Entrevista do presidente Lula à Rádio Clube do Pará
Jornalista Nonato Cavalcante: Seja bem-vindo ao Pará, seja bem-vindo a Belém e fala também, logo de pronto, da festança que aconteceu ontem na Ilha do Outeiro, onde o senhor entregou mais de mil unidades habitacionais. Bom dia.
Presidente Lula: Bom dia, Nonato. É um prazer imenso, uma alegria estar falando com você. Bom dia, ouvintes da Rádio Clube FM. Bom dia, povo de Belém. Bom dia, povo do Pará.
Olha, Nonato, há uma coisa triste que é o seguinte: eu fui inaugurar um conjunto habitacional que tinha sido começado a ser feito em 2014. E eu, quando vi a fotografia daquilo parado, ou seja, aquilo ficou de 2014 a 2025 parado, 2024. Ou seja, praticamente dez anos parado um conjunto habitacional, mil e oito apartamentos, que poderia ter minimizado o sofrimento de mil e oito famílias que poderiam estar morando lá.
Eu fico me perguntando o que fez o governo passado que sequer deu sequência às obras de benefício social, que é a coisa mais importante para o ser humano, que é a sua casinha. E eu fui inaugurar aquela casa, eu fiquei pensando: tem muito governante que não tem a menor sensibilidade para o sofrimento do povo.
Eu vi as mulheres que receberam a chave da casa, elas não se continham de emoção, porque receber uma casa, meu caro, é como se fosse um passarinho terminando o seu ninho. Ali ela vai construir a sua família, ali ela vai viver bem por um determinado tempo, ali ela sabe que está segura. Então foi uma festa extraordinária, uma festa excepcional.
Jornalista Nonato Cavalcante: Até o próprio ministro das Cidades [Jader Filho] se emocionou.
Presidente Lula: Se emocionou, porque o Jader é um bom companheiro. O Jader é um menino excelente, é uma surpresa agradabilíssima no governo, é muito trabalhador, é muito inteligente, e viaja o Brasil inteiro. E ele fica muito emocionado porque, somente quem vê a emoção da pessoa que abre uma casa, um apartamento, e tem conhecimento da sala da sua casa, do quarto, da cozinha. E nessas primeiras casas, a gente dá fogão, dá geladeira de presente pra casa, você não tem noção da emoção. Até pensei que a mulher ia ter um infarto, nós fomos obrigados a sentar ela.
Jornalista Nonato Cavalcante: A Ana Maria de Fátima.
Presidente Lula: Então, Nonato, é uma coisa excepcional. E a irresponsabilidade de quem deixou aquilo parado tanto tempo, fazendo o povo esperar. Eu acho que nós estamos, só para você ter ideia, nós estamos recuperando mais de 87 mil casas que foram abandonadas. Só aqui, só aqui em Belém, nós vamos recuperar 80 escolas que estavam paralisadas.
Ou seja, um governante que deixa a casa paralisada, que deixa a escola paralisada, que deixa a creche paralisada, eu me pergunto o que esse governante veio fazer. O que ele queria, na verdade? Então, para mim, é uma alegria, é uma emoção, Nonato, quando eu viajo, é como se eu fosse para o céu.
Porque ficar no gabinete é muito desagradável, é só pedido, é só reclamação. Quando a gente viaja, que a gente encontra com o povo, encontra com os prefeitos, com os governadores, com os amigos, é uma festa extraordinária. Então, eu estou aqui em Belém, mas feliz, feliz da vida.
Nós vamos visitar obras hoje, vamos visitar canteiro de obras. E você sabe que o investimento que o Governo Federal e o financiamento do BNDES, dos bancos públicos, chega a quase R$5 bilhões aqui. Eu acho que nunca na história de Belém houve tanto investimento num único momento para que a gente prepare Belém para receber a chamada COP30, que é um evento das Nações Unidas.
Jornalista Nonato Cavalcante: Agora, presidente, eu quero voltar ao caso da habitação popular. Qual é a meta do seu governo para esse programa?
Presidente Lula: A meta era fazer 2 milhões, mas o Jader já me avisou que nós vamos atingir 2,5 milhões de casas até o dia 31 de dezembro de 2026. Veja, nós já tínhamos feito quase 7 milhões de casas entre Lula e Dilma e agora mais 2,5 milhões. E cada casa que eu construo, eu sempre conto a história, Nonato.
A primeira casa que eu comprei do Sistema Financeiro da Habitação, no Jardim Lavínia, 273, eu sei o número e sei a casa. A casa tinha 33 metros quadrados. E eu vivi feliz muito tempo. Sabe quem morava nessa casa de 33 metros quadrados? Eu, Marisa, a mãe dela, três filhos e dois cachorros.
E eu vivia muito feliz. Nós estamos entregando casas de 49 metros quadrados, de 50. Estamos construindo casas para a classe média, ou seja, uma casa um pouco maior, com um pouco mais de valor, porque nós queremos resolver o déficit habitacional desse país.
Eu vou te contar uma história, Nonato. Em 1974, naquela virada que o PMDB [atual MDB] deu nas eleições, porque em 1970 o PMDB foi quase dizimado. Em 74 teve aquela virada que o PMDB elegeu 16 senadores. Eu lembro do Ulysses Guimarães e lembro de um programa do PMDB falando de um déficit habitacional de 7 milhões de casas em 1974.
Hoje eu vejo que a gente ainda está com um déficit de 7 milhões. Mesmo a gente já tendo construído 7 milhões e vamos construir mais 2,5 milhões agora. Porque, para mim, construir casa é a mais importante garantia e o mais importante desejo que o povo trabalhador tem nesse país. O povo pobre tem.
Ele quer um ninho. E quer um ninho permanente. Porque as crianças não gostam de ficar mudando de escola. Porque as crianças não querem ficar mudando de amigo. Porque as pessoas querem se acostumar com os vizinhos e travar uma relação de amizade. E se você muda todo ano, você nunca faz relação com o vizinho, a molecada não arruma mais amigos e você não se dá bem nas escolas.
Então, isso para mim não é um sonho. É uma profissão de fé. Educação e moradia são duas coisas que eu carrego na alma porque eu já passei por tudo isso.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, vamos falar agora sobre, no contexto geral, desenvolvimento econômico. Quais são os principais avanços que o seu governo alcançou até agora nessa área, nessa missão, assim por dizer?
Presidente Lula: Olha, eu poderia te dizer duas coisas importantes. Primeiro que, quando tomei posse, logo em janeiro eu fui para Hiroshima, no Japão, no encontro do G7. E lá eu encontrei a diretora-geral do FMI, que veio me cumprimentar e dizer que lamentava profundamente que o Brasil ia crescer só 0,8%. 0,8%, menos que 1%. E eu disse para ela: olha, você não conhece o Brasil. Você não conhece o meu governo. E nós vamos crescer mais do que isso.
O que aconteceu? Nós crescemos 3,2%. Quase 4 vezes aquilo que ela previa. Aí o pessoal começou a dizer: “não, em 2024 o Brasil vai crescer só 1,5%, no máximo”. Nós vamos crescer 3,7% em 2024.
E começa agora outra vez: “o Brasil vai diminuir, vai crescer, mas não vai crescer mais”. Porque as pessoas costumam analisar a chamada macroeconomia. O pessoal do Copom fica utilizando a macroeconomia. Os bancos, os grandes empresários. E eu trabalho muito a microeconomia. O que vale para mim na economia é a quantidade de dinheiro que está circulando no bolso do povo pobre, no bolso do povo trabalhador, no bolso do pequeno proprietário rural.
E esse dinheiro está crescendo. Porque eu tenho uma máxima na minha vida, Nonato, que é o seguinte, eu tenho uma coisa que eu carrego na minha alma. Pouco dinheiro na mão de muitos é distribuição de riqueza. Muito dinheiro na mão de poucos é construção de pobreza. Então, quando o dinheiro está na mão do povo, está circulando, o cara que pega R$200, R$300, R$500, ele não vai comprar dólar. Ele não vai aplicar em títulos do governo.
Ele vai fazer o quê? Ele vai comprar o que comer. Ele vai comprar o que vestir. Ele vai comprar material escolar para sua filha. Ele vai comprar um chinelo, um sapato, ou seja, esse dinheiro volta imediatamente para o mercado. Ele voltando para o mercado, alguém vai ter que contratar mais um emprego.
Aí o mercado contrata da fábrica, a fábrica vai ter que contratar mais um emprego, vai pagar mais um salário que vai ter mais um consumidor. É isso que está fazendo a economia brasileira surpreender os chamados especialistas, os analistas na televisão que nunca dão uma notícia boa, nunca acreditam em nada. É sempre desgraça, sempre desgraça, sempre desgraça.
E como eu sou um cara que vim lá de baixo, trabalhei muito tempo e acredito nessa circulação dos recursos, eu vou te dizer o seguinte: nós surpreendemos [em] 2023, 2024, vamos surpreender [em] 2025 e vamos continuar crescendo. Nós temos um programa de recuperação da indústria, o Nova Indústria Brasil, que ataca seis áreas da economia, que está crescendo com mais de R$1 trilhão de investimentos para os próximos anos. Nós temos o PAC, que é de R$1,8 trilhão que está sendo investido entre o poder público, entre financiamento dos bancos públicos e bancos privados, entre iniciativa privada.
Ou seja, eu posso te dizer daqui de Belém, nunca antes na história de Belém, você que é um homem que tem 50 anos de vida na comunicação, você nunca viu acontecer em Belém o que está acontecendo agora, de investimento, de geração de emprego, de criação, praticamente, de uma nova cidade, que vai desde o saneamento básico, cuidar do povo que está na periferia, do povo pobre que vive com a casa cheia d'água.
A gente vai cuidar de tudo isso para que a gente possa transformar Belém na capital da Amazônia e fazer com que o mundo venha aqui, o mundo venha aqui beijar os pés da Amazônia, porque todo mundo fala da Amazônia. Nonato, em 1980, eu como sindicalista viajava o mundo inteiro.
A gente tinha uma dívida externa impagável. E aí o pessoal falava nos países, na França, na Europa, na Alemanha, na Inglaterra, na Suécia, na Holanda, na Noruega: “a Amazônia é o coração do mundo, a Amazônia é o pulmão do mundo, a Amazônia não sei o que lá”. Eu falava: é verdade.
Se a Amazônia é o pulmão do mundo, a dívida externa é a pneumonia do mundo. Então, por favor, nos ajude a cuidar dessa pneumonia, salvando a Amazônia. Então, a gente marcou aqui em Belém. Ontem eu disse o seguinte: a COP30 é um evento da ONU. Ela escolheu o Brasil, o Brasil escolheu o Pará, e o Pará escolheu Belém.
Mas não é um evento nosso, é um evento da ONU. E é por isso que nós estamos assumindo a responsabilidade de trazer o mundo para o coração da Amazônia. Todo mundo fala da Amazônia em qualquer planeta que você vá. Então eu quero agora que eles vejam a Amazônia como é que é. Ver como é o nosso povo, a alegria do nosso povo, a pobreza e a riqueza do nosso povo.
Eu quero que eles vejam que embaixo de cada copa de árvore que eles querem que seja preservada tem um seringueiro, tem um extrativista, tem um pescador, tem um pequeno agricultor que precisa viver bem. Precisa viver bem. Ele tem que ter casa, ele tem que ter escola, ele tem que ter bens materiais, porque todo mundo quer ter acesso às coisas boas.
Então, nós estamos reivindicando o dinheiro dos países ricos. Eles já cortaram as árvores deles, agora precisam das nossas. Então eles têm que assumir a responsabilidade e pagar um pouco.
Jornalista Nonato Cavalcante: Agora, presidente, o Brasil voltou a ter, digamos, protagonismo no cenário internacional, especialmente em temas como meio ambiente e economia. Eu não tenho dúvida disso. Eu pergunto ao senhor o seguinte: como o senhor avalia a retomada das relações comerciais e diplomáticas do Brasil?
Presidente Lula: Olha, eu, sinceramente, tenho muito orgulho do que está acontecendo hoje. A gente, durante praticamente seis anos, período dos dois governos anteriores, de 2017 para frente até 2022, o Brasil não conversava com o mundo e o mundo não conversava com o Brasil. Quando eu entrei, a gente resolveu recuperar nossas relações internacionais, porque o Brasil não tem contencioso com nenhum país do mundo. Todo mundo gosta do Brasil e o Brasil tem que gostar de todo mundo.
Nós já abrimos mais de 130 mercados novos para os produtos brasileiros. Você não tem noção da quantidade de pessoas. Quando eu era mais jovem, dizia que o Brasil vai ser o celeiro do mundo. E hoje o Brasil é o celeiro do mundo. Não tem nenhum país do mundo com a capacidade de produzir a quantidade de alimentos que o Brasil tem. Não tem nenhum.
E ainda temos mais de 40 milhões de terras degradadas que nós vamos recuperar para a agricultura. Ninguém precisa derrubar uma árvore. A gente vai recuperar 40 milhões de hectares de terra que pode produzir soja, produzir milho, produzir feijão, produzir arroz, criar gado, criar cabrito, criar bode, criar peixe, criar o que quiser. E a gente pode ainda fazer com que a gente tenha mais produto para consumir internamente e mais produto para exportar.
Então o Brasil é efetivamente o celeiro do mundo. Você não tem noção da quantidade de países que querem comprar coisas do Brasil. De pena de pavão, ovo de galinha, tudo, tudo. Pé de galinha, o que a gente produzir, o mundo quer comprar. Então nós temos que nos preparar para vender porque o povo brasileiro sabe produzir, gosta de ganhar um dinheirinho e nós queremos vender.
Outra coisa é a economia. A economia não tem mágica, não tem milagre na economia. Você tem que fazer aquilo que é o óbvio. Quando você é oposição, quando você é jornalista que senta aí na frente desse microfone, se você começa a falar, você sabe tudo o que tem que fazer. Você sabe tudo.
Agora o que é importante é que quando as pessoas ganham as eleições, as pessoas não fazem o óbvio, começam a inventar. E eu não quero inventar. Eu não quero governar, eu quero cuidar do povo. Eu quero cuidar. Eu quero cuidar dos mais pobres, quero cuidar da classe média, quero cuidar dos mais ricos. Ninguém será perseguido neste país, ninguém fica fora do mapa. Todo mundo tem direito.
Qual é o papel do governo? É cuidar daqueles que mais precisam, como você faz na sua família. Você pode ter cinco filhos. Você adora todos, ama todos. Mas se tiver um com probleminha de saúde, se tiver um fragilizado, é daquele que você vai dar um denguinho a mais, vai dar um carinho a mais, vai dar um leitinho a mais.
Ou seja, o governo é assim. Eu tenho que cuidar de todo mundo, do banqueiro ao bancário, do fazendeiro ao trabalhador rural dele. Eu tenho que cuidar de todo mundo. Agora, eu tenho que ter um olhar mais carinhoso, eu tenho que dar um beijo a mais, eu tenho que dar um abraço a mais, eu tenho que dar um afago a mais naquelas pessoas mais vulneráveis, para fazer com que elas subam um degrau na escala social desse país.
E quando fizer isso, a gente vai transformar o Brasil em um país que tem muita gente de classe média. Gente que possa levantar de manhã, tomar café com pão e manteiga, bem delicioso. Gente que pode almoçar com as calorias e as proteínas necessárias. Gente que possa jantar e, se quiser, ainda tomar um chazinho de noite antes de dormir.
É isso que eu quero. Eu quero que as pessoas se vistam bem, eu quero que as pessoas estudem bem. Por isso, não sei se você sabe, nós criamos um programa chamado Pé-de-Meia.
Jornalista Nonato Cavalcante: Sim.
Presidente Lula: Você sabe por quê? Meio milhão de jovens desistiram da escola para ajudar no orçamento familiar. Meio milhão de jovens. Todo ano. A gente resolveu criar o programa Pé-de-Meia para que esse jovem receba uma poupança: R$200 por mês e R$1 mil no final do ano se ele passar, para que ele não esteja motivado a desistir da escola.
Porque se a gente não investe agora, depois a gente vai ter que gastar com cadeia, vai ter que gastar enfrentando o narcotráfico, vai ter que gastar enfrentando o crime organizado. Então, eu quero tirar a juventude brasileira dessa perspectiva de cair no crime organizado. Eu quero dar o direito de ele estudar. E nós criamos uma bolsa também para professores.
Jornalista Nonato Cavalcante: Sim, sim, essa é a novidade.
Presidente Lula: Por que nós criamos? Porque ninguém quer ser mais professor. Tem muita gente que não quer ser mais professor porque não compensa, diz que o salário é baixo. Então, o que a gente fez? A gente criou uma bolsa para que os melhores alunos do ENEM, que tirarem mais de 650 pontos, tenham vontade de ser professor.
E por isso que a gente deu a bolsa, para ele poder estudar, ser professor. Enquanto ele não se formar, ele vai receber uma bolsa de estudo. Os meus adversários dizem que é gasto. Eu falo que é investimento, porque investir no professor é a coisa mais sagrada do planeta Terra. Porque é o professor que fica com o meu filho durante quatro horas e agora vai ficar o dia inteiro. Porque agora nós estamos fortalecendo a chamada escola de tempo integral.
Além de estudar português, matemática, ciências, geografia, ele vai ter aula de cultura, vai ter aula de esporte, vai ter aula de dança, vai ter aula de música. Ou seja, a gente quer uma criança completa. E mais ainda, Nonato, mais ainda. Fizemos parceria com seis mil prefeitos e a gente está garantindo um programa de, até 2030, a gente vai alfabetizar todas as crianças até o segundo ano do ensino fundamental.
Porque se a gente alfabetizar, a gente vai garantir que essa criança nunca mais tenha um retrocesso educacional. Então, sabe aqui, no estado do Pará, quantas crianças recebem Pé-de-Meia? 278 mil crianças. Isso, para mim, é o maior investimento que o governo...
Jornalista Nonato Cavalcante: E como é que está, efetivamente, esse programa? Porque houve um probleminha com o Tribunal de Contas da União. Já foi solucionado?
Presidente Lula: Está resolvido.
Jornalista Nonato Cavalcante: Está resolvido?
Presidente Lula: Está resolvido. Ontem eu até liguei para o presidente do Tribunal de Contas para agradecer. Está resolvido. Agora, esse mês, na semana que vem, acho que eu vou na Caixa Econômica depositar o primeiro R$1 mil para quase quatro milhões de jovens.
Jornalista Nonato Cavalcante: Legal.
Presidente Lula: É o papel mais importante do governo. É cuidar das pessoas que mais necessitam. Isso, para mim, é uma coisa sagrada. Nós estamos fazendo muitos hospitais universitários. Muitos hospitais. Nós anunciamos mais 101 institutos federais, para que a gente possa garantir ensino médio para as pessoas, ensino profissional, para que a gente tenha a nossa juventude mais qualificada.
Agora, para COP, o Helder [Barbalho, governador do Pará] me disse ontem que tem 36 mil jovens se preparando, aprendendo um pouco de inglês, aprendendo um pouco de espanhol, para a gente poder dar um show de cortesia, de respeito e de bom tratamento às pessoas que vierem participar da COP30. É isso que vai acontecer.
Você guarda bem, Nonato. Mande fotografar tudo, a imagem de Belém como é, para você fotografar a imagem de Belém depois da COP. Vai ser uma outra cidade, com mais espaço cultural, com mais saneamento básico para os pobres, com mais hotel de qualidade, porque também o turismo cresceu aqui em Belém.
Teve um milhão e duzentas mil pessoas que vieram visitar Belém, do Brasil e do mundo. Ora, porque a economia está melhorando, as pessoas estão ganhando mais, então as pessoas querem viajar. Quando as pessoas começaram a falar que o aeroporto de Belém está ficando rodoviária, é porque o povo está viajando.
E se o povo está viajando, é porque ele está ganhando mais. E se ele está ganhando mais, ele está gastando dentro do Brasil. Essa é a lógica do nosso governo. E essa é a lógica do Brasil.
Jornalista Nonato Cavalcante: Muito bem. Agora, presidente, no seu governo número 3, atual governo, o Congresso Nacional tem sido aquilo que chamamos um desafio para o seu governo aprovar pautas. Eu pergunto, como o senhor tem lidado com essa situação? Como está lidando com essa situação?
Presidente Lula: Olha, eu sei que você deve ter pensado assim: “esse Lula ganhou as eleições, o partido dele só tem 70 deputados, o PCdoB tem pouquinho deputado, o PMDB também não tem tanto, o PSB tem pouco, então o Lula vai governar com a maioria de deputados contra”. É verdade. Ou seja, nós não temos mais que 120 deputados em 513. Entretanto, nós conseguimos aprovar todas as coisas que nós queríamos no Congresso Nacional. Com muitas reuniões, com muita conversa, com muito debate, nunca um governo conseguiu aprovar tantas coisas como eu consegui aprovar em 2023, 2024.
Mais do que em 2008, mais do que em 2003. Muito mais. E muito mais do que no governo da Dilma. Olha, numa demonstração de que a rivalidade política que você tem no processo eleitoral, ela não pode continuar depois das eleições. Quem foi eleito tem que dar conta do recado. Quem foi eleito tem que governar. Quem foi eleito tem que cuidar daquilo que ele se comprometeu a fazer.
Então eu sou agradecido ao Congresso Nacional, ao Rodrigo Pacheco [senador], ao Arthur Lira [deputado federal], que me ajudaram muito. E que agora nós temos dois novos presidentes que vão me ajudar muito. O Motta [Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados] vai me ajudar muito e o Alcolumbre [Davi Alcolumbre, presidente do Senado] vai me ajudar muito para que a gente coloque a pauta, não do governo, a pauta das necessidades, das prioridades do povo brasileiro para votar.
E quando a gente colocar a pauta do povo, eu tenho certeza que o Congresso vai aprovar. Eu estou muito tranquilo com relação a isso. Muito tranquilo.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente Lula, muito se fala na exploração de petróleo na Amazônia. A Petrobras pensa em perfurar poços de petróleo, à procura de petróleo a cerca de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas. E não na foz do Rio Amazonas, como alguns dizem. Eu pergunto. Considerando-se que existem apoiadores e não apoiadores, em função, esses não apoiadores, em função exatamente do meio ambiente. Como o senhor está administrando essa coisa?
Presidente Lula: Obrigado pela pergunta, Nonato. Se não fizesse essa pergunta, a entrevista não valia a pena. É pelo seguinte, veja, eu acho que a gente tem que sacar uma mediação entre os [que são] contra e entre os [que são] a favor e começar a pensar nas necessidades do Brasil.
Isso é bom ou é ruim para o Brasil? Isso é bom ou é ruim para a economia do Brasil? Veja, a primeira coisa que eu tenho que te dizer olhando nos teus olhos, Nonato, é que eu sonho que um dia a gente não vai precisar mais de combustível fóssil. Esse é um sonho que eu carrego na vida. Um dia a humanidade não vai precisar mais de combustível fóssil.
Porque a gente já encontrou outras formas de produção de energia, que vão eliminar o combustível fóssil. E o Brasil é um país privilegiado. Porque o Brasil, só de energia elétrica limpa, nós somos o país com mais energia elétrica limpa no mundo. 87% da nossa energia é limpa. Mais ainda, se você pegar todo o composto de energia, o Brasil tem 50% de energia limpa e o resto do mundo tem 15%.
Então, nesse aspecto, ninguém vai dar lição no Brasil. O que é que nós temos que fazer? Primeiro, nós temos que agir com muita responsabilidade. Eu não quero que a exploração de petróleo venha a causar qualquer dano ao meio ambiente. Por isso é que a gente leva muito a sério uma discussão para que a Petrobras cumpra todos os requisitos ambientais para que a gente tenha certeza que, se acontecer um problema qualquer, a gente tenha tempo de resolver e conseguir evitar qualquer desgraça como aconteceu no Golfo do México.
Essa é a nossa responsabilidade. Agora, dito isso, a gente não pode prescindir de pesquisar se existe ou não a quantidade de riqueza que nós pensamos que existe na margem equatorial, que está a 575 quilômetros da margem do rio. Então, se a gente tiver capacidade de fazer isso, a Petrobras tem. O governo quer, o ministro Rui Costa, que é o chefe da Casa Civil, está trabalhando muito.
A gente quer mostrar para o Ibama, a gente quer mostrar para a companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], a gente quer mostrar para os especialistas que é plenamente possível a gente fazer a prospecção de petróleo.
O Suriname está fazendo a 50 quilômetros da gente, a Guiana está fazendo muito próximo da gente e a gente não pode prescindir, porque é essa riqueza, se ela existir, que vai ajudar a gente a fazer a transição energética, que vai fazer a gente ter dinheiro para cuidar da nossa floresta, de manter a nossa floresta em pé. Porque nós temos um compromisso que até 2030 a gente vai ter desmatamento zero no Brasil.
Não é um compromisso que o Nonato pediu, não é um compromisso que o Bush pediu, que o Trump pediu, que o Macron pediu, é um compromisso que eu assumi. Nós vamos fazer desmatamento zero nesse país até 2030 e nós vamos explorar esse petróleo, vamos fazer pesquisa, você sabe que nós pagamos uma sonda 500 mil dólares por dia.
Você acha que é pouco? E essa sonda está paralisada. Nós precisamos colocar ela para funcionar, para fazer pesquisa. Olha, se não encontrar petróleo, tudo bem, vamos procurar outro lugar. Mas se tiver petróleo, nós temos que saber como explorá-lo e inclusive utilizar dinheiro para que a gente possa ter uma política mais forte de fiscalização, mais forte ambientalmente e cuidar melhor do Brasil. É isso.
Eu tenho certeza que a Marina jamais será contra, porque a Marina é uma pessoa muito inteligente e o que a Marina quer é o seguinte: não é que eu não quero fazer, é como fazer.
Esse como fazer é uma coisa que eu quero, que ela quer e que você quer. Como fazer para a gente não ser predatório com a nossa querida Amazônia. E por isso que eu acho que a gente vai fazer com muita responsabilidade e se tiver petróleo, a gente vai ter mais dinheiro para fazer mais educação, mais saúde, mais tecnologia. Mais dinheiro para contratar gente para o Ibama. Mais dinheiro para contratar professor. Mais dinheiro para contratar médico e mais dinheiro para cuidar do Brasil. É isso que vai acontecer, meu querido Nonato.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, o senhor me lembrou do Donald Trump. Aí eu pergunto ao senhor o seguinte, como é que está o relacionamento entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump?
Presidente Lula: Bom, primeiro que não tem relacionamento. Eu ainda não conversei com ele, ele ainda não conversou comigo. O relacionamento é entre Estado brasileiro e Estado americano. Nós temos 200 anos de relação diplomática. O Brasil considera os Estados Unidos um país extremamente importante para a relação com o Brasil e eu espero que os Estados Unidos reconheçam o Brasil como um país muito importante.
Ora, se o Donald Trump cuidar dos Estados Unidos e eu cuidar do Brasil, se ele melhorar a vida do povo americano e eu melhorar a vida do Brasil, tudo estará maravilhosamente bem. O que eu estou preocupado é que os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, virou uma espécie de patrono da democracia no mundo. Virou uma espécie de xerife do planeta Terra. Eles se colocaram nessa posição. Defensor da democracia.
Agora, os discursos não são mais esses. Me parece que a democracia não está valendo tanto. Então eles, que foram os autores do Consenso de Washington, que defendiam o mercado livre, agora estão defendendo o protecionismo. “São os Estados Unidos para os americanos, é tudo para os americanos. Vou taxar todos os produtos, vou tomar a Groenlândia, vou anexar o Canadá, vou tomar o Golfo do México, vou tomar o Canal do Panamá, vou expulsar 40 milhões de pessoas”.
É um discurso que não tem nada a ver com aquilo que os Estados Unidos fizeram depois da Segunda Guerra Mundial. E eu me preocupo com isso. Eu me preocupo porque o que está em risco no mundo é a democracia. A democracia, que é o melhor sistema de governo que nós colocamos desde a Segunda Guerra Mundial, e eles agora estão negando tudo isso, eu acho delicado.
Agora, enquanto os Estados Unidos tiverem essa relação com o Brasil civilizada, harmônica, está tudo bem. Agora eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se está a taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente, ou vamos denunciar na Organização do Comércio, ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles.
A relação do Brasil com os Estados Unidos é uma relação muito igualitária. Ou seja, eles importam de nós 40 bilhões de dólares, nós importamos deles 45 bilhões de dólares, é o único país do mundo que tem superávit com relação ao Brasil. Então, nós queremos paz. Nós não queremos guerra. Nós não queremos atrito com ninguém. O Brasil não tem contencioso internacional.
E nós não queremos contencioso, nós queremos paz e tranquilidade. Ora, se o Trump tiver esse comportamento com o Brasil, eu terei esse comportamento com os Estados Unidos. Sinceramente, não vejo nenhuma razão para o Brasil procurar contencioso com quem não precisa. Agora, se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade. Não tem dúvida. Haverá reciprocidade do Brasil em qualquer atitude que tiver contra o Brasil.
E eu acho que os Estados Unidos precisam pensar que eles, durante mais de 60 anos, incentivaram o mundo a um determinado posicionamento. O livre comércio era uma coisa que eles venderam de forma alucinada depois dos anos 80, no tempo do Reagan [Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA] nos Estados Unidos e da Margaret Thatcher [ex-primeira-ministra do Reino Unido] na Inglaterra.
Então, por que as empresas europeias e americanas foram para a China? Você sabe bem, foram para a China para aproveitar a mão de obra escrava de um país que tinha um regime muito duro e todas as empresas, você não comprava nem uma cueca, nem um sapato, nem um paletó, nem um tênis se não tivesse Made in China.
O que os chineses fizeram? Copiaram. Diferente de nós no Brasil que respeitamos a questão das patentes, eles copiaram tudo. Copiaram, aperfeiçoaram, mandaram muita gente estudar, muitos engenheiros. O que aconteceu? A China hoje tem mais capacidade tecnológica do que os outros países. Ou seja, o capitalismo tentou explorar uma mão de obra quase que escrava e os chineses deram uma lição. Aprenderam mais do que eles e hoje eles ensinam ao mundo muita coisa.
Então, eu espero que o Trump perceba isso, espero que ele saiba que o mundo precisa de tranquilidade. O mundo não precisa de nervosismo. O mundo precisa de tranquilidade. Porque somente com tranquilidade a economia vai crescer, as pessoas vão ficar bem de vida e a gente vai viver num regime democrático, civilizado, respeitando cada um as instituições brasileiras, e ele respeitando as instituições americanas.
Se isso acontecer, pra mim está tudo bem. Portanto, eu não fico comentando as atitudes do Trump. Eu acho que ele fala o que ele quiser, ele é presidente dos Estados Unidos. Agora, ele não pode fazer o que ele quiser porque se fizer coisas que impliquem em resultados de outros países, sempre haverá uma reação.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, vamos mudar de assunto. Vamos falar de COP30. A realização da COP30 aqui em Belém é um marco para a Amazônia. Eu pergunto, como garantir que o evento trará efetivamente benefício concreto para o estado do Pará, para a Amazônia e para os povos da floresta?
Presidente Lula: Olha, eu penso que a primeira coisa, Nonato, é a visibilidade. Quando eu fui ao Egito e fiz a reivindicação para que a COP fosse no Brasil e junto com o Helder indicamos que o Pará poderia sediar a COP, a gente estava querendo mostrar o seguinte: o mundo inteiro falando da Amazônia, vamos trazer o mundo para a Amazônia? Vamos fazer com que as pessoas conheçam a Amazônia, conhecer a extraordinária beleza dos nossos rios, da nossa fauna, conhecer as nossas florestas, conhecer as nossas aves, sabe?
É extremamente importante que as pessoas venham para cá, porque todo mundo dá um palpite. A Amazônia é como se fosse água benta, o cara que vai lá, coloca o dedo. Não. A Amazônia tem dono, o Brasil. A Amazônia tem povo, são 29 milhões de pessoas que moram na Amazônia. E pessoas que querem viver, que querem curtir a vida, que querem trabalhar, que querem ter acesso às coisas.
Então nós trouxemos a COP para cá, muita gente dizia: “vai levar para o Pará. O Pará não tem condições, não tem estrutura, não tem hotel, não tem isso, não tem aquilo e tal”. Ora, quem vem à COP não vem atrás de beleza. Quem vem à COP vem para discutir responsabilidade com o planeta Terra. Porque quem não for ignorante sabe que está havendo mudanças muito, mas muito graves no planeta.
Tem chovido muito onde não chovia, tem tido muita seca onde não tinha seca. Esses dias, eu vi gelo na Arábia Saudita, neve. Esses dias, eu vi no deserto uma lagoa de tanto excesso de chuva. Ora, então, todos os cientistas, todos, sem distinção, afirmam que nós precisamos evitar o aquecimento da Terra, que pode chegar a 2%, é muito grave.
Então nós queremos trabalhar para manter até 1,5% no máximo. Para isso nós temos que sequestrar o gás de efeito estufa. Nós não podemos deixar esse gás ser predominante. E a floresta dá uma contribuição extraordinária. E a América do Sul tem oito países que têm a Floresta Amazônica. A América do Sul, a Indonésia e o Congo. Nós temos muita floresta. Então, para preservar essas florestas, a gente quer, primeiro, que as pessoas conheçam. Segundo, a gente quer que eles paguem.
Em Copenhague, em 2009, eu era presidente e os países ricos assumiram o compromisso de dar 100 bilhões de dólares por ano para que os países mais pobres pudessem preservar suas florestas. Isso não aconteceu. Depois, prometeram 300 bilhões. Isso não aconteceu. Hoje, a necessidade é 1 trilhão e 300 bilhões de dólares. Porque um colombiano, um venezuelano, um boliviano, um equatoriano, um homem da Indonésia, ou seja, para a gente preservar, eu tenho que dizer para o povo seguinte: nós vamos ter recursos para manter vocês vivendo bem sem precisar desmatar.
As pessoas têm que saber que, preservando, vai ganhar algum dinheiro. Vai ganhar um pouco de prestígio, de qualidade de vida. Ora, se eu não ofereço isso, por que ele vai deixar de desmatar? Se muitas vezes ele desmata para vender uma árvore, para fazer móveis na cidade grande.
Muitas vezes ele tem que desmatar para fazer alguma coisa qualquer para a família dele, produzir um pouco de macaxeira, um pouco de milho. Então, nós precisamos ter consciência que os 29 milhões de amazônicos precisam sobreviver decentemente. Então, a COP30 é isso. E, por isso, o governo federal resolveu fazer investimento.
Eu vou repetir uma coisa que eu falei no começo, Nonato. É a primeira vez que o Governo Federal coloca um montante de dinheiro de quase 5 bilhões de dólares [reais] para ajudar uma cidade a ficar mais bonita. Eu vou vir aqui inaugurar o Ver-o-Peso. Eu quero que você esteja junto, porque vai ser a primeira vez na história do Ver-o-Peso que ele vai ter uma coisa belíssima.
Vai ter tratamento de esgoto, vai ter uma coisa civilizada para o povo de Belém quando visitar, dar graças a Deus que estamos respeitando ele e fazendo uma coisa bonita. Vai ser uma beleza para quem está lá trabalhando e vai ter uma beleza para quem vai comprar. E quem quer visitar, então, vai ter um acesso extraordinário. E tudo isso a gente vai fazer com o maior carinho possível, com o maior… sabendo.
Aí eu vou te contar uma coisa. O pessoal pensava assim: “por que não faz em São Paulo? São Paulo tem muito hotel, São Paulo não sei das contas. Por que não faz no Rio de Janeiro?”. Nós vamos fazer em Belém, porque nós queremos mostrar a Amazônia do jeito que ela é, com o problema que ela tem, para que as pessoas saibam que tem que ajudar.
Outro dia, uma jornalista sueca falou assim para mim: “presidente, quando eu era pequena, meu pai comprou um pedaço de terra na Amazônia em meu nome porque ele queria que eu preservasse o mundo. Eu nem sei o que ele comprou”. Olha, nós não precisamos que eles comprem, eles precisam ajudar a gente a manter quem está lá a ficar lá.
É isso que nós queremos mostrar para o mundo, Nonato. Eu quero que o mundo, que dá muito palpite sobre a Amazônia, que acha que a Amazônia é o pulmão do mundo, que acha que a Amazônia é isso e aquilo, venha ver. Venha ver e fique sensibilizado para saber que o povo da Amazônia não é marciano.
Ele quer comer, ele quer morar, ele quer se vestir bem, ele quer comer bem, ele quer viver de forma decente. E é isso que nós queremos que o mundo reconheça para poder a gente preservar a Floresta Amazônica em toda a região da América do Sul.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, para fechar a nossa conversa, vamos falar de eleições. Teremos eleições no próximo ano.
Presidente Lula: Você tem que me perguntar isso aqui, sobre o Farmácia Popular.
Jornalista Nonato Cavalcante: Eu vou falar sobre farmácia popular também, porque isso aí é um anseio da população. A população quer saber efetivamente o que está acontecendo com o Farmácia Popular, que beneficia muita gente. Mas eu quero simplesmente botar na nossa conversa aqui esse assunto. Eleições.
Então nós teremos eleições no próximo ano. Aí a pergunta que todo mundo faz. O senhor disputa a reeleição?
Presidente Lula: Olha, é muito cedo, Nonato, é muito cedo para falar em eleição de 2026. É muito cedo. Veja, eu acho que eu tenho na cabeça o seguinte. Eu fui eleito para cumprir um programa. Eu fui eleito para executar uma série de coisas que eu acreditava e a sociedade brasileira acreditava. Esse ano de 2025 é o ano mais importante.
Eu tenho uma coisa na minha cabeça que é o seguinte. Isso vale para prefeito, vale para governador. Quando você ganha as eleições, no primeiro ano, ninguém te cobra nada, porque você ganhou e o pessoal sabe que no primeiro ano você não tem tempo de fazer nada.
No segundo ano, o povo já começa a ter uma expectativa. Ele não está entregando? Ele não vai entregar? O que é que está acontecendo? E no terceiro ano, é o melhor ano para prefeito, é o melhor ano para governador, é o melhor ano para o presidente da República. Porque você, no primeiro ano, você não tem sequer orçamento seu.
E nós agora temos orçamento nosso. Nós agora já definimos o que a gente quer fazer, já construímos tudo aquilo que a gente queria fazer, já reconstruímos o Brasil, já colocamos a casa arrumadíssima e agora é o seguinte, agora eu tenho que entregar. A gente arou a terra, a gente passou adubo na terra, a gente colocou a semente, cobriu, a gente irrigou e agora é hora.
Jornalista Nonato Cavalcante: Ajeitou a casa.
Presidente Lula: Agora é hora da colheita, meu caro. Então, 2025 é o ano da colheita e nós vamos entregar muita coisa nesse país. Você pode ter certeza que vai entregar muita coisa. Você vai ver a gente entregar coisa que nunca foi entregue nesse país. A ponto da gente vir ontem inaugurar um conjunto habitacional de 1.008 que estava paralisada desde 2014.
Então, isso é reconstruir esse país. Então, eu estou muito otimista que esse é o ano para duas coisas. Para a gente fazer uma colheita e para fazer com que a verdade ganhe da mentira. Eu estou colocando na minha vida um desafio: eu quero destruir a mentira. Esse é um embate meu. Eu quero destruir a mentira. Porque eu aprendi com a minha mãe desde pequeno. Meu filho, a verdade engatinha e a mentira voa.
Porque é mais fácil mentir. E nós temos uma turma de gente aqui no Brasil que não sabe fazer outra coisa a não ser mentir, a fazer provocação, a ofender os outros, a falar mal de todo mundo. E eu quero um país de verdade. Eu quero um país em que as pessoas saibam o que vai acontecer e o governo tenha coragem de olhar nos olhos da pessoa. Se não puder fazer, diga porque não pode fazer. Mas fazer aquilo que o povo precisa.
Então, esse é o meu ano. Presta atenção, Nonato. Esse é o meu ano. Eu quero desmascarar essa quantidade de mentira que tem na fake news, no celular. Todo mundo mentindo pra todo mundo. Eu aprendi com a mulher analfabeta que me ensinou. “Meu filho, você conhece a verdade pelos olhos. Quando você estiver conversando com uma pessoa, olhe nos olhos da pessoa. Não olhe na boca, não. Porque a verdade não está nos lábios. A verdade está nos olhos”.
Eu aprendi isso com a mulher analfabeta que me criou, que é minha mãe. Então, é isso que eu vou fazer nesse país. Se você chegar no Pará e perguntar o que o governo anterior fez do Pará. Eu duvido que vocês encontrem uma obra. Eu duvido que vocês encontrem uma casa verde-amarela. Eu duvido que você encontre um emprego verde-amarelo. Ora, porque só se mentiu nesse país. Só se mentiu. Se permitiu a morte de mais de 700 mil pessoas por irresponsabilidade contra a vacina.
Então, falar mal virou moda. Falar mal, vender fantasia, provocar os outros, ofender os outros. Então, é por isso que eu digo, 2025 é o meu ano. Agora, se eu vou ser candidato ou não, tenho uma discussão com muitos partidos políticos, com a sociedade brasileira. Eu tenho 79 anos. Eu tenho que ter consciência comigo mesmo. Eu não posso mentir para ninguém, e muito menos para mim.
Sabe, se eu tiver com 100% de saúde, se eu tiver com a energia que eu tenho hoje, inclusive de cabeça limpa, sabe por quê? Eu caí em um tombo, machuquei a cabeça, e eu fiz um tratamento, limpei minha cabeça, tirei tudo que era bobagem que tinha na cabeça, só ficou coisa boa agora. Só ficou coisa boa e pensamento positivo. Então, esse país que a gente vai discutir em 2026.
Se eu estiver legal e achar que eu posso ser candidato, eu posso ser candidato. Mas não é a minha prioridade agora. Eu quero governar 2025. Eu quero andar esse país. Eu quero visitar Belém, quero visitar a cidade do interior, quero visitar o Brasil inteiro, quero entregar as coisas que têm que ser feitas. É muita escola, é muito Instituto Federal, é muito programa de saúde.
Ô cara, nós chegamos no Brasil agora, tinha 12 mil médicos no Mais Médicos. Nós já estamos com 28 mil médicos, levando médicos para as cidades onde nunca se pensou ter um médico. Onde as crianças morreriam sem ter uma assistência médica. Onde as mulheres davam à luz sem ter uma assistência médica. Que país é esse?
Então eu quero devolver a decência de tratamento do Estado ao povo brasileiro. Aí depois eu vou pensar em eleição. Depois eu vou pensar. Por enquanto, eu quero fazer as entregas que eu prometi para o povo. E aí entra a questão do Farmácia Popular.
A ministra ontem anunciou que os 41 remédios que o Farmácia Popular entrega, que são remédios contínuos, aqueles que as pessoas têm que tomar a vida inteira, serão distribuídos gratuitamente.
Jornalista Nonato Cavalcante: Repita, presidente, para deixar muito claro.
Presidente Lula: Todos os remédios que a Farmácia Popular entrega para pessoas que têm o uso do remédio continuado, aqueles que a pessoa precisa... Remédio para a pressão. Remédio para a diabetes. Ou seja, se tem que tomar obrigatoriamente, esses remédios serão distribuídos gratuitamente para todo o povo brasileiro.
Jornalista Nonato Cavalcante: Boa notícia.
Presidente Lula: É isso.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, muito obrigado. O senhor respondeu a todas as perguntas. Não saiu pela tangente. Muito pelo contrário. E nos passou outros detalhes exatamente do seu governo, das realizações do seu governo.
Presidente Lula: Uma coisa importante que eu queria te falar é o seguinte, olha. Eu tenho dois ministros extraordinários aqui no Pará. O Jader e o Sabino [Celso Sabino, ministro do Turismo]. São duas pessoas que eu tenho profundo respeito e uma capacidade de trabalho extraordinária.
E tem uma relação com o Helder que é mais histórica. E o Helder está fazendo um governo excepcional. Então eu quero manter essa relação entre nós. Quero manter essa parceria, porque a gente quando governa tem que construir parceria com os estados. Eu não tenho inimigo, Nonato. Pode ser que alguém não goste de mim. Não tem problema nenhum, porque eu não estou propondo casamento para ninguém. A única coisa que eu quero é respeito.
Eu respeito todo mundo e eu quero ser respeitado. Se o estado tiver um governante que não gosta de mim, mas tiver uma necessidade do povo daquele estado, pode ficar certo que ele vai receber ajuda do Governo Federal. Porque eu não trato a minha governança ideologicamente. Então, meu caro, eu quero agradecer a tua entrevista.
Eu sei que você é uma das figuras da imprensa deste estado mais respeitadas. Não é por acaso que uma pessoa tenha 50 anos de vida profissional. Eu quero te agradecer, de coração, a lisura, o respeito e a seriedade das perguntas. Muito obrigado. Obrigado a você. Obrigado aos ouvintes da Rádio Clube FM e obrigado ao povo do Pará.
Ainda vamos fazer bastante obra hoje. Ainda vamos anunciar mais coisas. Nós estamos preparando uma situação em que nós vamos entregar títulos para 300 mil pessoas aqui nesse estado. Porque quando um cara tem o título da terra, ele se sente independente. Então, Nonato, obrigado, querido.
Jornalista Nonato Cavalcante: Presidente, muito obrigado. Acabamos de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula.