Entrevista do Presidente Lula à Aletihad News (Emirados Árabes Unidos)
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» Brazilian President: The UAE and Brazil are allies and constructive global forces
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a forte e crescente parceria entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos, baseada na confiança mútua, descrevendo ambas as nações como aliadas globais comprometidas em promover o bem-estar social.
Em entrevista exclusiva à Aletihad conduzida pelo Dr. Hamad Al-Kaabi, CEO do Aletihad News Centre, o presidente brasileiro destacou o progresso no aprofundamento da cooperação bilateral entre as duas nações, expressando sua admiração pelo caminho trilhado pelos Emirados Árabes Unidos nos últimos 50 anos e sua confiança no futuro promissor de sua parceria.
Durante a entrevista — primeira do presidente Lula concedida a um jornal árabe —, o líder brasileiro disse que o Brasil e os EAU desfrutam de um alto nível de confiança mútua, impulsionado por uma visão compartilhada de desenvolvimento sustentável e estabilidade global, enfatizando as oportunidades de aprofundar os laços.
Expandindo o compromisso de ambas as nações em impulsionar a cooperação intersetorial, Lula identificou a energia renovável, a inteligência artificial, a tecnologia, o desenvolvimento de infraestrutura e a segurança alimentar como principais áreas de interesse.
O presidente afirmou o compromisso conjunto do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos com uma ordem internacional baseada em regras, afirmando que esta parceria vai além dos laços bilaterais tradicionais ao abordar questões globais urgentes como as mudanças climáticas e a transição para um futuro mais sustentável e inovador.
Expandindo a cooperação estratégica
O presidente brasileiro confirmou que o Brasil está buscando explorar maiores possibilidades de cooperação bilateral com os Emirados Árabes Unidos, particularmente no fortalecimento de setores econômicos de alto valor.
Lula relembrou suas visitas aos EAU em 2023, primeiro em abril, quando se encontrou com o presidente Sheikh Mohamed bin Zayed Al Nahyan durante uma visita oficial, e novamente em dezembro para a conferência climática COP28 em Dubai. O presidente também destacou sua primeira visita histórica aos Emirados Árabes Unidos em 2003, quando foi recebido pelo fundador dos Emirados Árabes Unidos, o falecido Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan.
O presidente enfatizou a crescente parceria entre as duas nações, afirmando que o Brasil está explorando ativamente caminhos para aprofundar seu envolvimento com os Emirados Árabes Unidos e o Sul Global mais amplo.
“No passado, não era comum que os países da América Latina e do Oriente Médio se envolvessem diretamente, sem a mediação de potências coloniais, embora o Brasil tenha uma grande população de árabes e seus descendentes”, ele acrescentou.
A cooperação energética surgiu como um tema-chave, com Lula destacando esforços conjuntos em energia renovável e soluções sustentáveis.
"Ambos os países são produtores de petróleo e têm um forte interesse em fontes de energia renováveis. O Brasil, com sua vasta experiência em biocombustíveis, está colaborando com a empresa 'Asilian’, dos Emirados, em um projeto para usar macaúba para produzir biodiesel verde e combustível de aviação sustentável", ele explicou.
Lula acrescentou: “Também somos grandes mercados para combustível de aviação sustentável [SAF], que estamos promovendo no Brasil por meio de uma lei chamada ‘combustível do futuro’."
O presidente brasileiro enfatizou a importância da crescente cooperação entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos no enfrentamento às mudanças climáticas, particularmente para garantir uma transição tranquila da conferência COP28 em Dubai para a COP30, programada para ocorrer em Belém, Brasil, em 2025.
O presidente expressou profundo apreço pelos esforços dos Emirados Árabes Unidos em reunir apoio internacional para políticas e acordos climáticos, incluindo aqueles voltados para esforços de sustentabilidade, proteção de populações vulneráveis e aumento da resiliência climática global.
“Nossa estreita colaboração durante a COP de Dubai desempenhou um papel significativo na adoção do importante consenso endossado por 198 países”, disse o presidente.
Lula destacou o crescente escopo da colaboração entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos, observando a assinatura de memorandos de entendimento em áreas-chave como cooperação educacional e inteligência artificial, bem como planos de cooperação em questões relacionadas ao Polo Sul.
Abordando a segurança alimentar, o presidente enfatizou os pontos fortes complementares do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos nessa área tão urgente.
“Nossos países se complementam. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e um grande exportador para os Emirados Árabes Unidos. Os EAU, por outro lado, são um importante centro de logística e investimento, que pode servir de base para nossas empresas reexportarem produtos por toda a região. Também queremos que as empresas dos Emirados invistam em produção direta no Brasil”, disse ele.
O presidente brasileiro enfatizou que fomentar a colaboração entre governos é apenas parte da equação, destacando a necessidade de aprofundar o engajamento nos níveis empresarial e social. “Muitos brasileiros estão viajando, e há parcerias comerciais crescentes entre os Emirados Árabes Unidos e o Brasil. Também queremos que mais emiráticos visitem nosso país e mais empresas invistam”, acrescentou Lula.
Visão compartilhada
Durante a entrevista, o presidente disse que ambos os países têm objetivos compartilhados para aprimorar setores econômicos de alto valor agregado.
“Já estamos fazendo isso no setor de defesa, onde vemos investimentos conjuntos no desenvolvimento de produtos. Também temos grandes setores na aviação e suficiente capital humano e financeiro”, explicou.
O presidente destacou os esforços de décadas do Brasil para construir uma base industrial robusta, o que permitiu ao país fabricar tecnologias avançadas, incluindo a aeronave KC-390, uma solução de transporte de última geração.
Enquanto isso, observou Lula, os Emirados Árabes Unidos estão ativamente avançando suas capacidades em inteligência artificial por meio de investimentos substanciais, posicionando-se como um líder global em tecnologias emergentes.
"Essas iniciativas exigem uma troca mais eficiente de conhecimento entre nossas instituições de pesquisa e maior investimento em desenvolvimento industrial integrado... Também estamos progredindo na modernização e desenvolvimento dos governos. Nosso objetivo é selecionar as melhores práticas de gestão de ambos os países e facilitar o intercâmbio tecnológico, particularmente no campo da digitalização de serviços públicos, o que tornará a vida das pessoas mais fácil na prática", disse o presidente.
Lula destacou os esforços contínuos para fortalecer a cooperação bilateral entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos no combate ao terrorismo, acrescentando que ambas as nações estão trabalhando ativamente para aprimorar a colaboração entre suas agências de segurança.
Crescente parceria econômica
O comércio entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos experimentou um crescimento notável nas últimas duas décadas. Em 2003, o volume de comércio entre os dois países era de USD 570 milhões, enquanto em 2023, aumentou 43%, chegando a USD 4,3 bilhões.
O presidente enfatizou que o próximo desafio está na diversificação do comércio entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos para incluir produtos de alto valor agregado. Lula destacou a importância de incentivar as empresas brasileiras a expandir seus investimentos nos Emirados Árabes Unidos, aproveitando seu papel estratégico como um importante centro logístico na região.
"Há muitas empresas brasileiras operando nos Emirados Árabes Unidos, e estou confiante de que esse número aumentará nos próximos anos", disse Lula.
O presidente também destacou a crescente presença de investimentos dos Emirados no Brasil, impulsionados por contribuições notáveis dos fundos soberanos dos EAU. Esses investimentos abrangem uma ampla gama de setores da economia brasileira, incluindo petroquímicos, energia renovável, transporte e produtos de defesa.
O presidente acrescentou: "Ainda há muitas oportunidades em aberto, especialmente com os investimentos que o Brasil está fazendo na modernização da infraestrutura, como portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e energia”.
Parceria baseada em valores compartilhados
O presidente brasileiro destacou o vínculo profundo entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos, descrevendo os EAU como um parceiro natural e genuíno em fóruns multilaterais como o grupo BRICS. Lula reiterou o forte apoio do Brasil à adesão dos Emirados Árabes Unidos ao BRICS e sua participação ativa na cúpula do G20.
Ambas as nações, disse Lula, estão comprometidas com uma ordem internacional baseada em regras enraizada em princípios democráticos, garantindo uma voz mais forte para o Sul Global. O presidente destacou a aspiração compartilhada dos países de criar estruturas de governança global que serão equipadas para melhor abordar os desafios urgentes da humanidade, incluindo construção da paz, preparação para pandemias e mudanças climáticas.
“O BRICS é um grupo diverso e heterogêneo, dedicado à democracia nas relações e fluxos de poder globais, sem a necessidade de mediação de antigas potências ou de alimentar hostilidades. É uma excelente plataforma para promover o desenvolvimento sustentável e colaborar na superação dos flagelos da fome e da pobreza”, disse ele.
O presidente também elogiou o alinhamento do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos em questões globais importantes, observando sua estreita cooperação e visões de mundo semelhantes como impulsionadores essenciais de sua parceria estratégica.
Durante a entrevista, Lula expressou sua admiração pela notável jornada de desenvolvimento dos Emirados Árabes Unidos nas últimas cinco décadas, elogiando a liderança visionária e a previsão estratégica da nação para alcançar tal progresso transformador.
“O Brasil e os Emirados Árabes Unidos são aliados e forças construtivas no mundo, com uma visão de generosidade e melhoria do bem-estar humano, com foco nas pessoas. Espero que possamos continuar a fortalecer e aprofundar essa amizade e promover a paz e o desenvolvimento entre nossos dois países e regiões”, disse o presidente brasileiro.