Conversa com o Presidente - Live do dia 24.out.23
Jornalista Marcos Uchôa: É muito bom estar aqui de novo com o presidente. Um intervalo aí de quatro semanas, né? Para a operação dele, mas muita coisa aconteceu. Tem muita coisa boa para a gente conversar. Muitos problemas também, obviamente, que estão acontecendo. Mas, primeiro de tudo eu acho que é a curiosidade de todo mundo, né? Como é que você está?
Presidente Lula: Olha, eu estou bem. Primeiro eu quero cumprimentar as pessoas que estão nos assistindo e que estão nos ouvindo. O último programa que nós fizemos foi na terça-feira, antes do dia 29 de setembro. Que foi uma sexta-feira, que foi o dia que eu fiz a cirurgia. A cirurgia está perfeitamente bem. Eu já estou recuperando a normalidade. Já estou conseguindo andar totalmente à vontade. Não posso fazer todos os movimentos ainda porque, segundo a orientação médica, eu só vou só vou ficar recuperado entre seis e oito semanas, portanto eu estou com três semanas só de cirurgia. Eu preciso tomar cuidado porque o médico fala o seguinte: “Quando você é muito autossuficiente, que você pensa que já está bem, e você pensa que já pode fazer tudo, você vai estragar a cirurgia”. Então eu tenho que tomar muito cuidado. Estou voltando a trabalhar aos poucos. Ontem eu fui no Palácio um pouco, hoje eu vou outra vez no Palácio.
Vou começar a participar de alguns eventos. Mas, na verdade, eu não posso viajar. Eu só posso viajar depois de uma avaliação que será feita entre seis e oito semanas. Portanto, eu ainda tenho quatro semanas aqui, sabe, em casa, no Alvorada e no Planalto, para depois então pensar em viajar. Mas, do ponto de vista físico eu estou bem. Sinto que a cirurgia foi um sucesso. Eu operei na sexta, na segunda-feira eu já andei um pouco. Já subi oito degraus. Já desci oito degraus. Ou seja, com muito cuidado porque eu não posso estragar aquilo que foi o trabalho que os médicos fizeram.
Na Alemanha, de dia 3 a 4, que é a grande reunião de empresários brasileiros e empresários alemães para discutir investimento no Brasil. E possivelmente, um dia antes de eu chegar nos Emirados, eu tenha que passar na Arábia Saudita para discutir a participação dos investimentos da Arábia Saudita nas obras do PAC que nós estamos incentivando acontecer no Brasil. Mas, antes disso, eu quero ver se eu viajo em alguns estados brasileiros, antes de viajar. E Deus queira que o médico me autorize a viajar, porque eu tô pronto para viajar, tô pronto para discutir os problemas do Brasil e tô pronto pra gente fazer esse Brasil voltar a dar certo, a sorrir, a gerar empregos e melhorar a vida do povo. Esse é o meu objetivo e é isso que eu vou fazer assim que eu tiver pronto para viajar.
Marcos Uchôa: Bom, tem muita coisa boa para fazer, mas hoje, talvez, o tema mais delicado seja o que aconteceu no Rio de Janeiro ontem. 35 ônibus queimados, um ataque também a trens, as pessoas voltando pra casa andando, praticamente a Zona Oeste do Rio de Janeiro paralisada. O problema da violência no Rio de Janeiro é um problema que entra governador, sai governador. É claro que a gente sabe, pela Constituição, que a competência é dos estados. Os estados é que cuidam da segurança. Mas é muito chocante.
Presidente Lula: Uchôa, vamos ver o seguinte, olha. O problema da violência no Rio de Janeiro termina sendo um problema do Brasil. O problema da enchente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, termina sendo um problema do Brasil. O problema da queimada na Amazônia, da seca no Pará, no Acre, no Amapá, da seca em Roraima, termina sendo, também, um problema do Brasil. Porque o governo brasileiro tem que assumir a responsabilidade de ajudar todo mundo. Eu já conversei com o governador Castro, do Rio de Janeiro, ontem eu conversei com o Flávio Dino, hoje eu vou conversar com o ministro da Defesa, na perspectiva de fazer com que a Aeronáutica possa ter uma intervenção maior nos aeroportos do Rio de Janeiro, que a Marinha possa ter uma intervenção maior nos portos do Rio de Janeiro, para ver se a gente consegue combater mais o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de armas. Ou seja, nós vamos ter que agir um pouco mais. Ao mesmo tempo, o Flávio Dino conversou comigo. A Polícia Federal vai agir com mais força. A Polícia Rodoviária Federal vai agir mais nas estradas. Nós queremos compartilhar a solução dos problemas que os estados têm, com o Governo Federal. Nós não queremos lavar a mão e dizer: “O problema da violência é do Rio, o problema da enchente é do Rio Grande do Sul, o problema da seca é da Amazônia”. Não. É um problema do Brasil. Eu sou presidente do Brasil e nós vamos cuidar de todo mundo em igualdade de condições, fazendo aquilo que o Governo pode fazer. Portanto, nós vamos ajudar o Rio de Janeiro a combater o crime organizado, a combater os milicianos e dar tranquilidade àquele povo. Não é possível que o povo do Rio tenha que sofrer tanto com a ação dos marginais. Portanto, pode ficar tranquilo que o Governo Federal estará presente no Rio de Janeiro, ajudando de todas as formas possíveis a voltar à normalidade, a combater o crime organizado, a combater os milicianos, para que o povo do Rio de Janeiro volte a ter tranquilidade. Para ter o direito de ir e vir sem ser importunado com tiro, com bala perdida, com queimada de ônibus, com queimada de trem. É preciso que a gente aja junto com o governo do Rio para que a gente possa vencer essa batalha.
Marcos Uchôa: Esse problema de segurança não é um problema, normalmente, do Governo Federal nos estados. E ao mesmo tempo um problema de décadas, no caso do Rio de Janeiro. Você acha que é um processo, digamos assim. O que a gente está fazendo, que o Flávio Dino pretende fazer, quer dizer, o que se pensa em fazer para o Rio de Janeiro é algo assim. Porque para a população fica parecendo, às vezes: “Ah, um troço paliativo, melhora aqui um pouquinho”. Não vai resolver, mas diminuir muito.
Presidente Lula: Deixa eu lhe falar uma coisa. Nós temos um problema crônico de enfrentamento ao crime organizado. A verdade é que enquanto o povo brasileiro passar fome, enquanto tiver muito desemprego, enquanto tiver muita gente abandonada, há uma possibilidade de crescimento do crime organizado. A verdade é que tudo isso está ligado às condições de vida do nosso povo e nós precisamos ter consciência disso. E nós precisamos ter consciência que é preciso juntar prefeito, governador, presidente da República, todo mundo no combate ao crime organizado, no combate a bandidagem. Ou seja, eu, quando fiz a campanha, eu ia criar o Ministério da Segurança Pública. Então, ainda tô pensando em criar, tô pensando em quais são as condições que você vai criar. Como é que vai interagir com a questão da segurança do estado, porque o problema da segurança é estadual. O que nós queremos é compartilhar com os estados as soluções dos problemas que são maiores e menores, dependendo do estado.
Eu digo sempre o seguinte: a liberação de venda de armas nesse país, a liberação de venda de armas nesse país de forma atabalhoada, ela fez com que o crime organizado se apoderasse de uma quantidade, de um arsenal que ele não tinha antes. Então ele pode comprar no mercado, autorizado, o que é um crime contra o povo brasileiro. Você viu o que aconteceu nas Forças Armadas, o roubo de metralhadoras, o roubo de fuzis, ou seja, e estava aonde? Estava chegando nas mãos do crime organizado. Então, é preciso, sabe. Ontem eu tive uma longa conversa com o Flávio Dino. Hoje eu vou ter uma longa conversa com o ministro da Defesa, José Múcio, e nós vamos ver como que a gente pode entrar e participar ajudando.
Nós não queremos pirotecnia. Nós não queremos fazer uma intervenção no Rio de Janeiro, como já foi feita e que não resultou em nada. Nós não queremos tirar autoridade do governador, nós não queremos tirar autoridade do prefeito. O que nós queremos é compartilhar com eles. Trabalhar junto com eles uma saída. Porque o problema deles passa a ser o nosso problema, e a solução desses problemas tem que ser compartilhada conosco e nós queremos ajudar. É isso que nós vamos fazer. É preciso que a gente dê tranquilidade ao povo. E vamos discutir no Governo Federal como é que a gente pode participar mais. Como é que a gente pode acionar mais a Polícia Federal, como é que a gente pode fortalecer mais a Força Nacional, como é que a gente pode utilizar as Forças Armadas, participando como uma força auxiliar, sem passar a ideia para sociedade que as Forças Armadas foram feitas para combater crime organizado. Não é esse o papel das Forças Armadas e nós não vamos fazer isso. É isso que vai acontecer. Nós estamos com o povo do Rio de Janeiro. Nós vamos compartilhar tudo aquilo que a gente puder compartilhar para que o Rio de Janeiro volte a sair na imprensa pelas coisas boas que faz e não só nas páginas policiais.
Marcos Uchôa: Presidente, tocando nesse assunto violência. No mundo, a gente está vivendo agora essa guerra em Israel com os palestinos, que é uma tristeza horrível, uma quantidade de gente morrendo diariamente. E o senhor tem tido um papel muito preponderante na tentativa de, não digo encontrar uma solução, mas pelo menos diminuir o tamanho do problema. Criar esses corredores humanitários. O senhor tem falado com líderes de outros países também, na busca por uma solução política, para pelo menos diminuir o problema um pouco e essa mortandade toda. Como é que você está vendo essa conversa, digamos, esses próximos tempos?
Presidente Lula: Olha, é importante lembrar às pessoas que estão nos assistindo que o companheiro Uchôa passou, praticamente, 30 dias.
Marcos Uchôa: Não, uma semaninha. Uma semana.
Presidente Lula: Uma semana?
Marcos Uchôa: Lá em Israel agora.
Presidente Lula: Parece que foi um mês. Você desapareceu faz tempo.
Marcos Uchôa: É que eu trabalhei muito tempo.
Presidente Lula: Parece que você desapareceu faz tempo. Ele esteve em Israel tentando fazer a cobertura. Nós fizemos aquilo que era possível fazer. Ou seja, eu já falei com o presidente de muitos países. Eu já falei com o presidente de Israel, com o presidente da autoridade palestina, com o presidente do Irã, com o presidente do Egito, com o presidente da Turquia, com o diretor-geral da União Europeia, com o presidente Macron, com o presidente Putin, com o presidente dos Emirados Árabes. Vou falar com o Catar. Ou seja, eu estou falando com todo mundo para que a gente consiga três coisas. Primeiro, garantir um corredor humanitário para que as pessoas possam receber água, possam receber comida, possam receber remédios. Garantir que não falte energia elétrica nos hospitais para que as pessoas possam ser tratadas e garantir que não se matem mais crianças. Não tem exemplo na humanidade de guerra em que quem morre mais é crianças, que não está na guerra. E crianças dos dois lados, que nós não queremos que morra ninguém. Ou seja, então eu conversei com todo mundo, ainda falta conversar com o XI Jinping, falta conversar com o presidente da África do Sul e falta conversar com o presidente do Catar, que segundo dizem, tem relação com o Hamas, com os Hezbollah. Eu não sei. Mas eu estou conversando com todo mundo, inclusive porque eu quero liberar os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Nós temos brasileiros que querem vir pra cá. Nós temos crianças lá, nós temos mulheres, que estão sofrendo o tormento dos tiros, o tormento das bombas, os tormentos dos foguetes. E eles estão muito próximos da faixa de fronteira com o Egito. Eu já falei com o presidente do Egito, o meu ministro já falou com o ministro das Relações Exteriores. O avião presidencial, o menor, está já no Cairo à espera dessa gente. Assim que abrir a fronteira nós vamos buscar os nossos brasileiros e trazer para cá, porque é aqui o lugar deles. Um país seguro, que não tem guerra e que a gente pretende dar a eles a cidadania que eles não conseguiram conquistar morando em Faixa de Gaza com a truculência que está acontecendo com os bombardeios.
Então é esse o nosso trabalho. Ou seja, eu sei que é irracional, Uchôa, mas se você não falar em paz todo dia, todo dia, todo dia, as pessoas esquecem que é possível construir a paz. Então, quando eu vejo as autoridades falar em guerra. “Porque fulano tem que matar ciclano, porque ciclano tem que derrotar”. Não é assim que a gente resolve o problema. Em uma mesa de negociação não morre ninguém. Custa mais barato e a gente pode encontrar solução. É preciso que a gente consiga que lá no Oriente Médio, Israel fique com o território que é seu, que está demarcado pela ONU, e os palestinos tenham o direito de ter a sua terra. É simples assim. E não precisa ninguém ficar invadindo a terra de ninguém. Todo dia a gente vê que colono de Israel invade a terra dos palestinos e a ONU não faz nada porque a ONU está enfraquecida. Então, esse é o meu papel, de tentar criar as condições para que a gente possa voltar a sentar numa mesa de negociação. Ainda ontem eu falei com o Putin sobre a guerra da Ucrânia e falei com o Putin sobre a guerra do Oriente Médio. É preciso que as pessoas parem. É preciso que as pessoas compreendam que você leva 10 anos para construir uma casa, com um foguete você destrói um prédio inteiro. Será que as pessoas não têm senso de humanidade, sendo de responsabilidade. Cadê o humanismo? Cadê a fraternidade? Cadê a solidariedade? Cadê a nossa paixão pelas crianças? Cadê o nosso pensamento no futuro? Ou seja, o futuro é isso? É guerra? É isso que a gente vai prometer para os nossos filhos. É morte, morte, morte, morte. Quando as pessoas precisam ver, precisam trabalhar, precisam ter acesso à saúde. Então eu tenho conversado com todo mundo. Estou, na verdade, cansado de fazer telefonema, mas vou continuar fazendo porque eu acredito nisso. E eu quero ver se a gente reestabelece. Não é porque o Hamas cometeu um ato terrorista contra Israel que Israel tem que matar milhões de inocentes. Não é possível que as pessoas não tenham sensibilidade. Não é possível. Se a ONU tivesse força, a ONU poderia ter uma interferência maior. Os Estados Unidos poderia ter interferência maior. Mas as pessoas não querem. As pessoas querem guerra, as pessoas querem incentivar o ódio, as pessoas querem estimular o ódio. E eu não vejo assim. Podem me criticar quanto quiserem. O Lula vai continuar falando em paz, o Lula vai continuar falando de diálogo, o Lula vai continuar chorando pela morte das crianças do planeta terra. E até pela morte que foi feita ontem em São Paulo. Um outro pegou a arma do pai para matar. Onde é que nós estamos?
Onde é que nós estamos, que mundo nós queremos criar. Então essa minha indignação contra a pobreza, essa minha indignação contra a desigualdade, ela está virando uma indignação contra a burrice do ser humano. A ignorância. As pessoas não estão mais sendo humanas. As pessoas estão sendo irracionais. Então eu estou tentando conversar com todo mundo para ver se um dia a gente pode sentar numa mesa e falar: “Olha, vai ser mais sensato negociar, vai ser mais sensato ceder alguma coisa com o que está menos do que eu quero, perder menos do que eu posso perder, para que a gente possa voltar a construir a possibilidade de um mundo melhor, porque ainda tem 735 milhões de pessoas passando fome no mundo e a gente vendo a quantidade de comida perdida nesse planeta. Então, meu caro Uchôa, esse é o meu papel. Eu não vou prescindir nele. Eu vou continuar falando, eu vou continuar gritando, eu vou continuar telefonando. E, obviamente, que, concomitantemente, cuidar do Brasil. Porque no Brasil é que as coisas pegam. Eu tenho responsabilidade. As coisas estão funcionando. A economia está crescendo. A gente está retomando todos os programas que tinham sido paralisados nesse país. Ainda ontem participei da inauguração do Minha Casa, Minha Vida em Alagoas, em Vitória da Conquista, na Bahia, no Espírito Santo, em São Vicente, em São Paulo. Nós vamos recuperar o direito de fazer as casas para as pessoas que ganham pouco, que nós temos que subsidiar, mas também queremos construir casa para quem ganha 10 mil reais, 12 mil reais, casas de melhor qualidade para que essas pessoas possam viver dignamente, porque a gente precisa lembrar da classe média brasileira.
Esse é o nosso objetivo. O Desenrola tem sido um sucesso extraordinário. As pessoas estão conseguindo quitar as suas dívidas, algumas pessoas estão tendo 83, 85% de abatimento nas suas dívidas. O que é uma coisa excepcional. Nós vamos continuar tentando aperfeiçoar para melhorar. Agora, 11:30 eu vou participar de um evento no Palácio do Planalto com o BNDES para disponibilizar R$ 1 bilhão 750 milhões para ajudar a agricultura familiar, sobretudo no Nordeste brasileiro. E assim nós vamos colocando o Brasil nos eixos. O Brasil voltando a crescer. A política social voltando a acontecer. A saúde melhorando, a educação melhorando. Vamos anunciar um programa de Escola de Tempo Integral que já foi anunciado. Agora, no Ensino Médio em que nós vamos criar uma bolsa para garantir que o estudante do Ensino Médio não desista da escola. Que ele fique na escola. E mais importante, que ele possa aprender uma profissão. Então é isso. Ao mesmo tempo nós temos que cuidar das enchentes nos estados do Sul. Em que o Governo Federal tem participado ativamente. Nós temos que cuidar da seca na região Norte, no Pará, no Amazonas, no Acre, no Amapá e no estado do Amazonas. Nós temos que cuidar. Eu nunca vi nada igual, nunca vi o Rio Solimões tão seco, nunca vi o Rio Tapajós tão seco, nunca vi o Rio Madeira tão seco. Sabe, nós vamos tentar cuidar dessa gente. Nós vamos ajudar na medida do possível. O Ministério da Integração, através do companheiro Waldez. As nossas Forças Armadas. Nós estamos preparados para colocar o Governo Federal à disposição de todos os lugares que tiverem problema. Se Deus quiser, quando eu puder viajar, eu quero voltar a viajar todos os estados. Eu tive o prazer de tomar um banho no Rio Tapajós quando ele estava cheio. E eu quero visitar quando ele está seco para mostrar a minha solidariedade com o povo do estado do Pará, o povo daquela região extraordinária, que não estava acostumado a viver a seca que está vivendo.
Marcos Uchôa: Essa seca, de certa maneira, a imagem da Amazônia é a água, que são aqueles rios incríveis, enormes. Então, agora tão perto da COP 28, de certa maneira, o senhor vai pra lá com uma imagem dessa Amazônia que o senhor defende super sofrida, super mal de uma maneira que nunca tinha se visto. É muito emblemático o que está acontecendo lá, em relação ao que está acontecendo no planeta.
Presidente Lula: Olha, das 99 brigadas que o Ibama tem para combater incêndios, 98 estão envolvidas nisso. Porque você tem a queimada que é aquela feita pelo homem de forma a desmatar a floresta para ocupar. E tem a queimada em pequenas produtividades que às vezes se repete durante cinco anos consecutivos. Então, nós precisamos do apoio dos prefeitos. Se os prefeitos não estiverem juntos conosco e a gente não tiver discutindo o incentivo para as prefeituras ajudarem a gente, as coisas não dão certo. E essa seca ajuda a fomentar a queimada. Eu jamais imaginei ver o Rio Madeira seco do jeito que está. Eu jamais imaginei ver o Rio Solimões do jeito que está. Eu jamais imaginei ver o Rio Tapajós do jeito que está. Mas eu também jamais imaginei ver o Rio Grande do Sul cheio de água como está. Jamais imaginei ver furacão, tufão, em Santa Catarina. Então isso é uma demonstração de que a questão climática é mais séria. É preciso a gente levar mais a sério, ter mais responsabilidade porque o planeta está se revoltando. O planeta está dizendo: “Não me destruam, porque eu sou capaz de destruir vocês antes de eu ser destruído”. E o ser humano precisa pensar nisso. Porque o ser humano é o único ser racional capaz de destruir o seu próprio habitat natural. Ou seja, numa guerra você destrói um hospital que levou anos para ser construído. Que ainda nem foi pago. Em uma guerra você destrói ferrovias, destrói pontes, destrói casas que moram as pessoas, que levam um tempo, pra ser destruído. E só o ser humano faz isso. Você não vê nem uma outra espécie animal no planeta destruir sua casa, destruir o seu ninho. Destruir o seu lugar de dormir. Nós, que somos o único animal inteligente do planeta, somos capazes de nos autodestruir. Então, o planeta está dizendo: “Olha, cuide de mim que eu cuido de vocês. Cuide de mim. Eu preciso de carinho, eu preciso que você me respeite. Você tem que respeitar o curso da água. Você tem que respeitar a floresta, você tem que respeitar a fauna, você tem que respeitar tudo. Respeitar a biodiversidade, o ecossistema. E aí a gente respeita e vai viver tudo bem”. É isso que o planeta tá dizendo: “Cuide de mim que eu cuido de vocês. Não me destruam que a vítima será vocês”. É esse aviso. E é por isso que o Governo Federal está 100% envolvido com o governo dos estados para que a gente possa combater qualquer tipo de anormalidade que acontecer.
Marcos Uchôa: Presidente, a gente está chegando no final. Eu queria falar, você tá falando de cuidado, né? E essa operação de repatriação foi um sucesso. Já foram 8 voos já. Falta o pessoal de Gaza. Mas de Israel. E lá eu vi outros países que fizeram, depois do Brasil, e em condições muito piores que o Brasil. Estados Unidos, por exemplo, estava levando passageiros para Atenas, ali ao lado. E estava cobrando, inclusive. Polônia fez pra Creta e cobrando. Todo mundo cobrando e nem levando de volta para casa. Quer dizer, de certa maneira deu muito orgulho. Eu vi muita gratidão dessas quase 1.500 pessoas que voltaram, de escapar de um lugar muito tenso que é a guerra lá.
Presidente Lula: Uchôa, o povo brasileiro sempre foi conhecido por ser um povo bondoso e generoso. Nós somos um povo alegre. Nós somos um povo que gosta de samba, que gosta de carnaval, que gosta de música, que gosta de trabalhar. Mas a gente gosta de tratar as pessoas com carinho. A gente gosta de solidariedade. A gente viveu um período dos últimos seis anos de anormalidade com o ódio tentando ocupar um espaço que nunca teve no Brasil. Então, o que nós fizemos de buscar a nossa gente lá, é para dizer o seguinte: “Ninguém larga a mão de ninguém nesse país”. Qualquer brasileiro que estiver dentro da área de guerra que precisar voltar para o Brasil, nós não mediremos esforços, nós iremos buscar. Eu não quero saber de que partido as pessoas são. Eu não quero saber de que religião as pessoas são. Eu não quero saber para que time as pessoas torcem, eu não quero saber para quem as pessoas votaram. Eu quero saber que são brasileiros e brasileiras. Brasileiros e brasileiras que estão querendo voltar para o Brasil. Eu vou te contar uma coisa. Surgiu uma polêmica aqui: “Ah tem gente que tem um gatinho que quer trazer, tem gente que tem um cachorrinho que quer trazer”. Eu falei com o Damasceno. Falei: “Damasceno, é o seguinte. Se as pessoas tiverem animal de estimação. A Janja que me chamou atenção. As pessoas têm que trazer.” Ninguém vai largar seu animal de estimação lá. Ninguém vai largar. Quando você tem um animal de estimação, ele faz parte da família. Então, nós também garantimos isso. E mais ainda. Falei para o Damasceno: “Se ao terminar de recrutar os brasileiros, tiverem homens e mulheres da América Latina, da América do Sul, que não tenham condições de voltar para o nosso Continente, a gente vai prestar solidariedade e a gente vai também trazer essa gente”. Esse é o papel do Brasil no mundo. É essa a imagem que eu quero passar do povo brasileiro. Um povo solidário. Um povo fraterno. Um povo apaixonado pelo ser humano, um povo humanista. É assim que a gente tem que ser. E é assim que o mundo nos vê. E é assim que a gente tem que consolidar nossa imagem. Um país que só quer paz, um país que só quer trabalhar. Um país que quer estudar. Um país que quer vencer e quer progredir, porque é isso que pensa cada mulher e cada homem desse país. E é isso que eu vou tentar garantir para esse povo. Portanto, eu fiquei muito feliz. Você não sabe a emoção que eu senti quando o primeiro avião pousou aqui em Brasília. Você não sabe a emoção que eu senti, cada avião que pousou no Rio de Janeiro e em São Paulo. E você não sabe a emoção que eu vou sentir quando os brasileiros e brasileiras que estão na Faixa de Gaza conseguirem pisar no território nacional. Eu acho que vai ser emocionante para todos nós. E a gente vai ter que olhar para o céu e agradecer a Deus, dizer: “Obrigado por ter permitido que a gente conseguisse vencer mais essa batalha que parecia impossível”. É isso que vai acontecer no Brasil. E eu quero agradecer a tua ida a Israel. E eu gostaria que você fosse até na Faixa de Gaza. Mas não era possível.
Marcos Uchôa: Também, cheguei do lado ali.
Presidente Lula: Não era possível ir, mas eu espero que a gente possa ter tranquilidade. Espero que Israel tenha compreensão. Espero que o Hamas tenha compreensão do erro que cometeu. E espero que Israel tenha compreensão do que está acontecendo com milhões de crianças na Faixa de Gaza. E espero que o mundo tenha compreensão. Não adianta a gente falar, ficar fazendo propaganda aqui. “A criança é o futuro da Nação, que a criança é o futuro da humanidade”. E não chorar a morte de uma criança que morreu numa batalha que não é dele.
Marcos Uchôa: Em Gaza já são mais de 2 mil crianças.
Presidente Lula: Que ele nem sabe porque tem aquela guerra. Ninguém nem avisou para ele. Então, a insanidade daqueles que querem a guerra, mata jovens e crianças que não pediram a guerra. Então é esse mundo ingrato, injusto, Uchôa, que nós temos que combater. E eu estou voltando com muita cautela porque eu sei o que é a dor que eu passei durante mais de um ano, sofrendo dor de manhã, de tarde, de noite. Doía para dormir, doía para sentar, doía para ficar de pé, doía para andar. Eu passei a campanha com muita dor. Depois eu não pude operar porque era preciso começar o governo fazendo as coisas. Depois eu não pude operar porque era preciso recuperar o Brasil no mundo e fazer as viagens que eu fiz. E quando eu achei que as coisas estavam mais ou menos certas eu resolvi operar. Graças a Deus a operação foi bem sucedida e graças a Deus eu estou aqui hoje para dizer para você: “Voltei”. E para dizer ao povo brasileiro: “Estou de volta para concluir aquele que será o mandato da recuperação, do amor pelo povo brasileiro, do emprego, do aumento de salário, da melhoria da saúde para esse povo tão generoso que merece respeito, que merece muito, mas muito respeito do governo, e é isso que eu vou fazer nesse meu mandato”. Portanto, esperem que, logo, logo, mais umas cinco semanas, seis semanas, esperem que eu estarei chegando no seu estado, na sua cidade, para conversar com vocês. Um abraço. Obrigado, Uchôa. E até outro dia se Deus quiser.
Marcos Uchôa: Obrigado, presidente. Lembrando: Feliz aniversário essa semana, né. Breve, breve, breve, esse aniversário do presidente. Então, vamos dar um abraço que muita gente queria dar.
Presidente Lula: Dizem que muitas vezes as pessoas não gostam de dizer a idade que tem. Eu, sinceramente, eu vou fazer 78 anos dia 27 de outubro. Eu continuo dizendo para vocês o que eu dizia durante a campanha. Eu vou fazer 78 anos de idade. Eu continuo com a energia de 30 e continuo com a vontade de fazer política de 20. Por quê que eu digo isso? Eu digo isso porque eu queria que você tivesse a seguinte mensagem: “Você precisa construir uma causa na sua vida para você não envelhecer”. Quem tem uma causa não envelhece. Não é a quantidade de anos que você tem. É o que você tem dentro da sua cabeça. E por isso que eu me sinto muito jovem, muito motivado. E por isso que eu estou dizendo que vou viver 120 anos, se o homem que está lá em cima permitir.
Marcos Uchôa: Valeu, presidente. Obrigado, tá?
Presidente Lula: Um abraço, Uchôa. Bela volta ao Brasil e vamos trabalhar porque tem muita coisa pra fazer.