Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de ampliação da capacidade operacional da Refinaria Abreu e Lima (PE)
Meus queridos companheiros e queridas companheiras, eu queria dizer pra vocês que são 15min para as 15h, nós ainda temos que pegar o helicóptero, visitar uma cidade, inaugurar a adutora que o Rui Costa [ministro da Casa Civil] falou, a barragem, e eu tenho ainda que almoçar, e tenho que ir hoje à noite ao Ceará, porque amanhã tem atividade lá.
Eu só queria dizer para vocês uma coisa: depois de tanta gente falar sobre esse ato de hoje, sinceramente não me sobrou nada para falar. No dia que eu aprender a ser presidente, e eu quero aprender, por isso eu vou precisar de mais mandato, eu é que vou ter que falar primeiro, e depois eu vou embora e os outros ficam falando o restante.
Porque vejo uma coisa, companheiros, eu acho extremamente importante a gente não perder de vista o que está acontecendo no Brasil hoje, o que está acontecendo aqui em Pernambuco. Durante vários anos, Magda [Chambriard, presidente da Petrobras], eu fui acusado de que estava fazendo uma obra desnecessária ao país. Porque isso aqui não era uma coisa necessária.
A Petrobras não precisava de uma nova refinaria. Isso aqui era um processo de corrupção que envolvia Petrobras, governo e empreiteiros. E muitos de vocês acreditaram, porque a imprensa falava disso de manhã, de tarde e de noite.
E nós não estamos preparados para fazer a separação rápida entre o certo e o errado. E fazer isso aqui é apenas a demonstração de que este país é soberano e este país tem na Petrobras a sua mais importante empresa. E o dinheiro que a Petrobras consegue produzir neste país tem que ser transformado em benefício para o povo brasileiro.
E benefício significa investimento, investimento significa emprego, emprego significa salário e salário significa dignidade do povo brasileiro. É por isso que nós estamos concluindo. E é com muito orgulho.
Vocês pensam que eu não sei quantas vezes vocês tiveram problemas de vestir essa camisa amarela da Petrobras porque eram chamados de ladrões em restaurantes aqui em Pernambuco? Em restaurantes no Rio de Janeiro ou em qualquer lugar do Brasil? Eles conseguiram criar como se fosse uma peste nas pessoas da Petrobras dizendo que havia corrupção. E a história vai provar que quem queria fazer a corrupção era aqueles que diziam que tinha corrupção na Petrobras.
Até porque a história nos ensina que se você tem uma empresa e essa empresa tem corrupção, você pune quem praticou a corrupção, mas não pune a empresa e nem os trabalhadores que vivem de salário daquela empresa. Então, eu estou aqui com muito orgulho, Magda, muito orgulho. Eu sou possivelmente o presidente que mais visitou obras da Petrobras.
Sou o presidente que mais vestiu esta camisa da Petrobras. Já deveria ganhar um salário de petroleiro, que eu não ganho. Já deveria. Ou um título de doutor honoris “petróleo” que eu não tenho. Mas eu faço isso porque é preciso que o povo brasileiro aprenda o significado dessa empresa.
Tem dois presidentes que gostaram dessa empresa de verdade. O Getúlio [Vargas, ex-presidente da República], que a criou, em 1953, e eu que a ressuscitei em 2023. Pois bem. Eu não vou falar da importância da Petrobras porque aqui já foi falado.
Eu não vou falar da importância do emprego porque aqui já foi falado. Eu não vou falar da perspectiva de investimento da Petrobras porque a Magda já anunciou 109 bilhões de reais. É tanto bilhão que não cabe na minha boca. 109 bilhões de investimentos [de dólares]. 109 bilhões de dólares. Pois é, eu estava pensando que era em reais. É em dólar.
A Petrobras esnoba demais. Eu sempre brincava com o Sérgio Gabrielli [ex-presidente da Petrobras], que em algum momento da história, o presidente da Petrobras deveria ser eleito pelo voto direto e ele indicar o presidente da República, por causa da quantidade de dinheiro que tem a Petrobras. De tanto significado que ela tem para o Brasil.
Mas eu queria falar de uma coisa que a Magda não falou. Nós acabamos de ter a COP30 em Belém. Um sucesso extraordinário. Ninguém queria que fosse em Belém.
As pessoas queriam que fosse em São Paulo ou Rio de Janeiro. Eu não tenho nada contra São Paulo, eu devo tudo na minha vida a São Paulo. Não tenho nada contra o Rio de Janeiro, mas a gente ousou fazer em Belém. Uma cidade que teve a primeira estação de coleta e tratamento de esgoto agora por causa da COP.
E nós investimos praticamente 7 bilhões de reais para transformar Belém numa cidade receptora do maior investimento climático do mundo. E foi extraordinário. O povo aprendeu a dançar carimbó.
O povo comeu maniçoba. Tem um campeonato de maniçoba entre a maniçoba da Bahia e a maniçoba do Pará. Ainda não teve definição porque vai ter uma final em algum momento. Eu sou juiz. Eu já comi as duas. Preciso comer outra vez.
E foi a COP mais extraordinária do mundo. E nós resolvemos discutir essa questão do combustível fóssil. Todo mundo sabe que nós estamos analisando e pesquisando a margem equatorial lá, perto do Amapá. E tem gente que é contra, tem gente que é favorável, tem gente que quer que a gente cuide, tem gente que quer que a gente não cuide. E a gente vai cuidar.
A gente vai fazer com respeito que a gente tem que dar às futuras gerações. Mas daí, a gente queria que entrasse no documento a questão do combustível fóssil. Nós temos que mapear ou desenhar um roteiro para que a gente possa diminuir a utilização do combustível fóssil.
E o Brasil é o país do mundo que tem mais autoridade moral. Só para vocês terem ideia. Os países desenvolvidos tipo Estados Unidos e Europa, eles querem chegar a 40% de energia renovável em 2050. Vou repetir: Os países ricos querem chegar a 40% de energia renovável em 2050, daqui a 25 anos.
E eu olho para a cara de vocês. E nós temos que olhar para a cara deles e rir. E dizer, enquanto vocês querem chegar a 40% de renovável em 2050, em 2025, o Brasil já tem 53% de energia renovável.
É por isso que o Brasil não tem que se curvar. E eu acho que a Petrobras, embora seja uma empresa de petróleo, ela é mais do que isso. Ela é uma empresa de energia e deve utilizar parte do dinheiro que ela ganha para fazer a transição energética. Porque haverá um dia em que não teremos combustível fóssil e vamos precisar de energia. E a Petrobras pode ser a maior empresa de energia renovável do planeta Terra.
A gente pode virar Arábia Saudita do combustível renovável. Aí quem sabe a gente ensina eles como é que faz e eles vão investir um pouco do dinheiro que eles ganham no continente africano. Vão ajudar os companheiros do país africano a produzir o combustível.
E aí a gente vai ter um mundo saudável. Um mundo sem gás de efeito de estufa que permita que o planeta não se aqueça acima de um grau e meio. Esse era o meu discurso hoje.
Qual é o segundo discurso? Eu queria dizer para os prefeitos e para as prefeitas que estão aqui, a você, João Campos, prefeito da capital, de que eu tenho dito que não é possível um país ser rico se a cidade é pobre. Não é possível um país ser feliz se a cidade é triste. Porque a nossa vida é na cidade.
Ou seja, a gente vive na rua. A gente vive numa vila, no bairro. A gente não vive no país. E eu, baseado nessa coisa mais íntima da vida da gente, eu queria fazer um discurso para nós homens.
Quero pedir desculpa à Petrobras que está fazendo esse evento. O que está acontecendo na cabeça desse animal que é considerado como a espécie animal mais inteligente do planeta Terra para agir com tanta violência. Eu acordei domingo para tomar café e no café a Janja começou a chorar.
De noite, vendo o Fantástico, a Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil] voltou a chorar. Ontem, ela voltou a chorar. E hoje, no avião, ela pediu para mim: “Assuma a responsabilidade de uma luta mais dura contra a violência do homem contra a mulher no planeta Terra”.
Eu não canso de repetir que eu fui educado por uma mulher que, do jeito que nasceu, morreu analfabeta. Eu recebi a educação de uma mulher que, do jeito que nasceu, sem saber fazer um “o” com um copo, morreu sem saber fazer um “o” com um copo.
Eu já estou vivendo 15 anos a mais do que minha mãe porque ela morreu com 65 anos de idade. E a minha mãe sempre dizia assim: “Meu filho, se você casar e você não estiver bem com a sua mulher, você se separe dela. Mas nunca levante a mão para bater na sua mulher”. E eu fui criado assim. Meus cinco irmãos homens foram criados assim.
A gente não pode utilizar a violência contra um animal de estimação que a gente tem. Para que você quer um cachorrinho, para bater nele? Para que você quer ter um papagaio em casa, para bater nele? E muito menos a gente mora com alguém para ser violento com esse alguém. Então, essa semana, teve um cara que pegou duas pistolas na mão e descarregou a pistola contra a mulher.
Teve um outro que matou uma mulher grávida com três filhos e tocou fogo na casa. Teve um outro que atropelou a mulher e a arrastou por um quilômetro. Essa mulher vai sobreviver com as duas pernas amputadas. A pergunta que eu faço é a seguinte: O código penal brasileiro tem pena para fazer justiça a um animal irracional como esse? Nós temos pena para isso? Se o cara tiver dinheiro, como aquele malandrão que ficou dando 60 socos na cara da mulher no elevador.
Se ele tiver dinheiro, ele fica dois anos preso e vai para a rua bater em outra mulher. E um pobre desgraçado que rouba um pão da padaria para comer é preso e não tem nem advogado para defendê-lo e não tem um juiz para liberá-lo.
Mas isso não depende de ninguém. Depende de nós, de cada um de nós, homens. Precisamos ser o professor do outro. Cada um de nós temos que educar os nossos filhos. Cada um de nós temos que educar os nossos companheiros. Se você não está bem com a sua companheira, por favor, seja grande. Não bata nela. Se separe dela. Se ela não gosta de você, ela não é obrigada a ficar com você. Deixe-a cuidar da vida dela. Não aprisione essa pessoa. Não seja malvado. Não seja ignorante.
Porque pensando bem, não existe pena para punir um cara desse. Porque até a morte é suave. Aquele cara que bateu na moça com 60 socos na cara dela, que pena merece um cara daquele? O cara passou 50 anos fazendo musculação, todo bombado. Pra quê? Pra bater em mulher? Era melhor que tivesse nascido sem braço. Porque o braço Deus nos deu pra gente trabalhar, pra gente fazer carinho, pra gente fazer cafuné, pra gente fazer coisa boa e não pra gente bater nos outros.
E essa não é uma tarefa só da escola. É nossa, homens. É preciso que haja um movimento nacional dos homens. Quando os animais que batem, que judiam e que maltratam as mulheres, que estupram filhas e que fazem com meninas, como a que o Rui Costa me mostrou. Uma menina de 2 anos, hoje, da Bahia, que foi estuprada pelo marido da avó ou pelo amante da avó. Uma criança de 2 anos estuprada e ainda bateu na menina, machucou a cabeça dela. Que pena que merece um desgravado desse? Até a morte é suave.
E eu acho que nós, homens, aprendemos a nascer ouvindo dos nossos pais: “Honra a calça que você veste”. Nós não temos que honrar a calça que nós vestimos, porque ela não está precisando de honra.
O que nós estamos precisando é lição de caráter, de dignidade, de educação, de respeito às nossas companheiras, às mulheres, que se não fossem elas, a gente nem existia.
Companheiros e companheiras, eu quero terminar esse ato aqui da Petrobras, em que eu estou muito orgulhoso. Vocês não têm noção do orgulho que eu estou aqui na Petrobras.
O orgulho. Porque eles já tentaram vender a Petrobras muitas vezes. Não conseguiram vender. Venderam a BR. Venderam as refinarias. Vendendo pedaços. Mas graças à existência de Deus, e de um presidente que tem fé em Deus, a gente votou para dizer que a gente vai fazer a Petrobras continuar servindo ao Brasil.
Veja uma coisa: se a gente não tivesse vendido a BR, a BR poderia ser a grande distribuidora do Gás do Povo [programa de distribuição gratuita de gás de cozinha para baixa renda]. Cada posto de gasolina da BR poderia ser a distribuidora.
Mas a gente não tem mais a BR. Porque muita gente acreditou que era preciso vender, porque era melhor. Era melhor para quem, “cara pálida”?
Barateou o preço da gasolina? Não. Barateou agora que nós voltamos. Barateou o gás? Não. O gás sai a 37 reais da Petrobras e chega na casa de vocês a 150 reais. E não é justo uma pessoa que ganha o salário mínimo gastar 10% do seu salário com um botijão de gás.
Por isso é que nós criamos o Gás do Povo. Para dar para quase 17 milhões de famílias o gás de graça. Você pode não ter outra coisa, mas o seu gás para esquentar a água, para fazer um café, pra fazer um chá, para lavar bumbunzinho do seu filho, você vai ter. É isso que nós queremos dizer.
Então, companheiros e companheiras, é preciso parar com essas tonterias que muitas vezes a gente é empenhado pela cabeça na televisão. Muitas vezes nós somos empenhados pelos jornais e agora pelas fake news. Quantas mentiras faz a cabeça da gente?
“Ah, custa muito fazer tal coisa. Ah, esse Lula está gastando dinheiro com o Pé de Meia [programa para redução da evasão escolar no Ensino Médio]. Esse Lula está gastando dinheiro com o pobre, dando gás para pobre, dando comida para pobre, dando emprego para pobre, dando universidade para pobre”. Tudo isso eles estranham.
Porque este país só foi ter a primeira universidade federal em 1920, 420 anos depois de descoberto. Precisou chegar à presidência um semianalfabeto, metalúrgico, para ser um presidente, que sozinho, em 10 anos, fez mais universidade em extensão do que eles fizeram em 83 anos neste país.
E vai precisar, porque essas coisas a gente não aprende na universidade. Essas coisas a gente não aprende no shopping. Essas coisas a gente não aprende no free shop. Vai precisar outra vez. E quero olhar na cara de cada homem que tá aqui. Nós vamos ter que criar vergonha. Quando a mulher vê a gente, ela tem que olhar e dizer: “Lá vem um companheiro digno, um companheiro de luta”, e não um canalha que vai ter a proveito de uma mulher pra bater nela e utilizar ela como objeto de cama e mesa.
Não é necessário isso. Então, a partir de agora estou no movimento dos homens que vão começar a conscientizar este país. De que um homem não nasceu pra bater em mulher, para estuprar criança, ou para fazer violência. Quem estiver comigo, levante a mão, por favor, nessa luta.
Nós vamos fazer uma campanha forte. Minha mãe dizia pra mim: “Lula, se você um dia tiver que bater numa mulher, é melhor que lhe caia as mãos.” E é verdade, porque eu fui criado sem nunca ter levado um tapa da minha mãe. E a coitada saiu daqui de Pernambuco pra ir pra São Paulo atrás do meu pai, que engravidou ela em 1945 e foi embora.
Ele nem estava aqui quando eu nasci. Eu só fui conhecer ele quando eu tinha 7 anos de idade. Fui comer pão pela primeira vez com 7 anos de idade já em São Paulo. Mas estou aqui. Cheio de decência, de dignidade e de caráter. Para dizer, nós precisamos criar um novo homem neste mundo.
Uma nova consciência. Um novo relacionamento. E um tratamento digno para que as nossas companheiras vivam conosco, se quiserem, porque querem viver.
E não porque precisam de um prato de comida ou com medo de apanhar do marido.
Um beijo no coração e vamos à luta. Essa luta não é das mulheres, é dos homens.