, falsificando diretamente pelo computador, não, não é possível.
Jornalista César Filho: E hoje eles usam muito essa tecnologia e o aposentado não sabe mexer e nem manusear.
Presidente Lula: Qual é o problema que nós carregamos? É que, ao longo da história, sempre teve denúncia de corrupção de desvios de dinheiro. Agora, isso vão passando os anos. Quando nós resolvemos investigar, a gente não pode fazer investigação e fazer pirotecnia ao mesmo tempo. Nós fizemos uma investigação pela Controladoria-Geral da União, pela Polícia Federal, e fomos a fundo. Quando nós descobrimos, nós fizemos a denúncia. Já tinha passado um ano e meio, quase dois anos do nosso mandato, obviamente que o povo fala “por que não pegou antes?”. Não pegou antes porque a gente estava investigando com seriedade. Porque se a gente faz uma pirotecnia, os ladrões se escondem, e a gente termina não descobrindo quem praticou o crime.
Jornalista César Filho: Esse fato, senhor, acha que pode prejudicar a sua reeleição?
Presidente Lula: Não, eu não acredito nisso, não.
Jornalista César Filho: Quem o senhor acredita que é o seu maior adversário ano que vem?
Presidente Lula: Eu não escolho adversário. Sinceramente, eu já disputei tantas eleições, já disputei com tanta gente. Na primeira eleição que eu participei, eu disputei contra Paulo Maluf [Engenheiro e ex-deputado Federal], contra o Ulysses Guimarães [Advogado e ex-Presidente da Câmara dos Deputados], contra o Aureliano Chaves [Ex-vice-presidente do Brasil], contra o Brizola [Leonel, ex-deputado Federal], contra Afif Domingos [ex-deputado Federal], contra Mário Covas [ex-deputado Federal], contra Enéas [Carneiro, ex-deputado Federal], contra o Roberto Freire [ex-deputado Federal]. E quem foi para o segundo turno? Eu.
Se você pegar as eleições, desde que eu participo, eu fui o segundo em 1989, o segundo em 1994, o segundo em 1998, o primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o primeiro em 2010, o primeiro em 2014, o segundo em 2018 e o primeiro em 2022.
Então, eu tenho uma trajetória política que quem deve estar preocupado são os meus possíveis adversários, que eu não sei quem são, mas que venham tantos quanto quiserem disputar. O que eu acho maravilhoso é o seguinte: não tenho medo de disputar, se apresente. Nós vamos ser julgados pelo povo, é o povo que vai dizer quem vai governar esse país. Eu vou apresentar aquilo que foi feito no país. Eles que apresentam o que vão fazer.
Jornalista César Filho: Eu ia perguntar para o senhor se o senhor era candidato à reeleição, mas acho que o senhor já respondeu a pergunta.
Presidente Lula: Deixa eu contar, eu ainda não decidi se sou candidato, porque não é o momento de decidir. E eu tenho dito para as pessoas o seguinte, César, com muita honestidade, eu vou completar 80 anos dia 27 de outubro.
Jornalista César Filho: Tem muita gente que usa isso contra o senhor.
Presidente Lula: Não tem problema. Oitenta anos de idade é o tempo da maturidade máxima de um ser humano. Eu digo para todo mundo, digo para meus companheiros: só tem uma hipótese de eu não ser candidato, é se eu tiver algum problema de saúde, ou se aparecer até lá um candidato melhor do que eu. Agora, uma coisa eu posso te dizer, a extrema-direita não voltará a governar esse país. Porque os democratas deste país não irão permitir. Então eu vou repetir, a extrema-direita não voltará a governar esse país. O povo está cansado de mentira. O povo quer políticas públicas, o povo quer benefício, o povo quer saúde, quer educação, quer trabalhar.
Esse mundo a gente pode construir. E é esse mundo que eu construo a cada dia desse país. E é por isso que, se eu tomar a decisão de ser candidato, eu digo para todo mundo, eu serei candidato para ganhar as eleições. E aí não importa quem seja o candidato adversário.
Jornalista César Filho: De acordo com o que o senhor respondeu aqui, presidente, eu acho que o povo se preocupa muito com segurança também. Hoje o Brasil não tem segurança nem mais dentro de casa. E a gente vê, através de reportagens, denúncias e tudo mais, as facções crescendo muito aí. Como é que o senhor vê esse crescimento da violência no país? O que pode ser feito para acabar com isso?
Presidente Lula: Olha, vamos ser francos numa coisa. Primeiro, nós fizemos, na semana passada, a maior operação da história do Brasil no combate ao crime organizado. Sem ficarmos preocupados com quem era que estava envolvido naquilo, se é a Faria Lima, se não é, se tem banco, se tem big techs, se tem fintech. O que nós queremos é acabar com o poderio do crime organizado, que é o dinheiro. Porque o crime organizado é uma coisa internacional hoje. Ele está no mundo inteiro, ele está nos clubes de futebol, ele está na política, ele está no judiciário, ele está na política, ele está em tudo quanto é lugar. Então, fazer isso é uma coisa muito séria. E nós vamos fazendo.
Agora mesmo eu estou indo para Manaus, dia 9, inaugurar uma base da Política Federal de combate ao crime organizado nas fronteiras brasileiras, junto com os países da América do Sul. Então, o que é que nós fizemos? Nós apresentamos uma PEC da Segurança Pública, apresentada pelo ministro Lewandowski [Ricardo, ministro da Justiça e Segurança Pública], que é uma PEC para dar ao Governo Federal maior poder de mobilidade para interferir no combate ao crime organizado e no combate à violência como um todo, sobretudo, no combate contra a mulher, combate contra a criança, combate contra o crime sexual contra crianças e adolescentes. Então, nós queremos participar disso ativamente. Nós não queremos substituir o estado. Nós queremos participar de forma corporativa com os estados para ver se a gente diminui a violência. E isso nós vamos fazer, a PEC vai ser aprovada, nós vamos fazer isso com muita tranquilidade.
Nós ainda vamos fazer algumas reuniões com os governadores, porque tem mais alguns projetos de lei que nós vamos aprovar. Por exemplo, nós aprovamos o projeto de telefone seguro [Celular Seguro]. Hoje, se roubarem o seu celular e você comunicar imediatamente, ele é bloqueado. Então, o cara que roubou o seu celular não vai ter como vender o celular. Não vai ter comprador para o celular, porque ele sabe que o telefone estará bloqueado. É só você comunicar.
Jornalista César Filho: Bom, o senhor falou aqui das fronteiras. Eu vou entrar nesse assunto antes de entrar, a gente vai falar do Donald Trump [presidente dos Estados Unidos], não tem como não falar do presidente dos Estados Unidos. A Venezuela está cercada com navios de guerra que os Estados Unidos colocaram no Caribe, um submarino nuclear, e hoje teve a notícia que enviou 10 caças para lá. Se essa temperatura esquentar, e o Nicolás Maduro [presidente da Venezuela] já ameaçou, de que lado o Brasil vai ficar? Do lado da Venezuela, do lado do Nicolás Maduro?
Presidente Lula: O Brasil vai ficar no lado que ele sempre teve, no lado da paz. O Brasil é um país que não tem contencioso internacional, nem queremos contencioso internacional. O Brasil entende que a guerra não leva a nada, a não ser à matança e ao empobrecimento. Se tem divergência entre duas nações, não tem coisa melhor, mais barata para se resolver do que sentar numa mesa de negociação e conversar. Então, o país ficará no lado da paz, outra vez.
Jornalista César Filho: Com relação ao tarifaço do Donald Trump, o senhor acredita que isso é um ato político?
Presidente Lula: Você deve ter acompanhado, houve uma reunião dos empresários brasileiros com o vice-secretário de Estado norte-americano anteontem. E a surpresa dos nossos empresários é que quando eles foram tentar discutir comercialmente, o secretário de Estado falou “não, a taxação do Brasil não é comercial, não. É política”. Isso dito pelo vice-secretário de Estado dos Estados Unidos. A carta do Trump mostra que é política. A carta do Trump se intromete no Poder Judiciário brasileiro, se intromete na soberania brasileira, se intromete na legislação brasileira. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Cada um dá palpite no seu quintal, cuida do seu galinheiro. O nosso nós cuidamos. O Brasil, eu digo todo dia, só tem um dono: são 215 milhões de brasileiros.
Jornalista César Filho: Mas as pessoas dizem que o senhor foi lá apoiar a Cristina Kirchner [ex-presidente da Argentina], que por isso o relacionamento do Brasil com a Argentina hoje está prejudicado.
Presidente Lula: Eu não fui apoiar a Cristina Kirchner, fui visitar a Cristina Kirchner, com autorização da Justiça. Porque eu não esqueço a relação de amizade que eu tive com a Cristina. Foram oito anos de amizade, 12 colocando o marido nela. Foram 12 anos de convivência. E eu fui visitar porque eu acho que ela está sendo acusada quase que no mesmo modo que eu fui acusado. Como quem decide se ela é culpada ou não é a Justiça, eu jamais deixarei de visitar um companheiro meu que está sendo julgado.
Jornalista César Filho: Presidente, agora a comunidade judaica também se manifestou oficialmente com um comunicado oficial, dizendo que o senhor estaria apoiando a Palestina e publicaram até uma foto do senhor com a bandeira da Palestina, que o senhor teria simpatia pelo Hamas. Que recado o senhor tem para o povo judeu e para o povo palestino que vive no Brasil?
Presidente Lula: Primeiro, se alguém diz que eu tenho simpatia pelo Hamas, é de uma ignorância, de uma má fé e de uma estupidez que não merece crédito. Eu defendo o Estado Palestino. Eu acho que a comunidade judaica brasileira deveria mandar uma carta para o Netanyahu [Benjamin, Primeiro-ministro de Israel] e dizer que ele não está fazendo guerra contra o Hamas, ele está matando mulheres e crianças. Ele está fazendo um genocídio lá, para se manter no poder. É isso que as pessoas da comunidade judaica deveriam fazer aqui no Brasil. Não é defender o criminoso, não é defender o genocida, é defender o direito à vida de mulheres e crianças que não estão pedindo para morrer.
O dado concreto é o seguinte, eu sou defensor do Estado Palestino que conviva harmonicamente com o Estado de Israel. E sou totalmente contra a ocupação que Israel está fazendo na faixa de Gaza, totalmente contra. E aí, eu defendo o povo palestino porque eu defendo a cidadania palestina. É importante lembrar que o Brasil é o primeiro país da América Latina a reconhecer a necessidade de se criar um Estado Palestino.
Jornalista César Filho: Voltando a falar de Donald Trump, o senhor acredita que o deputado Eduardo Bolsonaro, apenas ele tem uma influência tão grande a ponto de movimentar tudo isso como muitas pessoas estão dizendo isso?
Presidente Lula: Eu não acredito. O que eu acho é que tem mais gente insuflando o comportamento americano com relação ao Brasil. Eu estou muito tranquilo, César. Essas coisas não me deixam nervoso, porque eu não tomo decisão quando eu estou com 39 graus de febre, eu espero a febre baixar para 36. A relação com os Estados Unidos vai voltar à normalidade, porque o povo americano e o povo brasileiro são mais inteligentes do que os presidentes. Se os presidentes não conseguem acertar, você pode ficar certo que o povo americano e o povo brasileiro vão cuidar para as coisas serem harmônicas. O que não dá é para a gente deixar de ser verdadeiro.
O presidente Trump contou três inverdades com relação ao Brasil. Ele contou que aqui não tem direito humano e democracia por causa do julgamento do ex-presidente. A gente só está julgando porque aqui tem democracia e tem respeito à presunção de inocência. Segundo, ele disse que não pode o Brasil ficar regulando as big techs dele. Aqui no Brasil a gente regula toda empresa, brasileira ou estrangeira, que estiver no território brasileiro, porque a lei aqui vale para todos. Terceiro, dizer que ele está multando o Brasil porque tem um déficit comercial. Essa é uma mentira hilariante que você precisa falar todo dia nos seus programas, César.
Em 15 anos os Estados Unidos tiveram um superávit de 410 bilhões de dólares com relação ao Brasil. Em 15 anos, 410 bilhões. Então não venha dizer que tem déficit comercial. Déficit tem o Brasil. Agora, o que eu respeito é que nós temos uma relação de 201 anos de relação diplomática. Eu já convivi com o Clinton [Bill, ex-presidente dos EUA], já convivi com o Bush [George, ex-presidente dos EUA], já convivi com o Obama [Barack, ex-presidente dos EUA], já convivi com o Biden [Joe, ex-presidente dos EUA] e eu esperava conviver com o Trump, sabe, como deve ser a convivência de doi chefes de Estado. Eu não quero saber o que o Trump pensa politicamente e ele não tem que saber o que eu penso politicamente.
Jornalista César Filho: Tem uma frase sua, inclusive, que o senhor disse, quando se é chefe de Estado você não escolhe a pessoa com quem quer conversar. Mas não passou da hora de dar uma…
Presidente Lula: Não, não passou da hora porque ele não quer conversar. É importante vocês dizerem em alto e bom som. Ele não quer conversar. Eu tenho Alckmin, Haddad [Fernando, ministro da Fazenda] e Mauro Vieira [ministro das Relações Exteriores] para conversar. Pergunte se alguém tem um interlocutor. Não tem interlocutor. Os americanos estão tendo um comportamento político com relação ao Brasil. E nós estamos muito tranquilos porque na hora que eles quiserem negociar… Eu disse outro dia “o Lulinha paz e amor está de volta”. Eu nasci na política aprendendo a negociar. Você está lembrado quando eu fazia as greves mais importantes nesse país? Fazia as greves de dia e de noite eu estava sentado na mesa de negociação com os sindicatos e com os empresários. Se tem uma coisa que eu aprendi a fazer, foi negociar. E negociar com magnatas. Portanto, o dia que o Trump quiser negociar, ele tem um metalúrgico preparado para negociar com ele.
Jornalista César Filho: Mas o senhor trouxe aqui vários nomes que passaram pelos Estados Unidos que sempre foram considerados uma nação democrática. E hoje existe um alinhamento mais do Brasil com a China que não é um país democrático, presidente. Como é que isso nós explicamos isso?
Presidente Lula: Não tem alinhamento do Brasil com a China. Você é um jovem de 60 anos, bem informado. Deixa eu lhe falar uma coisa. O Brasil, ele produz. O Brasil quer vender seus produtos. E a gente vende para quem quer comprar. Eu vou dar só um exemplo para você. Se você fosse um comerciante e você tivesse um país como os Estados Unidos, que comprou 40 bilhões de dólares seu, e você tivesse um outro que comprasse 160. Para quem que você iria vender?
Jornalista César Filho: 160.
Presidente Lula: Um dado concreto é que a China hoje... Isso é importante para o povo brasileiro saber. O comércio do Brasil e China hoje é simplesmente o dobro do comércio com os Estados Unidos. Com a vantagem é que com a China, o Brasil é superavitário. Com os Estados Unidos, o Brasil é deficitário. Essa é a vantagem. Então, no ano passado, só por exemplo, no ano passado nós exportamos 40 bilhões e importamos 47. Tivemos um déficit de 7 bilhões. Mas se você colocar serviços, nós tivemos um déficit de 23 bilhões. Então, não tem essa... O Brasil não quer privilegiar o Uruguai, a Argentina, a Bolívia, não. Nós fazemos negócio com quem quiser fazer negócio conosco.
Nós vendemos para quem quer comprar. E nós compramos de quem quer vender. Se os Estados Unidos acham que o seu presidente virou imperador e que ele pode ficar ditando regra para o mundo, eles vão ver o que pode acontecer. Porque o que vai acontecer nos Estados Unidos, e eu estou dizendo, é que o povo americano vai pagar mais caro os produtos que eles estão comprando. Vai pagar mais caro o suco de laranja, vai pagar mais caro o café, vai pagar mais caro qualquer coisa que eles comprem da gente. Então, foi um risco que eles fizeram. Vamos ver o que vai acontecer.
Eu quero que todo mundo saiba, o Brasil é defensor do multilateralismo, que foi a coisa que permitiu que o mundo vivesse mais em harmonia a partir da Segunda Guerra Mundial. O presidente Trump, ao contrário, quer unilateralismo. Ele quer negociação Estado com Estado. O que acontece Estado com Estado? Quando você é um país grande, tem a maior economia do mundo, e você vai negociar com um país pequeno, o que acontece? A prevalência da força do grande contra o pequeno. Então, o que nós queremos? Na Organização Mundial do Comércio, que foi criada para isso, que a gente pode fazer o multilateralismo ganhar força, e a gente negocia em igualdade de condições, sempre levando em conta que os países maiores têm que ser generosos com os países menores.
É assim que deve ser o negócio. Então, se essa gente não sabe negociar, eu passei a minha vida inteira negociando. Estou disposto a negociar com quem quiser negociar.
Agora, a China é um parceiro muito importante para nós. A China pode nos trazer conhecimento científico, tecnológico, como ninguém. A China hoje está dando um banho na questão dos carros elétricos. A China é o único país do mundo mais preparado para explorar.
Jornalista César Filho: Mas vai ter aumento do imposto a partir do ano que vem, não é isso? Aumenta o imposto a partir do ano que vem de carros elétricos chineses ou de qualquer outro país, não é isso?
Presidente Lula: Nós iremos fazer aumento de taxação em qualquer produto estrangeiro que esteja prejudicando o produto brasileiro. Nós trabalhamos para que a indústria brasileira seja forte, seja competitiva. E nós temos que elogiar a competência da China, que em 30 anos virou essa potência mundial que virou.
Jornalista César Filho: Agora, presidente, recentemente o presidente americano Donald Trump adoeceu, muitas especulações chegaram a dizer, inclusive, que ele morreu. O mesmo aconteceu com o senhor. Falaram que o senhor morreu, presidente. Colocaram vídeos falando que a orelha estava diferente, que a voz não era original. Eu estou falando com quem hoje? Com qual deles?
Presidente Lula: Eu só fico esperando o dia que digam que eu estou mais bonito. Porque a verdade é que essa loucura da internet, é por isso que eu não chamo de rede social. Eu chamo de rede digital, porque ela facilita muito as inverdades. Eu já sou aqui, eu já sou o quinto Lula. Eu já sou a quinta versão do Lula. Se a Dona Lindu soubesse que eu pudesse ser transformado assim, ela não teria tido a dor de me colocar no mundo. Teria me feito bionicamente. É um absurdo essas coisas. É por isso que eu acho que nós precisamos regular as empresas, porque você não pode brincar com a verdade.
Jornalista César Filho: Não é uma censura?
Presidente Lula: Não é uma censura. Quando você fala em regular, você fala em censura, é que o país tem que ter regra. Aquilo que vale na vida real, vale na vida digital. Se eu, na vida real, falar mal de você, contar mentiras, levantar um falso testemunho e eu estou cometendo um crime, eu posso ser julgado, na rede digital também, César. Como é que a gente vai permitir a prática de crime, a instigação à violência sexual para crianças e adolescentes? Como é que você vai permitir a transmissão do ódio contra negros, contra mulheres, contra LGBTQIA+. Como é que é possível você permitir que o ódio seja estimulado 24 horas por dia? O ódio não tem que ser estimulado. O que tem que ser estimulado é a paz, a harmonia, a tranquilidade, a boa convivência democrática. O que tem que ser divulgado é a civilidade entre a espécie humana. É por isso que nós queremos regular e vamos regular. Doa a quem doer.
Jornalista César Filho: Nós estamos chegando no finalzinho da entrevista. Agradeço o seu tempo.
Presidente Lula: Estamos chegando no final porque você quer.
Jornalista César Filho: Mas eu quero perguntar, ontem o senhor esteve no lançamento do Gás do Povo. Quero que o senhor fale um pouco sobre isso. Quantas famílias serão beneficiadas?
Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Nós trabalhamos com a hipótese de beneficiar 15 milhões e meio, podendo chegar a 17 milhões de famílias, que daria 55 milhões de pessoas. Esse é o programa Gás do Povo. Por quê? Porque o gás, César, ele sai da Petrobras a R$ 37. O botijão de 13 quilos. Ele chega para o consumidor em alguns estados a R$ 140. Então nós resolvemos ajudar as pessoas mais humildes a ter o gás. A segunda coisa, estão usando muita lenha e muito álcool e isso é mais perigoso.
Tem muita gente aparecendo queimada nos hospitais por conta disso. Então é uma atitude nossa de fazer com que a inclusão social dessas pessoas favoreça com que eles recebam um botijão de gás.
A segunda coisa importante é que nós criamos também uma política de beneficiar mais de 100 milhões de pessoas, que é o seguinte. Hoje no Brasil, quem consome até 80 quilowatts de energia não paga mais nada. Quem consome até 120 vai pagar a diferença entre 80 e 120, que é para beneficiar as pessoas que são mais pobres. Porque no Brasil os ricos estão no mercado livre e os pobres estão no mercado regulado. Com a política de subsídio que o governo dá para favorecer as empresas, significa que o pobre paga essa despesa. Então é inacreditável que o pobre pague mais caro a energia do que o rico. Nós fizemos isso para garantir que os pobres recebam energia barata e quando chegar em janeiro vai reduzir mais 11,8% o preço da energia nesse país.
Da mesma forma nós fizemos com o Pé-de-Meia. Sabe por que nós criamos um programa chamado Pé-de-Meia? Porque nós descobrimos que 480 mil jovens por ano desistem do Ensino Médio para poder ajudar no orçamento familiar.
Jornalista César Filho: É verdade.
Presidente Lula: O que a gente fez? A gente criou uma poupança para que esse jovem receba R$ 200 por mês durante o ano inteiro. No final do ano, se ele passar, receberá mais R$ 1 mil. Nos três anos, vai receber R$ 9 mil para que ele continue na escola. E também criamos uma poupança para o aluno do Enem que tira a melhor nota que quiser ser professor. Porque as pessoas não querem mais ser professor. Então nós queremos incentivar que os de melhor qualidade sejam professores, da mesma forma que estamos fazendo escola de tempo integral. Porque nós queremos que as crianças sejam mais protegidas dentro de sala. A mãe fique mais livre para trabalhar e o pai, e a criança fique protegida numa escola. Já temos 1 milhão de crianças e vamos chegar a 100% dos brasileiros.
É por isso que nós estamos criando mais Institutos Federais, mais 100 Institutos Federais nesse mandato. Nós vamos terminar o mandato com 782 Institutos Federais. Quando eu cheguei, em 100 anos a elite brasileira tinha construído 140. Nós, em menos de 15 anos, vamos entregar 782. Por quê? Porque a educação é a melhor forma e a mais eficaz de você fazer o Brasil ser um país competitivo, competir com a China, competir com os Estados Unidos, melhorar a qualidade de salário das pessoas, a quantidade de trabalho e esse país viver em paz.
Jornalista César Filho: O senhor me disse isso no ano passado, quando da estreia do Novo SBT Brasil, quando eu retornei ao SBT, e me disse para que voltasse aqui em 2026 para cobrar o senhor com relação a tudo isso. Eu voltei um pouco antes até, em virtude de tudo que nós estamos vivenciando no país e no mundo, para saber a sua opinião. Agora, no ano passado, o senhor me disse o seguinte: “eu peguei uma terra arrasada. É um período de plantio para colheita no ano que vem”. Agora, em 2025, o senhor repetiu a mesma frase. A colheita virá para o brasileiro em 2026?
Presidente Lula: Nós já começamos a colher. Tudo isso aqui é colheita. Tudo isso aqui foi coisa plantada. Porque você não faz um projeto desse do dia para a noite. Um projeto é discutido. É discutido comigo, depois vai para a Fazenda, depois vai para a Casa Civil, depois vai para a Justiça. É um processo. É que nem plantar uma coisa mesmo. Você tem que arar a terra, tem que adubar a terra, tem que jogar semente, tem que cobrir a semente, tem que jogar água, se não chover, para depois você começar a colher. Ninguém planta um pé de jabuticaba e no dia seguinte está chupando jabuticaba. Então, meu caro, é o seguinte, nós estamos na colheita mais certa desse país. Eu vou lhe dar um dado importante.
Esse país, a última vez que ele tinha crescido acima de 3% foi quando eu fui presidente da República em 2010. Só voltou a crescer acima de 3% agora que eu voltei para a Presidência, há dois anos. Esse país estava há sete anos sem aumentar o salário mínimo. Aumentou agora que eu voltei para a Presidência. Esse país há sete anos não aumentava a merenda escolar. Voltou a aumentar agora que eu voltei para a Presidência. Esse país não tinha mais Ministério da Cultura. Hoje nós temos o Ministério da Cultura e, com a Lei Rouanet e a Lei Aldir Blanc, nós estamos fazendo o maior investimento da história de 525 [anos] desse país na cultura, passando dinheiro para todos os estados e para todas as prefeituras. Esse país não tinha Ministério da Igualdade Racial, não tinha Ministério da Mulher, não tinha Ministério Indígena, não tinha Ministério de Direitos Humanos. Nós reconstruímos tudo.
Esse país tinha mais de 147 mil casas começadas no governo da Dilma [Rousseff, ex-presidente do Brasil e atual presidente do Banco do BRICS] paralisadas. Nós estamos refazendo tudo isso e vamos entregar mais 3 milhões de casas até o final do mandato. Então, meu caro, é o seguinte, você vai me entrevistar outra vez e aí eu vou trazer uma lista de tudo o que eu fiz e vou entregar para você.
Jornalista César Filho: Quando o senhor fez o convite para mim, no ano passado, para que eu estivesse aqui em 2026, está mantido? Podemos marcar já? E eu quero dizer o seguinte, em 2026, o senhor vai assumir que vai ser candidato à reeleição ou não? Aí já vai estar próximo a eleição.
Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa primeiro, já que está para terminar o programa. Se você pegar, presta atenção no que eu vou te falar, César, não é presunção, não. Você pode pesquisar. Se você pegar esse país, desde que foi proclamada a República em 1889 até o dia de hoje, você vai perceber que teve dois presidentes que fizeram políticas de inclusão social nesse país. O primeiro deles foi Getúlio Vargas, que mesmo quando era ditador, entre 1930 e 1945, ele fez o salário mínimo e ele fez a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], que empresariado de São Paulo nunca aceitou Getúlio por conta disso, porque ele tirou o povo da semi-escravidão e deu cidadania. Depois do Getúlio, veja qual foi o presidente que fez política de inclusão social.
Jornalista César Filho: Mas falando em CLT, eu quero encerrar, porque eu sei que o senhor tem uma agenda complicada aqui. O ministro Gilmar Mendes, ele está falando da pejotização das empresas e falando que a CLT está um pouco parada no tempo.
Presidente Lula: Deixa eu lhe falar. Uma coisa é você saber que depois de 1943 até agora, o mundo do trabalho mudou. Então o que você precisa não é acabar com a CLT, é reestruturá-la para adequá-la ao tempo de hoje. Tudo na vida muda e você tem que ir atualizando. Mas acabar com a CLT é você acabar com aquilo que existe de maior segurança que o trabalhador brasileiro já teve. Se os empresários quiserem ir acabando com a CLT, eles vão ter que ficar muito amadurecidos e fazer uma coisa chamada contratação coletiva de trabalho, que muitos empresários não querem fazer. Eu fui dirigente sindical há muito tempo, César. A gente pedia para fazer contrato coletivo de trabalho, os empresários preferiam ir na Justiça, porque a Justiça sempre, sempre, sempre dava aquilo que eles queriam e não aquilo que a gente queria.
Então é o seguinte, esse país, para encontrar uma solução, tem que fazer como eu e você estamos aqui, sentar na mesa, colocar todas as divergências e começar a procurar as concordâncias para que a gente possa construir o país do futuro que esse país precisa.
Jornalista César Filho: Terminando a entrevista, presidente, muitíssimo obrigado mais uma vez por nos receber. O senhor vai aguardar 2026 para lançar a sua reeleição, ou a gente pode dizer que o senhor já é candidato?
Presidente Lula: Eu vou aguardar, eu tenho que terminar, eu tenho muita coisa para fazer ainda, muita coisa. Eu ainda vou lançar um programa de reforma de casa, para liberar dinheiro para o povo que quiser reformar a casa. Se você quiser reformar a sua casa, você vai poder pegar o dinheirinho na Caixa Econômica para reformar. Porque tem gente que não quer comprar casa, tem gente que quer fazer um banheiro, fazer um quarto, fazer um puxadinho. Nós vamos fazer uma política de financiamento e nós vamos anunciar a maior política de financiamento para a construção civil que já aconteceu nesse país. Para construir sabe o quê? Casa. Casa para o povo brasileiro. Vamos ver se a gente acaba com o déficit de casa nesse país, que desde 1974 está em 7 milhões.
Jornalista César Filho: No ano que vem eu vou estar aqui com a ajuda de Deus para cobrar tudo isso do senhor.
Presidente Lula: Se você estiver aqui e eu estiver com o estado de espírito que eu estou hoje, com a saúde que eu estou hoje, eu posso te dizer que eu não tenho dúvida de que serei candidato a presidente da República.
Jornalista César Filho: Era isso que eu queria, presidente, muito obrigado.
Presidente Lula: Um abraço.
Jornalista César Filho: Um abraço, um prazer, obrigado.