Discurso do presidente Lula na Cúpula do IBAS, na África do Sul
Gostaria de agradecer ao companheiro Ramaphosa [Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul] por ter convocado a sexta Cúpula do IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul], aqui em Johanesburgo.
O IBAS nasceu como um importante foro de coordenação de três grandes democracias e economias do Sul Global.
Mas enquanto outros arranjos se consolidaram e cresceram, o IBAS permaneceu estagnado.
Desde 2011 não nos reunimos como líderes.
Nesse período, o G20 se estabeleceu como principal foro de diálogo entre as economias desenvolvidas e os países em desenvolvimento.
E o BRICS se firmou como ator central para o fortalecimento da ordem internacional e para a reforma da governança global.
A recente adesão de seis membros plenos e de nove países parceiros evidencia seu poder de atração.
Nesse contexto, a questão que se impõe para os nossos países é: qual é o papel do IBAS? Qual espaço nos cabe na atual conjuntura?
Será que é possível pensar em diálogo com novas democracias do Sul Global, como o México, o Quênia ou a Malásia?
Eu acredito que se o IBAS insistir em duplicar as agendas do BRICS, seguiremos à sua sombra.
A condição de grandes emergentes do Sul Global e de grandes democracias confere ao IBAS identidade e aptidões próprias.
Índia, Brasil e África do Sul têm a vocação de conciliar os valores de soberania e autonomia com a busca por desenvolvimento e com a defesa da democracia e dos direitos humanos.
Essa capacidade, que está em falta no mundo de hoje, é a marca do IBAS e nossa maior contribuição para a ordem internacional.
Compartilhamos muitas causas e temos muito a dizer para o mundo.
Defender a agenda multilateral de saúde e o debate sobre acesso a medicamentos, vacinas e insumos é uma trilha que o IBAS deve explorar.
Entre nós três é possível dialogar abertamente sobre direitos humanos, equidade de gênero e direitos sexuais e reprodutivos.
Há confiança para discutir o combate ao extremismo e a defesa da democracia.
Sindicatos e ONGs organizados e vibrantes nos inspiram a debater a participação social e os dilemas do mundo do trabalho em mercados emergentes.
Nossos países são chave para a construção de um sistema justo, democrático e funcional de governança e acesso a dados.
Temos condições para estar na vanguarda da governança global da Inteligência Artificial.
A vocação do IBAS para a cooperação Sul-Sul também segue viva.
O Fundo IBAS é uma iniciativa simples e eficaz. Desde sua criação, já financiou 51 projetos em 40 países. E foi um dos precursores da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza que lançamos no G20 ano passado.
Meus amigos Modi [Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia] e Ramaphosa,
O encontro de hoje é um passo central para reavivar nossa coordenação trilateral.
O sentimento que tenho com esta reunião é de esperança.
É fundamental que um agrupamento como o IBAS se reúna com periodicidade em alto nível.
E que nossa coordenação se reflita de forma permanente na ONU, no G20 e no BRICS.
Penso que saímos deste encontro com uma tarefa de casa: iniciar uma reflexão profunda sobre caminhos futuros para o IBAS, com vistas à nossa próxima cúpula.
Tenho certeza de que o presidente Ramaphosa e sua equipe nos guiarão à frente do IBAS com habilidade, na melhor tradição do princípio do Ubuntu.
Contem com o Brasil.
Muito obrigado.