Entrevista do presidente Lula à Rádio Piatã FM, da Bahia
Jornalista Juliana Nobre: Eu queria agradecer o senhor por abrir aqui a sua residência para falar com a gente, para falar com a Bahia.
Presidente Lula: Juliana, bom dia. Você sabe que falar com a Bahia, para mim, é quase que um dever. Eu tenho dito que acho que o povo baiano é um povo tão simpático, tão agradável comigo, que eu acho que em algum momento, em alguma encarnação, eu nasci na Bahia. É um prazer falar contigo, falar com os ouvintes da Rádio Piatã. Estou pronto para as perguntas que você quiser fazer.
Juliana Nobre: A Bahia que tem um carinho especial pelo senhor. Você sabe disso, né? Então, estamos aí em rede com diversas rádios da nossa Bahia, para a gente falar sobre os investimentos. Já vamos começar, então, falando sobre a inauguração da BYD. Inclusive, o senhor sai daqui e vai para a inauguração lá em Camaçari. O que essa indústria, essa empresa representa para a Bahia e para a economia nacional também?
Presidente Lula: Olha, representa para a Bahia, representa para os trabalhadores da Bahia, representa para o Brasil e para mim, pessoalmente. Porque foi com muita tristeza que eu vi a Ford sair da Bahia. Eu vi a Ford entrar na Bahia numa briga entre o governo do Rio Grande do Sul, que era do PT [Partido dos Trabalhadores], o Olívio Dutra, com a Ford na Bahia. A Bahia sai do Rio Grande do Sul, vai para a Bahia.
Eu fui junto com o Jaques Wagner [senador e ex-governador da Bahia] comunicar que a Ford ia para a Bahia. E quando a Ford saiu foi uma tristeza, porque eu sei que era uma empresa que tinha praticamente 3 mil engenheiros, era uma fábrica importante na Bahia. Quando ela foi embora eu fiquei muito triste. E aí quando os chineses se dispuseram, depois de um convite feito pelo governo Rui Costa [ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia] para vir para a Bahia, e ele aceitou vir para a Bahia, eu fiquei muito feliz porque a Bahia é um estado grande, a Bahia é um estado que precisa se desenvolver.
E a indústria automobilística ainda é um setor industrial muito, muito, muito gerador de emprego, com um salário razoavelmente melhor do que outras categorias. Então eu vou participar da inauguração hoje com muito, com muito carinho, muito orgulho, na expectativa de que essa empresa possa chegar, em 2029, a ter quase 6 mil trabalhadores. É um investimento forte que ela está fazendo, de R$ 5,6 bilhões. É uma coisa extremamente importante. E eu espero que da Bahia a gente possa atender parte do mercado da América Latina, porque também a empresa está se comprometendo a produzir outras coisas definitivamente na Bahia, produzir bateria na Bahia.
Nós estamos tentando trazer fábrica de motocicleta para produzir aqui no Brasil também. Então eu estou muito feliz. É um dia muito importante. Mas além da BYD, eu vou também, no Estaleiro, anunciar a retomada da indústria naval. São R$ 2,6 bilhões de investimentos da Petrobras na retomada da construção de navios e mais um outro estaleiro que vai construir barcaças na Bahia para transportar minério. Então é o emprego que está voltando, é o salário que está voltando, é a perspectiva de uma melhoria da qualidade de vida do povo baiano. Então eu estou feliz. Hoje é um dia feliz da minha visita na Bahia.
Juliana Nobre: Tem a questão da fábrica de fertilizantes também, da Fafen, também é um investimento do Governo Federal na nossa Bahia.
Presidente Lula: Vai recuperar a Fafen na Bahia, vai recuperar a Fafen em Sergipe, porque são duas empresas importantes que produzem uma parte da ureia que nós precisamos na nossa agricultura. E eu acho que essas fábricas que estavam paradas há muito tempo vão voltar a funcionar. Graças a Deus, as coisas voltando à normalidade no Brasil.
Juliana Nobre: O senhor falou sobre a questão da geração de empregos. Como que o Governo Federal pretende ajudar o nosso estado, principalmente para que essa mão de obra seja qualificada?
Presidente Lula: Juliana, nós estamos fazendo oito novos campi de Instituto Federal. Nós já temos 39, vamos fazer mais oito na Bahia. E obviamente que esses Institutos Federais vão ter que ter uma mão de obra qualificada, preparada para a indústria nascente, para a Nova Indústria Brasil que nós criamos aqui no Brasil, que já tem investimentos de mais de R$ 19 bilhões.
Eu acho que é uma preocupação minha, e uma preocupação do nosso governador Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia]. É uma preocupação do senador Jaques Wagner e do ministro Rui Costa, de que é preciso qualificar a mão de obra. Então nós vamos ter novos oito Institutos Federais na Bahia e vamos, se precisar, criar mais institutos para que a gente possa garantir que a mão de obra seja baiana.
Porque esse é o sucesso do investimento. É você garantir que uma empresa se instale num estado, mas que a mão de obra seja profissionalizada a partir de homens e mulheres do estado. Então o que nós queremos são baianos e baianas trabalhando na BYD. Obviamente que determinadas funções que exigem mais qualificação, se você não tem, naquele momento da instalação da fábrica, a mão de obra qualificada você pode contratar de outro estado. Mas o que é importante é que a gente fortaleça a formação de mão de obra na Bahia.
Juliana Nobre: Presidente, a gente também vai falar dos programas sociais, a gente tem o Bolsa Família, inclusive a Bahia é um dos estados com o maior número de beneficiários do Bolsa Família e tem novos programas também pelo Governo Federal. O senhor fala muito sobre o Gás do Povo, sobre o Luz do Povo, como é que esses programas entram no nosso estado e o senhor realmente consegue equilibrar a economia a partir do orçamento. Como é que equilibra a conta?
Presidente Lula: Juliana, eu tenho uma ideia que eu transformei numa tese. A minha tese é simples, é que muito dinheiro na mão de poucos significa miséria. Pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza. Então o que nós estamos fazendo? Uma política de fazer inclusão social. Eu governo para 215 milhões de brasileiros, mas na minha cabeça e no meu coração, quem está sendo visto de forma privilegiada, como o coração de mães de sua família, são aqueles mais necessitados.
Então programas como Farmácia Popular, que distribui remédio de graça, 41 remédios de uso contínuo de graça para as pessoas. Programas como o SAMU, que é uma grande revolução para evitar mortes precoces nesse país. Programas como o Bolsa Família, como o Pé-de-Meia, como o Gás Para Todos. Agora, a partir do começo do ano, quem ganha, vai começar em novembro agora, mas a partir do ano que vem vai completar quase 17 milhões de famílias que vão receber gás de graça, não vão pagar mais o gás.
Porque o gás de cozinha sai da Petrobras a R$ 37, aquele botijão de 13 quilos. E muitas vezes chega para o consumidor a R$ 140. Então nós vamos distribuir para as famílias mais pobres aquele gás de graça. São praticamente 17 milhões e meio de famílias. Nós agora estabelecemos que quem consome até 80 quilowatts de energia não vai pagar mais energia. E quem consome até 120 paga apenas a diferença.
Nós agora aprovamos a lei que o Imposto de Renda, para quem ganha até R$ 5 mil, não pagará mais Imposto de Renda nesse país. E a perspectiva é uma evolução. Desde que eu voltei, o salário mínimo aumenta acima da inflação. Se a inflação é 5% e o PIB é 3%, o PIB é o crescimento da economia. O crescimento da economia é o resultado da produção brasileira interna.
Então é justo que a gente, além da inflação, coloque no salário do trabalhador aquilo que é o aumento do salário mínimo para a gente poder ir qualificando a possibilidade das pessoas mais pobres melhorarem de vida. Isso chama-se distribuição de renda, inclusão social. É o maior investimento da educação. Só na Bahia, para você ter ideia, na Bahia nós aumentamos em quase 50% o número de médicos do governo anterior, que ele tinha acabado com o programa Mais Médicos.
Agora, nós criamos o programa Agora Tem especialistas. O que é? Uma pessoa na Bahia, e as pessoas que estão nos ouvidos sabem do que eu estou falando, Juliana. Uma pessoa vai no médico, vai numa policlínica ou vai num médico qualquer. Ele ia ao médico, recebia a receita e não tinha dinheiro para comprar o remédio. Nós começamos a dar remédio de graça.
Ele ia no médico, o médico pedia para ele ir no especialista. O especialista demorava um ano. Aí quando ele chegava depois de um ano no especialista, pedia para tirar uma ressonância magnética. Mais um ano. Então agora a gente está garantindo que num prazo mínimo possível, a pessoa vá ao primeiro médico, faça a segunda consulta e vá no especialista, e vá na máquina fazer a sua fotografia para que a gente possa cuidar e evitar mortes precoces nesse país. Eu estou muito otimista.
Eu tenho a convicção, Juliana, que nunca houve na história do Brasil, e digo isso olhando assim nos teus olhos, e digo ao povo da Bahia: nunca houve na Bahia política de inclusão social. E nunca houve algo no Brasil que chegasse perto daquilo que a gente está fazendo de inclusão social. E é exatamente essa inclusão social que faz com que as pessoas mais pobres subam um degrau na escala social. Um degrau.
E aí eu fico muito triste, muito triste, porque ontem o Congresso Nacional poderia ter aprovado para que os ricos pagassem um pouco mais de impostos. Veja, nós estávamos propondo uma proposta de 12%, de 18%, foi negociado para as Fintechs e as Big Techs pagarem apenas 12%. Ainda assim eles não quiseram e recusaram pagar.
É engraçado, porque o povo trabalhador paga 27,5% de Imposto de Renda do seu salário. E os ricos não querem pagar 12%. Não querem pagar 18%. Então, eles acham que ontem derrotaram o governo. Não derrotaram o governo. Derrotaram o povo brasileiro. Derrotaram a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro tirando mais dinheiro dos ricos e distribuindo para os pobres. Foi isso que aconteceu ontem no Congresso Nacional.
Juliana Nobre: Qual vai ser a estratégia agora do Governo Federal?
Presidente Lula: Olha, eu ontem liguei para o Haddad [Fernando, ministro da Fazenda] e ontem liguei para a Gleisi Hoffmann [ministra da Secretaria de Relações Institucionais]: vamos relaxar, não vamos perder o nosso final de semana discutindo o que aconteceu ontem no Congresso Nacional.
Eu estou indo à Bahia, depois eu vou para São Paulo, de São Paulo eu vou para Roma, porque eu tenho um debate na FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] para discutir a questão da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. E aí eu volto na quarta-feira para Brasília e, aí sim, eu vou reunir o governo para discutir como é que a gente vai propor o sistema financeiro. Sobretudo as Fintechs, que tem Fintechs hoje maior do que banco, que elas paguem o imposto devido a esse país.
Juliana Nobre: Presidente, a ampliação da faixa da isenção do Imposto de Renda foi uma promessa sua de campanha, passou pelo Congresso e o que o senhor pensa agora para 2026? Tem alguns outros passos, alguns outros projetos e programas de benefício para a população diretamente?
Presidente Lula: Deixa eu te dizer uma coisa e falar também com o povo baiano, Juliana, uma coisa muito séria. O que nós precisamos é garantir que os benefícios que as pessoas estão recebendo hoje não sejam destruídos. Porque o problema é que se o povo não tomar cuidado, pode vir um governo que destrua tudo aquilo que é política de inclusão social.
Veja, nós tínhamos passado dez anos sem reajuste da refeição na escola. Nós tínhamos passado sete anos sem aumento do salário mínimo. Nós tínhamos passado sete anos sem reajuste de bolsas do Ministério da Ciência e Tecnologia. Nós tivemos destruídos Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho, Ministério da Igualdade Racial, Ministério da Mulher, Ministério dos Povos Indígenas, que não existia, Ministério dos Direitos Humanos. Tudo isso foi destruído. Nós tivemos que recompor tudo.
Passamos dois anos e meio reconstruindo. Por isso que eu dizia no começo desse ano que esse era o ano da colheita. Porque a gente reconstruiu, a gente semeou, a gente plantou e agora a gente está colhendo. E tem muita coisa para colher. É o maior programa de investimento em educação, é o maior programa de investimento em habitação, é o maior programa de investimento em saúde. E essas coisas acontecem da forma mais extraordinária possível, com a participação do conjunto da sociedade. Porque é ela que tem que dizer o que a gente tem que fazer nesse país.
Por isso é que eu estou convencido que nós temos que apresentar para os próximos cinco anos um projeto para esse país. Um projeto que vá além das políticas de inclusão social. Um projeto que leve em conta a necessidade da revolução digital, da inteligência artificial, que o Brasil precisa participar ativamente.
E a gente só vai participar se a gente não fizer muito investimento em educação. Mas que tipo de educação? Nós temos que formar muitos engenheiros, temos que formar muitos matemáticos. Nós temos que formar, mandar gente para o exterior para estudar, para que o Brasil tenha uma mão de obra competitiva do ponto de vista internacional. Porque o que importa agora é a gente exportar conhecimento e inteligência. E não só exportar commodities. Nós queremos exportar a sabedoria brasileira. E é isso que nós queremos fazer no novo programa para esse país. Que país a gente deseja daqui a alguns anos? E apresentar esse projeto de Brasil para que o povo nos ajude a construir esse Brasil.
Juliana Nobre: E já que a gente está falando então em relações internacionais, conta aqui para mim, presidente, como foi essa conversa com o presidente Donald Trump? Já estão amigos? Esse encontro pessoalmente vai acontecer?
Presidente Lula: Olha, eu te confesso que eu fiquei surpreso com o resultado da conversa. Porque era uma coisa que parecia que não iria acontecer, parecia impossível. Nós nos encontramos rapidamente no salão de espera lá na ONU [Organização das Nações Unidas]. E tivemos uma conversa de 30 segundos, quem sabe um pouco mais ou um pouco menos. E ele disse que pintou o clima.
O dado concreto é que ele me telefonou e no telefonema havia uma expectativa de que ia ter muita discussão. Ele me ligou da forma mais gentil que um ser humano pode lidar com outro. Eu tratando de forma civilizada e ele me tratando de forma civilizada. E ele teve, ele não sabia, mas eu estava completando 80 anos no dia que ele me telefonou.
Então eu disse para ele: presidente, nós vamos nos tratar sem liturgia. Você me chama de você, eu chamo você de você. Afinal de contas, eu estou completando 80 anos hoje e você vai fazer 80 anos dia 14 de junho. Então nós somos dois senhores de 80 anos, presidimos as duas maiores democracias do Ocidente e nós precisamos passar para o resto do mundo cordialidade, harmonia e não discórdia e briga.
Então foi uma coisa extraordinária, eu falei com ele aquilo que eu deveria falar, que era preciso retirar a taxação dos produtos brasileiros, que ele tinha sido mal informado. Então agora começa um outro momento. Ainda ontem a pessoa que ele indicou, que é o secretário de Estado Marco Rubio, ligou para o meu ministro Mauro Vieira [Relações Exteriores], talvez comece a ter conversa a partir de agora e vamos ver se a gente consegue se acertar. Porque o Brasil não quer briga com os Estados Unidos, o Brasil não quer briga com o Uruguai, o Brasil não quer briga com a Bolívia. O Brasil quer paz e amor, o Brasil quer crescer, o Brasil quer se desenvolver.
Nós não temos contencioso com nenhum país do mundo e não queremos ter. E os Estados Unidos são uma aliança de 201 anos, é uma coisa muito forte. Então nós queremos manter uma relação boa, civilizada, democrática, respeitosa, sem abrir mão do nosso conceito de democracia e da nossa soberania.
Juliana Nobre: Agora ele disse que está com saudade do café brasileiro, né? O senhor sabia que tem um café maravilhoso lá na Bahia, na Chapada Diamantina.
Presidente Lula: Ele deve ter saudade do café, do suco de laranja. Independente dos produtos, Juliana, o que é importante é o seguinte: o mundo está muito conturbado. O mundo está muito nervoso. As pessoas estão ficando desacreditadas. Então o que nós precisamos mostrar para as pessoas é eficiência, é compromisso para as pessoas. É por isso que eu digo que eu não governo o Brasil, eu cuido do Brasil.
Eu quero cuidar do Brasil, eu quero cuidar do povo brasileiro, eu quero cuidar das pessoas, informar corretamente as pessoas. Você acredita, Juliana, que eu fui a Belém, fui na casa de uma mulher chamada Dona Felícia, que é diabética, que toma remédio de uso contínuo, e de repente eu pergunto para ela: Dona Felícia, a senhora está tomando remédio para diabetes? “Eu estou”, e me mostrou a caixa do remédio. A senhora pega de graça, né? “Não, presidente, não, eu pago, eu compro”. Mas como que a senhora compra se tem o Farmácia Popular, dona Felícia? Ela falou: "não sabia".
Olha, telefonei na hora para o ministro Padilha [Alexandre, ministro da Saúde], coloquei o Padilha no telefone com a Dona Felícia, e fiz o levantamento na região dela, tem várias Farmácias Populares, várias farmácias. É só uma pessoa que toma remédio de uso contínuo, diabetes, pressão e tal, a pessoa vai com a receita na Farmácia Popular, faz o cadastro e nunca mais precisa levar, é só ela pegar o seu remédio de graça.
Então, você percebe que cuidar das pessoas é mais do que governar. Cuidar das pessoas significa você acompanhar se as pessoas estão sendo bem tratadas, se as pessoas estão sendo respeitadas, se as pessoas estão sendo ouvidas com o carinho e o respeito que as pessoas merecem ser ouvidas. Então, é assim que as coisas estão acontecendo no Brasil e é assim que eu penso fazer com que as coisas aconteçam definitivamente, sem destruição de nada que está sendo feito de bom.
O que é preciso é a gente ter certeza que o povo brasileiro não quer ser pobre. Ninguém quer comer mal, ninguém quer morar mal, ninguém quer viver mal. Todo mundo quer viver bem, quer estudar bem, quer comer bem, quer passear. Esse é o mundo que nós precisamos garantir para o povo brasileiro. E é por isso que nós estamos fazendo os programas de inclusão social que jamais foram feitos na história desse país.
Juliana Nobre: Perfeito. Presidente, 2026 está batendo na porta, o senhor, inclusive, comentou que iria para a reeleição se estivesse bem de saúde, o senhor está bem de saúde, já decidiu realmente vai para a reeleição em 2026?
Presidente Lula: Juliana, é uma questão que não depende só de mim, ela depende do partido, ela depende de outras pessoas que estão comigo. O que é que eu tenho dito? Eu sou um homem de 80 anos de idade, eu me preocupo com a minha saúde, eu me cuido, eu tento me preservar. Porque quem me ama de verdade, além da Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil], sou eu. Então, se eu não cuidar de mim, ninguém vai ter o carinho que eu tenho que ter por mim.
Então, eu levanto todo dia 5h45 da manhã, 5h30, 6h. Faço quase 2 horas de ginástica todo dia, faço esteira, faço perna, faço braço. Porque a gente começa a envelhecer pelas pernas. Então, eu digo sempre o seguinte: um homem que tem uma causa ou uma mulher que tem uma causa não consegue evitar que os anos passem, o planeta continua girando e o tempo vai passando.
Mas se ele tiver uma causa para lutar, ele não fica velho, ele estará todo santo dia motivado. Se eu, no momento de decidir, estiver com a motivação que eu estou hoje, com o vigor físico que eu tenho hoje, com a vontade que eu tenho hoje, eu não tenho dúvida nenhuma de que eu serei candidato a presidente da República para o quarto mandato.
Agora, vai depender, eu não vou mentir para mim e não vou mentir para o povo brasileiro. Agora, se eu estiver do jeito que eu estou, eu, sinceramente, serei candidato a presidente da República para ganhar as eleições. Serei candidato para ganhar as eleições. Porque eu tenho certeza que os nossos possíveis adversários devem estar muito mais preocupados do que eu, porque eles sabem que vai ser difícil derrotar a gente na eleição.
Juliana Nobre: Agora, as pesquisas recentes do senhor têm mostrado um aumento na avaliação, principalmente na Bahia. A avaliação positiva do governo Lula tem aumentado na Bahia. O senhor, inclusive, está cercado de baianos, né? A gente tem o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o líder do Senado, Jaques Wagner, que não é baiano, mas é praticamente baiano já, né? E mudou também a sua comunicação com Sidônio Palmeira. Tudo isso é uma estratégia, de fato, já pensando em 2026?
Presidente Lula: Não, não é só pensando em 2026, Juliana. O problema é que eu disse pra você, nós pegamos o país sendo destruído. É como se alguém tivesse jogado um drone aqui, explodido um monte de coisa nesse país. Nós tivemos que reconstruir. É importante a gente não esquecer, Juliana, que antes de eu tomar posse, a gente teve que fazer a PEC da Transição, porque não tinha dinheiro pra gente pagar as coisas no começo do ano. Tal foi a irresponsabilidade do cidadão que governou esse país.
Então, a gente resolveu fazer uma PEC de Transição antes de tomar posse, por isso que eu agradeço ao Congresso Nacional. Essa PEC da Transição que me deu a possibilidade de governar e remontar o governo. Juliana, quando eu falo que estava quase tudo semidestruído, a pura verdade. Eu peguei ministérios sem funcionários, levamos dois anos e meio, não foram dois dias. Isso é como você entrar numa casa velha, toda quebrada, que você começa a fazer uma reforma. Era mais fácil você começar a fazer uma nova do que fazer uma reforma.
Então, nós estamos conscientes de que as coisas estão acontecendo. Os baianos que estão comigo são pessoas de muita qualidade. Eu agradeço muito à Bahia e agradeço a eles. E nós estamos trabalhando uma estratégia de mostrar aquilo que foi plantado e aquilo que está nascendo agora. Agora é época da colheita. Então, nós temos muita coisa para apresentar para o povo, muita coisa para apresentar, muitos benefícios que vão acontecer e eu quero que a economia continue crescendo. Porque com ela crescendo a gente tem a chance de gerar mais empregos com melhores salários e melhor qualidade de vida para as pessoas. Esse é o meu desejo. E é por isso que eu tenho tantos baianos trabalhando comigo.
Juliana Nobre: Inclusive, eu entrevistei essa semana o ministro Rui Costa, ele disse que está com o nome posto para o Senado, mas lógico que depende muito do senhor. O senhor vai liberar Rui Costa para ser candidato ao Senado no nosso estado?
Presidente Lula: Esse é um problema que eu tenho, porque eu tenho vários ministros importantes que eu não gostaria que deixassem o governo. Mas eu também não tenho o direito de exigir o sacrifício de um ministro que tem possibilidade de se eleger. Então, quem quiser ser candidato será liberado para ser candidato. Quem quiser ser candidato será liberado para ser candidato. Eu não vou impedir o crescimento e o surgimento de novas lideranças no Brasil, porque o Brasil está precisando muito. E o Rui é uma liderança extraordinária na Bahia. Vocês sabem a qualidade do Rui Costa, vocês sabem a qualidade do Jaques Wagner. Eu ainda tenho o privilégio de ter o Otto [Alencar, senador] do meu lado. Ainda tem o Coronel [Meira, deputado] que nos ajuda em muita coisa também.
Então, essa construção política na Bahia é muito boa, porque quando o Jaques foi candidato pela primeira vez, a chance dele era mínima. Ele tinha 3% e Paulo Souto tinha 60%. Eu não queria que o Jaques Wagner fosse candidato. Ele foi candidato e ganhou no primeiro turno. Ele foi reeleito no primeiro turno. Ele elegeu o Rui Costa no primeiro turno. O Rui foi reeleito no primeiro turno. Então, a esperteza política desses baianos só me ajuda. Então, estou feliz com isso. Estou muito grato. Sou muito grato ao Wagner, muito grato ao Rui, muito grato às pessoas e ao nosso querido Jerônimo, que é uma promessa política extraordinária a nível nacional. O Jerônimo é efetivamente um menino de ouro. Acho que a Bahia merece ter um governador da qualidade dele.
Juliana Nobre: Presidente, para a gente terminar, qual a avaliação e principalmente o balanço que o senhor faz dos seus primeiros mandatos ao Lula 3.0? E faria algo diferente a partir de 2026?
Presidente Lula: Olha, deixa eu te dizer verdadeiramente o seguinte. Uma das coisas que eu tenho na cabeça é que se você, Juliana, me comparar hoje com o segundo governo meu de 2006 a 2010, não tem comparação. Porque naquele tempo a economia cresceu 7,5%. Nós geramos a maior quantidade de empregos que já tenham sido gerados nesse país. Quando nós voltamos, nós já pegamos o país semidestruído.
Mas veja que coisa interessante, Juliana. Desde que eu deixei a Presidência da República, em 2010, o Brasil não tinha crescido acima de 3%. Ele só foi crescer acima de 3% quando eu voltei para a Presidência da República. Cresceu 3,2%, 3,4%. Esse ano vai continuar crescendo. Pode até crescer um pouco menos, porque a gente vai ter que agora levar em conta a necessidade do começo da redução da taxa de juros, que depende do Banco Central.
E eu acho que isso vai permitir que eu possa dizer para você: nós estamos fazendo mais do que eu fiz nos outros governos. Estamos fazendo mais. Mais políticas de inclusão social, mais políticas de participação da sociedade, mais políticas de cuidar do clima, mais políticas de cuidar da saúde e de cuidar da educação.
A Escola de Tempo Integral vai ser uma revolução nesse país: garantir que a criança fique o dia inteiro na escola. O Pé-de-Meia é uma revolução nesse país, garantindo que meninos e meninas não desistam do Ensino Médio e vão estudar. Porque se ele estudar, ele vai poder ser um brasileiro que vai ajudar o Brasil a crescer, a se desenvolver, vai cuidar da sua família. Então esse país está pronto para a gente anunciar coisas novas para 2026 e para o processo eleitoral.
Eu espero que as eleições se deem de forma civilizada, madura, com zero de mentira e com 100% de verdade. Que as pessoas digam, olhando na cara do povo, o que vão fazer ou o que fizeram. Porque esses governadores que são candidatos, eles têm que dizer o que eles fizeram. Não o que vão fazer. Então, cada um vai mostrar aquilo que fez. E eu tenho certeza que nós temos muito, mas muito, para mostrar ao povo brasileiro e ao povo baiano.
Juliana Nobre: Então vamos para Camaçari, né? Anunciar e inaugurar a BYD, o senhor que segue de viagem agora para a cidade de Camaçari, com o prefeito Luiz Caetano.
Presidente Lula: Você vai estar lá?
Juliana Nobre: Vou, claro!
Presidente Lula: Você vai chegar a tempo?
Juliana Nobre: Depende. Mas vamos, vamos sim.
Presidente Lula: Obrigado pela entrevista. E até Camaçari, se Deus quiser. Daqui a pouco estarei aí, povo baiano. Me aguardem!
Juliana Nobre: Presidente, mais uma vez, muito obrigada por abrir a sua residência. Estamos pela Piatã FM, Salvador FM e mais 73 emissoras de rádio em todo o estado. Muito, muito obrigado.
Presidente Lula: Obrigado a você. E obrigado aos ouvintes que tiveram paciência de nos ouvir.