Entrevista do presidente Lula ao Jornal da Band
Adriana Araújo (Jornal da Band): Nós estamos no Palácio da Alvorada. O presidente Lula recebe o Jornal da Band para esta entrevista. Muito obrigada, presidente, por essa conversa. Eu quero só, antes de começar a te perguntar, fazer um esclarecimento: a gente grava essa entrevista na manhã desta quinta-feira, portanto, antes da retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Presidente, eu quero começar justamente pelo julgamento. O placar é de 2 a 1 neste momento. Dois pela condenação do ex-presidente Bolsonaro [Jair] e um pela absolvição. E o voto do ministro Luiz Fux [ministro do Supremo Tribunal Federal] foi muito contundente, abriu uma profunda divergência. Na visão do ministro, não há qualquer prova que incrimine o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe ou por abolição do Estado Democrático de Direito. Eu queria a sua avaliação.
Presidente Lula: Olha, eu não posso ter uma opinião pública sobre o voto de cada ministro. Não é recomendável o presidente da República ficar dando palpite sobre o voto do ministro da Suprema Corte. Eu tenho uma tese pessoal, mas eu não posso dar. Eu acho que a Suprema Corte vai decidir com relação aos autos do processo. E cada ministro entende aquilo que queira entender e dá o voto que queira dar.
Eu espero que o processo não seja um processo contra um homem. Você não está julgando um homem pelo fato dele ser um homem, ter sido ex-presidente. Você está julgando o comportamento desse homem com relação à democracia do país. Então, eu acho, Adriana, eu só acho que se a motivação da absolvição ou da condenação forem os autos do processo, está bem feito.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Sim, eu só preciso insistir, por meu dever de ofício, porque o senhor já se manifestou publicamente, várias vezes, dizendo que, no dia 8 de janeiro, houve uma tentativa de golpe no nosso país, em que Jair Bolsonaro não se conformava com a derrota nas urnas e por isso tentou o golpe. E, ontem, o ministro Fux disse que não há nenhum vínculo de Bolsonaro com os manifestantes de 8 de janeiro. Chamou esses manifestantes de vândalos frustrados e os absolveu.
Presidente Lula: Olha, se eu fosse um juiz, eu tinha um voto para dar, mas eu posso dizer o seguinte: primeiro, o Bolsonaro tentou dar um golpe neste país. Ele tentou dar um golpe, tem dezenas e centenas de provas, de atos, de falas, de discursos, de material por escrito, de tudo que ele tentou fazer. A ponto de ele tentar trabalhar a tentativa da morte do presidente da República eleito, do vice-presidente [da República, Geraldo Alckmin] e do próprio Alexandre de Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal].
Isso tem mais do que prova. Agora, cada juiz vê aquilo que quer ver. Eu só acho que os juízes têm que ver a verdade. Se a verdade estiver nos autos e aquilo estiver comprovado, é assim que as pessoas vão ser julgadas.
Eu, de qualquer forma, espero o veredito e acho que a gente tem que ter em conta o seguinte: esse país não pode permitir que quem quer que seja tente ferir o Estado Democrático de Direito deste país. O ex-presidente teve um comportamento, ao longo de todo o mandato, de desacreditar a instituição. Todo o mandato ele teve. Desacreditou vacinas, desacreditou a ciência, desacreditou o Covid-19, disse que era uma gripezinha, que as pessoas paravam de respirar por outros problemas, que a vacina fazia as pessoas virarem gays, a vacina fazia as pessoas virarem jacaré. Ele está nas costas, possivelmente, a responsabilidade pela morte de mais de 300 mil pessoas, das 700 [mil] que morreram.
Então, ele está sendo julgado por um crime que ele cometeu, com várias provas. Se o ministro Fux não quiser as provas, é um problema dele. Eu acho que as provas estão fartas. E o ex-presidente, covardemente, articulou tudo, pensou tudo e não teve coragem. Foi embora. Por quê? Porque no dia primeiro tinha muita gente aqui na rua, ele teve medo. Então, ele esperou para o dia 8 de janeiro, achando que nós íamos ficar com medo.
E o que aconteceu é isso. Esse país tem justiça, este país tem instituições, este país, depois de 23 anos de regime autoritário, vive num Estado Democrático de Direito e ele está sendo julgado pela mesma corte que me julgou.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Presidente, a oposição, os apoiadores de Bolsonaro, disseram que o voto do ministro Fux é uma aula de direito. Já os aliados do governo apontam uma contradição muito forte em que o senhor citou a Operação Punhal Verde e Amarelo, em que o ministro enxergou as provas da Punhal Verde e Amarelo, admitiu que esse plano de executar, de matar o senhor, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, começou a ser executado e condenou Mauro Cid [ex-ajudante de Ordens do ex-presidente da República] e também Walter Braga Netto [ex-ministro da Casa Civil e ex-ministro da Defesa]. Mas não condenou o chefe de Mauro Cid, nem o candidato a presidente da República, e sim o vice.
Presidente Lula: Eu não vou dizer nada, mas apenas para as pessoas lembrarem. É que, nesse caso, a teoria do domínio do fato não funcionou. Porque no julgamento do Mensalão, como não tinha prova contra o Zé Dirceu [José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil], eles criaram a teoria do domínio do fato para poder condenar.
E agora o responsável foi absolvido, não teve teoria do domínio do fato. Quem mandou acontecer tudo isso, obviamente foi o ex-presidente Bolsonaro. E ele sabe disso. Ele sabe disso como agora. Como agora o filho dele [Eduardo Bolsonaro, deputado federal] está nos Estados Unidos, a serviço dele, tentando instigar o governo americano contra o governo brasileiro. Os Estados Unidos contra o Brasil, em uma demonstração de traição à pátria jamais vista na história do Brasil.
Esse rapaz [Eduardo Bolsonaro, deputado federal], do que ele está fazendo com o Brasil, Joaquim Silvério dos Reis [colaboracionista responsável por delatar inconfidentes mineiros] é um trombadinha perto dele, que traiu Tiradentes [Joaquim José da Silva Xavier, patrono cívico do Brasil], porque esse cidadão está traindo uma Nação de 215 milhões de habitantes. Está lá implorando para que o presidente Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos] tome atitude contra o Brasil. Esse menino tem que ser expulso da Câmara dos Deputados, não sei por que não foi ainda expulso. E esse cidadão tem que ser processado, porque isso chama-se traição à pátria. E traição à pátria chama traição ao povo brasileiro.
Adriana Araújo (Jornal da Band): A expectativa, presidente, é que o julgamento se encerre com a condenação de Bolsonaro. O senhor teme que, com isso, novas sanções contra o Brasil e contra autoridades do governo ou da justiça venham?
Presidente Lula: Não temo, não temo. Ou seja, não temo e acho que…
Adriana Araújo (Jornal da Band): Mas acha que vem?
Presidente Lula: Eu não sei, eu não posso dizer, eu não posso ficar tentando adivinhar. As sanções já impostas ao Brasil são todas falsas e o presidente Trump sabe que é mentira o que foi falado sobre o Brasil. É mentira que ele tem déficit comercial, é arrogância dele não querer que a justiça brasileira julgue alguém que cometeu um crime, segundo a própria justiça compreende como crime. Ora, um presidente de um país não pode ficar interferindo nas decisões soberanas de outro país. Então, se ele vai tomar outras atitudes, é um problema dele. Nós iremos reagir na medida em que as medidas forem tomadas.
Adriana Araújo (Jornal da Band): O senhor planeja tomar alguma atitude, alguma outra atitude diplomática para contactar diretamente Donald Trump, que não seja uma fala política que possa ser interpretada como provocação?
Presidente Lula: Olha, veja, primeiro é o seguinte: não tem provocação. Qualquer coisa que nós fizermos daqui para frente é uma resposta à provocação feita ao Brasil. Como é que você acha que um presidente da República do Brasil se sente quando um presidente da República de um país taxa os seus produtos em 50% alegando que tem déficit comercial, quando ele teve, em 15 anos, um superávit de 410 bilhões de dólares? Sabendo que o nosso país tem uma Constituição e que as leis aqui no Brasil valem para as empresas brasileiras e para as empresas estrangeiras fixadas no Brasil?
Ao mesmo tempo, ele diz que é preciso parar com o processo contra o ex-presidente. Não. Se o presidente Trump morasse no Brasil e tivesse feito o que ele fez no Capitólio, ele estaria sendo julgado aqui também. Porque aqui tem lei para todo mundo. A lei vale para oposição, vale para situação, vale para deputado, vale para quem não é deputado, vale para pobre, vale para rico. É uma lei só. E tem uma Constituição da qual eu tenho o prazer de ter participado da construção desta Constituição. Então, este país hoje ensina a fazer democracia.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Neste momento, não tem um novo gesto que o senhor possa adotar? Eu compreendi dessa forma.
Presidente Lula: Nós iremos tomar todos os gestos que forem necessários, toda reciprocidade. O que for necessário a gente dar aos Estados Unidos, a gente vai dar. O que eu estou me comportando, Adriana, é com muito cuidado e com muita sutileza democrática.
Eu tenho o meu vice-presidente Alckmin [Geraldo, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], que vocês e o Brasil conhecem muito bem. Eu tenho o ministro Fernando Haddad [Fazenda] e o ministro Mauro Vieira [Relações Exteriores], que são os meus negociadores, para dizer para os Estados Unidos: “O Lulinha paz e amor está à disposição para negociar.”
Eu não quero briga nem com a Bolívia, nem com o Uruguai, e muito menos com os Estados Unidos e com a China. Eu quero paz e amor, eu quero paz e desenvolvimento, eu quero paz e crescimento econômico, eu quero paz e harmonia. É por isso que o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país.
Então, o que vai acontecer? Nós vamos tentar responder aos Estados Unidos na medida em que eles vão falando alguma coisa. Ontem, por exemplo, a porta-voz falou uma bobagem. Eu não vou responder à porta-voz. Eu não vou responder à porta-voz. Não cabe ao presidente da República responder ao porta-voz. Mas, obviamente, que os Estados Unidos precisam saber que não estão tratando com uma ‘Republiqueta de Banana’.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Mas a fala dela se torna uma preocupação?
Presidente Lula: Não, não se torna preocupação, porque eu não posso levar muito a sério a visão de uma porta-voz.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Está certo, presidente. Vamos falar do Congresso agora, mas eu preciso voltar ao voto do Fux, só porque, além da pergunta em relação às sanções, a outra questão é o avanço da pressão pela pauta da anistia. A expectativa do Congresso é que, na semana que vem, já seja votada a urgência. É inegociável para o governo avançar com a anistia?
Presidente Lula: Deixa eu te dizer uma coisa, Adriana. Anistia é uma coisa que poderia ter vindo depois do processo terminado. Em todo o mundo se discute anistia depois do processo terminado, depois, se houve ou não condenação. O que é muito estranho é que os mesmos que estão dizendo que o ex-presidente não cometeu nenhum crime, em vez de estarem defendendo a inocência do presidente, já estão tratando ele como condenado e pedindo anistia antes de ele ser julgado. Ora, é isso que é uma coisa descabida e que não é entendida pela sociedade.
Ora, se vocês estão dizendo que ele é inocente, e se vocês estão dizendo que ele não cometeu um crime, ele está tendo o direito à presunção de inocência que eu não tive. Ele está tendo o direito de se defender. Acontece que eu vi os advogados dele fazendo defesa, e a defesa não tem o que defender. Porque é tão visível que ele cometeu crime contra o Estado Democrático de Direito deste país, que os advogados ficaram com dificuldade de defender ele.
Adriana Araújo (Jornal da Band): O senhor tem essa convicção?
Presidente Lula: Então, Adriana, só para terminar essa frase da anistia. Espera julgar o processo, o Congresso tem o direito de discutir a anistia a hora que eles quiserem, e o governo tem o direito de ser contra ou a favor, de orientar a sua base para ser contra ou a favor.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Mas o governo vai tirar ministros da Esplanada, mudar ministros, tirar diretores de autarquias, se os partidos da base, que hoje tem assento no governo, insistirem na anistia?
Presidente Lula: O governo vai trabalhar contra a anistia. É importante você saber. Não é o momento de discutir a anistia, porque o cidadão nem foi condenado ainda.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Sim, e para concluir esse tema, e a gente partir para a economia. O senhor tem convicção do golpe, inclusive de que a ordem da Operação Punhal Verde e Amarelo, para matá-lo — e as demais autoridades — partiu do Bolsonaro?
Presidente Lula: Isso está escrito, gente. Isso está escrito. Isso está escrito, está desenhado, já se sabe quem foi que fez isso, já se sabe quem era que ia fazer. Então não tem mais o que discutir. Obviamente que todo bandido, toda pessoa que comete um crime, ele vai se defender dizendo que é inocente. Agora, para você provar que é inocente, você tem que mostrar a prova que você não cometeu um crime.
Olha, deixa eu dizer uma coisa para você: o mundo acompanhou o comportamento do ex-presidente. O mundo acompanhou a reunião com os embaixadores. O mundo acompanhou pedir às Forças Armadas Brasileiras fiscalizar urna [eletrônica]. Esse é o papel das Forças Armadas? Fiscalizar urna? Por que esse cidadão não questiona a vitória do filho dele? Por que ele não questiona a vitória do partido dele? Só valeu para ele a falcatrua do voto?
Adriana Araújo (Jornal da Band): Vamos para a economia agora, presidente. Imposto de Renda. É um projeto que o senhor pretende aprovar, mas pode ficar nesse impasse no Congresso, justamente por conta dessa disputa com a anistia. O senhor está confiante na aprovação, ainda este ano, e também que a compensação dos R$ 26 bilhões a mais que isso vai representar, que isso está equilibrado, que não vai ser um gasto que vai pesar nas contas públicas?
Presidente Lula: Olha, nós apresentamos isso com muita clareza ao Congresso Nacional. E eu acho que o Congresso Nacional vai votar a aprovação da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e vai votar também um desconto para quem ganha até R$ 7.200. E não é favor ao presidente da República, não. É um reconhecimento de que as pessoas pobres não podem pagar o Imposto de Renda que os ricos não pagam nesse país.
É fazer justiça tributária, é apenas isso. Da mesma forma que o Congresso vai aprovar o Gás do Povo, que é um programa que garante que quase 17 milhões de famílias brasileiras recebam o gás gratuitamente, porque um botijão de gás de 13 quilos sai da Petrobras a R$ 37 e chega para o consumidor, na maioria dos estados, a R$ 140. Nós vamos fazer com que as pessoas mais pobres recebam de graça esse gás.
Da mesma forma que nós fizemos o programa Luz do Povo. Quem consome até 80 kW não vai pagar a energia. E quem consome até 120 kW vai pagar apenas a diferença.
Adriana Araújo (Jornal da Band): E com o compromisso, presidente, de que tanto a isenção do Imposto de Renda quanto esses outros programas que o senhor cita não vão impactar as contas públicas? Porque a gente tem a meta de déficit deste ano, segundo as projeções, não vai ser cumprida. E ano que vem é ano eleitoral.
Presidente Lula: Isso é uma bobagem tão grande, Adriana. Sinceramente, Adriana, pega a história do Brasil. Julgue meus oito anos de mandato na Presidência da República e veja o que aconteceu com o déficit brasileiro. Veja o que aconteceu com o superávit primário. Eu fui o único presidente da República que, durante oito anos, dentro do G20, eu era o único presidente que cumpria o superávit primário. Responsabilidade fiscal, para mim, é uma coisa séria. Eu aprendi com a dona Lindu, uma mãe analfabeta, que cuidava do dinheiro dos filhos quando a gente recebia o salário. Eu não preciso de professor para me ensinar que eu tenho que ter seriedade.
Agora, é o seguinte: nós não temos déficit fiscal. Este país não tem déficit fiscal. Ou seja, o que acontece é que os banqueiros ficam todos nervosos quando a gente anuncia que vai dar um benefício para o pobre. Todo mundo acha: “Para que dar para pobre? Dá para nós. Para que dar para pobre? Investe no sistema financeiro. A Faria Lima está precisando.”
É por isso, Adriana, é por isso que eu vou dizer para você uma coisa que você vai me perguntar aqui, que nós fizemos a mais importante operação contra o crime organizado da história deste país. E vai chegar na Faria Lima, e vai pegar as fintechs, vai pegar algumas coisas que não apareciam. Porque o nosso problema contra o crime organizado é saber que eles estão metidos em todas as esferas. Estão no futebol, na política, no Judiciário, nos bancos, nas empresas. Virou uma coisa multinacional.
Então, nós vamos enfrentar o crime organizado. Por isso, nós fizemos essa operação. Para isso eu fui inaugurar em Manaus, nesta semana, um centro de cooperação internacional, em que a gente vai ter lá, em Manaus, uma base que vai ter representantes dos estados do Norte e vai ter representantes da Polícia Federal dos países amazônicos, para que a gente faça o combate na fronteira ao crime organizado. Então, daqui para frente, é o seguinte: não tem moleza ao crime organizado.
E mais ainda: o Congresso tem que aprovar a PEC da Segurança Pública, que o ministro Lewandowski [Ricardo, ministro da Justiça e Segurança Pública] mandou para o Congresso Nacional, porque essa PEC vai permitir que a gente defina claramente a participação do Governo Federal, junto com os governos estaduais, se a gente quiser enfrentar de verdade o crime, a violência, sobretudo o crime contra o povo mais pobre.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Preciso perguntar de política, antes que o nosso tempo termine. Vai ser Lula…?
Presidente Lula: Eu tenho todo o tempo do mundo.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Ah, eu também, então. Lula e Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], em 2026. Isso está definido? Vai ser esse o cenário?
Presidente Lula: Eu não escolho adversário, Adriana. Eu não escolho adversário. Ou seja, os partidos é que escolhem os candidatos e indiquem quem bem entender. Eu não tenho problema com adversário. Eu já disputei contra Ulysses Guimarães [ex-presidente da Câmara dos Deputados], Maluf [Paulo, ex-governador de São Paulo], Mário Covas [ex-governador de São Paulo], Serra [José, ex-governador de São Paulo], Alckmin.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Mas é o cenário mais provável, o senhor acha?
Presidente Lula: Eu não sei. Eu não sei qual é o cenário provável. Ou seja, eu sei que está chegando o ano, todos os partidos vão ter que definir seus candidatos. Eu ainda não me defini como candidato. Você falou de mim, mas é o seguinte, eu...
Adriana Araújo (Jornal da Band): Mas basta observar seus discursos.
Presidente Lula: Não, deixa eu lhe falar uma coisa. Deixa eu lhe falar uma coisa. Eu me cuido. Eu me cuido, porque eu acho o seguinte: os anos, eu não consigo evitar que os anos passem. Eu não evito que os anos passem. Mas eu evito o envelhecimento precoce. Eu quero lhe dizer que eu estou com 80 anos de idade, mas eu duvido que tenha muita gente de 30 que consiga fazer uma agenda comigo. Porque eu quero viver muito.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Eu estou entendendo que você está dando sinais claros de que já é candidato.
Presidente Lula: Eu posso lhe dizer uma coisa: o PT pode encontrar um candidato, os partidos que estão comigo podem encontrar um candidato, não tem problema nenhum. Eu não sou candidato de mim mesmo. A única coisa que eu quero dizer, olhando para você e olhando para a câmera da Bandeirantes: é que se eu estiver do jeito que eu estou hoje, a extrema-direita jamais voltará a governar este país. Democracia sempre.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Uma avaliação sobre a fala de Tarcísio de Freitas, no 7 de Setembro, quando ele chamou Alexandre de Moraes de tirano e atacou o STF.
Presidente Lula: Não, eu acho que mais grave não foi isso, mas foi o sermão que ele tomou do pastor Malafaia [Silas, liderança evangélica]. O governador do estado de São Paulo, gente, o estado mais importante, precisa ter um comportamento, no mínimo, respeitoso consigo mesmo. Ele não poderia falar o que ele falou do Alexandre de Moraes.
O que o Tarcísio demonstrou ali? O Tarcísio demonstrou que ele não é nada mais, nada menos que um serviçal do Bolsonaro. Ele demonstrou isso. Eu até convidei ele para almoçar comigo aqui no Palácio e ele almoçou comigo. Ora, ele comigo fala uma coisa, é muito simpático e tudo, e por detrás ele só fala mal.
Ou seja, ele tem todo o direito de ser candidato a presidente da República. Se comporte e seja candidato e vamos ver. Vamos permitir que o povo escolha quem vai governar esse país. Vamos permitir. E na hora da escolha do povo, o povo vai ver quem fez e quem não fez. O povo vai medir não é pelo discurso, o povo vai medir é quem fez e quem não fez as coisas. Quem entregou e quem não entregou neste país. E nesse aspecto, eu me coloco à disposição de tantos quantos queiram ser candidatos para a gente medir quem é que fez as coisas para esse país.
Eu, Adriana, eu sou muito feliz pelo seguinte: esse país fazia 15 anos que não crescia acima de 3%. Precisou eu voltar para ele crescer. Esse país, quando eu deixei a presidência, produzia 3,5 milhões de carros. Quando eu voltei, produzia só 1,6 milhões. Nós vamos votar para produzir 3,5 milhões. Porque se tem uma coisa que eu sei é fazer com que o país cresça, gere emprego, aumentar o salário mínimo e fazer benefício para as pessoas que mais precisam.
Adriana, meu lema é o seguinte. Meu lema é simples, é o seguinte: muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza do país. Pouco dinheiro na mão de todos significa distribuição de riqueza. E é isso que eu quero.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Para apresentar essa entrevista na íntegra, eu tenho um minutinho para a gente terminar e te pergunto sobre juros. O senhor parou de reclamar de juros e eles continuam em um patamar exorbitante, 15%, que inviabiliza negócios e deixa a população endividada com uma situação de sufoco.
Presidente Lula: Eu não parei de reclamar de juros. Eu não vou falar mal do Galípolo [Gabriel, presidente do Banco Central] publicamente, ou seja, foi indicado por mim. Veja, o Galípolo sabe que a taxa de juros está alta. Eu sei, todo mundo sabe. O que é preciso saber é o seguinte: qual é o timing de você começar a baixar isso? Nós estamos controlando a inflação. A inflação hoje está metade daquilo que eu recebi. E nós vamos baixar mais a inflação.
Adriana Araújo (Jornal da Band): O timing é ano que vem?
Presidente Lula: E a taxa de juros vai começar a baixar.
Adriana Araújo (Jornal da Band): Ano que vem?
Presidente Lula: É uma questão de dias. Não vou dizer que é o ano que vem, pode ser este ano ainda. Mas ela vai começar a baixar. Mas tem que começar a baixar com muita, mas com muita sobriedade, com muita sustentabilidade. Porque a gente não pode ficar também numa gangorra. Eu acho que, embora a gente esteja com juros altos, a verdade nua e crua é que nós nunca tivemos a quantidade de investimentos que nós temos hoje, Adriana.
Só para você ter ideia: na Nova Indústria do Brasil, nós temos 642 bilhões de créditos para criar uma nova indústria. Fazia décadas que a indústria brasileira não crescia. Cresceu 3,4%. Então, as coisas estão acontecendo. Você sabe que eu sei como é que a gente faz as coisas. Eu nunca fui discutir a macroeconomia, a macroeconomia, a macroeconomia. Eu discuto a microeconomia. Eu quero saber se o dinheiro está chegando lá embaixo. Porque, quando o dinheiro chega lá embaixo, as pessoas vão comprar o que comer, vão comprar o que vestir, vão comprar o que usar dentro de casa. Quando chega lá em cima, vai para o banco especular.
Adriana Araújo (Jornal da Band): E eu vou te agradecer, presidente, por essa entrevista ao Jornal da Band, com exclusividade. Vou deixar aqui já o convite do Mitre [Fernando, jornalista]. O Canal Livre está esperando o senhor na oportunidade que o senhor tiver.
Muito obrigada. Bom trabalho.
Presidente Lula: Vocês perceberam, a Adriana estava com muita vontade de perguntar e eu com muita vontade de responder. Então, isso só pode ser sucesso.
Se prepare, Mitre, que nós vamos nos encontrar.