Discurso do presidente Lula na Reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
Embora eu tenha feito, para vocês, a distribuição das bananinhas que o Rui Costa [ministro da Casa Civil] me deu, e depois de umas balinhas que eu recebo do Paraná, eu queria dizer para vocês que eu começo pedindo desculpa pelo atraso de mais de duas horas para o começo desta reunião.
Além do que a nossa secretária executiva, preciosíssima que é, convidou vocês para as duas e meia da tarde. Ou seja, juntou a preciosidade da nossa secretária executiva com a minha demora. Ou seja, vocês muitas vezes ficaram esperando mais de quatro horas para esta reunião.
De qualquer forma, eu queria dizer para vocês que nós vivemos no Brasil um momento muito especial para que a gente faça com que as coisas deem certo neste país. Se vocês imaginarem, depois eu vou ler o meu discurso aqui, porque faz dez dias que eu não leio nenhum discurso que as pessoas fazem para mim. Eles ficam nervosos porque eu não leio o discurso.
Mas eu queria dizer para vocês que, se a gente perceber, houve um avanço, inclusive, do nosso comportamento, do comportamento de vocês enquanto pesquisadores, enquanto cientistas.
Houve um tempo em que, no Brasil, as pessoas pesquisavam, faziam suas teses, e essa tese virava uma peça acadêmica guardada na gaveta de cada um, na biblioteca de cada um, e essa peça não era levada a sério para que a gente pudesse transformar aquilo em um produto, aquilo em uma coisa de interesse da sociedade. Havia um certo preconceito.
Não sei se um preconceito intelectual, não sei, mas havia um certo preconceito. Eu não fiz tese para o capitalismo. Eu fiz a minha tese para mim mesmo. Então, não tem sentido fazer uma tese para mim mesmo. Tem que fazer tese para o país. Eu acho que essa evolução é a mais importante evolução dos últimos tempos no país.
Nós aprendemos, enquanto governo, que é preciso incentivar a pesquisa, de que é preciso não tratar como gasto o dinheiro da pesquisa, e, ao mesmo tempo, vocês entenderam que o conhecimento que vocês conseguem colocar num papel, conseguem colocar num computador, pode se transformar em alguma coisa que possa virar remédio, que possa virar vacina, que possa virar carro, que possa virar avião, que possa virar roupa, que possa virar conhecimento, e que dê resultado produtivo para o crescimento do país.
Eu acho que essa é a grande revolução que a nossa geração está vivendo neste país.
A segunda coisa é que nós ainda não conseguimos convencer o conjunto do empresariado brasileiro a investir em inovação e pesquisa. Nós não conseguimos. Muito se fala, mas a gente aprende uma coisa, que é histórica.
O capital de risco tem medo de risco. Então, sabendo disso, o Estado tem que ser generoso e tem que cumprir, às vezes, com a parte daquilo que a iniciativa privada não cumpre.
Então, é mais ou menos como financiar um atleta. Nenhum empresário, por mais generoso que seja, por melhor que seja, vai financiar alguém que não seja famoso.
Então, primeiro, as meninas têm que receber bolsa atleta, têm que treinar para caramba, aí elas ganham a medalha de ouro, e quando ganham a medalha de ouro, aí aparecem as empresas que querem patrociná-las.
Mas, antes, quem tem que patrocinar é o governo cumprindo a função do Estado de dar oportunidade e chance àquelas pessoas que precisam de chance e oportunidade.
Na ciência e na pesquisa é a mesma coisa. Se as coisas não acontecem por livre e espontânea vontade de quem quer que seja, cabe ao Estado, não por livre e espontânea vontade, mas por obrigação e dever, de construir um Estado soberano, fazer a sua parte, colocar dinheiro para ciência e tecnologia.
É isso que estamos fazendo aqui, e eu espero que eu tenha a capacidade de resumir a minha leitura dessa rapadura de papel aqui que o Luís Fernandes [secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação] nos entregou.
No mais, eu espero que as pessoas que escreverem o meu discurso estejam ouvindo o que eu vou ler hoje. Eu vou valorizar o discurso aqui.
Quero iniciar esta reunião reafirmando a ciência como pilar de um Brasil soberano, desenvolvido e socialmente justo.
Quero também reafirmar o papel fundamental do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia na construção desse Brasil que nós sonhamos e queremos.
Neste espaço promovemos o encontro de quem produz ciência e de quem depende da ciência para inovar, com a responsabilidade de quem formula políticas públicas.
Por isso, a missão de recolocar a ciência no centro do desenvolvimento nacional, após anos de negacionismo, precisava passar pela reativação do CCT.
Foi o que fizemos em 2023.
Temos a convicção de que investimento em ciência e tecnologia tem um objetivo principal: encontrar as melhores soluções para os grandes desafios nacionais.
E hoje, a entrega que vocês fazem da nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação simboliza mais um marco na reconstrução e no fortalecimento da política nacional de ciência, tecnologia e inovação.
E na construção de um Brasil cada vez mais capaz de enfrentar vulnerabilidades históricas, liderar áreas estratégicas e transformar conhecimento em bem-estar para toda a população.
O papel fundamental da ciência ficou ainda mais claro no último mês, quando o Brasil foi palco de intensas e produtivas, discussões sobre a mudança climática, durante a COP 30.
Não há dúvidas de que a ciência é a chave para soluções eficientes e definitivas para salvar o planeta.
O meio ambiente e a saúde humana dependem de ciência.
A transição energética depende de ciência.
A produção agrícola sustentável depende de ciência.
E a premiação da pesquisadora da Embrapa Mariangela Hungria, primeira brasileira a receber o “Nobel da Agricultura”, é um símbolo do que o país tem de melhor.
Queridas companheiras e queridos companheiros,
O investimento público em pesquisa retorna para o povo brasileiro em forma de saúde, segurança, geração de empregos e qualidade de vida.
É por meio da ciência que produzimos vacinas e medicamentos, criamos tecnologias para a indústria, geramos produtividade no campo, monitoramos desastres naturais e garantimos resiliência das cidades.
Com investimento, trabalho e competência, viramos a página do retrocesso que vivemos anos atrás.
Descontingenciamos o FNDCT e devolvemos ao Fundo sua função original: financiar pesquisa científica, tecnologias estratégicas e inovação de ponta.
Os investimentos cresceram e passaram a sustentar projetos estruturantes em todo o país. Desde grandes laboratórios até pesquisas essenciais à soberania nacional.
Reajustamos o valor e ampliamos o número das bolsas de estudo e de pesquisa, após uma década sem aumento.
Retomamos concursos públicos para o Ministério, suas vinculadas e os institutos de pesquisa depois de anos sem recomposição.
Promovemos políticas inéditas de inclusão, diversidade e internacionalização.
O Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, por exemplo, representa uma profunda mudança no sistema científico com bolsas no exterior para pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas.
Abrimos caminhos para mulheres historicamente excluídas, fortalecendo e diversificando nossa produção científica.
Fortalecemos a internacionalização da ciência, reforçando o lugar no Brasil no mapa mundial da ciência.
Estamos trazendo de volta cientistas brasileiros que deixaram o país por falta de oportunidades. E criando redes internacionais, com projetos de alto impacto.
Escolhemos o caminho do diálogo para fazer a ciência voltar a ter o lugar que merece na agenda do Estado brasileiro.
Após um hiato de 14 anos, realizamos a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, com público recorde.
Agora, estamos projetando o futuro.
Foi aqui, neste Conselho, que concebemos e criamos o primeiro Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, um marco estratégico que já está em implementação.
O Brasil precisava de uma postura ativa neste tema, para não ficar a reboque de outros países. E vocês responderam em tempo recorde, com uma política concreta de IA para o país.
Depois de anos sem recomposição, retomamos concursos públicos para as instituições de pesquisa e órgãos gestores, incluindo o Ministério e os institutos vinculados.
Alinhamos os investimentos em inovação com a Nova Indústria Brasil, para um desenvolvimento industrial mais moderno, mais produtivo e mais competitivo.
Ampliamos investimentos do Novo PAC em infraestrutura científica de ponta, com avanços significativos.
A exemplo da nova fase do Sirius, maior e mais complexa infraestrutura científica do país.
O laboratório Órion, de máxima contenção biológica, que será o primeiro do mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron.
A ampliação da capacidade do Supercomputador Santos Dumont, que voltou a ser o maior computador da América Latina dedicado à pesquisa científica. E está, novamente, no Top 500 do Mundo.
Minhas amigas e meus amigos,
Estamos construindo um pacto nacional pelo conhecimento.
Fortalecendo o presente e plantando o futuro.
E este Conselho, com sua experiência, sua autonomia e seu compromisso, tem sido fundamental para orientar o país nesse caminho.
Desafio a comunidade científica a ousar cada vez mais. A dialogar com a sociedade, extrapolar os muros da academia e levar a ciência para as ruas, para a vida das pessoas, para as escolas, para as conversas do dia-a-dia.
Precisamos não só desenvolver a ciência, mas, também, popularizar o conhecimento científico.
O Governo do Brasil está do lado da ciência e da comunidade científica.
Para varrermos de uma vez por todas o negacionismo e o obscurantismo.
Muito obrigado!