Entrevista do presidente Lula ao programa Balanço Geral (PE)
Jornalista Ciro Guimarães: Boa tarde a todos que acompanham o Balanço Geral Pernambuco. Nesse dia de hoje, o Presidente Lula, que está aqui com a gente nessa entrevista exclusiva para o Balanço Geral, cumpre duas agendas importantes aqui no estado de Pernambuco, uma em Ipojuca, outra em Cupira, no agreste do estado. Mas hoje, aqui no Balanço Geral, a gente recebe com exclusividade o presidente Lula. Presidente, muito obrigado por aceitar esse convite.
Presidente Lula: Boa tarde, Ciro. É um prazer voltar a Pernambuco, sobretudo para entregar coisas que nós prometemos durante o processo de campanha. Hoje, a minha visita tem duas coisas importantes. Primeiro, a inauguração de uma barragem, a Panelas II, que é a segunda que eu vou entregar. Tem mais uma já em andamento, mais uma eu vou dar ordem de serviço hoje e tem uma que está fazendo projeto. São cinco.
Eu espero que a gente possa entregar todas, porque a gente quer resolver o problema de água no estado de Pernambuco. E também a refinaria, que hoje nós vamos dar o pontapé inicial e a refinaria vai sair de 130 mil barris/dia para 260 mil barris/dia.
Ou seja, nós vamos produzir o equivalente a 13 milhões de litros de biodiesel da melhor qualidade, S10, que é o melhor combustível que a Petrobras produz, e fazer com que se gere muito emprego, porque nós vamos fazer um investimento só da Petrobras de R$ 8,3 bilhões. É mais emprego, por volta de 15 mil empregos que nós vamos gerar durante todo o processo, e eu acho que vai dar ao Brasil muito maior capacidade de autonomia, inclusive na questão do diesel.
Jornalista Ciro Guimarães: Quando o senhor esteve aqui na refinaria, o senhor tinha falado isso, que o Governo Federal ia voltar os olhos para a refinaria Abreu e Lima. Chegou a hora de impulsionar a Abreu e Lima mais uma vez nesse Trem 2 agora?
Presidente Lula: Chegou a hora de terminar. Chegou a hora de terminar. O Brasil já é autossuficiente em petróleo. Nós achamos que aqui vai atender uma parte muito importante do Nordeste. Acho que o Brasil pode voltar a ser exportador de óleo diesel, exportador de gasolina, na medida em que a gente comece a descobrir mais poços de petróleo altamente produtivos.
E eu estou muito feliz, porque essa refinaria aqui é um sonho. É um sonho muito antigo, muito antigo. Eu lembro da briga dos governadores de vários estados atrás de uma refinaria e aí me disseram o seguinte: “Quem conseguir a refinaria, ela vai ser feita aqui”. E, por acaso, o Chavez [Hugo, ex-presidente da Venezuela] veio aqui. E o Chavez, então, topou fazer uma sociedade. Eu fiz a sociedade com o Chavez, só que ele não colocou o dinheiro. Depois ele morreu, então nós tivemos que fazer a refinaria sozinha.
Mas eu acho que o Nordeste merece, acho que Pernambuco merece. E acho que para o Brasil é uma coisa extraordinária, sobretudo nesse momento que a gente está nessa guerra de transição energética, que a gente quer utilizar a Petrobras como modelo de que é possível, mesmo você utilizando o petróleo, você ter uma energia altamente limpa.
E nós temos já 15% de biodiesel no óleo diesel e nós temos 30% de etanol na gasolina.
Nós temos o óleo diesel, a gasolina melhor, com menos emissão de gases de efeito estufa do mundo.
E só para você ter ideia, que é uma novidade que eu vou lhe contar aqui, eu vou a Hanôver na Alemanha, na maior feira industrial do mundo, em abril. E fiz um desafio ao presidente da Mercedes-Benz, um desafio ao primeiro-ministro da Alemanha, que eu quero fazer um teste com o óleo diesel e com a gasolina brasileira na Alemanha, para ver qual é o combustível que emite menos CO2.
Porque eu estou cansado de ver eles querendo ensinar a gente. Eu quero mostrar para eles que o que eles estão prometendo fazer em 2040, nós fazemos hoje com a emissão de gás de efeito estufa.
Jornalista Ciro Guimarães: Outra obra importante que é a Transnordestina, que a gente ficou naquela preocupação se ela vinha para Pecém, no Ceará, se ela chegaria em Pernambuco, finalmente foi batido o martelo, a licitação foi feita em outubro. A Transnordestina veio para Pernambuco, é uma obra também importante para o Governo Federal?
Presidente Lula: Ô,Ciro, eu tenho uma tristeza muito grande de não ter inaugurado ainda a Transnordestina. Eu prometi ao meu velho companheiro saudoso, Miguel Arraes [ex-deputado federal], que foi um pedido dele para mim depois de um comício no Crato, se eu ganhasse as eleições, se eu faria a Transnordestina.
Eu prometi a ele o que eu ia fazer. Mas nós começamos a fazer. Na verdade, ela era para ser inaugurada em 2012, mas de tanto vai e vem, de tanta paralisação, de tanto processo, de tanta confusão… Só eu fiz 31 reuniões com o Eduardo Campos, com o governador Cid [Gomes] do Ceará, com o Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome]. Somente eu fiz 31 reuniões para a gente resolver todos os probleminhas que tinha.
Não foi possível inaugurar, mas eu voltei, eu retomei ela porque eu quero inaugurar. Eu posso te dizer que a gente vai inaugurar, eu vou te dizer para inaugurar essa ferrovia que vai ser extremamente importante para o Brasil, vai ser muito importante para o Nordeste e vai ligar dois estados importantes e dois portos muito importantes, não só para exportação, mas para receber produtos importados também.
E eu acho que ela já começou agora, outra vez, a funcionar em Pernambuco, ela vai começar a transitar para cá, nós vamos terminar também o Ceará e eu vou te dizer para você, eu vou realizar o meu sonho, eu vou inaugurar essa ferrovia.
Jornalista Ciro Guimarães: Outra obra importante que o ministro José Múcio [ministro da Defesa] esteve aqui recentemente é a escola de sargentos. O Governo Federal já está dando o start de R$ 150 milhões, uma obra importantíssima, não só para a defesa do Brasil, mas para o Nordeste também, porque é um investimento muito alto. Também está no olhar do Governo Federal?
Presidente Lula: Também está no olhar, não, nós já vamos começar. O José Múcio já colocou 150 milhões de reais. É o seguinte, porque tinha muitos estados querendo fazer essa escola de sargentos e eu disse várias vezes à governadora Raquel [Lyra, governadora de Pernambuco]: “Vamos fazer, Raquel, vamos fazer”. Se tem um problema ambiental, vamos tentar resolver o problema ambiental. Vamos tentar conversar com as pessoas.
O meu advogado-geral da União, o Messias [Jorge], deu uma autorização, disse que era legalmente possível fazer e nós vamos fazer. Então Pernambuco também vai receber a escola de sargentos, que vai ser única no Brasil. E é um investimento de quase 2 bilhões de reais. É uma coisa extremamente importante, não só para Pernambuco, mas para o Brasil.
Você vai ter uma escola centralizada em que a gente vai formar todos os sargentos do Exército Brasileiro e tem muitas mais coisas, tem muitas mais coisas, porque se tem uma coisa que eu tenho que dizer é que o PAC, ele previu, quando a gente lançou ele em 2023, 45,9 bilhões de reais para Pernambuco, dos quais R$ 22 bilhões já foram executados.
E tem muita coisa em andamento, tem muito projeto em andamento e a gente vai concluir, se Deus quiser. Eu sou inimigo de obras paradas. Eu sou inimigo. Você sabe que no Brasil a gente tem um problema muito sério, que é o seguinte: você começa uma obra, daqui a pouco tem um processo, um juiz para, você leva um ano para retomar.
Você está lembrando que eu contava uma história, quando a gente começou a transposição do São Francisco, numa explosão de umas pedras lá, um general que estava fazendo uma parte da obra achou uma pedra e ele ousou dizer em voz alta: “Nossa, isso aqui parece uma machadinha indígena”. Por conta dessa frase, a obra foi suspensa por nove meses, para se estudar se era uma machadinha indígena.
Então, nós temos esse problema que é do Brasil e que, ao invés de a gente ficar nervoso, a gente tem que sorrir e tocar o barco para frente porque as coisas estão acontecendo. Parecia impossível voltar a ser presidente da República para fazer as coisas que eu comecei.
E eu agora estou brigando há seis meses para fazer uma maquete sobre a transposição do São Francisco, porque ninguém tem noção do que é a transposição do São Francisco.
O todo da obra. Eu posso te afirmar que talvez seja a maior obra hídrica no mundo, pela quantidade de canais e pela quantidade de extensão de quilômetros ligando açude com o açude, e tornando uma área que não tinha água, em uma área perene de água.
Nunca mais vai faltar água nos açudes brasileiros. E isso nós vamos beneficiar quase 13 milhões de famílias, que depois entra a parte do prefeito e dos governadores que vão fazer com que a água chegue até a torneira das pessoas, até o chuveiro das pessoas. É isso que eu quero. E esse é um sonho que eu vou realizar.
Jornalista Ciro Guimarães: Presidente, o senhor recentemente assinou o decreto da isenção até R$ 5 mil do Imposto de Renda, o senhor já batizou como 14º salário e isso é uma vitória para o povo brasileiro porque acho que, em 2026, o senhor falou que vai sobrar um dinheirinho para quem está em casa ali trocar a televisão, assistir a Copa do Mundo. Como é que o governo enxerga essa isenção do Imposto de Renda?
Presidente Lula: Eu acho que foi uma conquista histórica do povo brasileiro. Porque no Brasil nós temos um problema muito sério, que é o seguinte: o pobre, proporcionalmente, paga mais imposto do que o rico. Porque mesmo quando o rico paga imposto, ele coloca no custo do produto que ele vende. Quem termina pagando é quem compra.
O pobre não, o pobre vai comprar um quilo de produto para comer, paga imposto. Ele vai comprar uma coisa, paga imposto. Ou seja, então o que nós fizemos foi isentar, quem ganha até 5 mil reais vai pagar zero e quem ganha até R$ 7.350 vai pagar menos imposto de renda.
Nós estamos beneficiando quase que 90% da população brasileira. Essa é a verdade, porque o Brasil é um país pobre. Então, isso vai permitir para uma pessoa que ganha 4.800 reais por mês um acúmulo de recursos de 4 mil reais. No fundo, no fundo, será um décimo quarto salário no bolso da pessoa para ela comprar o que ela quiser.
Para ela guardar, para ela poupar, para ela gastar, para ela fazer presente, dar presente para o namorado, dar presente para o filho, dar presente para a mãe, dar presente para a sogra. Receber presente do marido. É assim que a gente quer.
Porque tem uma coisa na minha cabeça, Ciro, que é o seguinte. Olha, preste atenção. Muito dinheiro na mão de poucos significa concentração de miséria, que a maioria do povo é pobre. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza.
Então, quando você mostra o número de que 63% das pessoas brasileiras, ou seja, as pessoas mais ricas não pagam imposto e quem paga imposto são as pessoas mais pobres. A gente fica pensando o seguinte: a riqueza do Brasil é acumulada, 63% da riqueza do Brasil é acumulada por 1% da população. E a maioria da população fica só com 2%.
Jornalista Ciro Guimarães: Para quem está de casa entender, já vale no próximo ano? Já começa no próximo ano?
Presidente Lula: Já começa a partir de janeiro. Começa a partir de janeiro. E tem mais coisa que nós temos que fazer, porque senão a gente não vai construir o mundo justo que precisa criar.
Eu vou te dar um exemplo: um cidadão que é acionista de uma empresa recebe dividendos no final do ano…. Eu vou dar um exemplo: a Petrobras, no ano passado, pagou 45 bilhões de reais de dividendos. Zero de imposto de renda.Agora, se você, na sua televisão, se você ganhar participação no lucro de 10 mil reais, você vai pagar.
Então, por que o trabalhador tem que pagar e o cara que ganha muito não tem que pagar? Qual é a lógica da política tributária? Então, isso nós vamos fazer um debate muito grande no processo eleitoral.
O povo vai ter que ir aprendendo a dizer o seguinte: “Não adianta colocar a raposa para tomar conta da galinha, que ela vai comer as suas galinhas”. Então, o povo, na hora de votar, ele vai ter que começar a escolher as pessoas que vão fazer as coisas que ele sonha que seja feito.
Eu não posso sonhar querer um benefício e votar no inimigo daquele benefício para ser meu deputado, meu governador, meu senador, meu presidente. Então, nós temos que ter todo um trabalho de politização da sociedade para que, na hora que ele for votar, ele compreenda que o voto dele é uma coisa sagrada para os interesses dele. Não é para os interesses dos outros, é o dele.
É como se você estivesse escolhendo um compadre. Você tomaria um inimigo para ser padrinho do teu filho?
Jornalista Ciro Guimarães: Jamais.
Presidente Lula: Quem você escolhe para ser padrinho do teu filho?
Jornalista Ciro Guimarães: Um melhor amigo.
Presidente Lula: Uma pessoa que você gosta. Uma pessoa que você confia. É assim que a gente tem que escolher em quem a gente vota.
Jornalista Ciro Guimarães: O Brasil chegou, presidente, agora a níveis de desemprego, batendo recordes do nível...
Presidente Lula: O menor da história.
Jornalista Ciro Guimarães: Só que aqui no Nordeste a gente ainda tem um nível de desemprego ainda um pouco alto. Pernambuco acima dos 8, 9%. Como reverter essa situação que o Brasil já está conseguindo, mas trazer isso para o Nordeste?
Presidente Lula: Para nós, o interesse é dividir isso para todo o Brasil. O que nós queremos com a Nova Indústria Brasil é também mais investimento no Nordeste brasileiro, mais investimento no Norte.
Nós não queremos deixar as regiões brasileiras de forma desiguais, como sempre foram. O que nós queremos é criar oportunidade para que todos os estados possam ter... Eu, por exemplo, fui inaugurar uma indústria de automóveis em Fortaleza. Da mesma forma que eu inaugurei em Goiânia, vão vir novos carros para Goiânia.
Vou inaugurar o Instituto Federal em Goiânia, que vai trazer mais formação qualificada para as pessoas. Estamos fazendo um hospital novo aqui em Recife. O que nós queremos, na verdade…. O Minha Casa Minha Vida, nós já estamos investindo quase 3 bilhões de reais.
São 1 milhão e 900 mil casas. Só aqui em Pernambuco são 79 mil casas, fora 10 mil que nós já recuperamos. Então, é isso que vai gerar emprego. Investimento gera emprego. Transferência de dinheiro para a mão do pobre gera emprego. Porque se... Eu digo sempre a seguinte história, Ciro.
Se eu tenho 1 milhão de reais e eu dou para uma pessoa só, aquela pessoa vai correr no banco, vai abrir uma conta bancária e vai viver de juros daquele dinheiro. Mas se eu pego esse 1 milhão e divido para 100 pessoas, cada um vai pegar um pouquinho, cada um vai comprar o que comer, vai comprar o que vestir, vai comprar o que calçar, e a economia começa a girar. É esse que é o milagre da economia.
Você imagina um negócio, Ciro. Muitas vezes o povo esquece. Você sabe qual foi a última vez que esse Brasil cresceu acima de 3%? Quando eu era presidente em 2010. Depois que eu deixei a Presidência, nunca mais a economia brasileira cresceu a 3%. Eu voltei, já cresceu 3.2%, 3.4%, e vai crescer também mais de 3%.
Só para você ter ideia da gravidade desse país. Quando eu deixei a Presidência em 2010, o Brasil vendia 3,6 milhões de carros por ano. Quando eu voltei, o Brasil só vendia 1,6 milhão. Menos da metade do que a gente vendia em 2010.
Agora nós estamos com 2,2 milhões, mais ou menos, e vamos recuperar. Porque é isso, o dinheiro tem que circular, as pessoas têm que ter acesso ao dinheiro. Se o dinheiro circular, todo mundo vai comprar alguma coisa.
E quem ganha com essa distribuição de dinheiro é o rico. É o rico, porque o pobre não vai abrir conta em dólar, o pobre não vai depositar nos Estados Unidos. O pobre vai comprar o que comer, vai comprar o que vestir, vai comprar um televisor, uma geladeira. Quem é que produz isso? É o empresário. E quem é que vai ganhar? O empresário.
Quando a gente começou o programa Luz para Todos, tem uma história que eu gosto de contar. Quando você começou o Luz para Todos, as pessoas diziam: “Ah, mas o Lula faz política só para o pobre, só para o pobre que não tem luz elétrica”.
O cara não tem noção. Quando você coloca uma luz na casa da pessoa, a primeira coisa que tem é uma revolução dentro daquela casa. Ele vai comprar uma geladeira, vai comprar um televisor, vai comprar um liquidificador, vai comprar um monte de coisa, uma bomba, vai eletrificar uma casa de fazer farinha.
Então, a revolução é no centro da cidade. É para classe média. É para o empresário que produz a geladeira, o micro-ondas. Então, se as pessoas compreenderem o todo... E é por isso que eu vivo um momento muito feliz na minha vida.
Eu tenho muito orgulho pelo seguinte: nós estamos vivendo a maior criação de emprego da história do Brasil, o menor desemprego, a melhor média salarial da história do Brasil, o maior crescimento da massa salarial.
Só para você ter ideia, vou te dar o número da saúde aqui. Aqui em Pernambuco, na questão da saúde, só para você ter ideia, nós temos no Brasil, do Mais Médicos, 27 mil médicos. Em Pernambuco, são 1,7 mil médicos. 97% a mais do que em 2022, que só tinha 874.
Eu vou repetir. Em 2022, a gente só tinha, atuando em Pernambuco, 874. Hoje, nós temos mil e 700 médicos atuando em Pernambuco, pelo Mais Médicos. É 97% a mais do que a gente tinha em 2002. O que significa isso? Melhoria de qualidade de vida do povo mais pobre desse país.
E agora, você vai ver aqui em Pernambuco, se você não viu, você vai ver. Nós compramos 800 ambulâncias, que é um ambulatório odontológico, com máquina 3D, para tirar molde da boca das pessoas, sem precisar colocar aquele negócio com cera. É fotografar e fazer uma prótese bem feita.
Aqui no Nordeste, sabe como é que eles faziam? Pegava cesta de dentadura e levava para os comícios para o povo experimentar. Então, agora, eu tenho ambulância com laboratório, com prótese, com dentista, para fazer tratamento de dente, ortodontia, tratamento de canal. Ou seja, tratar o povo com decência, com respeito e dignidade, que é isso que o povo merece.
Então, esse país vai mudar. Esse país vai mudar e vai mudar muito, muito, muito. Como eu disse no meu programa de televisão, domingo à noite. A gente já recuperou o Brasil para a décima economia.
Logo, vamos estar na oitava economia. E eu sonho que se o Brasil continuar nesse ritmo, a gente vai chegar à sexta economia do mundo.
Jornalista Ciro Guimarães: Falando um pouquinho de eleição, presidente, o senhor é pré-candidato já na frente nas pesquisas. Aqui em Pernambuco, o senhor pode encontrar dois palanques. A governadora Raquel Lyra, tem o João Campos [prefeito de Recife]. Como é que fica esse coração do presidente Lula aqui em Pernambuco para 2026?
Presidente Lula: Eu, aqui em Pernambuco, eu tive a primazia de fazer um palanque só com o Humberto [Costa, senador] e com o Eduardo Campos. Não sei se você está lembrado. Era um palanque só. Estavam lá os eleitores do PSB, do PT. Ninguém vaiava ninguém. E eu dizia: “Quem for para o segundo turno vai ser o nosso candidato”. E deu certo.
Eu não sei como é que vai ser. Eu não sei como é que vai ser, mas ainda está cedo. Eu, provavelmente, serei candidato a presidente da República. Obviamente que eu tenho que consultar o meu partido. Eu tenho que consultar aliados. Eu tenho que levar em conta que eu tenho 80 anos e eu, para ser candidato, eu tenho que estar 100% com saúde. Tenho que estar 100%.
Se eu estiver como eu estou hoje, que eu estou querendo viver 120 anos, eu acho que estou em perfeitas condições. Mas, obviamente, eu tenho que consultar pessoas porque eu tenho que respeitar muito os interesses do povo brasileiro. E, se for necessário ser, eu serei candidato.
A única coisa que eu vou te dizer é o seguinte. Se depender do meu esforço físico, se depender da minha vontade, essas tranqueiras que governaram o país nunca mais voltarão a governar.
Esse país pode ter alternativa, pode eleger quem quiser, pode eleger baixo, alto, pobre, rico, branco, preto, pode eleger quem quiser, homem, mulher. Agora, o que não dá é para eleger tranqueira.
Uma pessoa que deixou morrer 700 mil pessoas por falta de responsabilidade, uma pessoa que acabou com o Ministério da Cultura, uma pessoa que acabou com o Ministério da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, da Mulher, uma pessoa que não investiu em nada, porque investir em cultura era investir em pornografia. Esses negacionistas não podem voltar a governar esse país, pelo amor de Deus.
Então, eu, se for necessário para evitar isso, eu serei candidato. E, se for candidato, vou ser candidato para ganhar. Mas eu espero que a gente tenha muita gente boa para ser candidato.
Vamos ver. Vai chegar no meio de março, por aí, é que a gente vai definir as coisas direitinho. O que eu quero, por enquanto, Ciro, é cumprir com os meus compromissos com o povo brasileiro.
Eu quero entregar esse país, um país decente, um país digno, um país… Nós estamos tendo hoje, Ciro, o maior investimento na cultura da história do país. Só o estado de Pernambuco recebeu, dos primeiros R$ 7,5 bilhões, R$ 350 milhões para investimento em cultura. Coisa que não tinha. Coisa que não tinha, porque a cultura era toda distribuída no eixo Rio-São Paulo.
E não chegava para cá. Eu quero que chegue para cá e quero que chegue mais para lá ainda. Eu quero que chegue para toda a Amazônia, para tudo quanto é lugar. Nós fizemos agora a COP30 em Belém. Ninguém queria que eu fizesse a COP30 em Belém. Não.
“Tem que fazer no Rio, tem que fazer em São Paulo, tem que fazer no Rio, tem que fazer em São Paulo, porque lá já tem hotel, já tem tudo”. Não. Nós vamos fazer na Amazônia.
E fizemos na Amazônia. E posso te garantir, foi a melhor COP já feita em toda a história da COP. Está aí quem foi a Belém. Logo, logo, quando tiver um evento grande, quem sabe Recife vá ser a sede do evento grande, porque eu estou devendo uma coisa para o meu Recife. Então, vamos esperar.
Jornalista Ciro Guimarães: O nosso tempo está acabando, mas quando o senhor chegou aqui, o senhor já veio perguntando pelo Náutico. Então, o Náutico está bem, subiu para a Série B. O Santa Cruz, o senhor estava meio preocupado também, subiu para a Série C. O Sport, que já está na Série B, Mas deixou o senhor feliz por conta do Náutico.
Presidente Lula: Olha, eu não sei aqui, eu sei que o Carlos Wilson [ex-deputado federal] era náutico, o Zé Múcio é Náutico, o Humberto Costa é Náutico, mas todos os meus amigos são Sport ou Santa Cruz.
E eu virei Náutico porque quando eu cheguei em Pernambuco, em 1962, a gente queria fazer um time de futebol de várzea. E meu irmão mais velho, falou: “Não, vamos fazer um time, o Náutico”. “Por que Náutico?” “Porque é um time lá de Pernambuco”.
Aí nós fizemos um Náutico em Pernambuco, que foi um time bom. A gente jogava em três irmãos nesse Náutico. Então, eu virei torcedor do Náutico por conta disso. Dizem que o Náutico é o time dos ricos, dizem que o Sport é o time da classe média, dizem que o Santa Cruz é o time dos pobres, dizem que o Santa Cruz é o Corinthians de Pernambuco.
Então, vamos ver. O que eu quero é o seguinte, é que eu acho que o Nordeste vai dar um salto de qualidade. A gente não pode ter um time que vai para a Série B, para a Série A e cai no ano seguinte, porque não tem estrutura para enfrentar a elite econômica dos times grandes.
É preciso que haja, por parte da CBF [Confederação Brasileira de Futebol], o compromisso de garantir que o Sport tenha uma certa igualdade de tratamento para que um time como o Sport, que chega na Série A, não tenha que cair no mesmo ano.
Então, eu fico torcendo para o Nordeste. Eu fico torcendo para o Nordeste chegar lá no top do futebol brasileiro.
Jornalista Ciro Guimarães: O nosso tempo está terminando. Qual a mensagem que o senhor dá para o povo pernambucano neste final de ano? Possivelmente, o senhor só volta aqui para o ano.
Presidente Lula: Não, eu ainda vou fazer um pronunciamento de final de ano. Mas eu queria dizer para o povo pernambucano o seguinte: pode ter certeza de uma coisa. Eu tenho consciência que desde que foi proclamada a República, nenhum presidente da República colocou tantos recursos em Pernambuco como eu tenho colocado em todos os meus mandatos.
E o PT, porque a Dilma também colocou. Porque qual era o nosso desejo? Era fazer com que o Brasil se tornasse mais igual. Eu não conseguia compreender porque o Nordeste era um lugar que tinha mais analfabeto, mais mortalidade infantil, mais evasão escolar, mais gente não profissionalizada, menos doutor, menos mestre. Por que isso? Por que isso? Então, eu resolvi que a gente tinha que trabalhar para o Nordeste ser igual a todo mundo.
Ninguém é melhor do que ninguém. Nós temos que dar oportunidade. E eu fico feliz de saber que eu tenho feito bastante coisa no Nordeste. Não só porque eu sou nordestino, mas porque eu quero um Brasil mais equânime, mais igual. Eu não quero um Brasil pobre, um Brasil rico. Eu quero todo mundo igual.
Jornalista Ciro Guimarães: Presidente, muito obrigado por essa entrevista exclusiva aqui no nosso Balanço Geral. Espero revê-lo aqui em Pernambuco mais vezes. Também, a porta está aberta aqui da nossa TV Guararapes Record.
Presidente Lula: Obrigado, Ciro. Quero agradecer aos ouvintes da TV Guararapes. Quero ouvir os ouvintes do programa do Balanço Geral e dizer para vocês que eu estou à disposição. Cada vez que eu vier aqui e vocês me fizerem uma entrevista, eu lhe agradeço.