Conversa com o Presidente - Live do dia 25.jul.23
TRANSMISSÃO | Conversa com o Presidente #7
Jornalista Marcos Uchôa — Bom dia a todos, pra mais uma Conversa com o Presidente. Bom dia, presidente. Aqui nas rádios; no Youtube; na televisão, Canal Gov, agora. Hoje tá inaugurando o Canal Gov da EBC, o canal que vai mostrar tudo que o Governo faz pra você e pelo país e tamos aqui nesse primeiro programa. Esse foi um final de semana especial, final de semana que você voltou um pouquinho pra casa, que é sempre uma coisa importante, você já tinha falado em um outro programa: São Bernardo é a sua casa. Como é que foi lá o final de semana? Teve também a posse do sindicato dos metalúrgicos, que de certa maneira é também estar em casa pro senhor. Como é que foi? De certa maneira um pouco relaxado esse final de semana?
Presidente Lula — Olha, Uchôa, toda vez que eu volto pra São Bernardo é realmente como se eu tivesse voltando pra casa, não pra minha casa, mas pra casa de milhares de companheiros que têm uma história de vida construída comigo. Era posse do sindicato dos metalúrgicos. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo continua sendo uma referência no movimento sindical brasileiro. O companheiro Moisés [Moisés Selerges Júnior] tomou posse, e eu fui lá, e fui eu, foi a Gleisi [Gleisi Hoffmann, presidente do PT], foi a Janja [primeira-dama do Brasil], foi alguns outros ministros. Uma festa muito bonita, muita emoção. E a Maria Rita [cantora] que fez um show espetacular, ou seja, depois que terminou a posse, a Maria Rita fez um show de 1h e meia. Um belíssimo show. Ela tava muito emocionada. Ela, inclusive, lembrou que em 1979 a Elis Regina esteve em São Bernardo do Campo pra fazer um ato de solidariedade ao Fundo de Greve, que estava acontecendo em 1979. Então ela chorou e foi uma coisa bonita e eu voltei vivo.
Quando eu encontro com os trabalhadores, Uchôa, eu volto um pouco renovado. Eu, quando era presidente do sindicato, toda vez que baixava aquele astral que você achava que as coisas estavam ruim, que as coisas não iam acontecer, eu ia pra porta de fábrica. Daí eu ficava na porta de fábrica, comentava com o peão, fazia “bom dia” pra outro, e aí você ia percebendo o clima que está dentro da cabeça de cada trabalhador, e aquilo era um estímulo pra mim voltar pro sindicato com mais força. O que que aconteceu foi isso. As pessoas estão percebendo que o Brasil está mudando, as pessoas estão percebendo que as coisas estão ficando mais acessíveis a eles. Eles já estão podendo comer carne outra vez, eles já podem sair com a sacola cheia do supermercado, eles estão notando que a gasolina tá baixando, eles tão notando que o petróleo tá baixando, o diesel está baixando, eles estão notando que o saco de cimento tá baixando. Uma pessoa me falou: "Lula, olha, eu comecei a minha reforma e eu pagava R$ 40 num saco de cimento, agora tá 23", sabe. Então, o Brasil vai acontecer. O Brasil vai acontecer porque ele precisa de alegria, o Brasil precisa de motivação, o Brasil precisa de uma relação boa entre quem governa e quem é governado, aliás, é quem cuida e quem é cuidado, na verdade.
Então eu tô muito otimista, eu passo esse otimismo pros trabalhadores. Eu levo muito a sério, eu vejo as informações, eu acompanho as informações, eu acompanho as especulações políticas, as especulações econômicas. Muitas vezes, parte das coisas que a gente ouve não tem nada a ver com a verdade. Simplesmente, alguém falou alguma coisa e transformou aquilo numa coisa importante, quando na verdade não tinha importância nenhuma.
A economia do Brasil vai dar certo, a economia vai voltar a crescer, o salário vai voltar a crescer, nós vamos voltar a gerar emprego, o povo vai voltar a comer melhor, e as políticas públicas que nós colocamos em discussão, que já está hoje, praticamente todas, funcionando – não ainda 100% porque ela leva um tempo pra funcionar, mas as políticas públicas vão funcionar –, o dinheiro vai chegar na base, quando o dinheiro chegar ele começa a rodar e você vai ver que a economia vai começar a crescer. Esse é meu otimismo.
A imagem do Brasil no exterior voltou a ser uma imagem muito respeitada. Eu tenho viajado muito, eu tenho participado de reuniões importantes. Ainda esse ano eu tenho, sabe, a ONU, eu tenho a África do Sul, Brics, eu tenho a Índia, o G20, e tenho a grande reunião que eu vou fazer dia 8 e 9 de agosto, em Belém, pra discutir os países amazônicos. Então, eu voltei de São Bernardo, eu diria, motivado, ciente que nós estamos no caminho certo. Quando o trabalhador tá feliz significa que as coisas vão indo bem.
Marcos Uchôa — E nesse aspecto o Desenrola também está dando uma repercussão na rua muito grande, né? Porque muita gente já resolveu seu problema, muita gente tá muito perto de resolver, e isso tá criando, também, um clima do que você falou: dinheiro no bolso e voltar a consumir, né?
Presidente Lula — Olha, você tá lembrando que isso foi uma peça de campanha. Durante a campanha a gente disse que ia fazer esse programa pra abater a dívida de quase 72% da população brasileira que tava endividada. Pessoas que estão endividadas com a conta de luz, com a conta de água. Pessoas que se endividaram porque usaram o cartão de crédito pra comprar comida em momentos difíceis. Você sabe que quem tem cartão de crédito, às vezes, esquece de que tem que pagar, né? Então, na hora de comprar você não vê dinheiro, você põe o cartão...
Marcos Uchôa — Pedacinho de plástico, né?
Presidente Lula — …Mas um tempo depois, um tempo depois chega o valor na tua conta pra você pagar. Então, as pessoas estavam endividadas e nós resolvemos tomar a decisão de ajudar. Ou seja, nós tamos atendendo primeiro aquelas pessoas que devem até R$ 100, que quase todas vão ser zeradas, vão ficar livres. Depois, nós começamos com a turma que ganha até R$ 20 mil, sabe, que tem dívida em banco, os bancos estão chamando e me parece que é um sucesso extraordinário, tem gente reduzindo em 90% a sua dívida. E agora, em setembro, vai entrar o grosso, que são pessoas até R$ 5 mil, R$ 2 mil, R$ 1,5 mil, R$ 3 mil, pessoas que estão devendo no varejo. Pessoas que compraram e que tão devendo, e não conseguem pagar, e que tão no Serasa, e nós também vamos tentar ajudar. Então esse é o grosso que vai começar agora e será o grande teste do programa. Até agora, até agora, o sucesso do Desenrola é muito maior do que a expectativa. O sucesso dele, a procura, e a competência de funcionamento, ou seja, as coisas funcionaram bem. Os bancos trabalharam bem, as pessoas que têm dívida trabalharam bem, o Governo articulou corretamente, então, eu só posso dar os parabéns aos companheiros que, sabe, arquitetaram o Desenrola, porque ele vai ser um sucesso e eu espero que, a partir de setembro, ele resolva totalmente o problema do pessoal que tá com dívida pequena no Brasil.
Marcos Uchôa — Por falar em problema, presidente. A gente soube que o senhor esteve no hospital lá em São Paulo pra tratar desse, desse quadril, desse problema na perna que te incomoda. Explica pra gente o que tá acontecendo exatamente? Quer dizer… você tá empurrando isso, né? Que é, é um incômodo? Precisa operar ou não precisa operar? O que que está acontecendo?
Presidente Lula — Eu tô como um jogador de bola que não quer dizer pro técnico que está sentindo dor pra não ir pro banco. Ele quer continuar jogando, e ele finge que não tá doendo. Eu tenho um problema na cabeça do fêmur, faz tempo que eu tenho isso. Uma vez um médico me disse o seguinte: "Olha, presidente, a cabeça do fêmur, essa dor no quadril, só quem vai decidir operar é o senhor, porque é o senhor que sabe o limite da sua dor. Vai chegar um dia que você dizer "vai ter que operar'.
A nossa senadora Leila [Leila Barros], sabe, aqui de Brasília, ela operou o quadril. Então, ela vive me mostrando a radiografia dela pra mostrar. "Presidente, é uma coisa simples. Eu fui pro céu depois que eu operei porque a gente pensa que não vai ficar bom, com três meses eu já estava fazendo de tudo". Esses dias eu estava cortando o cabelo e o companheiro que corta o cabelo falou pra mim: "Presidente, eu fiz em setembro do ano passado. Eu fiz em setembro, presidente. Eu não conseguia mais sequer calçar o sapato. Eu tô inteiraço outra vez, tô até fazendo esteira". Isso tudo me motivou a tomar uma decisão. Eu quero fazer a cirurgia porque eu não quero ficar com dor. Olha, deixa eu lhe falar uma coisa, Uchôa. Ninguém consegue trabalhar com dor o dia inteiro, então, eu sinto que, às vezes, eu estou com mau humor com meus companheiros. Eu chego de manhã pra trabalhar, quando eu boto meu pé no chão já dói e eu tenho que falar bom dia sorrindo e, às vezes, eu não consigo falar. Às vezes fica visível no meu rosto que eu tô irritado, que eu tô nervoso. Aí você vai ficando uma pessoa incômoda, você vai ficando uma pessoa chata, você vai ficando uma pessoa que ninguém quer falar bom dia pra você mais com medo de tomar um esporro, sabe.
Então, eu tô chegando à conclusão que eu tenho que operar. Eu sábado fui fazer um procedimento, domingo fui fazer um procedimento, que era um teste pra saber se aquele procedimento me garantia que eu pudesse ficar 12 horas sem dor. O procedimento deu certo. Eu fui na festa do sindicato, participei lá, não tive dor. Mas na segunda-feira de manhã já tinha acabado as 12 horas que o médico me deu, voltou a doer. E parece que voltou a doer um pouco mais, tá? Eu vou fazer um novo procedimento, eu tô me preparando pra outubro, tô me preparando fisicamente, vou fazer um regime mais duro, tô fazendo mais física, porque eu lamento muito não poder fazer esteira, eu adorava fazer esteira, e eu lamento não tô podendo fazer. Então, eu fico só fazendo peso, fico fazendo braço, perna, peitoral, mas eu queria fazer, queria fazer...
Marcos Uchôa — Aeróbica, andar…
Presidente Lula — …queria correr. Bem, então, o que que eu tenho de decisão: eu tenho muitas coisas importantes pra fazer...
Marcos Uchôa — Muita viagem, né?
Presidente Lula — …e eu não quero parar. Veja, eu, agora dia 9 e 8, eu tenho o grande encontro dos países amazônicos em Belém. Esse encontro é importante porque vai balizar a discussão da COP 28, que será realizada no final do ano, nos Emirados Árabes.
A partir daí, Brasil, os países da América do Sul que fazem parte da Amazônia; mais os dois Congos, que nós convidamos pra vir na reunião; mais a Indonésia, são os países que têm muita reserva de floresta. Então, o que nós queremos é dizer ao mundo o que nós queremos fazer com a nossa floresta e dizer o que que o mundo tem que fazer pra ajudar. Porque prometeram US$ 100 bilhões, em 2009, e até hoje não saiu esses US$ 100 bilhões. Vai ser, vai ser, possivelmente, a reunião mais importante.
Nós temos uma coisa aqui chamado "Tratado Amazônico", chamado OTCA, ou seja, há 45 anos não se reúnem os presidentes dos países. Então, é a primeira reunião que eu vou fazer com os países amazônicos pra tomar uma decisão única, pra gente tentar discutir seriamente. Ontem, eu recebi aqui um vice-presidente da Nasa, um diretor da Nasa, que quer discutir conosco, sabe, um acordo, sabe, um compromisso pra ajudar a gente fiscalizar de satélite, porque nós temos isso com os chineses, e eu falei:"Olha, qualquer ajudar será bem-vinda aqui, porque nós queremos evitar que haja queimada na Amazônia e desmatamento".
Depois desse debate no Amazonas, eu tenho os BRICS na África do Sul. É os BRICS importante, e a gente ainda não sabe se o Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia] vai ou não vai, porque tem uma condenação no Tribunal Internacional – que a África do Sul é signatária – e se o Putin for lá, pode ser que a justiça mande prender o Putin. O que que vai acontecer? Então não sei se ele vai. É uma reunião muito importante, eu tenho que estar presente. Depois eu tenho que estar presente em uma outra reunião importante que é o G20, na Índia. E o Brasil recebe a presidência do G20 para 2024. Então, é extremamente importante essas reuniões e eu não quero faltar nenhuma delas. Dia 17 de novembro, dia 19 de novembro, eu tenho que ir aos Estados Unidos, na ONU. Vou fazer o meu pronunciamento de abertura, e depois meu companheiro Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos] propôs um acordo entre eu e ele pra fazer um lançamento de um programa de geração de empregos, lá na ONU, também. Eu quero fazer. Vou preparar um documento pra fazer com o Biden.
Então, é o seguinte: o que me sobra de tempo é outubro, sabe. Eu tenho que tentar calcular bem para que no meio de outubro, se for isso que eu for fazer, eu fazer a cirurgia. É uma cirurgia razoavelmente rápida, sabe, duas horas e meia parece que você tá pronto. O médico me disse sexta-feira que, dependendo do meu estado físico, três horas depois eu posso estar dando passinho com andador, sabe. E depois vai depender da minha disciplina de recuperação. Então eu vou fazer. Enquanto eu estiver me recuperando, o Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República) fica no comando, sabe, com total tranquilidade. Eu tenho total confiança no Alckmin, ele é um parceiro extraordinário, e o Brasil vai em frente. A engrenagem já, já tá funcionando. Ou seja, quando você faz um motor muito grande, você testa ele com o motor pequeno. Na Villares, quando a gente fazia navio de 12 metros de altura, motor de navio de 12 metros de altura a gente fazia na Villares, quando você ia testar eles, era um motorzinho pequeno que acionava o motor grande. Então, as coisas começaram a funcionar, as políticas começaram a funcionar, as coisas começaram a engrenar, sabe, universidade, pesquisa, instituto, tudo tá funcionando. Bolsa família funcionando, PAA funcionando, a questão da segurança pública funcionando, a Polícia Federal funcionando, ou seja, as coisas estão indo. Então, eu estou com essa preocupação só de fazer. É uma tranquilidade do ponto de vista científico, porque a medicina está muito avançada nessas operações, e eu vou fazer porque eu não quero ficar com dor. Não é mole, Uchôa, você levantar com dor todo dia, de sábado e domingo, de segunda, você não pode entrar na piscina porque se você fizer movimento com os pés, dói. É um negócio, um negócio enjoado.
Marcos Uchôa — Você já levou o máximo que podia, né?
Presidente Lula — E eu, eu sou uma pessoa que gosta de brincar muito, eu sou uma pessoa de bom humor, sabe, e se eu ficar de mal humor, não vai ser legal, né. Você começa a brigar até com as cachorrinhas, sabe. Eu quero ficar de bom humor porque eu quero fazer esse país dar certo. Eu assumi um compromisso com o povo brasileiro. Eu não quero fazer nenhum milagre. Eu só quero que esse povo volte a comer bem, volte a trabalhar, que esse povo volte a morar, que as crianças possam estudar em escola de tempo integral, que nós vamos fazer o lançamento agora. Escola em tempo integral para garantir que as crianças tenham mais capacidade de estudo, mais tempo de estudo, e mais segurança porque está dentro da escola. A gente vai fazer isso.
Eu quero que as pessoas voltem a viver bem nesse país. Quando a família está bem, tá tudo bem no mundo. Quando a família está mal, pai e mãe se digladiando, estão brigando, tá tudo azedo. Eu, eu, eu tinha uma coisa que eu dizia sempre assim pra Marisa [ex-primeira-dama], quando eu estava no sindicato, eu falava: "a gente não pode brigar, porque se a gente briga você vai trabalhar azedo". Eu não gosto de brigar com a Janja, eu não gosto de brigar em casa. Às vezes quer brigar comigo, não tem briga. Comigo não tem briga porque eu já brigo lá fora. Eu já aturo o Pimenta [Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República], eu aturo o Stuckert [Ricardo Stuckert, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual], o Chrispiniano [José Chrispiniano Júnior, secretário de Imprensa] o dia inteiro, o Marcolinha [Marco Aurélio Ribeiro, chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República]. Não, eu não quero brigar em casa não, em casa eu quero paz e amor, e se possível namorar bastante. Assim que é a vida, sabe.
Marcos Uchôa — Essa coisa que você falou de estar bem em casa, né? E uma das coisas dessa semana que vocês fizeram foi o negócio da segurança alimentar, de cozinha solidária. Que é uma coisa bem básica, quer dizer, os programas de Governo que vão ligados a uma coisa mais que é a questão da fome, que é a questão das refeições, que é uma questão maior de até a CONAB ter estoque. Tudo isso também é nessa direção, né?
Presidente Lula — Uchôa, o PAA foi um dos grandes programas que nós criamos no meu primeiro mandato. Um programa excepcional porque você compra alimentos do pequeno e médio produtor rural, às vezes você compra o excedente, às vezes você compra porque ele não tem preço. O que você não deixa é o alimento estragar na roça e você compra isso. E você distribui esse alimento pra entidades filantrópicas. Tem milhares de pessoas que precisam desse alimento, aí o governo compra e distribui. E mais ainda, agora entrou as cozinhas solidárias, que essas cozinhas têm que estar ligadas a alguma instituição, alguma entidade que nós também vamos dar, sabe, comida pra essas cozinhas solidárias prepararem alimento pras pessoas que estão sem condições de se alimentarem corretamente.
É muito importante que a gente não deixe... Eu vi uma reportagem esses dias que 30% do alimento se perde entre o campo e a cidade. Ou seja, entre a produção e o consumo, 30% do alimento se perde. Ora, então não é possível que tenha gente com fome e perdendo alimento. Então é preciso que a gente cuide, é pra isso que criamos o PAA. Mas uma coisa importante é que nós criamos também o Mais Alimentos. O Mais Alimentos a gente criou pra aumentar a capacidade produtiva do pequeno produtor. Ou seja, se ele colhe 10 laranjas, ele pode colher 20. Se ele tira de uma vaquinha três litros de leite, vamos preparar pra ele poder tirar seis. E assim sucessivamente. Nós abrimos uma linha de financiamento de máquinas e implementos agrícolas para o pequeno e médio produtor.
Sabe que o Brasil tem quatro milhões e 600 mil produtores que têm até 100 hectares de terra. Essa gente, essa gente é que produz 99% das coisas que a gente come. Essa gente que produz. Então, o Mais Alimentos tem como objetivo fomentar a modernização da possibilidade dele aprimorar a capacidade de trabalho, financiar uma máquina mais barata, um pequeno trator, uma pequena colheitadeira, sabe, coisas pra ele fazer irrigação. Então, tudo isso vamos financiar na expectativa de que ele dobre a produção dele. Se ele dobrar a produção dele, vai cair o alimento, vai ficar mais barato pro povo comer, ele também vai ganhar o que é justo e ele merece ganhar, e se for o caso, a gente vai exportar, se for o caso a gente vai dar mais alimento pro povo comer. É esse país que eu quero entregar quando terminar o meu mandato. Esse país com fartura na mesa. Então, eu tenho certeza que isso vai acontecer. Tudo isso me deixa muito, muito, muito feliz.
Às vezes eu vejo muita…às vezes, você sabe Uchôa, você que é um jornalista muito experimentado, você sabe que, às vezes, também, o jornalista vai pro microfone e ele não tem muito o que falar. Então, ele começa divagar, ele fala uma coisa, ele fala que o Lula brigou com o Stuckert, brigou com o Uchôa, Lula brigou com o Pimenta, o Pimenta não foi trabalhar de manhã. Então vai contando coisa que você nem sabe que aconteceu. Então, deixa eu te falar uma coisa: O Lula não conversa com o Centrão. Ele conversa com os partidos políticos individualmente. Eu posso conversar com o PP, eu posso conversar com União Brasil, eu posso conversar com os partidos que são da base, mas eu não reúno o Centrão. O Centrão não existe, o Centrão é o ajuntamento de um grupo de partidos em determinadas situações. Eles nasceram na Constituinte de 88, com Roberto Cardoso Alves [ex-deputado federal e ex-ministro] , com Fiuza [Ricardo Fiuza, ex-deputado federal e ex-ministro], com Delfim [Delfim Netto, ex-deputado federal e ex-ministro], que não queriam que a esquerda avançasse muito, então quando a gente tava avançando muito nos direitos sociais, criou-se o Centrão, ou seja, todos os partidos mais conservadores se juntaram. Eles estão aí representados em 50 partidos. Eu não quero conversar com o Centrão como organização, eu quero conversar com o PP, eu quero conversar com o Republicanos, eu quero conversar com o PSD, eu quero conversar com União Brasil. É assim que a gente conversa, sabe, e é normal que se esses partidos quiserem apoiar a gente, eles queiram participar do governo, e você tentar arrumar um lugar pra colocar, pra dar tranquilidade ao governo nas votações que nós precisamos pra melhor aprimorar o funcionamento do Brasil. É exatamente isso que vai acontecer. Lamentavelmente no Brasil se adota política, sabe, a imprensa trata esse negócio “vai dando que se recebe”. Ou seja, em qualquer lugar do mundo você faz acordo…
Marcos Uchôa — Isso é negociação normal, né?
Presidente Lula — Em qualquer lugar do mundo você faz acordo. Mas aqui no Brasil tudo é dando que se recebe. Eu trato isso com mais clareza, eu trato isso com mais simpatia. Eu converso com o deputado, eu converso com o senador, eu mandei um projeto de lei, ele não é obrigado a concordar com o meu projeto de lei, e ele pode propor mudança, sabe, e, às vezes a mudança que ele propõe pode melhorar, às vezes pode piorar. Se piorar, eu veto. Se melhorar, fica. É assim que é o jogo, o jogo tem que ser à luz do dia, e é assim que vamos fazer, é assim que nós vamos governar esse país
Marcos Uchôa — E a Reforma Tributária, de certa maneira, mostrou que isso é possível. Era uma reforma que há décadas se falava que não ia acontecer, que tinha muitos interesses. E passou, né? Quer dizer, mostrou que é possível esse acordo, e era desejável por todos os lados, né?
Presidente Lula — Deixa eu te dizer uma coisa: A política, a gente considera política a arte do impossível, porque na política tudo que parecia impossível pode se tornar possível. Vamos ver o seguinte: em 1989, qual era o analista político do Brasil que imaginava que fosse um torneiro mecânico e o Collor pro segundo turno? Os candidatos presidenciáveis era Ulysses Guimarães, senhor Constituinte; era Brizola, que fazia 15 anos que tava exilado e achava que era Presidente da República; era, era Maluf [Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo] , era Afif, era Mário Covas [ex-governador de São Paulo], era Aureliano Chaves [ex-governador de Minas Gerais]. Eu era o quê? Eu era um bagrinho, eu era um lambari solto dentro de um lago pro jaú me comer, pros pintados me comer. Terminou eu indo pro segundo turno. Isso não tava na lógica da política. E veja que engraçado. Eu fui o segundo em 89, 94, 98, o primeiro em 2002, o primeiro em 2006, o PT foi o primeiro de 2010, 2014, o segundo de 2018, o primeiro agora. Então, as pessoas não podem tratar o PT como se fosse um partido insignificante. É o partido mais forte e mais organizado e mais forte desse país. E por ser o mais organizado e mais forte, é também o mais alvo de crítica de todo mundo, quem não é petista é contra petista. É que nem Flamengo. Quem não é Flamengo é contra o Flamengo. Quem não é Flamengo é incapaz de reconhecer que o Flamengo joga bem. Eu sou vascaíno, a Janja é flamenguista. A gente quebra o pau. Ela grita, ela fica nervosa, e o meu Vasco tá muito ruim. Benza Deus, o Vasco e o Corinthians precisam de um benzedor. E o que nós estamos vendo: a política tributária parecia impossível, sabe, o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] foi costurando o Chrispiniano, o companheiro Guimarães [José Guimarães, deputado federal líder do Governo na Câmara dos Deputados], o companheiro Jaques Wagner [senador líder do Governo no Senado Federal], o companheiro Padilha [Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais] foram conversando dali, conversa dali, tem uma coisa a mais aqui, uma coisa a menos ali, daqui a pouco tem o formato de uma política tributária aprovada que tem como objetivo baratear a quantidade de imposto, diminuir, sabe, simplificar com coisas menos burocráticas, e fazer com que a gente cobrando menos arrecade mais, porque todo mundo vai ser obrigado a pagar. Se isso der certo, é um bem pro Brasil, não é um bem pro Lula que já tá com 77 anos, é um bem pra quem nasceu agora, pro meu bisneto, pra minha bisneta. É isso que tá acontecendo no Congresso Nacional. Eu tenho conversado com Pacheco [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal], tenho conversado com o Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados], tenho conversado com os líderes, o que eu sinto, o que eu sinto, na verdade, é que as pessoas estão com muito boa vontade de fazer as coisas acontecerem. O que eu sinto é isso. E é direito das pessoas quererem fazer acontecer, e falar o seguinte: "Olha, eu tô a fim de participar do governo". Pra participar do governo, você pode ter um ministério. Agora, não é o partido que quer vir pro governo que escolhe o ministério, quem escolhe o ministério é o presidente da República, quem indica o ministério é o presidente da República, quem oferece o ministério é o presidente da República, sabe. E eu acho plenamente possível. Nós vamos discutir isso nesses próximos dias. Eu não tô preocupado. Ainda não fiz nenhuma conversa com ninguém. Eu vejo todo dia boato, boato, boato. Lula conversou com não sei quem, Lula chamou não chamou não sei quem, Lula… eu ainda não conversei com ninguém. Se for pra falar de mim, fale o seguinte: o presidente ainda não conversou com ninguém, se tiver gente falando que conversou com o presidente, é mentira. É mentira. Quando eu conversar, eu terei todo o interesse que a imprensa saiba, porque não tem conversa sigilosa na minha vida política.
Marcos Uchôa — E não tem porque esconder, quer dizer, é uma coisa que é pro bem do Brasil. Por que teria?
Presidente Lula — É o técnico querer escolher o jogador que vai colocar em campo, ele fica "só no vestiário, só no vestiário". Mas uma hora vai ter que colocar o cara em campo e todo mundo vai saber quem vai jogar. E você tem que escolher o cara que vai contribuir mais com o país.
Marcos Uchôa — Presidente, assim como o Congresso, o senhor tem a sensação na rua, no Congresso, de que há uma vontade no Brasil de ter mais paz? Paz tô falando no sentido de não ser tão agressivo, de poder negociar, de poder conversar, de poder, realmente, chegar a um acordo pro bem do país, e de deixar pra trás uma coisa que dividiu a gente? Isso tá caminhando nessa direção?
Presidente Lula — Eu acho que nós estamos caminhando nessa direção. Eu, eu, eu sinto em todo mundo que fala comigo mostra que tem um clima mais tranquilo. Ainda tem algumas pessoas viciadas no passado. Lamentavelmente tem algumas pessoas que parece que a cabeça ficou atrofiada e as pessoas não querem evoluir. Sabe, em todo lugar. No meio dos trabalhadores, no meio dos empresários, no meio dos intelectuais, no meio dos banqueiros, não é um ou outro sentimento. Tem muita gente. E nós não podemos ficar brigando com essa gente, o que nós precisamos é ir conversando, tendo paciência. Veja, quando acontece aquilo que aconteceu com o Alexandre de Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal] no aeroporto de Roma, eu acho que um cidadão que faz isso, ele não é um ser humano que você pode ter respeito por ele. Ele é um canalha. Porque ele precisava pelo menos ser educado. O ministro tava com a mulher, o ministro tava com o filho. Porque se vale a moda desse cidadão, que vai xingar o ministro que votou uma coisa que ele não gosta, os ministros não terão mais sossego no Brasil. Ou seja, o voto vai ter que ser secreto pra que ninguém saiba naquilo que o ministro votou. Porque não é normal, não é normal. Eu tenho 77 anos, fiz oposição 50 e eu nunca xinguei uma pessoa no aeroporto. Se tivesse lá o meu pior inimigo eleitoral eu cumprimentava ele e ia sentar em outra mesa.
Qual direito do cidadão achar que pode xingar, que ele pode ofender, que ele pode bater numa criança, que ele pode dar um tapa no rosto de uma criança, que ele pode chamar alguém de ladrão sem nenhuma prova? Sabe, toda vez, Uchôa, pode guardar na sua cabeça, pode guardar. Toda vez que você entrar em um lugar que alguém te provocar, esse alguém é 1-7-1. Pode ter certeza. Se for uma mulher, se ele for daqueles grosseiros que vai te xingar, ele é um 1-7-1, pode saber que ele tem algum processo, ele cometeu algum erro, algum crime, ele já foi processado, ou ele é estelionatário, qualquer coisa. Porque um homem sério e uma mulher séria, se tiverem num restaurante eles não irão ofender ninguém. Eles poderão não gostar, poderão não cumprimentar, poderão não olhar pro teu lado, mas ofender não vão. Quando o cara ofende é porque é 1-7-1 mesmo, pode ir atrás. Eu lembro do cara que ofendeu o Padilha, eu falei "Padilha, vai atrás pra ver". Ele foi atrás, o cara tinha 17 processos. Esses são os honestos. Então, essas coisas a gente não pode brincar, se a gente quiser tornar o Brasil um país mais civilizado. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, ninguém é obrigado a gostar de ninguém, cada um é aquilo que quer. As pessoas não precisam ser o que a gente quer que elas sejam pra gente gostar. Não, as pessoas são como elas são se eu gosto ou não. A única coisa que eu peço é o seguinte: vamos nos respeitar, vamos viver de forma civilizada, porque, afinal de contas, nós somos tidos como os únicos animais inteligentes e a inteligência não pode ser usada pra irracionalidade. É isso que eu peço ao povo brasileiro.
Marcos Uchôa — Presidente, nessa direção o que passou, o Flávio Dino passou agora em relação a questão do armamento, de ter um maior controle, diminuir o número de armas no Brasil, essa coisa que tava louca, que tava aberta, gente comprando 60 armas como se fosse um exército particular. Isso também é muito importante, né? Porque...
Presidente Lula — Olha, Uchôa, é extremamente importante. Veja, tinha uma confusão se pode utilizar arma, se pode liberar, se pode liberar CAC, se pode liberar. Não, eu acho, eu acho que nós temos que ter claro o seguinte: por que um cidadão quer uma pistola 9 milímetros? Por que que ele quer? Que que ele vai fazer com essa arma? Vai fazer coleção? Vai brincar de dar tiro? Porque, no fundo no fundo, esse decreto de liberação de arma que o presidente anterior fez era pra agradar o crime organizado. Porque quem consegue comprar é o crime organizado e gente que tem dinheiro. Pobre trabalhador não está conseguindo comprar comida, não tá conseguindo comprar material escolar do seu filho, não tá conseguindo colocar um brinquedo que o moleque precisa no Natal. Como é que as pessoas que trabalham vão comprar fuzil, vão comprar rifle, vão comprar 10 pistolas, 12 pistolas, 15 pistolas? Que diabo é isso? As pessoas querem comprar carne, as pessoas querem comprar óleo, querem comprar cebola, querem comprar, sabe, coisa pra comer, as pessoas querem comprar coisas pra escrever, querem comprar livro, sabe, as pessoas não querem violência. Então, tem uma meia dúzia de pessoas que querem "não, vamos abrir". Eu, sinceramente, não acho que o empresário que tem um lugar pra praticar tiro é empresário, eu sinceramente não acho. Eu já disse pro Flávio Dino: "nós temos que fechar quase todos, só deixar aberto aqueles que são da Polícia Militar, do Exército, ou Polícia Civil". É a organização policial que tem que ter lugar pra atirar, pra treinar tiro, não é a sociedade brasileira. Nós não tamos preparando uma revolução. Eles tentaram preparar um golpe, “sifu”, nós não. Nós queremos preparar a democracia, fortalecer a democracia, mais participação da sociedade brasileira, mais participação na política, mais participação na escola, mais participação, sabe, em show de artista, mais participação, sabe, na construção de coisas boas, de coisas positivas. Então pra que arma?
Marcos Uchôa — Até porque o número de mortes por policiais aumentou, né?
Presidente Lula — Eu sou totalmente contra. Eu quero que você saiba, eu quero que você saiba que o Brasil vai melhorar quando a gente entrar na era do livro, na era da cultura. Que é o que estamos fazendo agora com a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc. Não sei se você viu o sucesso da Lei Paulo Gustavo? Noventa e sete por cento dos municípios brasileiros, melhor, 98%, se inscreveram pra receber o dinheiro. Ora, significa que você não tem noção do prefeito em receber 2 milhões pra cultura, receber 1 milhão, coisa que não tinha. Tinham acabado com o Ministério da Cultura, porque eles queriam criar o Ministério das Armas, o Ministério da Violência, o Ministério da Fake News, o Ministério da Mentira. Isso que eles queriam criar. E nós não. Nós queremos fazer com que o povo brasileiro volte, efetivamente, a ser feliz, e tranquilo. Não tem nada melhor do que um pai pegar no braço da sua, do seu filho, da sua esposa, e passear no sábado à tarde, no domingo à tarde sem nenhuma preocupação com violência.
Então, Uchôa, esse país vai ser construído, querido. Eu tenho certeza que você será coparticipante e cofeitor desse país. Porque nós precisamos juntar as pessoas boas, as pessoas de coração, as pessoas solidárias. Ontem, eu tava conversando com as pessoas, sabe o que as pessoas diziam? "Ô Lula, no apartamento que eu moro as pessoas não se cumprimentam no elevador", aí outra pessoa falou "ah, no meu também não cumprimenta". Ô gente, a gente entra no elevador, três, quatro pessoas, arriscado aquele elevador dar um “quepe”, a gente fica preso lá dentro e as pessoas não se cumprimentam. As pessoas falam pra mim assim: "Ó Lula, eu moro num lugar que tem uma senhora que mora sozinha no apartamento da frente. Essa mulher nunca me cumprimentou, ela não sabe que se ela tiver um problema eu serei o primeiro médico dela, eu serei o primeiro enfermeiro dela, eu serei o primeiro motorista dela. Porque se eu tiver em casa e ela tiver um problema, eu que vou cuidar dela. Mas ela não fala bom dia pra mim, nunca falou bom dia. Então, eu não sei o que eu faço, capaz de ela ficar mal eu correr atrás dela e ela não querer que eu atenda ela."
Então, o que eu peço pras pessoas: gente, a gente não é obrigado a estar no mesmo partido, a gente não é obrigado a estar na mesma igreja, a gente não é obrigado a torcer pro mesmo time, o que a gente é obrigado é ser humanista, é gostar de gente, é gostar do próximo, é ser educado, é ser respeitoso, bem, é isso que a gente pede. Estender a mão pra pessoa que tá precisando de alguma coisa, é esse mundo que a gente precisa construir. Eu sempre digo que o ser humano aprendeu a viver em comunidade, né. Quando um ficava doente, todo mundo ia atrás, todo mundo ia visitar, todo mundo tentar ajudar. Hoje, nós estamos cada vez mais trancados dentro de casa, cada vez mais isolados, cada vez mais, sabe, não se convida mais parente pra aniversário, se o parente for pobre então, tá fora da lista. Não se convida mais parente pra aniversário, pra casamento, pra nada. As pessoas estão ficando isoladas, se trancando dentro de casa, e quando tá dentro de casa, mesmo a família, cada um tá com o celular na mão conversando com outro, não com quem está dentro de casa. Então, minha pergunta é a seguinte: que sociedade nós estamos criando? O que que a gente pode esperar da humanidade nos próximos 20 ou 30 anos? Nós temos que começar a cuidar agora, sabe. E pra mim a palavra mágica é o seguinte: humanismo. Eu não nasci pra ser algoritmo, eu nasci pra ser um homem de sentimento, uma pessoa de sentimento, uma pessoa de coração, uma pessoa que pensa, uma pessoa que sente, uma pessoa que age sempre em função das necessidades daqueles que eu posso ajudar, senão a vida não tem sentido. E é isso que eu tento fazer nesse país, fazer com que a nossa vida tenha sentido. Eu quero deitar a cabeça no travesseiro toda noite e falar o seguinte: hoje eu fiz o bem pra um igual a mim, hoje eu fiz um bem pra uma senhora, hoje eu fiz um bem pra um homem, hoje eu fiz um bem pra uma criança, ou seja, hoje eu fiz um bem pro Brasil, eu fiz uma coisa boa pro Brasil. Porque o papel do governante é esse. O papel do governante é cuidar das pessoas. Aliás, a palavra governar deveria ser abolida. É o seguinte: eu vou ser eleito pra cuidar. Cuidar do quê? Cuidar do povo. Que povo? Porque tem povo que não precisa que você cuide, banqueiro não precisa que você cuide, você precisa cuidar daquelas pessoas que trabalham, que pagam imposto de renda, daquelas pessoas que estão desempregadas, aquelas pessoas que estão sem casa, é essas pessoas que precisam da figura do Estado, e é pra esses que nós voltamos a governar. A classe média, a classe média baixa, sabe, fazer ela ganhar um pouco mais, diminuir o pagamento do imposto de renda dela, porque até o final do meu mandato quem ganha até 5 mil não vai pagar imposto de renda. Escuta o que eu tô falando. Até o fim do meu mandado quem ganhar até R$ 5 mil não vai pagar imposto de renda. Porque não é possível, o cara ganha 5 mil, gasta dois de aluguel, gasta dois com comida e ainda vai pagar imposto de renda? Não, quem tem que pagar imposto de renda é quem é rico, quem vive de dividendo, quem sonega, não é o povo trabalhador. Então, Uchôa, esse é o meu otimismo, esse é o meu compromisso, e é por isso que eu tô aqui, e é por isso que vou fazer a minha cirurgia se eu precisar fazer, pra ficar inteiraço, porque eu tenho que andar muito esse brasil, cara. Eu tenho que andar muito esse Brasil pra gente poder levantar a moral da tropa.
Marcos Uchôa — Presidente, então pra encerrar, essa volta dessa cordialidade, essa paz, essa alegria que você prega, você viveu um pouquinho ontem com a seleção brasileira feminina. Você juntou um timaço de mulheres aqui, né? A Janja tava, as ministras estavam, foi uma alegria, né? Quatro a zero, foi uma coisa já boa, um bom começo pra gente.
Presidente Lula — Eu só assisti meio tempo porque era muita mulher e eu sozinho de homem. Eu resolvi me mancar. Mas veja, só pra você saber uma coisa: das 17 jogadoras que foram convocadas pra seleção, que estão lá, 17 recebem, das 23, dezessete recebem o Bolsa Atleta, só pra você ter ideia. Hoje, o Bolsa Atleta tem 7.887 atletas inscritos recebendo uma certa quantia em dinheiro, que é variável. Nós criamos esse programa em 2004. Então, por que nós criamos o Bolsa Atleta? Porque as pessoas só conseguem sobreviver do esporte quando ela fica famosa, se ela ganhar uma, um campeonato de surfe, ela fica famosa, vai ganhar publicidade. Se ganhar de boxe, se ela ganhar, sabe, mas até chegar lá, às vezes as pessoas não têm dinheiro pra comprar um tênis, um tênis, e não um dos melhores, um tênis pras pessoas correrem.
A maioria das cidades sequer está preparada pra ter um atleta profissional. O que a gente fez foi criar um programa pra ajudar. O que é importante é que cada prefeito desse país comece a se preocupar em que cada cidade tenha um estádio, em volta desse estádio tem que ter pista de atletismo, tem que ter a piscina, tem que ter condição da gente poder ver essa meninada ter futuro. Eu fico feliz, a meninada jogou bem, aquela companheira que marcou os três gols, a Ary, ela é uma que recebeu o Bolsa Atleta. Ela é uma que recebeu o Bolsa Atleta. Então ela tá de parabéns.
Marcos Uchôa — Plantando dá...
Presidente Lula — Plantando dá. É, Vou voltar aqui. No Brasil se plantando tudo dá. Na hora que você investe, na hora que você acredita, na hora que você abre a porta das oportunidades para as pessoas, mesmo aquelas pessoas que você imaginava que não ia pra lugar nenhum, ela vai. Mesmo aquelas pessoas.
Eu vi, eu vi a história do Santos Dumont no dia de homenagem ao Santos Dumont. Eu não conhecia os detalhes da história. Mas, você veja uma coisa. Tá certo que o pai do Santos Dumont tinha dinheiro, mas o pai do Santos Dumont disse pra ele: "Olha, meu filho, você não precisa ter um diploma universitário. Você vai pra lá pra aprender eletricidade, mecânica e motor. Vá lá, aprenda". E foi isso que ele foi, e por isso que ele se tornou um inventor extraordinário. E eu acho que foi o único inventor do avião. Os americanos tentam dizer que foram eles, mas eles fizeram uma catapulta, era quase que um estilingue pra levantar avião. O primeiro, o primeiro aparelho mais pesado que o ar, que subiu, foi o nosso querido Santos Dumont. Que muitas vezes eu acho que no Brasil ele não é muito respeitado porque…
Marcos Uchôa — Não é lembrado, né?
Presidente Lula — …o Brasil não tá preparado pra ter heróis, é engraçado isso, o Brasil, às vezes, não gosta de ter heróis. Eu acho que o Santos Dumont é um cara que deveria ser muito, ser muito, ser muito respeitado no Brasil, sabe. Porque não só inventou o relógio, mas inventou o relógio de pulso. Ninguém sabe, mas ele inventou, sabe. Aí hoje eu tô com um relógio de pulso aqui chique, ó. Esse relógio eu ganhei, em 2005, do Chirac [Jacques Chirac, ex-presidente da França], no ano de aniversário de comemoração do Brasil. A China, a França fez uma homenagem ao Brasil, os nossos fuzileiros navais foram desfilar no desfile da França. E aí, de repente, o Chirac me deu esse relógio. Você sabe que esse relógio ficou perdido 25 anos?
Marcos Uchôa — É? Como assim? Você deixou ele...
Presidente Lula — Não, eu não sabia onde tava. Quando agora eu fui mudar, que eu fui abrir gaveta, tava lá. Aí eu tô usando ele aqui pra ver se ele tá bom ainda. Ele tem um escudo brasileiro, ó…
Marcos Uchôa — É mesmo, pô, especial então?
Presidente Lula — …e tem meu nome aqui atrás: "de Chirac para Lula".
Marcos Uchôa — Feito na França, que foi onde Santos Dumont voou com o 14 Bis.
Presidente Lula — …É homenagem ao Santos Dumont, pronto. Mas é isso, Uchôa, deixa eu lhe falar: a gente pode nessas conversas que a gente tá fazendo aqui, a gente pode fazer o povo ir compreendendo as coisas, porque a gente tem que conversar com as pessoas, a gente tem que fazer as pessoas entenderem as coisas, né?. Quando a gente começa a discutir essa questão climática, por exemplo, no começo parece uma coisa absurda. Por que estão discutindo negócio de clima, que a terra vai acabar, que vai encher tudo d'água? É verdade, as coisas estão mudando.
Marcos Uchôa — Calor horroroso...
Presidente Lula — O que que eu acho? Estou convencido. Eu já falei com o ministro Camilo [Camilo Santana, ministro da Educação] , a gente precisa colocar a questão ambiental no currículo escolar. Uma criança quando começa a aprender, é importante ela saber que Cabral descobriu o Brasil, é importante ele saber que existiu Zumbi de Palmares, é importante ele saber que existiu Tiradentes, mas é importante ele saber o que vai acontecer nos dias dele. É importante ele chegar em casa e falar pra mãe dele: "Olha, você não está fazendo coleta seletiva do lixo, precisa colocar o lixo correto". "O pai, você não pode fazer isso de errado, você não pode ficar cortando uma árvore". Ora, se nós temos 30 milhões de hectares de terras nesse país degradadas que podem ser recuperadas, por que o cidadão tem que cortar uma árvore de 200 anos pra fazer cadeira? Pra fazer cama? Ele que plante uma árvore e quando ela crescer, ele corte, ele que recupere essa área degradada e vamos plantar. Plante o que ele quiser, planta mogno, planta figueira, planta pau-brasil, planta, planta jacarandá, escolha o que quer plantar e plante. Mas não fique derrubando o que não é seu, porque o que existe lá é do povo brasileiro, e é da humanidade, e nós vamos cuidar com muito carinho e muito amor.
Marcos Uchôa — Obrigado presidente, mais um programa Conversa com o Presidente, muito gostosa a conversa. Agradeço todo mundo que ouviu a gente no Youtube, quem vai ver mais tarde; nas rádios também; no canal Gov agora, que tá inaugurando hoje aqui em Brasília, e vai passar tudo pra todo mundo saber o que o governo está fazendo para sua vida e pro país de uma maneira geral. Enfim, terça-feira que vem a gente tá junto de novo.
Presidente Lula — Muito bem.