Entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Jornal A Tarde (BA)
A Tarde — Presidente, o ano começando e o Sr. na Bahia inaugurando um espaço de formação que une educação e tecnologia. Qual a importância de projetos com este perfil em um estado do Nordeste, região que carece de melhorar indicadores sociais?
Presidente Lula — O ano começando e eu indo para a Bahia para trabalhar, começando esse ano de entregas do governo, nem vai dar tempo de ir para dar um mergulho em uma bela praia da Bahia, ou pular carnaval.
Nessa minha visita vamos celebrar a parceria para a construção do Parque Tecnológico Aeroespacial, que será fruto de uma parceria entre governo federal e a representação da indústria da Bahia, por meio do Senai. O Parque será construído em uma área da União e administrado pelo Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI CIMATEC), que é referência nacional em ensino e desenvolvimento tecnológico. Com esta parceria, nascerá um local para realização de pesquisas avançadas e promoção da inovação, que antes mesmo da implantação já desperta o interesse de grandes empresas, gerando oportunidades de emprego e renda na região. E para termos jovens baianos trabalhando e produzindo conhecimento nesse espaço, vamos precisar cada vez mais ampliar as oportunidades e condições de ensino.
O investimento em educação é o mais extraordinário que um governo pode fazer, assim como a coisa que mais dá tranquilidade e orgulho para uma mãe, um pai, é seu filho ter uma boa formação. Estamos retomando uma situação difícil após o governo anterior ter desmontado a área. Estamos cuidando dos vários níveis de formação, para assegurar qualidade e oportunidades da creche à universidade, além do estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico. Este último é fundamental também para fortalecer e desenvolver nossa estrutura produtiva e gerar mais emprego e mais renda para nosso povo.
E os estados do Nordeste vem se destacando no país e reduzindo as distâncias das outras regiões do país principalmente pelos seus investimentos em educação, em energia sustável e esforços de industrialização.
Em 2023, recuperamos os orçamentos das universidades e fizemos os reajustes no repasse da alimentação escolar, beneficiando três milhões de alunos na Bahia, e nos repasses diretos às escolas, destinado R$ 85 milhões só para as escolas baianas, por exemplo. Acabamos de lançar o Pé de Meia, uma poupança mensal de incentivo à permanência e conclusão escolar voltada para os jovens de baixa renda. Os alunos que fizerem o Enem no terceiro ano do Ensino Médio ainda receberão um benefício adicional. Vamos voltar a abrir as portas das universidades aos estudantes de famílias mais pobres. O Enem já chegou a ter quase 9 milhões de inscritos, caiu para menos de 4 milhões nesse período dos dois governos anteriores. Queremos recuperar a educação porque é ela e o emprego que vão melhorar de forma definitiva os indicadores sociais.
A Tarde — Mudando o foco para a esfera política, 2024 é um ano de renovação nos municípios, com as eleições para vereadores e prefeitos. Qual a participação que o Sr. planeja ter aqui na Bahia durante a campanha?
Presidente Lula —Vamos ver como será na Bahia, as chapas ainda não estão definidas, não é período eleitoral. O que eu acho é que as eleições desse ano serão importantes para reafirmar a democracia e rejeitar aqueles que embora disputem eleições, ganhem algumas, percam outras, ficaram inventando mentiras sobre o processo eleitoral para tentar dar um golpe. Se eles não acreditam no processo eleitoral, não deviam participar dele ou aceitar cargos.
A Tarde — No nível nacional, dois assuntos interligados que estão movimentando o cenário do Judiciário e Executivo é a ida do ministro Flávio Dino para o Supremo e a substituição dele no Ministério da Justiça pelo ex-ministro do Supremo Lewandowski, o que tem gerado críticas de blocos adversários. Qual a avaliação que o Sr. faz deste processo?
Presidente Lula —Eu tenho e confiança de que o povo brasileiro só tem a ganhar com o Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça e com o Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal. Lewandowski é um dos juristas mais experientes do país, com longa trajetória no Poder Judiciário, o que vai contribuir para o trabalho do Ministério da Justiça. É um homem que não precisava estar no ministério mais para nada, que aceitou uma missão em nome do país. O Dino é um político experiente, que já passou pelo Congresso Nacional e que foi governador de estado por oito anos, mas que foi juiz federal, primeiro no concurso, e sempre com um desempenho excepcional em todas as funções que teve na vida.
A Tarde — Na avaliação do Sr., após o primeiro ano do mandato, quais as três principais conquistas do seu governo para o povo brasileiro?
Presidente Lula —A primeira e maior conquista é que a gente garantiu a democracia, e retomamos o diálogo e o respeito entre as instituições, entre o governo federal e os governadores e prefeitos. É só na paz, no diálogo, no trabalho conjunto que podemos enfrentar os desafios e resolver problemas. Fake News não mata a fome do povo.
A segunda conquista foi o relançamento de mais de 80 políticas e programas que haviam sido extintos ou foram negligenciados ao longo dos últimos anos, especialmente nas áreas da proteção social, educação, saúde, cultura e infraestrutura, entre tantas outras. O governo voltou a funcionar, inclusive com as medidas econômicas necessárias para garantir um crescimento acima das expectativas, geração de empregos e oportunidades.
A terceira é a elevação da renda e o fortalecimento do poder de compra das famílias. O aumento real do salário mínimo, na maioria das categorias e a correção da tabela do imposto de renda que não acontecia há tanto tempo, o Desenrola para negociação de dívidas, o controle da inflação, com destaque para os preços dos combustíveis e dos alimentos, a recuperação do Bolsa Família são ações que já começaram a dar frutos e garantir mais qualidade de vida às pessoas. Voltamos a gerar empregos e o país voltou a crescer. Nós reconstruímos as condições para oferecer isso à população e, organizamos o governo para neste ano que está começando avançar ainda mais.
A Tarde — A Bahia foi um estado em que o Sr. teve uma das votações mais expressivas em 2022. Qual a avaliação que o Sr. faz do impacto dos programas federais em 2023 e a perspectiva de atenção federal para a Bahia neste ano que se inicia?
Presidente Lula —Eu só posso agradecer todo o apoio que eu sempre tive do povo da Bahia.
Quando assumi o governo federal, encontrei a administração desestruturada, com obras abandonadas, paralisadas. E vocês lembram como o governo anterior tratava os governadores da Bahia.
Nós arrumamos a casa, e o Rui Costa foi fundamental nesse processo na Casa Civil, coordenando os ministros e preparando o Novo PAC. Eu chamei ele para o governo pela eficiência e correria dele, desde os tempos que trabalhava no governo do galego. Eu não falava, mas antes mesmo da eleição já tinha na minha cabeça ele para a Casa Civil. Nosso governo tem muita gente experiente e isso foi importante para fazer as coisas andarem rápido nesse primeiro ano.
Alguns exemplos é que só na Bahia foram quase R$ 70 bilhões diretamente para os cidadãos, por meio de Bolsa Família, do BPC e de benefícios previdenciários, por exemplo. Em seguida, dedicamos atenção à cultura, à educação e à saúde. A cultura baiana recebeu R$ 285 milhões por meio da Lei Paulo Gustavo, para economia criativa, solidária, manifestações artísticas, cursos e espaços culturais. E na Saúde já chegaram 631 novos médicos, totalizando 2,2 mil profissionais.
E com o Novo PAC, os investimentos em 2024 vão ganhar velocidade, contribuindo para a geração de emprego e renda, além de melhorar a qualidade de vida da população. A Bahia receberá R$ 50 bilhões em investimentos diretos em infraestrutura e outros R$ 40 bilhões em projetos regionais. Neste ano de 2024, vamos começar a colher tudo o que plantamos. Vamos de novo superar as expectativas esse ano.