Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia de Comemoração do Dia dos Professores
Eu queria pedir desculpas aos companheiros que fazem parte da mesa, porque eu não vou utilizar nominata. Segundo, dizer para vocês da alegria de estar comemorando hoje, o dia dos professores, e podendo anunciar alguns benefícios merecidos que há muito tempo vocês deveriam ter.
E eu queria que vocês compreendessem que o que nós vivemos na educação no Brasil não é uma coisa de graça. Sempre houve neste país, desde o seu descobrimento, uma política determinada de que o povo não precisava de educação, o povo tinha que trabalhar. Era muito indígena, era muito escravo, então não precisava ter formação. Quem tinha que ter formação eram os donos dos engenhos que usavam os escravos.
Presta atenção numa data: em 1492, o navio de Cristóvão Colombo chegou a Santo Domingo, na República Dominicana. De 1492, a primeira universidade feita em Santo Domingo foi em 1532. Ou seja, 40 anos depois da chegada do navio de Colombo, Santo Domingo já tinha universidade. Cabral [Pedro Álvares] chegou no Brasil em 1500 e a primeira universidade feita de verdade nesse país foi em 1920.
Enquanto na República Dominicana demorou apenas 40 anos, aqui demorou 420 anos para fazer a primeira universidade. E que foi feita, porque o rei da Bélgica vinha ao Brasil, então era preciso juntar todas as faculdades que a gente tinha pelo Brasil e criar a Universidade Brasil. Ela foi feita muito mais com o objetivo de dar o título de doutor honoris causa ao rei da Bélgica do que por conta do povo brasileiro.
Essa é a demonstração do atraso educacional do Brasil. E essa é a demonstração do porquê a gente proporcionalmente tem menos jovens na universidade do que no Chile, do que na Argentina e do que em outros países da América do Sul.
Não é de graça, é porque foi uma política determinada. Só para vocês terem ideia, quando houve a revolução de 1930, que Getúlio Vargas [ex-presidente do Brasil] chegou ao poder, e São Paulo perdeu a guerra para o Getúlio Vargas, o que eles resolveram fazer? Eles resolveram dizer que eles tinham perdido a guerra, mas eles iam governar o Brasil pela inteligência e criar a USP [Universidade de São Paulo] e foi o que aconteceu no Brasil.
Durante muito tempo, a inteligência brasileira era extraída da USP [Universidade de São Paulo], que é a melhor universidade que nós temos no Brasil e é motivo de orgulho para todos nós. Mas apenas para mostrar para vocês que era quase que proibido ter universidade federal em São Paulo. Porque havia uma decisão política da predominância de uma certa elite brasileira que achava que tinha que ser assim.
Só para vocês terem ideia, nós já fizemos mais de 20 universidades federais e mais de 180 campi pelo Brasil afora para ver se a gente consegue interiorizar o ensino universitário para que uma criança pobre do interior não tenha que ir para a capital para estudar. É a capital que tem que levar a universidade para ele. Essa foi a revolução que aconteceu nesse país.
A gente permitiu que fosse criada a condição de oportunidade para todas as pessoas de todos os lugares do país. É por isso que o Camilo [Santana, ministro da Educação] disse aqui e vocês nem prestaram atenção, porque estava todo mundo eufórico com aumento de salário, de que nós ainda vamos anunciar este ano uma universidade federal indígena no Brasil. E vamos anunciar a universidade do esporte no Brasil também. Para que a gente possa fazer com que esse país seja soberano na terra, no ar, no mar, mas seja soberano na sua educação. E vocês sabem que leva tempo para as coisas acontecerem. Leva tempo.
Quando nós criamos o Pé-de-Meia foi uma decisão política que você tem que tomar: faz ou não faz. Sempre sofrendo a pressão daqueles que acham que o dinheiro tem que ficar guardado para pagar juros. E custou praticamente R$ 10 bilhões para a gente fazer um programa para não deixar 480 mil jovens do Ensino Médio brasileiro desistirem da escola para ajudar o orçamento familiar.
Depois, se a gente não tomar essa decisão, a gente vai gastar muito mais. Porque certamente muito jovem desse seria um ganho para o narcotráfico, para o crime organizado e seria muito mais caro fazer cadeia do que fazer escola. É muito mais caro cuidar de um preso do que cuidar de uma criança na escola. E essa é a decisão política que você tem que tomar.
Da mesma forma que é decisão política fazer acordo com prefeitos, fazer acordo com governadores para que a gente possa ter um compromisso de, pelo menos até 2030, a gente ter 80% das crianças alfabetizadas desse país no tempo certo. Porque vocês são professores e sabem, professoras, que se a criança não for alfabetizada até o segundo ano, ela vai acumulando dificuldade. E uma coisa mais grave é que se uma criança pertence a uma família de uma classe razoavelmente, mesmo de classe média e baixa, mas tem um pai ou uma mãe que sabe alguma coisa, essa criança quando não aprende na escola, o pai tenta ensinar em casa.
E quando a criança tem uma mãe e um pai que não sabem fazer nada, o coitado é alfabeto. Onde que essa criança vai aprender? Então, quando a gente toma essas atitudes, muitas vezes as pessoas falam: "ah, o Lula só quer saber de cuidar de pobre, ele só quer saber de cuidar de pobre". Eu não quero cuidar de pobre, porque ninguém quer ser pobre, ninguém. Eu não conheço ninguém na face da terra que faz uma escolha: "eu quero ser pobre, eu quero passar fome, eu quero ser analfabeto, eu quero comer mal". Ninguém faz isso.
Quem causa essa situação é o sistema, um sistema econômico e político que não foi criado por nós, e que a gente é vítima dele durante séculos. Mas foi assim a vida inteira, é só ver os filmes antigos das monarquias, o rei lá na vida de nababo com a rainha, com todo mundo lá na festa e o povo trabalhando para pagar, levar comida para eles, e imposto. Sempre foi assim.
Então, o que nós precisamos saber é o seguinte: ou nós tomamos decisão política de fazer as coisas acontecerem corretamente ou nós não iremos melhorar o mundo. No ano que vem vai ter eleição e a gente vai ter que dizer que tipo de Brasil que a gente quer. E o tipo de Brasil vai ser decidido por vocês, não é por mim, é por vocês.
São vocês que vão ter que saber qual é o senador que vocês vão eleger, qual é o deputado federal, qual é o deputado estadual que vocês vão eleger. Porque é isso que é a cara do Congresso Nacional, é o resultado da consciência política que vocês tiveram no dia das eleições. Depois não adianta reclamar. Se a gente quer fazer guerra contra um país, a gente não pode mandar um soldado que vai ficar do lado do outro país. A gente vai ter que mandar um soldado que vai lá para derrotar o outro. A gente não coloca a raposa para tomar conta do galinheiro, a raposa vai comer a galinha.
Então, são essas coisas que nós temos que levar em conta quando a gente analisa a nossa situação. Nesse estado aqui, quantos governadores tiveram presos? Esse estado era para ser um estado rico. Esse estado era para ser um estado rico. E não é, porque normalmente as pessoas, muitas vezes, não acertam na escolha política. E aí, sabe qual é a desgraça de quem não gosta de política? É que é governado por quem gosta. E se quem gosta não pensa igual a vocês e é eleito, a gente sabe o que vai acontecer.
Eu não consigo entender como é que esse estado, um estado altamente politizado, elege um cara para governador que era um juiz, um picareta que ficou aí e não fez porra nenhuma, se meteu na corrupção e foi eleito. Eleito em nome do quê? Eleito em nome de combater a corrupção. Que corrupção? Então, ou a gente começa a agir de forma mais coerente… E eu não quero mudar a cabeça de ninguém.
Eu só quero dizer uma coisa para vocês: o dia que vocês acharem que o Lula não presta, que o Eduardo Paes [prefeito da cidade do Rio de Janeiro] não presta, que o vereador não presta, que o deputado não presta, é direito de vocês de achar. Mas pelo amor de Deus, quando vocês acharem tudo isso, em vez de votar num cara pior do que nós, sejam vocês candidatos que vocês são as pessoas boas que vocês têm dentro de vocês. Não são os governantes que erram, somos nós que erramos. Esse é o dado.
Eu estou falando isso para vocês, não estou com raiva não. Estou falando com vocês, porque eu sou, nesse público aqui e nesse público aqui, eu sou o único que não tem diploma universitário. De todos nós aqui. É um analfabeto falando com vocês. Eu tenho um curso primário e um curso do Senai, é o que eu tenho na vida. E a minha obsessão pela educação é porque eu não tive as coisas que eu acho que eu deveria ter.
Hoje eu acho que o filho do povo tem que ter aquilo que todo mundo tem direito de ter. Essa é a minha obsessão pela educação. É por isso que eu sou doente pela educação. É porque eu quero que o filho de uma simples empregada doméstica possa disputar uma vaga na universidade ao lado do filho da patroa dela. E que vença quem tem melhores condições, quem aprendeu mais, quem estudou mais.
Eu não quero prejudicar ninguém. Eu apenas quero garantir que todos tenham a mesma oportunidade. É só isso. É ser ruim querer isso? Não, é só isso o que eu quero: que a gente garanta que todos tenham oportunidade. É pouco querer que todo mundo tome café de manhã, que todo mundo almoce, que todo mundo jante e que todo mundo se vista bem. Quem é que não gosta de se vestir bem? Quem é que não gosta de ficar bonitão como eu estou agora aqui? Quem é que não gosta?
Então, se criou neste país a ideia que a gente tem que se conformar. Nós somos de segunda classe. Tem a turma de primeira classe e a turma da hiperclasse. E o povo que se ferre. É assim que é a cultura desse país. E só nós podemos mudá-la. Só nós.
E quando eu pedi a minha carteirinha de professor, não é porque eu sou político, não. É porque eu nunca coloquei no meu currículo, mas eu fui diretor do Centro Educacional Tiradentes, um curso de madureza que eu criei num sindicato, que tinha 1.900 alunos e eu era o diretor. Eu não era um simples professor. Eu era diretor. Tá? É chique. Então, eu quero a minha carteirinha. Pode colocar os benefícios anulados, mas eu quero a minha carteirinha. Carteirinha escrito “diretor”.
Bem, ô gente. Eu queria, sinceramente, dizer pra vocês que é muito gratificante a gente perceber que a gente ainda está longe de chegar no ideal. Mas a gente está no caminho certo. Eu pedi para o Camilo ler tudo o que a gente já fez na educação. Porque o nosso governo está vivendo um problema de exagero. Eu vou ver se vocês compreendem.
Imagina vocês chegarem numa casa de uma criança… Uma criança rica ir à casa de vocês e você ter lá no sofá dois brinquedinhos do seu filho, aquele brinquedinho mixuruca. A criança rica não vai dar nem bola. Porque ela já tem mais do que aquilo. Mas chega uma criança pobre na casa de um rico e vê aquele monte de brinquedo. A nossa criança vai se esgoelar de brincar naqueles brinquedos. Porque nunca teve.
A mesma coisa vale pro nosso governo. Ou seja, quando você vai comer num bar, vocês comem em bar? Vocês comem no comercial. O que a gente elogia no comercial? Todo comercial é igual: feijão, arroz, às vezes uma batatinha e um bife acebolado. Um bife daquele bem batido com martelo de carne, que o bicho é pequeno, mas ele emagrece e fica grande e fino. Todo mundo sabe o que é. Então, quando a gente vai comer o comercial, só tem aquilo. Todo mundo comeu igual. E todo mundo fala: "nossa, que comercial bom".
Agora, se você analisar o nosso governo, eu duvido, Camilo, que o governo saiba o que nós já fizemos na educação. Eu duvido que na reunião ministerial, você pergunte o seguinte: "eu quero que os ministros digam o que foi feito na educação". Nós não sabemos, nem vocês sabem. Vocês não sabem tudo o que foi feito na educação desse país. Por isso que eu pedi pro Camilo: diga. Diga.
Porque se a gente não disser, os adversários vão dizer ao contrário. E a gente vai ter que dizer. Dizer, porque esse ano foi o ano da colheita. E o ano que vem é o ano da verdade. Quem quiser mentir, vá pra casa do chapéu. Porque a gente não vai permitir a volta de mentiroso nesse país. Chega. Chega de cidadão ir pros Estados Unidos tentar inflar os americanos contra nós.
E tem alguém da família que é candidato a senador aqui. Eu quero saber qual é o grau de consciência que nós temos pra mudar esse país ou não. Porque depende da nossa atitude. E ela não passa só pela educação. A educação é o começo. A educação é aquele caminho que a gente aponta e vê uma luz no fim do túnel. Mas também não é só a educação que politiza. Porque tá cheio, tá cheio de gente que está atrasado ideologicamente nas universidades brasileiras e nas escolas. Nós sabemos como é que é.
Então, companheiros, eu quero fazer um apelo para vocês. Da parte do nosso governo, não faltará atitude para tentar melhorar a educação nesse país. Eu, por Deus do céu, acordo todo dia querendo que esse país nunca mais tenha um presidente da República que não tenha diploma universitário. Eu quero que tenha muitos diplomas universitários. Mas coloque o seu conhecimento a serviço do povo e não a serviço de bens pessoais.
É isso que nós precisamos. E é por isso que eu vou continuar a minha trincheira. Eu quero dizer, Camilo, quando eu chamei o Camilo para ser ministro, eu falei: "Camilo, o Haddad foi o meu melhor ministro da Educação. Então você vai ter a tarefa de ser melhor do que o Haddad". Ele sabe que eu falei isso pra ele na frente do Haddad.
E ele tá sendo um extraordinário ministro. Porque ele foi, como governador, a melhor educação de todos os 27 estados da Federação. Só pra vocês terem ideia, antes de eu criar as Olimpíadas da Matemática na escola pública, o estado que tinha mais alunos nas Olimpíadas da Matemática era o Ceará. Mas era aluno de escola privada.
E, hoje, quando vai fazer um teste, um concurso para entrar no ITA em São Paulo, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 40% dos alunos são do Ceará. E pra reconhecer o Ceará, nós levamos o ITA para Fortaleza. Da mesma forma que trouxemos uma faculdade de matemática pro Rio de Janeiro. Porque nós precisamos formar mais engenheiros, mais matemáticos, mais especialistas em inteligência digital. Mais inteligência digital. Porque esse país não pode continuar sendo exportador de soja e de milho. Nós temos que exportar inteligência, conhecimento, tecnologia. E isso a gente aprende na escola.
Então, companheiros e companheiras, eu vou terminar dizendo pra vocês o seguinte. Eu vou fazer 80 anos de idade dia 27 de outubro. Quem quiser me dar um presente, o correio está pronto pra entregar. Mas, no dia que eu fui telefonar pro Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos], eu estava completando 80 anos dia 6 de outubro.
Porque eu nasci num lugar chamado Vargem Comprida, que hoje é Caetés. Vargem Comprida era um subdistrito de Garanhuns. E quando eu nasci, meu pai já não estava mais em Garanhuns, porque meu pai engravidou minha mãe. Pegou uma prima da minha mãe com 15 anos e foi embora pra São Paulo. Largou minha mãe cuidando de oito filhos e com o Lulinha na barriga. Mas eu fui batizado, eu fui eu fui batizado na igreja, não tinha registro naquele tempo. E eu tenho um batistério. E o batistério, a gente demorava muito pra ir na igreja batizar, porque a igreja era longe. A cidade era longe.
A gente não tinha jumento, não tinha cavalo, não tinha mula, não tinha égua, não tinha carro, não tinha nada. Então a gente só ia pra cidade quando acontecia um milagre. Eu não sei quanto tempo levou pra eu ir fazer meu batistério. Eu sei que no meu batistério está escrito “6 de outubro”. Então, por lei, eu nasci dia 6 de outubro. Mas a minha mãe nunca aceitou que eu nasci dia 6 de outubro. Nunca aceitou. Ela falava: "você nasceu dia 27 de outubro". E ela teima e teima.
Como foi ela que me carregou na barriga. E na hora de me ter, esse cabeção aqui não é fácil. Eu tenho que ter em conta que a minha mãe sabe mais do dia que eu nasci do que quem foi me registrar. Quem é mulher e mãe sabe disso. Então, eu comemoro dia 27 de outubro. Mas quando eu fui falar com o Trump, eu não conhecia ele, a gente estava de mal. Mas eu não conhecia ele. E tinha gerado uma química na ONU em 29 segundos.
Então, ele me ligou, eu falei: presidente, eu queria estabelecer uma conversa sem liturgia. Eu estou fazendo 80 anos hoje. Você vai fazer 80 anos dia 14 de junho, porque eu tinha pesquisado. Dia 14 de junho. Significa que eu sou 8 meses mais velho do que você. Então, vamos nos tratar de “você”. Sem liturgia. E aí comecei a falar o que eu achava que deveria ter falado.
Não pintou química, pintou uma indústria petroquímica. Amanhã nós vamos ter uma conversa de negociação. E eu estou dizendo isso pra vocês porque a nossa relação, a relação humana, ela é química. Nenhuma mulher casou com um homem porque é o mais bonito. Nenhum homem casou com uma mulher porque é bonita. Não é a beleza que faz a gente escolher quem a gente quer ser. Tem uma química na nossa relação. Tem uma química. E eu sei que na nossa relação, 20% é razão, 80% é química. Se der química, a gente se dá bem.
E eu tenho uma química com vocês, que é a educação. Eu tenho uma química com vocês, que é a educação. E por isso, vocês têm que tirar proveito que eu sou presidente da República e pedir mais coisas. Pedir mais. Nem tudo a gente vai poder atender. Mas se vocês não pedirem, a gente pensa que vocês estão contentes. Peçam. Peçam.
Porque vocês tiveram uma experiência agora. Vocês tiveram quatro anos de um governo que vocês não puderam pedir nada. E ele tirou muita coisa. Então, para nós, vocês peçam. Peçam, reivindiquem. A gente vai aprendendo, a gente vai atendendo.
Então, companheiros e companheiras, eu vou terminar dizendo pra vocês: esse jovem de 80 anos, que está aqui, tem energia de 30. Pense. Quem tiver dúvida, pergunta pra Janjinha [Janja Lula da Silva, primeira-dama do Brasil]. Que não está aqui porque está me representando na FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], lá em Roma.
Mas é o seguinte, eu digo sempre, eu queria dizer esse recado pra vocês: os anos, a gente não consegue evitar que eles passem. Afinal de contas, esse planeta é redondo, ele tem um eixo, ele fica virando, e o tempo vai passando. Mas se a gente tiver uma causa, os anos passam, mas a nossa cabeça fica intacta. A gente não fica velho.
Então, eu tenho uma causa. Eu tenho uma causa. E essa causa é que me faz agir como se eu fosse muito mais novo do que eu sou. Esse pessoal que trabalha comigo aqui não aguenta um dia de trabalho comigo. E o Lulinha está inteiro. Porque eu quero provar ao mundo, quero provar ao mundo, que a gente pode consertar o país.
Esse país merece uma chance. Esse país merece uma chance. Esse país nunca teve uma chance. Vejam, nós acabamos com a fome em 2014. Eu voltei a ser presidente em 2023, tinha 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. Nós, em dois anos e meio, acabamos com a fome outra vez. Mas é preciso que a gente tenha continuidade nas políticas públicas, perenidade. Para que ela nunca acabe, ela não pode voltar para trás. Não tem que ser política de governo, tem que ser política de Estado.
Ninguém pode mexer nas políticas que têm sucesso nesse país. Então, vocês têm que ajudar. Vocês têm que ajudar a construir esse país, não é meu. Eu posso ir embora amanhã, mas vocês vão continuar, o povo vai continuar.
Então, gente, deixa eu terminar dizendo de vocês uma coisa de coração: vamos construir esse país de verdade. Vamos construir. O ano que vem tem eleição. Eleição não é brincadeira. A gente não vota porque recebe um papelzinho na porta da escola. É preciso pesquisar quem são as pessoas, quem tem compromisso com a gente. Quem pensa, não igual a você, porque ninguém precisa pensar igual a ninguém. Mas quem é que tem compromisso com as coisas que você acredita que precisa ser feito nesse país. É assim que a gente escolhe.
Não o mais bonito, o mais alto, o mais negro, o mais baixo, o mais branco. Não, não é assim. É pelo que a pessoa pensa e pelo histórico das pessoas. Tem que analisar qual é o compromisso das pessoas. Porque o Hugo [Motta] é presidente deste Congresso [da Câmara dos Deputados], ele sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora.
Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior. A gente não pode ter um presidente que nega que existiu a Covid, que nega a vacina. Que distribui remédio para a pessoa tomar que não vale nada. Que tem um ministro da Saúde que não entende porra nenhuma de saúde. E a gente precisa se manifestar.
Por isso, eu quero dar parabéns ao Rio de Janeiro pela manifestação que vocês fizeram em defesa da decência política desse país. Só vocês podem consertar esse país. E quero que vocês saibam que eu estou nessa. Estou nessa.
Eu vou tentar lutar até o fim da minha vida. Porque eu quero que meu neto, o neto de vocês, os bisnetos de vocês tenham aquilo que eles têm direito. Quem é pai, quem é mãe sabe que a gente não deseja riqueza para o filho. A gente sonha que o filho da gente tenha uma boa educação, uma boa formação profissional, para ele viver independente a vida inteira. E é isso que eu quero para esse país.
Soberania significa qualidade de vida do nosso povo. Significa direito de andar de cabeça erguida. E isso nós vamos fazer. Por isso, companheiros, se vocês puderem, vão a Belém para a COP. Eu vou começar uma campanha, Eduardo. Eu vou começar uma campanha. Os meninos ricos aqui do Rio de Janeiro adoram viajar para a Disney: "quero ir para a Disney, quero ir para a Disney". Então é o seguinte, vamos fazer agora, vamos começar a trabalhar visita das escolas ao sul do país na Amazônia.
As pessoas precisam conhecer a Amazônia. Não adianta o menino ficar na escola: "não, porque eu não quero que mexa na Amazônia, não quero mexer na Amazônia, não quero". E nunca foi lá, porra. Passa por cima e vai para a Disney. Não, passe lá na Amazônia. Toma uma mordida de carapanã para ver como é bom. Vá conhecer a Caatinga. Vá conhecer os biomas brasileiros.
Mas não é ele quem vai tomar a iniciativa, somos nós. Os professores, Camilo, dentro da sala de aula, precisam incentivar a fazer turismo para conhecer o Brasil, para conhecer a nossa terra, a nossa riqueza. Tem gente que: "ah, vou para a Europa para ver o museu". E nunca visitou o museu nacional aqui. É frescura intelectual. Frescura.
Tem gente que guarda dinheiro o ano inteiro, guarda, guarda, guarda, para fazer uma viagem, para ver o museu. E aqui no Brasil tem o museu do Ipiranga, lá encostado no meu escritório. O museu do Ipiranga é um museu belíssimo, e ninguém vai lá. Ninguém vai lá.
Então é o seguinte, nós temos que fazer uma inversão. Inversão de prioridade. Fazer turismo para conhecer as coisas deste país. Para conhecer o que é o Brasil de verdade. Se vocês não fizerem dentro da sala...
Aliás, eu tenho brigado com o Camilo, eu tenho brigado com o Camilo para a gente colocar no currículo escolar a questão do clima. Se a gente educar a criança, e essa criança tiver noção do que é a questão que está acontecendo no nosso planeta. A questão da coleta de lixo. A questão do desmatamento. A questão de jogar veneno na nossa agricultura. Se ela tiver consciência, ela vai chegar em casa e vai ajudar o pai e a mãe a ser menos ignorantes na questão do clima. Porque tem gente que não acredita que está acontecendo nada.
Então eu falei para o Camilo, vamos colocar no currículo escolar. Tudo bem que a professora diga que Cabral descobriu o Brasil em 28 de abril de 1500. Continue dizendo. Mas coloca lá meio minuto de clima. Como é que ensina a coletar lixo dentro de casa. Como é que se faz a separação do lixo dentro de casa. Porque vocês já foram em usina que as prefeituras criam de coleta de lixo? O povo é sujo pra cacete, o povo que joga lixo. O povo não tem critério. Aquelas mulheres ficam coletando lixo, eu já fui muitas vezes. É uma tranqueira, não tem separação dentro de casa.
E cada um de nós tem que aprender que o lixo que a gente faz é a gente que tem que cuidar. Não são os outros, é a gente. Tem cara que se dá ao luxo de tomar cerveja, de abrir a janela, jogar a latinha fora, achando que tem um escravo que vai catar pra ele. Me ajude, gente. Me ajude, pelo amor de Deus. Vamos ensinar as crianças a tratar a questão do clima com a respeitabilidade e a necessidade que merece.
Um beijo no coração e bom dia dos professores e das professoras.